segunda-feira, 18 de maio de 2015

A CIDADANIA, A CULTURA DA SUSTENTABILIDADE E A FORÇA DAS MUDANÇAS

“Crise faz o mecenato social perder força no Brasil, o que é um erro
        Segundo o Relatório 2014 Bisc Comunitas (Benchmarking de Investimento Social Corporativo), houve queda no valor investido pela Iniciativa privada em responsabilidade social – de 2012 para 2013, o capital investido caiu de R$ 2,1 bilhões para R$ 1,6 bilhão, sendo que 33% das empresas que reduziram seus investimentos apontam o cenário econômico desfavorável como responsável por essa mudança.
         Triste realidade. Em meio à instabilidade econômica, uma das primeiras frentes que sofrem com cortes de “budget” são aquelas voltadas ao trabalho social. Isso acontece porque muitos empresários não enxergam a tangibilidade das ações sociais e como isso pode ser favorável para seu negócio, principalmente em momentos de crise.
         Iniciativas com foco na redução das desigualdades sociais e na promoção da cidadania são sérias demais e merecem ser tratadas como produtos sociais. Devem ter público definido, durabilidade, divulgação, benefício comprovado a quem se destina e dar retorno de imagem para o investidor. Os resultados desse tipo de investimento podem ser mensurados qualitativamente, e, quando uma empresa mostra para a sociedade que, mesmo em situação de crise, não abre mão de esforços e capital para melhorar a vida das pessoas, o reconhecimento ainda é maior.
         Mas, em tempos de crise, segurança é a palavra de ordem para qualquer centavo a ser empregado. Por se tratar de ações que geram benefícios considerados erroneamente, muitos gestores ainda não conseguem enxergar além dos números. Por outro lado, as empresas contratadas para viabilizar as ações tampouco apresentam os resultados de forma clara e convincente. Da mesma forma que um produto é colocado no mercado e conquista espaço à medida que o público percebe seu valor, um projeto social deve gerar resultados concretos para o dia a dia das pessoas e também aos olhos de quem acreditou e investiu.
         A prestação de contas deve ser exigida. Já que existe insegurança em relação aos aportes feitos em responsabilidade social, por que não cobrar das executoras que as contas sejam analisadas por uma companhia independente de auditoria? Mudanças como essa culminariam na profissionalização das relações com o terceiro setor e, provavelmente, na volta do apetite por investir.
         Ainda seguindo a lógica empresarial, faz sentido aplicar capital financeiro, humano e criativo em iniciativas que diminuam as desigualdades socioeconômicas, facilitem o acesso à saúde, à educação e à qualificação profissional, combatam a violência em suas mais profundas raízes e em outras necessidades de nossos dias, se esses esforços trouxerem benefícios de imagem à empresa. É legítimo por parte das companhias almejar que suas marcas sejam relacionadas a causas sociais. Está comprovado que somente o setor público não consegue arcar com os custos. O “private contributer” é essencial para o desenvolvimento das sociedades.
         Períodos de crise como o que o Brasil atravessa propiciam mudanças. O país precisa de mecenas que incentivem a produção social, contribuindo para que haja transformações em seu cenário. Não há nação que se desenvolva abandonando os seus cidadãos. É muito fácil responsabilizar apenas o setor público pelas agruras da atualidade. Se forem assumidas a parte que cabe ao Estado, às instituições privadas e a necessidade de se realizar um trabalho sério e confiável por parte das companhias e ONGs que atuam no terceiro setor, será possível construir uma sociedade mais justa e próspera para os brasileiros.”

(LEONOR SÁ MACHADO. Empresária e professora, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 16 de maio de 2015, caderno O.PINIÃO, página 16).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 15 de maio de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Mudanças nas crises
        As crises que se apresentam no horizonte da sociedade brasileira configuram-se em enormes desafios, um peso que incomoda. No entanto, é oportuno considerar a crise momento para se substituir dinâmicas e qualificar processos. É uma fase desafiadora e arriscada e os resultados podem ser benéficos ou prejudiciais, determinados pelos acertos ou equívocos nas decisões. As crises econômica, hídrica, moral, existencial e outras tantas que se apresentam recaem sobre o conjunto da sociedade e permeiam toda sua estrutura. Uma situação cheia de perigos, mas também com sementes fecundas de renovação.
         Essa fase crítica gera desorientação, desconfiança e até desespero. Fragiliza as instituições e exige mais das instâncias governamentais no exercício da insubstituível tarefa de garantir o bem comum e o equilíbrio político. Mas, também, aciona o instinto de sobrevivência e a vontade de encontrar saídas. E mesmo quando se sabe que a solução de uma crise suscita outros problemas, que pode projetar novos quadros desafiadores, é imperativa a busca de soluções, conduta profundamente vinculada ao tecido da cultura de uma sociedade em crise. E a qualidade desse tecido é que permitirá uma reação compatível com os desafios postos. Nesse horizonte, a crise só pode ser enfrentada à medida que se entra num processo profundo de transformação. Ela se instaura exatamente quando funcionamentos se tornam obsoletos e há falta de respostas novas; porque cresce a lista de necessidades e se configura uma fragilização de processos variados em razão dos procedimentos comprometidos, como é o caso endêmico da corrupção.
         Faz-se urgente priorizar, entre a resposta à crise, a aposta em uma profunda e radical mudança cultural. Sabemos que não é simples. Processos dessa natureza são demorados. Mesmo assim, é preciso investir em fórmulas eficazes na superação dos desafios. A resposta pode estar em novas soluções e em uma cultura mais solidificada pronta para enfrentar as  novas crises, mas, também, aquelas que são permanentes. Como exemplo, é válido considerar a crise hídrica na sua exigência de providências técnicas e logísticas, como também a atitude simples e determinante de cada consumidor. Entre as indicações práticas no enfrentamento dessa situação aparecem necessidades como não se tomar banho demorado ou economizar água quando se escova os dentes. Tudo isso parece banal e muito doméstico para constar na pauta pública. Mas aqui é que se toca mais profundamente o tecido cultural de uma sociedade que ainda precisa aprender a discernir o limite entre economizar e esbanjar. Essa referência que até parece comum revela o quanto gestos, atitudes e escolhas que constituem a base do tecido cultural e o cotidiano da sociedade têm consistência ou operam em estado de emergência, de alarme, no seu papel de civilidade e autêntico sentido de cidadania. Em questão, portanto, está o comprometimento a compreensão de que é preciso investir, sobretudo, numa perspectiva de radicais mudanças culturais. Caso contrário, o conjunto da sociedade se constitui em condição de parasita, esperando que apenas instâncias governamentais e empresariais solucionem as crises. Às lideranças, cabe agir com a consciência do serviço, do dever de buscar o bem comum.
O enfrentamento da crise é frágil e não consegue incidir na realidade se não imprime a velocidade esperada aos processos. É alto o preço a se pagar pelos prejuízos causados pela morosidade e escolhas pouco inteligentes ou que desconsideram as razões humanísticas e humanitárias. E não menos graves são os danos provocados pela mesquinhez de indivíduos, grupos ou classes que viram as costas aos clamores da realidade e se recusam a gestos de desprendimento ou sacrifícios pelo bem comum. Esperam a superação da crise como resposta a interesses de confortos particulares e não como atendimento de demandas cidadãs.
         Bem adverte o papa Francisco na sua exortação apostólica, A alegria do evangelho, sublinhando o prejuízo que traz essa cultura em que cada um pretende ser portador de uma verdade subjetiva própria, que dificulta a indispensável inserção de cada cidadão em um projeto comum que vá além dos benefícios e desejos pessoais. A grande crise, portanto, é cultural e seu enfrentamento só pode se dar com grandes mudanças culturais.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças – Anefac –, a alta de abril dos juros  do cartão de crédito chegou a 295,48%  ao ano...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a simples divulgação do balanço auditado da Petrobras, que, em síntese, apresenta no exercício de 2014 perdas pela corrupção de R$ 6,2 bilhões e prejuízos de R$ 21,6 bilhões, não pode de forma alguma significar página virada – eis que são valores simbólicos –, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (haja vista as muitas faces mostrando a gravidade das crônicas paralisações de obras e serviços públicos, gerando perdas bilionárias...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!...     

     

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