“Reforma
humana e valores reais
Reforma. Ultimamente,
essa é uma das palavras mais pronunciadas nos meios de comunicação do nosso
país. Vira e mexe ela está sendo balbuciada por alguém. Travam-se intermináveis
discussões a respeito da reforma política, da reforma previdenciária, da
reforma econômica, da reforma do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), da
reforma trabalhista, da reforma do Judiciário. São tantas reformas que levam a
crer que está tudo completamente estragado, paralisado, precisando, portanto,
ser refeito.
Mas em
meio a toda essa discussão parece que o pivô central de todas as reformas, que
é o próprio ser humano, está se esquivando das suas responsabilidades e, como
sempre, delegando ao “sistema” (que precisa ser substituído e não reforma) a
totalidade da culpa dos nossos fracassos nacionais. A principal reforma pela
qual precisamos passar é a reforma humana, estamos precisando a aprender a ser
gente.
Voltando
um pouquinho na história da humanidade, veremos no passado semelhanças, alguns
exemplos, das mesmas situações, observando a essência das coisas, que acontecem
até hoje e que foram mencionadas no parágrafo anterior.
Um dos
maiores impérios da humanidade, o Império Romano, é caracterizado por uma
atitude muito simples que colocaram em prática: dividiram a população em dois
grupos – existia o povo romano, que merecia todas as glórias, e o povo bárbaro,
que eram todos aqueles que não eram romanos. Independentemente de onde eram e
de como viviam, estes mereciam ser perseguidos, se fosse preciso
escravizados... eram vistos como segunda categoria de gente.
Uma
das maiores religiões ocidentais, infelizmente, fez, em certa época, a mesma
coisa, dividindo as pessoas em dois grupos católicos e não católicos. Os
primeiros dignos de todas as benesses divinas, e os segundos, pessoas
consideradas desalmadas, ditas como bruxas, merecedoras das chamas da
Inquisição e de todos os estragos provocados pelas cruzadas. Nos dias atuais,
estamos presenciando o movimento ao contrário, os que foram perseguidos hoje
perseguem. A semente do encalço parece ter germinado e os frutos estão aí,
vistos todos os dias nos noticiários.
Com o
processo de expansão dos povos europeus, a partir das grandes navegações, não é
que a história se repete? Os europeus consideravam-se civilizados, avançados e
todos os povos que foram “conquistados”, “descobertos”, foram considerados por
eles “raças inferiores”. E a justificativa: viviam de uma forma diferente, eram
seres sem alma. Houve um período em que os nativos, das diversas regiões do
planeta, foram vistos e tratados como animais.
Terceiro
milênio, a dicotomia continua. Separamos as pessoas em indivíduos da esquerda e
da direita; sujeitos homoafetivos e heterossexuais, católicos e protestantes;
islâmicos e cristãos; rurais e urbanos; intelectuais e analfabetos; ricos e
pobres; negros e brancos. E o que é mais importante vai ficando de lado: a
reforma humana.
Ao
analisar o passado, verificamos que, ao defender “bandeiras”, modelos, milhares
de pessoas foram exterminadas, excluídas. Independia de serem essas pessoas
boas ou ruins, honestas ou desonestas, justas ou injustas, o jeito dominador
imperava de ser imperava e ponto final.
Mas,
afinal de contas o que seria a reforma humana? Significa começar a enxergar os
valores que realmente interessam. E os valores são honestidade, sensatez,
hombridade, zelo, caráter, sensibilidade. E isso não tem relativismo. Significa
valorizar o mérito; significa valorizar a pessoa além de suas crenças, credos,
gostos e jeitos; significa perceber o outro como gente; significa ter atitude
de gente; significa acreditar que ainda é possível construir uma sociedade mais
justa e fraterna.
O que
adianta uma pessoa ser branca ou negra, católica ou protestante, homo ou hétero,
letrada ou analfabeta, ser filiada a esse ou àquele partido se suas atitudes
são preconceituosas, discriminatórias, malfazejas, injustas, corruptas e
desumanas? Acabará colaborando com todas as mazelas da sociedade.
Imaginemos
agora o contrário, não importando se a pessoa for branca ou negra, católica ou
protestante, homo ou hétero, letrada ou analfabeta, filiada a esse ou àquele
partido. Se ela praticar a caridade, a justiça, cuida do bem comum, valoriza as
pessoas, cultiva os valores humanos, não seria maravilhoso? Estará colaborando,
com toda a certeza, para uma sociedade equilibrada, justa, digna da vida
humana.
Todas
as outras reformas só darão certo quando o ser humano der certo. Quando
conseguir sair do casulo, da máscara, como diria Platão, da caverna. Quando
permitir-se atravessar os ritos da metamorfose ambulante. Quando deixar de, a
qualquer preço, defender bandeiras, estereótipos, convicções que desumanizam.
Caso contrário, ficaremos eternamente secando gelo e nunca veremos nossos
intermináveis problemas começarem a ser resolvidos. Já passou da hora de
valorizarmos o que realmente interessa!”.
(WALBER
GONÇALVES DE SOUZA. Professor do Centro Universitário de Caratinga – MG, em
artigo publicado no jornal ESTADO DE
MINAS, edição de 4 de agosto de 2015, caderno OPINIÃO, página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
16 de novembro de 2015, mesmo caderno, página 7, de autoria de SÉRGIO FARNESE, professor de filosofia,
autor de Minas, teus cadáveres te
espreitam, e que merece igualmente integral transcrição:
“Passivo
ambiental
Passivo, na
contabilidade, é dívida. O capital extrativo, multinacional, deve muito à
humanidade. Derrete geleiras, cobre o mar com óleo preto, fura o ozone, e ainda
nos precipita, como os deuses de Epicuro, em versões apocalípticas de macabras
mitologias, com aval dos governantes do mundo, do país, do estado. Lágrimas de
crocodilo não derretem lama, lava ou lixo, mas os oportunistas também choram.
Molham a gravata, o tailleur, parecem mesmo sinceros nas entrevistas de praxe,
nas providências tomadas, nas responsabilidades apuradas em 30 dias.
Petrópolis,
Friburgo, Ouro Preto esperam calmas, silentes, coniventes, que essas palavras
frívolas, meros clichês de marketing eleitoral remanescente das últimas urnas,
transformem-se de modo mágico em casas populares e indenizações por danos
físicos e morais, em providências preventivas e punição de responsáveis.
Há
mais de 30 dias, com certeza. Paciência, serenidade, resignação dos oprimidos é
o que espera quem oprime, por 365 dias. Não há fúria na dor, ódio na perda,
revanche no desvario. Mas o esforço heroico dos repórteres, a caneta crítica
dos jornalistas, encarnando oráculos da deusa grega Fama e sua nave informativa
de mil furos, mil olhos e mil ouvidos, insiste, aponta, repisa, cobra, repassa,
desencrava do esquecimento, da memória soterrada por sutil descuido,
declarações – promessas vãs – pios sopros de jovens e velhas raposas políticas
investidas de autoridade pelo voto democrático.
Como
dizia Vinicius de Moraes, é preciso que tudo isso seja belo, não há meio-termo.
A natureza deixada nas mãos de ONGs internacionais, de pessoas exóticas. O
cidadão comum paralisado por siglas de governos aparentemente responsáveis,
Copam, Ibama, Iepha, Iphan, IEF, Codemig, Prominas, BID. Procuradorias,
promotorias, corregedorias. Ministérios, secretarias do Meio Ambiente. Lobos na
pele de cordeiro. Paralisados pelo sucateamento proposital de seu raio de ação
estatal, desautorizados pela última palavra dos mandatários de colarinho
branco, prontos para dar uma gravata no interesse comum. Commodities partindo,
sem cessar, do seio de pessoas simples, quilombolas, indígenas, ribeirinhos,
pescadores de praia. Dólares entrando sem parar no bolso de pessoas
complicadas, do Norte, da Ásia, daqui, de lá, anexando estrelas e planetas a seu
passivo ambiental.
Senhores
das minas, senhores de Minas, senhores do que for, voltarão a ser pó, dos
subterrâneos, embaixo da terra, como todos os outros, ambientalistas e
predadores, faces de uma mesma moeda desses dias que correm. Abrigarão, sob o
manto doce da morte, nada mais que lama, água podre, atmosfera suja para o
futuro respirar, beber, lamentar. Nada de sociedade nova, nada de mundo novo,
nada de terra do bem-virá.
Mas
resta ainda o alvorecer orvalhado pelo canto do bem-te-vi, pelo gorjeio do
sabiá, cheiro verde de chuva nas manhãs cristalinas de novembro, tudo dando, a
todos, razão bastante para um pit stop nas barbaridades autorizadas pelos
parceiros burocráticos das topeiras mecânicas. Há uma causa, há um meio, um
ambiente propício para que muita gente velha, muita gente jovem dispenda
energia sagrada, porque generosa, no digladio político, revolucionário a ponto
de garantir bases ecológicas para sonhos milenares de pelo menos chances iguais
para todos, como no tempo de guerra de Zumbi dos Palmares, tempo encantado por
versos de Guarnieri e Edu Lobo, quando falar de flor e de amor não será mais
esquecer que tanta gente tá sofrendo tanta dor.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em novembro a também estratosférica marca
de 378,76% para um período de doze meses; e mais, em 2015, o IPCA acumulado nos doze meses
chegou a 10,67%...); II – a corrupção, há
séculos, na mais perversa promiscuidade
– “dinheiro público versus
interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida
nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a
propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação
Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um
caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...”
– e que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c) a
dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para
2016, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$
1,348 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(ao menos com esta rubrica, previsão de R$
1,044 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
-
Estamos nos descobrindo através da Cidadania e Qualidade...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...
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