segunda-feira, 4 de julho de 2016

A CIDADANIA, OS DESAFIOS DA SAÚDE FINANCEIRA EMPRESARIAL E AS NOVAS EXIGÊNCIAS PARA A ÉTICA E A SOLIDARIEDADE

“Busca da saúde financeira
        Com visão gerencial embaçada, parece que a maior dificuldade ainda encontrada por alguns empresários brasileiros é se adaptarem aos novos tempos, onde paradigmas como modernização, economia globalizada, tendências mercadológicas e, sobretudo, produtividade, têm que ser muito bem administradas. Entre os erros mais comuns, está na empresa encantar-se com a produção (faturamento) e não conhecer toda rede de custeio que vai revelar sua produtividade real. Muitas corporações aumentam a produção e, ainda assim, têm prejuízos, exatamente porque não deram a devida atenção ao controle dos custos, ou o fez em segmento errado, como dispensa de pessoal especializado. Controlá-los exige velocidade, pois a inércia pode causar sérios danos à saúde financeira e até mesmo ao fechamento de empresas. São muitas as lacunas a preencher, inclusive saber que, em tempos de crise, o comprador também se torna mais exigente e agressivo. No produto final posto à venda, seja ele de bens ou serviços, pode ser fatal descuidar-se do binômio qualidade e preço.
         É intrigante ver como empresários, sejam da indústria, do comércio ou da prestação de serviço, jogam suas energias no aumento da produção e venda. Às vezes, é mais importante saber comprar seus insumos do que vender seus produtos. A venda, normalmente, é regulada pelo mercado, mas o custo da produção depende diretamente de uma eficiente gestão de compra de matéria-prima. Outro descuido comum é ficar preso, por sentimentalismo, a um ou dois fornecedores sem maiores pesquisas de mercado e, por comodismo, comprar tudo por telefone ou internet. Dependendo do volume, a compra presencial quase sempre será mais vantajosa.
         Com o sistema bancário leonino como o brasileiro, deveria ser meta de todos limitarem a dependência de financiamentos ou, mesmo, independer deles. A sabedoria do caipira, do interior de Minas, já alertava: “Só compro com o cobre no bolso”. Além de fugir de dívidas, o dinheiro no Brasil é um dos mais caros do mundo. Não é por acaso que há uma constante migração de investidores estrangeiros para cá. Mesmo com risco maior, resultante da crise político-econômica atual, não se constata fuga expressiva desses investidores, porque a remuneração do capital, dentro de um risco calculado, ainda é muito atrativa. Chega-se a ganho real (juros-inflação) a 4% ao ano, enquanto em vários países não há remuneração do capital, isto é, ela é igual ou menor que a inflação. Mas como no mundo corporativo é quase impossível trabalhar sem apoio bancário, uma boa saída é procurar bancos públicos de fomento, como o BNDES ou BDMG, onde as taxas são menos onerosas.
         Hoje, está e continuará tendo maiores problemas quem não olha para dentro e fica culpando a crise. Ninguém pode negar que ela surpreendeu muito pela sua magnitude, mas como as crises são cíclicas, os erros de agora, se bem gerenciados, poderão ser transformados em sucesso amanhã. É o momento de buscar a saúde financeira saudável da empresa, além de dar atenção aos aspectos abordados, não se descuidar de formar uma boa carteira de ativos, financeiros ou não, e preservar capital para o giro e produção. Só assim é possível permanecer no mercado.”.

(GILSON E. FONSECA. Sócio e diretor da Soluções em Engenharia Geotécnica Ltda-SOEGEO, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de julho de 2016, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Exigências nas crises
        A adoção de novas práticas é exigência que desafia permanentemente todos na superação das crises enfrentadas pela sociedade. Na contramão desse caminho, o que se verifica é um arriscado afrouxamento, incompatível com as demandas de outras dinâmicas culturais. Basta um pequeno sinal de alguma melhora – mesmo ilusória – para se dirigir ao território da zona de conforto. Um lugar que abriga as justificativas e a inércia, adiando as ações mais efetivas rumo às mudanças. É comum a tendência de se pensar ter feito o necessário, embora, muitas vezes, as soluções alcançadas sejam apenas paliativas: não representam audaciosa intervenção nos funcionamentos, gastos, prioridades. A esperada e urgida superação da crise não pode ceder espaço para as comodidades conquistadas, muito menos para benefícios particulares adquiridos no interno de instituições e segmentos da sociedade.
         Certamente, crise não são superadas sem os sacrifícios necessários para o benefício de todos. Assim, espera-se, de quem tem mais recursos, o gesto altruísta de abrir mão de algumas benesses. Porque o que se percebe é a indisposição para sacrifícios. A antífona para analisar e emitir juízos de valor a respeito dos muitos problemas não cessa. Porém, na prática, promovem-se reduções, cortes e novas configurações no modo de produzir e trabalhar, buscando aumentar a própria produção para acumular mais vantagens e riquezas. Não se vê, na frequência esperada, atitudes de oferta e de partilha dos que ganham bem. As dificuldades dos que precisam de ajuda pouco afetam as consciências e as atitudes de quem pode mais. Assim, diante das crises, age-se apenas a partir da expectativa de que a situação melhore para si, desconsiderando o outro.
         Uma nova cultura é a grande exigência para superar os muitos problemas sociais. Isso significa que, além das indispensáveis mudanças nos funcionamentos institucionais, é preciso rever prioridades, renovar condutas pessoais. Na prática, essas transformações devem corrigir descompassos que incluem o desperdício – e não se medir, em importância e reconhecimento, apenas pelo tamanho da própria remuneração – postura que alimenta seguranças ilusórias e tem como parâmetro a idolatria do dinheiro.
         Por tudo isso, fica evidente que a superação das crises não pode reduzir-se às intervenções sobre os rumos da economia, conforme os ditames, orientações e opções das instâncias financeiras e de controles. Não conseguir abandonar hábitos e funcionamentos pautados pela idolatria ao dinheiro – que se desdobra na quase patológica necessidade de aumentar benefícios – é contribuir para acelerar processos de desumanização. É querer superar as crises sem sair da própria zona de conforto. A exigência é a partilha e a adoção de outras lógicas, baseadas na generosidade. Porém, o que se percebe é a postura de “fechar as mãos”, por medo de perder o que se tem.
         Essa e outras fragilidades no tecido da cultura põem a expectativa da superação das crises, particularmente a econômica, restrita à melhora de índices relacionados à circulação de bens de consumo. Trata-se de estreiteza que inviabiliza uma reforma financeira adequada e terapêutica, pois deixa de lado novos parâmetros éticos que poderiam promover mudanças de atitudes. Com esses parâmetros, seria mais comum ver ricos ajudando pobres. O papa Francisco, na sua exortação sobre a alegria do Evangelho, sublinha a importância do aprendizado de uma solidariedade desinteressada e a conversão da economia e das finanças a uma ética propícia ao ser humano. Eis o caminho para superar muitas crises da sociedade. Um percurso longo e doloroso, por exigir mudanças profundas na cultura. Transformações capazes de derrubar a defesa que encouraça o cidadão na indisposição de inserir-se em um projeto comum, que vá além de benefícios e de desejos pessoais.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em maio a ainda estratosférica marca de 471,3% para um período de doze meses; e, ainda em maio, o IPCA acumulado nos doze meses chegou a 9,32%, e a taxa de juros do cheque especial em históricos 311,3%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,044 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...

- Estamos nos descobrindo através da Cidadania e Qualidade...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  
        



         

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