“Nada
será como antes, amanhã
O espanto com a
existência e a procura do sentido da vida são bases da filosofia, assim como a
história é a tentativa do homem de saber para onde vai, a partir de onde veio.
No centro dessa incerteza, a eterna busca de orientar-se no mundo.
É
mundial, a propósito, a desorientação oriunda de um ambiente em transformação
frenética em que pessoas nascem da engenharia genética, vivem em um ambiente virtual,
surpreendem-se a cada momento com a biotecnologia e a nanotecnologia, e a
emigração já não é para mudar de vida, mas para salvar a vida diante do horror
da luta, sendo indiferente se a destruição é de instalações ou de lares.
No
Brasil, à desorientação dos tempos chamados pós-modernos acresce, como trágica
herança de uma quadrilha que veio tomar a República e saquear seus cofres, a
quebra da coluna vertebral da sociedade – seus valores – e, com isso, a
desagregação dos laços sociais e a perplexidade que anula a capacidade de
discernir e de agir.
No
entanto, onde tudo conduz à fixação no momento, à tensão com o agora, ao
espanto, justamente agora cenários e previsões cedem lugar a um vislumbre, esse
alumiar tênue que permite quase adivinhar o que temos em torno. O brasileiro é
tomado por aquele estado de espírito que lhe é mais próprio quando desconfia:
passa a cismar. Não interessa mais a perda do grau de investimento expressando
que estamos privados da confiança dos investidores; já não importa que a presidente
da República detenha inédito índice de aprovação de 7%; chega de lamentar a
corrupção, a recessão econômica, a dívida pública irresponsável, o Orçamento
que já chega com um rombo vergonhoso, o traiçoeiro avanço da inflação – tudo
notícias velhas do jornal de ontem. Basta: Já sabemos onde estamos. Interessa
saber para onde vamos. Em tempo: interessa saber para onde queremos conduzir o
país que é nosso e pelo qual somos todos responsáveis. Quem cortou nosso selo
de “bom pagador”, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s,
arremata com a possibilidade de o país enfrentar três anos seguidos de déficit
e dívida crescente. Vamos esperar por isso?
Alguma
coisa liga desorientação a coragem. Comte-Sponville escreveu um livro
desconcertante intitulado A felicidade,
desesperadamente. E também escreveu o Pequeno
tratado das grandes virtudes. No primeiro livro, ensina a não esperarmos
pela felicidade, mas a lutarmos por ela. No segundo, situa, lado a lado com a
prudência e tolerância, a coragem. Adverte que a virtude é um esforço e, por
isso, a coragem pressupõe vencer o primeiro impulso que pede o repouso, conduz
à frouxidão e pode resultar na fuga. Então, Sponville enfatiza a relação entre
coragem e o instante: “Coragem é a intenção do instante em instância”,
sentencia e chega ao alvo, cravando a coragem como “nosso ponto de tangência
com o futuro próximo”.
Tratando
dessa forma a crise que parece trazer de volta o fantasma do “fim da história”,
quero dizer que, ao contrário, esta conjuntura insólita, resultante de uma
aberração ética, vai receber em troca o despertar dos brasileiros para o
futuro. As manifestações de 2013 sinalizaram que o futuro desejado tem muito
pouco a ver com a realidade que vivemos hoje. Nada a ver com o modelo político,
a conduta, as práticas e muito menos com os personagens que nos são oferecidos.
O que está no ar nesse “mal-estar comum” é uma derrubada de paradigmas, com a
mudança fundamental de pensamentos, percepções e valores. Um modelo
inteiramente novo é o que deve imperar e ele deve partir de perspectivas
variadas, todas elas a serem utilizadas à exaustão, porque a intenção deve ser
a de descobrir tudo é possível descobrir. Criaram-se tantas incubadoras de
empresas, mas ninguém ainda se mostrou capaz de criar uma “incubadora do novo”.
Que tal uma “incubadora Brasil século 21”?
Na
agenda desse projeto maior, a erradicação do atraso dever o primeiro item, por
ser esse o mal endêmico de nosso país. Atraso, falta de cultura, ausência de
civilização. Aquilo que embaraça, atrasa, retarda e prejudica. Atraso na
educação, na saúde, na capacitação, atraso no comportamento, atraso que se pode
perceber em um simples gesto. E é de se desejar que essa incubadora de uma
nação desenvolvida e dirigida para a felicidade das pessoas tenha no
conhecimento sua chave para o futuro, com a atenção voltada para a inovação,
ciência e tecnologia. É que a educação seja a base de todo o esforço para a
realização de um novo Brasil, por ser condição para que sejamos quem sonhamos
ser.”
(LINDOLFO
PAOLIELLO. Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas –
ACMinas, em artigo publicado no jornal ESTADO
DE MINAS, edição de 18 de setembro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de DOM
WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e
que merece igualmente integral transcrição:
“Ética
e sustentabilidade
A capital mineira tem a
singular oportunidade de receber, entre os dias 30 de setembro a 2 de outubro,
o Congresso Mundial Uniapac e o Seminário Internacional de Sustentabilidade.
Esses eventos têm marcas e balizamentos que sublinham diferenciais muito
evidentes. Reúnem empresários que pautam suas atividades e empreendimentos por
valores cristãos. São gestores que integram a União Internacional de Dirigentes
Cristãos de Empresa (Uniapac) e, em âmbito regional, a Associação de Dirigentes
Cristãos de Empresas (ADCE). Investem no desenvolvimento humano integral, na
verdade e na caridade. Trata-se de grande diferencial, pois o crescimento
econômico sem parâmetros como a ética e a sustentabilidade leva a situações que
comprometem seriamente a humanidade.
Esses
grandes encontros são, pois, um facho de luz sobre sombras que pairam nos
horizontes empresariais. Há um enorme desafio a ser enfrentado: eliminar a
união entre os descompassos da política e as razões ilegítimas de
empreendedores, fonte de corrupção. Essas sombras trazem prejuízos incontáveis,
conhecidos e lastimáveis para a vida do povo. O Congresso e o seminário são
valiosas oportunidades para renovar o compromisso de se trilhar o caminho do
bem comum. A simples presença dos empresários constitui o esforço desses
participantes de se trabalhar para construir uma nova dinâmica para o
empreendedorismo na sociedade contemporânea. Também é antídoto contra o risco,
sempre existente, de deixar-se mover por outras lógicas distantes da ética e da
sustentabilidade. Renova-se, assim, o empenho para construir um mundo melhor,
que não se edifica simplesmente a partir da lógica do lucro.
A
rentabilidade buscada não pode se desvincular da responsabilidade social, sob
pena de se elegerem lógicas perversas do mercado como guia das escolhas,
vitimando o planeta, a “casa comum”, com inúmeros descompassos: os focos de
guerra e o desrespeito aos refugiados, o descaso com os excluídos que vivem nas
ruas das cidades e com os pobres que estão no cinturão das protegidas áreas
ocupadas pelos mais ricos e por quem deveria ser protagonista na construção do
bem comum. O Congresso Mundial Uniapac e o Seminário Internacional de
Sustentabilidade podem oferecer respostas indispensáveis diante da urgência na
elaboração de novas pautas e na adoção de critérios para juízos adequados,
escolhas inteligentes e éticas. O horizonte cristão desses eventos será
possibilidade de iluminação: o inspirador propósito de buscar novos caminhos
para maior cooperação entre governo, terceiro setor e empresários, visando à
melhoria das relações sociais, à construção de uma economia sustentável e
inclusiva e a uma sociedade ética com foco no ser humano e no bem comum.
Esses
objetivos não se alcançam apenas passeando pelos números. Deve-se priorizar
cada pessoa. A inspiração cristã, comprometimento da Uniapac e ADCE, com o
importante suporte da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, atrai
empresas e empresários para um singular momento de reflexões. É genuína
contribuição que pode e já faz a diferença em tantos ambientes, na
reconfiguração de lógicas de governar e empreender. A dinâmica dos números, os
arranjos indispensáveis para as organizações, a clarividência necessária aos
gestores e o olhar com sensibilidade social têm duas valiosas referências de
ensinamentos cristãos: a carta encíclica
do papa Emérito Bento XVI, Caritas in
Veritate – sobre o desenvolvimento humano integral –, e a carta encíclica
do papa Francisco, Laudato Si – sobre
o cuidado da casa comum.
A
leitura dessas publicações é recomendada aos participantes dos encontros como
preparação prévia, pois pode fecundar o terreno onfr sementes qualificadas
serão lançadas a partir das palavras de competentes e relevantes
conferencistas. Os textos também trazem ricos ensinamentos para todos os
cidadãos. A bem arquitetada organização do congresso da Uniapac e do seminário
de sustentabilidade é um investimento esperançoso e consistente. São redes
novas lançadas em tentativas mais audaciosas de avançar rumo aos luminosos
ensinamentos do Evangelho de Jesus Cristo. Uma solução inteligente para graves
problemas sociais capaz de superar distâncias que existem em razão do desconhecimento
do Evangelho e de sua força criativa e humanitária. A construção de um mundo
melhor, incontestavelmente, uma meta alcançável quando se trilha o caminho da
ética e da sustentabilidade.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas
abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa
história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a
estratosférica marca de 350,79% ao ano; e mais, também em agosto, o IPCA acumulado
nos últimos doze meses chegou a 9,52%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do
procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A
Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o
problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu
caráter transnacional; eis, portanto,
que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas
simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de
suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do
nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas
modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente
irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na
Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das
empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é
desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de
problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos,
quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas
de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à
corrupção e à falta de planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 868 bilhões), a exigir alguns
fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
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