“Saúde,
governo e dinheiro sob
um ponto de vista cósmico
Grandes somas de
dinheiro são, às vezes, aplicadas inutilmente em coisas supérfluas, revelando
que a energia monetária está fora de lugar neste planeta.
Sri
Aurobindo, filósofo e escritor que viveu na Índia, considerava os assuntos de
um ponto de vista cósmico, não limitado pelas leis tridimensionais da matéria
física. Declarou, certa vez, que não havia encontrado solução para três setores
da vida de superfície do planeta Terra: o primeiro era o de saúde; o segundo, o
do governo; e o terceiro, o da energia monetária, ou dinheiro. Conforme sua
visão, algo teria que ser transformado e esclarecido na consciência humana,
antes que esses setores tivessem uma solução ou recebessem um tratamento de
nível espiritual.
A
respeito da saúde, o homem não poderá vivê-la enquanto usar o livre-arbítrio,
dado que opta por certas situações, movido pela aparência, e não por um
conhecimento profundo.
Por
meio do seu ponto de vista ainda mental, o homem confunde seus desejos com suas
necessidades verdadeiras, dando margem, assim, para que o supérfluo predomine
em sua vida terrena. Vivendo para o supérfluo, ele deixa de compreender o que
se passa no interior das demais pessoas e dos eventos, desgastando-se em uma
luta contínua. Somente quando passar a auscultar sua verdadeira necessidade,
interna e espiritual, e não superficial e material, o homem poderá ter saúde e
seguir uma vontade suprema, de raízes assentadas no plano cósmico da
consciência.
Também
o governo, enquanto não for movido por energias espirituais vindas do núcleo
interno da consciência cósmica do homem, não contará com uma liderança externa
de nível superior, harmonizada com as leis universais. Os governos existentes
cuidam, na melhor das hipóteses, do progresso material, social, econômico e
tecnológico da sociedade (a expensas de outros povos menos favorecidos em
vários sentidos) e o considera como desenvolvimento. Na verdade, porém, esse
progresso é uma manifestação apenas parcial da lei evolutiva. Há nessa lei
aspectos superiores que, se não forem observados e vividos na prática, deixarão
de proporcionar ao homem o seu verdadeiro alimento.
Chegamos
agora ao terceiro ponto até hoje insolúvel na vida da superfície da Terra: o
dinheiro. Se no universo existe tudo o que é necessário para todos, por que
aqui há miséria?
É do
nosso conhecimento que raramente o dinheiro é usado para o bem universal, e o
desejo ou o problema pessoal de um indivíduo é, em geral, posto à frente de
necessidades maiores. A grande maioria dos homens está longe de cumprir a Lei
espiritual superior. Segundo essa Lei, quando o indivíduo começa a esquecer-se
de si e a usar os próprios bens para suprir os que precisam mais, vê
instaurar-se em sua vida a verdadeira abundância.
Aos
que tencionam entrar na abundância incondicional pode-se sugerir um pequeno
roteiro para reflexão. Que perguntem a si próprios, em primeiro lugar, qual é o
motivo que os move a usar o dinheiro ou um bem material: cumprir deveres,
beneficiar entes queridos ou satisfazer os próprios desejos? Em qualquer desses
casos, o motivo precisa ser transformado. Uma outra questão a ser colocada é se
o que os motiva é uma causa particular ou um ideal grupal. Em qualquer caso, é
preciso que a energia do amor incondicional seja sempre dominante.”
(TRIGUEIRINHO.
Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 6 de setembro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 16).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 22 de
setembro de 2007, caderno PENSAR, coluna
OLHAR, página 2, de autoria de João Paulo,
editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:
“Política
e espiritualidade
Thomas Merton
(1915-1968) foi um dos pensadores mais marcantes dos anos 60, tendo
influenciado a religião, a política e a cultura. Hoje, está praticamente esquecido.
Quase 40 anos depois de sua morte, suas obras começam a ser reeditadas e,
surpreendentemente, se mostram ainda atuais. A significação de Thomas Merton em
seu tempo se deu pela abertura ao misticismo oriental, o que o aproximava da
contracultura. No entanto, intelectual rigoroso, sua contribuição vai muito
além das emanações da Era de Aquário. O monge não estava em dia com seu tempo.
Estava muito à frente.
Entre
os livros que estão chegando novamente ao leitor brasileiro estão A experiência interior, Amor e vida, A sabedoria do deserto e Místicos
e mestres zen, todos pela Editora Martins Fontes. As obras são uma boa
introdução ao pensamento de Merton no que ele tinha de mais significativo: a
capacidade de diálogo entre várias tradições religiosas; a visão do misticismo
como inseparável da ação; a valorização do mundo interior como porta principal
da convivência entre os homens. Thomas Merton mergulhou na sabedoria oriental
para entender melhor o homem do Ocidente; ensinou que a meditação é o caminho mais
desimpedido até o outro; buscou a síntese aparentemente contraditória entre
mística e socialismo.
A vida
de Thomas Merton traz em si um exemplo. Foi uma das jornadas de alma mais
conhecidas do século 20 e, de certa maneira, sintetizou a experiência de uma
geração. Antes de se tornar o monge mais conhecido de seu tempo, recolhido na
trapa de Nossa Senhora de Getsêmani, no Kentucky (EUA), Merton viveu os anos
que antecederam a Segunda Guerra como um cidadão do mundo. Se afundou na
estética e na erótica, como um personagem de Ernest Hemingway. Foi um típico
moço da geração perdida. A experiência deste tempo foi relatada em sua
autobiografia, A montanha dos sete
patamares, de 1948, um dos livros de maior sucesso da primeira metade do
século.
A
obra, que marcou sua entrada no mosteiro, funcionou como um balanço de vida.
Depois de experimentar os caminhos da arte, da política e subjetividade
exacerbada, Thomas Merton encontra a via da espiritualidade. Não foi uma saída
negativa, um recuo da existência para essência, uma perda de substância mundana
em nome dos valores da interioridade. Merton, desde sempre, foi um homem de
sínteses impossíveis.
Há um
romance de Hermann Hesse, Narciso e Goldmund,
que parece sintetizar duas posições de alma aparentemente irreconciliáveis.
Narciso ama a si mesmo, o outro e a natureza só existem como possibilidades,
quase como hipóteses para testar a força de sua vida interior. Narciso costura
para dentro. Já Goldmund, é um ser para o outro, exemplo de vida dourada,
afeita aos brilhos e prazer dos sentidos. Goldmund costura para fora. Herman
Hesse sabia que eram tipos presentes em todos nós. Thomas Merton viveu os dois
lados com intensidade e, o que é mais raro, construiu uma síntese dos dois
universos em uma única existência.
Narciso,
a contemplação; Goldmund, a ação. Existe um termo em sânscrito, ahimsa, que propõe a união desses mundos
que parecem mirar para o Leste e Oeste, sem se encontrar no infinito. A
tradução possível de ahimsa é
compaixão dinâmica. Não existe melhor definição para a vida de Merton.
Como
homem de reflexão e meditação, foi talvez o maior especialista em zen-budismo
entre os ocidentais (o juízo era de D. T. Suzuki, o maior dos mestres orientais
do zen), aprofundou e ajudou a dar a conhecer o pensamento de Chuang-tsé,
estudou a fundo a tradição mística medieval, compreendeu como poucos o
pensamento de São João da Cruz e Mestre Eckhart. Como ser comprometido com o
mundo, protestou contra todo tipo de injustiça de seu tempo, condenou as
ditaduras na América Latina, correspondeu-se publicamente com os maiores
líderes de seu tempo.
Foi um
ser de compaixão comprometida, de vigília ativa. Além da defesa das liberdades
mais imediatas, ameaçadas em todo mundo por uma conjuntura de guerra fria que
inviabilizava o diálogo, antecipou muitas críticas que ganhariam terreno
décadas depois, como o excesso de tecnologia que silencia o humanismo, a
ganância material que destrói a natureza, a violência que se soma ao medo como
estratégia de enfraquecimento dos homens frente ao poder.
Thomas
Merton viveu um movimento permanente. Depois da juventude mundana, o
recolhimento no mosteiro. Da aprendizagem da mística do silêncio, parte em
direção à comunicação com seus contemporâneos. Quanto mais busca a paz do
retiro, mais se sente responsável pelos destinos do mundo. Os últimos anos de
Merton foram de peregrinação. Seus livros, por si só, ainda que muitos e belos,
de exegese, poesia e reflexão, pareciam exigir que o monge levasse sua palavra
viva ao mundo. E o contemplativo vestiu suas sandálias de peregrino e foi em
todas as direções.
Sua
morte, em 1968, em Bancoc, foi, como tudo em sua vida, exemplar dos rumos do
mundo externo e de sua existência interior. Thomas Merton acabara de proferir
uma palestra, se recolhera ao quarto em dia de muito calor. O chão de cimento e
o fio desencapado de um ventilador funcionam como potencializador de um
acidente banal. Ele não resiste ao choque e morre. A conferência que acabara de
proferir tinha se chamado Marxismo e
perspectivas monásticas. Enquanto o movimento da contracultura parecia ir
em direção a mudanças no comportamento, abandonando a religião, ele convoca a
mística a dialogar com o pensamento político.
Merton
não fez uma defesa da revolução armada, mas da revolução interna. O monge destacou
a semelhança entre os dois caminhos: tanto o cristianismo como o marxismo vêem
o mundo como incompleto. É preciso lutar para mudar as coisas, combater a
injustiça, melhorar a distribuição, tornar o mundo melhor para a realização de
uma vida completa. Há um ideal de aprimoramento nas duas vias. Merton havia
lido Herbert Marcuse e Roger Garaudy e saíra da experiência defendendo que os
monges tinham obrigação de criticar as estruturas. Ele vira algo semelhante com
os monges das religiões orientais, e se encantou mais uma vez com a
possibilidade de uma contemplação que também é ação.
Sua
lição deixava incomodados tanto os místicos como os políticos. Os primeiros se
sentiam cobrados ao comprometimento trabalhoso com o outro; já os políticos,
eram instados a se aprimorarem como pessoas para melhor levar adiante sua
missão de representar os interesses da comunidade. Era mais fácil aceitar a
passividade monástica e o cinismo ideológico. Mas Merton não foi homem de
facilidades. Consta que suas últimas palavras na conferência de Bancoc foram:
“E agora vou desaparecer”. Pelo menos desta vez, felizmente, ele estava
errado.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
) a) a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a
estratosférica marca de 350,79% ao ano; e mais, também em agosto, o IPCA
acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,52%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso
específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e
que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 868 bilhões), a exigir alguns
fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
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