“O
futuro, agora
Eu vou lhes falar do
tempo. E já não é sem tempo. Mas observem o que se passa hoje no Brasil e vão
concordar comigo que o que mais parece é que aqui está sobrando tempo. Observem
que, enquanto o “mundo gira e a lusitana roda”, no Brasil todo mundo espera: a
gente espera que a Dilma saia, a presidente espera que o Eduardo Cunha segure a
sua barra, mas ele espera que primeiro o Planalto o livre da Operação
Lava-Jato, enquanto a oposição espera que Eduardo Cunha acione a guilhotina que
vai liquidar Dilma, que espera que o PT que a elegeu a apoie, mas o PT espera
que o Levy saia para tudo voltar a ser o que era. Enquanto isso, o barco segue
em rumo. E nós? Perdemos tempo.
Na verdade,
nós perdemos a noção do tempo. Tudo o que nos cercam do Orçamento da União ao
assistencialismo eleitoreiro, da gestão governamental ao espetáculo circense de
seus gestores, tudo nos prende ao momento. Enquanto nossa atenção está
concentrada no presente, tendemos a não ter consciência do tempo. No entanto, é
sério: não temos noção de que o distinguiu o homem da sociedade contemporânea
de seus antepassados é que ele adquiriu a consciência do tempo. Deixou de se
orientar por uma ordem de coisas imutável, eternamente válida, para o conceito
de que a realidade última não era “ser”, mas “tornar-se”. Convém estarmos
atentos ao alerta de Bachelard, de que “o instante já é o espaço entre dois
nadas”. Outra advertência é feita por Gerald James Whitrow, professor emérito
da Universidade de Londres: “Sempre que tentamos prever o futuro, somos
compelidos a tomar por base o que acreditamos serem os aspectos relevantes do
conhecimento atual, embora isso signifique que somos guiados em grande parte
pelo já aconteceu. Em consequência, ao planejarmos para o mundo de amanhã,
temos extrema dificuldade em nos libertar de um passado morto”.
Publiquei
recentemente no Estado de Minas um artigo que intitulei “Nada será como antes,
amanhã”. Eu o busquei em uma canção de Milton Nascimento. Escrevi que no
Brasil, onde tudo conduz à fixação no momento, à tensão com o agora, ao
espanto, à perplexidade, à desorientação, justamente agora o brasileiro é
tomado por aquele estado de espírito que lhe é mais próprio quando desconfia: o
brasileira passa a cismar. Vai deixando em segundo plano a perda do grau de
investimento, a dívida pública irresponsável; já deixa de importar a
apresentação do Orçamento da União com um rombo vergonhoso, um escândalo a
mais, pontos a menos no PIB – tudo notícias velhas, do jornal de ontem. Já
sabemos bem onde estamos, resta saber para onde vamos. Interessa saber para
onde queremos conduzir o país que é nosso e pelo qual somos todos responsáveis.
E, no cumprimento dessa tarefa, precisamos ter pressa.
Como
agir? É sempre sábio e relevante o exemplo da ciência. O movimento e a
transformação contínua do universo que a física explica e de que os filósofos
se valem para explicar o sentido da vida, esse estado de permanente mudança que
cria a vida pode acabar com a vida. Atentem para o aquecimento solar,
conscientizem-se de que ele ameaça a espécie humana e entendam que a contenção
de gases pode sanar essa ameaça. Um fato, a consequência e a solução. Concordem
que só nós, os habitantes desse deserto que nos ameaça, podemos vencê-lo. Os
cientistas planejam e monitoram essa solução com uma agenda, metas e prazos.
Simples assim. Os homens de ciência apontaram-nos os caminhos para evitarmos um
cataclismo que ameaça a própria espécie humana. Os empresários que manuseiam tão
bem em suas organizações agendas, metas e prazos, que caminhos podem oferecer
para que o Brasil assuma um processo de desenvolvimento sustentável?
Estamos
fartos de diagnósticos e de respostas que se prendem a um mesmo modelo, aos
mesmos métodos, aos mesmos personagens. Essa miopia tem naturalmente conduzido
às mesmas respostas. A inovação é a força que conduz às conquistas da sociedade
pós-industrial e esta nossa iniciativa tem a intenção de inovar. Convido o
leitor a esquecer a direção mais conhecida e não esperar deste autor respostas
às suas dúvidas que certamente são também as minhas. Eu o convido a partir do
ponto de vista de que aquilo que obtém a resposta crucial é a pergunta crucial.
Vamos nos perguntar, não importa quantas vezes, quais são nossas angústias
quanto ao Brasil. E, desta forma, fazer eclodir as perguntas que podem vir a
representar as tarefas fundamentais para a construção do Brasil que nós
entendemos ser possível nos empenharmos em construir.
Concluo
com os versos finais do poema testamento, do poeta grego Kriton Athanasoulis
com o qual Domenico de Mais encerrou seu livro O futuro chegou: “É isso que te deixo./Eu conquistei a coragem/De
ser feroz./Esforça-te para viver./Saltar o fosso sozinho e sê livre. Aguardo
pelas novas./É isso que te deixo”.”.
(LINDOLFO
PAOLIELLO. Presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas –
ACMinas, em artigo publicado no jornal ESTADO
DE MINAS, edição de 23 de outubro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de DOM
WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e
que merece igualmente integral transcrição:
“À
esquerda e à direita
Dois discípulos de
Jesus pediram ao Mestre que os deixasse posicionados à sua esquerda e à sua
direita, mostrando assim como eram dominados pela lógica do poder. Buscaram
estar em posição de destaque, em lugar conquistado com facilidade solicitada ao
Mestre. Os outros 10 discípulos ficaram indignados com os filhos de Zebedeu, o
que revela a mesma mentalidade comprometida, pois reagiram cultivando
sentimentos que apequenam a estatura espiritual e humana. Dessa narrativa
bíblica, é possível perceber o desejo de galgar lugares pelo caminho
considerado mais fácil e, também, a indignação que comprova o clima de disputa
presidindo corações e relacionamentos humanos. Atualmente, a cultura fomenta o
entendimento de que tudo pode ser conseguido com facilidade. Por isso mesmo, há
o vício das facilitações que produzem comprometimentos muito sérios e perpetuam
prejuízos.
Eis a
fonte da corrupção, seja em maior ou menor escala, com perdas incalculáveis. A
cultura da facilidade, fortalecida pela cultura do descartável, amparada por
práticas mesquinhas, envenena o ritmo da vida, cada vez mais presidida pela
perversidade. Roubar o erário, passar o outro para trás, dizer mentiras e
cultivar o olhar indiferente ante a realidade dos que sofrem é ser perverso.
Trata-se de patologia e de desvio grave no exercício da cidadania. Uma doença
que precisa de remédio. Muitos indicarão saídas que não produzem transformações
profundas. “Soluções” que apenas mascaram o problema e, assim, impedem o desabrochar
humano, criação de Deus, expressão maior do amor recíproco.
Jesus
aponta, pelo diálogo paciente e com força pedagógica, qual é o remédio que pode
curar o mal que está na raiz dos descompassos da sociedade contemporânea.
Trata-se de exigência que precisa se tornar prática cotidiana, na regência de
gestos – grandes e pequenos –, escolhas e discernimentos. No diálogo com os
filhos de Zebedeu, o Mestre lhes faz uma importante pergunta. Eles estariam
dispostos a receber o mesmo batismo de Jesus e beber também do cálice? A
resposta é intempestivamente positiva, pois não mediram o alcance do
compromisso proposto. Ora, o batismo e o cálice de Jesus se referem à sua
experiência radical e amorosa de oferecer, incondicionalmente, para que
prevaleça o bem. Isso inclui sofrimentos e dores, que encontram sentido e razão
ao produzirem, pela dinâmica da oferta, a possibilidade de se fazer o bem,
defender a justiça, promover a paz.
O
desenvolvimento e a prática diária de compreender a própria vida como altar de
oferta para o bem dos outros é o único lugar que se deve desejar ocupar. A
busca desse “status” tem como inspiração o exemplo de Cristo, que lembra: “O
Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em
resgate por muitos”. O lugar a ser, portanto, desejado e ocupado é um só: o de
servidor. Aí, nesse lugar, se conquista despretensiosamente o poder, torna-se
grande por se colocar a serviço de todos.
Esse
remédio indicado por Cristo, quando “tomado”, produz grande efeito. Está na contramão
das lógicas aprendidas e praticadas das facilidades, que impedem os gestos de
oferta. Fortalecer o entendimento de que todos devem ser servidores é solução
única para dar novo caminho à sociedade contemporânea, para que a Igreja exerça
de modo mais fecundo a sua dimensão missionária e para devolver a paz interior,
serenidade e qualificada cidadania. O primeiro passo é admitir que o Mestre tem
razão e nos ensina a lógica de Deus. Depois, é preciso esforço diário para
combater os desajustes e desejos tortos que configuram o coração humano. Em vez
de “à esquerda ou à direita”, cada pessoa deve aprender a querer ocupar o lugar
de servidor.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a estratosférica
marca de 361,40% ao ano; e mais, também em setembro, o IPCA acumulado nos
últimos doze meses chegou a 9,49%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do
procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A
Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o
problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu
caráter transnacional; eis, portanto,
que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas
simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de
suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do
nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas
modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente
irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na
Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das
empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é
desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de
problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos,
quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas
de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à
corrupção e à falta de planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 868 bilhões), a exigir alguns
fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário