“A
saúde e as pequenas coisas
Em 1913, William Osler,
um dos grandes médicos da humanidade, proferiu uma conferência para os
estudantes de medicina da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, em que
defendia uma filosofia de vida que, em suas palavras, “é um hábito a ser
adquirido de modo gradativo, repetida e frequentemente; é a prática de viver só
o dia de hoje e para o trabalho do dia; viver a vida de cada dia.” Uma proposta
que segue uma linha parecida com o conselho do poeta Horácio à sua amiga
Leucone: carpe diem (colha, aproveite o dia), com adaptações e aprimoramentos
para a prática médica. Seguindo essa mesma linha, diversos movimentos
desenvolveram, cada um a seu modo, a proposta de viver cada dia com suas
demandas. Um dos exemplos é o Alcoólicos Anônimos, surgido em 1935, que tem
como uma de suas orientações viver o presente: “Só por hoje”. De forma
semelhante, existem outros movimentos filosóficos e religiosos que trabalham
nessa perspectiva.
As
palavras de Osler, ditas no século passado e reforçadas por várias iniciativas
no campo da saúde e de outras áreas sociais, podem parecer ultrapassadas e
óbvias para alguns. Para outros, soam como algo inalcançável e descolado da
realidade atual, tão cheia de novidades, correrias e avanços tecnológicos.
Entretanto, não obstante as diferentes observações e críticas, temos que
admitir que nos trazem um convite à reflexão: muitas vezes preocupados com o
que passou ou com o que virá, deixamos escapar a oportunidade de viver as
pequenas coisas do cotidiano.
Pode
parecer estranho para alguns, mas existe uma forte relação entre a saúde e as
pequenas coisas. Os pequenos gestos de atenção, de acolhimento e de alegria são
geradores de saúde. Os esforços para perdoar, compreender, ter compaixão do
outro, ser mais tolerante e ético contribuem também para uma vida mais saudável.
Por outro lado, tem sido comentado vastamente que uma vida construída na raiva,
na mágoa e no estresse tem probabilidade bem maior de resultar em doenças
psicossomáticas.
As
palavras de Osler são sábias: “Um hábito a ser adquirido de modo gradativo,
repetida e frequentemente”. Hoje, costumamos falar em comportamento aprendido,
em mudança cultural, entre outras expressões. Sem dúvida, um desafio. É certo
que muitas vezes os problemas da vida, as dificuldades que nos acometem, podem
nos tirar a tranquilidade e a serenidade. Deixamos escapar as oportunidades de
realizar pequenos gestos de carinho e atenção. Mas isso faz parte do humano. O
importante é não perdermos o foco, o que vale para a nossa vida particular e
para as nossas relações na sociedade.
No
âmbito sociopolítico e econômico, com tristeza observamos nos acontecimentos
atuais como as pequenas coisas foram negligenciadas. Atitudes de respeito e
ética ficaram no esquecimento. O desejo desenfreado em obter vantagens e
satisfazer os próprios interesses tem conseguido causar sofrimento e indignação
a uma nação inteira. O país está doente.
No que
diz respeito aos atendimentos da área da saúde, observamos que muitas demandas,
mesmo que não percebidas e admitidas prontamente pelas pessoas, têm como pano
de fundo os desencontros, as culpas e as insatisfações, sobretudo relacionadas
às relações interpessoais, muitas vezes tensas e sem calor humano.
O
desafio de dar novo sentido e significado às pequenas coisas do dia a dia está
presente na caminhada de todos nós. Para uns mais, para outros menos. É uma
reflexão que cada um deve fazer e tem também a ver com o olhar sobre a vida e a
capacidade de fortalecer as escolhas feitas ou de caminhar em direção a outros
rumos, exercendo a liberdade.
A
valorização das pequenas coisas é fundamental para a construção de relações
fraternas e solidárias nos ambientes familiar, de trabalho e na sociedade. O
exercício diário, de viver as pequenas coisas e “a vida de cada dia”, como
dizia Osler, certamente resultará em saúde e em melhor qualidade de vida.”
(ARISTIDES
JOSÉ VIEIRA CARVALHO. Médico, mestre em medicina, professor do curso de
medicina da Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (Faseh), em artigo publicado
no jornal ESTADO DE MINAS, edição de
20 de setembro de 2015, caderno OPINIÃO,
página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 19
de setembro de 2015, mesmo caderno, página 7, de autoria de DEBORA ROICHMAN, presidente do Instituto
de Formação de Líderes de Belo Horizonte (IFL), e que merece igualmente
integral transcrição:
“Liberdade,
ainda que tardia
Mais ou menos
engajados, brancos ou negros, patrão ou empregado, participantes ou não de
manifestações e panelaços, a sensação de mal-estar é generalizada. Estamos
fartos, entojados do combo ineficiência, mentira, omissão, corrupção, inflação,
recessão e desemprego. A que ponto precisaremos chegar?
O
Brasil parece estar preso ao estigma do país do futuro. Em um passado não muito
distante, pensou-se que decolaríamos
como na imagem do Cristo estampada na capa do The Economist e, de fato, houve crescimento e desenvolvimento
social. Crescemos, sim, com crédito farto e barato, incentivo ao consumo e
surfamos no boom das commodities. Investimentos em infraestrutura e as reformas
ficaram em segundo plano.
No
melhor estilo pão e circo, as boas notícias e o clima favorável foram
utilizados de maneira inescrupulosa e eleitoreira, de forma a garantir a
perpetuação no poder. A ambição de transformar as conquistas de curto prazo em
vantagens nas urnas, aliada à intervenção e ao viés ideológico, resultou em
péssimo momento econômico e político que estamos vivendo hoje.
Mas
por que a decolagem falhou? Afinal, o que impede o Brasil de avançar? O peso do
Estado que esmaga o cidadão e a arrogância populista de nossos líderes. Em todo
o mundo, observa-se uma correlação direta entre liberdade econômica e
prosperidade. Não há maior promotor de desenvolvimento do que o capitalismo. O
caminho para a prosperidade passa pelo empreendedorismo. Trabalhadores, patrões
e empregados, livres para criar e investir, gerando riqueza, emprego e
usufruindo do fruto de seu trabalho.
O
Estado nada produz. É moroso e corrupto. O cidadão não suporta mais trabalhar
para sustentar a adiposa, anacrônica e ineficiente máquina pública. Por isso, é
preciso desconstruir a cultura, muito enraizada na cabeça dos brasileiros, de
que o Estado deve resolver todos os problemas.
Nada
mais atual e pertinente ao momento que estamos vivendo hoje, no Brasil, que a
famosa citação da importante escritora e filósofa Ayn Rand: “Quando você
perceber que, para produzir, precisa obter autorização de quem não produz nada;
quando comprovar que o dinheiro flui de quem negocia não com bens, mas com
favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência,
mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo
contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a
corrupção é recompensada, e a honestidade se
converte em autossacrificio; então poderá afirmar, sem temor de errar,
que sua sociedade está condenada”.
A
questão fundamental é: vamos aceitar que a nossa sociedade seja condenada?
Vamos, ainda que indignados, cruzar os braços e assistir ao que estão fazendo
com o país?
Não.
Penso que o caminho para uma profunda e duradoura mudança passa por
conscientizar o indivíduo sobre seu poder como agente de transformação da
sociedade! O remédio será amargo, e o resultado não virá no curto prazo, mas
nem por isso a decisão de colocar o país de volta no eixo pode ser adiada.
A
escolha bem fundamentada e consciente precede a ação. Já o estopim da ação é
sempre individual. Apenas indivíduos livres e conscientes de sua
responsabilidade, construirão um país mais livre, ético, competitivo e
próspero.
O
caminho para o Brasil que queremos depende de todos nós, mas, fundamentalmente,
de cada um de nós. Pense nisso em um sentido mais amplo e, também, nas próximas
eleições: a liberdade, além de um princípio constitucional, é uma aspiração
humana universal. Portanto, não se engane, caro leitor: quanto maior for o
Estado, menos livre será o cidadão.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas
abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa
história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a
estratosférica marca de 350,79% ao ano; e mais, também em agosto, o IPCA acumulado
nos últimos doze meses chegou a 9,52%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do
procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A
Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o
problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu
caráter transnacional; eis, portanto,
que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas
simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de
suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do
nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas
modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente
irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na
Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das
empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é
desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de
problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos,
quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas
de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à
corrupção e à falta de planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 868 bilhões), a exigir alguns
fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
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