“Um
herói brasileiro
O café da manhã para os
empregados era um pedaço de pão. Florestan deixava sempre sua parte para Ana
Fernandes, grávida de sete meses de um menino que nasceria sem jamais saber
quem era seu pai. Essa solidariedade rendeu ao motorista uma homenagem pelo
resto da vida da criança: o garoto também se chamaria Florestan.
Em 22 de julho de 1920,
nascia Florestan Fernandes, contando apenas com a aflição de uma mãe analfabeta,
empregada doméstica de uma família rica da aristocracia paulistana.
Aos 6 anos, já
trabalhava como entregador, dormindo no próprio emprego, onde ratos e insetos
dividiam o ambiente. O menino foi de lá retirado pela avó, com todos os riscos
da fome, passando a trabalhar como engraxate.
Já adolescente,
percebeu que era preciso estudar para o mudar o destino de miséria. De mãos
vazias e com os olhos encharcados de esperança, percorreu as etapas do
impossível até entrar, entre os primeiros, no curso de ciências sociais da USP.
Numa universidade frequentada pela nata da sociedade, ele sabia que somente
seria aceito se fosse o melhor.
A USP formou seu corpo
docente com mestres vindos da Europa que não falavam português. Assim, os
livros disponíveis deveriam ser estudados no idioma original. Sozinho nas
noites escuras, ele fez dos obstáculos um trampolim para alargar os limites que
poderia transformar. A escuridão começava a ser domada por uma luz interior, de
intensa inteligência e determinação.
Em pouco tempo, o
autodidata se revelou um gênio. Formou-se em primeiro lugar. Fez mestrado e
doutorado. Conquistou a cátedra. Escreveu mais de 50 livros, traduzidos para o
mundo inteiro. No Brasil, era um fenômeno admirado pelos intelectuais da época,
dentre os quais, Fernando Henrique Cardoso, que fora seu aluno.
Com o golpe de 1964,
Florestan foi expulso do país. Esse menino que nasceu sem pai, filho de mãe
analfabeta, condenado a ser miserável, partir para os Estado Unidos para
ensinar ciências sociais como professor nas universidades de Columbia e Yale.
Posteriormente, tornou-se professor titular na Universidade de Toronto, no
Canadá.
A redemocratização o
trouxe de volta ao Brasil, tendo sido eleito deputado federal constituinte. Era
o único parlamentar que, ao ocupar a tribuna, provocava um silêncio de respeito
e admiração no plenário.
Numa madrugada de
agosto de 1995, Florestan Fernandes vestiu um pijama e se dirigiu ao Hospital
dos Servidores Públicos. Estava doente do fígado, algo decorrente de uma
hepatite C. Embora tivesse condecorações equiparadas às de embaixador, pelas
quais poderia ser tratado em qualquer país do mundo, preferiu juntar-se às
centenas de colegas que estavam na fila para ser atendidos. A morte o levou,
vítima de erro médico.
O maior gol de placa
que o Brasil já fez ainda não foi comemorado: ter um filho como Florestan
Fernandes. Já passou da hora de sabermos escolher nossos verdadeiros heróis.”
(CÁSSIO
ANDRADE. Procurador do Estado, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 4 de
abril de 2013, caderno O.PINIÃO, página
21).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 8 de abril
de 2013, caderno OPINIÃO, página 9,
de autoria de ROBERTO LUCIANO FAGUNDES, que
é engenheiro, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas
(ACMinas), e que merece igualmente integral transcrição:
“O
despertar da inovação
Há no Plano Inova
Empresa, lançado recentemente pelo governo federal, um mérito indiscutível: o
de, ao disponibilizar quase R$ 33 bilhões em linhas de crédito subsidiado para
o setor produtivo, permitir que as empresas possam bancar, elas próprias,
projetos de inovação capazes de elevar sua competitividade e a produtividade.
São exatamente esses fatores que, ao lado da imensa lista de entraves que
compõem o chamado “custo Brasil”, constituem as principais causas de maus
resultados, que nem repetidas desonerações fiscais têm conseguido reverter.
Da
iniciativa deverá também resultar, como
efeito paralelo e igualmente bem-vindo, a melhora da posição brasileira no
ranking das nações mais inovadoras. Em 2012, de acordo com a Organização
Mundial da Propriedade Intelectual, o Brasil perdeu nove posições, mesmo tendo
conseguido um crescimento de 4,1% no número de depósitos de patentes, referência
para a classificação. Com isso, caiu para o 58º lugar entre os 141 países
pesquisados, um resultado que nem sequer nos coloca na liderança da América
Latina, ocupada pelo Chile, e nos deixa a anos-luz do topo da lista, ocupado
pela Suíça.
Dez
entre 10 especialistas
concordam que a razão desse desempenho pífio encontra-se numa quase
generalizada ausência de cultura inovadora nas empresas, motivada, por sua vez,
por uma aversão ao risco – não sem motivos, diga-se, dada a relativa
instabilidade nas regulações econômicas e financeiras do país, além do
crescente intervencionismo estatal, que recomendam cautela na hora de decidir
investimentos. E isso faz com a busca pela inovação acabe se concentrando
fortemente no meio acadêmico: entre as cinco instituições que lideram os pedidos
de patentes, três são institutos de pesquisas – a Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) e a Universidade de São Paulo (USP) – outra é uma fundação,
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), e, completando a
lista, uma única empresa, a Petrobrás, mesmo assim estatal.
Não é
de se esperar que os recursos do Plano Inova Empresa sejam utilizados pelo
setor produtivo no desenvolvimento interno de projetos, até porque pouquíssimas
empresas têm vocação. E é nesse aspecto, justamente, que a iniciativa mostra
seu maior potencial. Ao disponibilizar uma montanha de dinheiro para ser
investida exclusivamente em programas de inovação, a iniciativa privada terá
como estabelecer parcerias estratégicas com instituições especializadas para
desenvolvimento de novos produtos, processos, sistemas de gestão, engenharia,
marketing e uma infinidade de outras atividades que podem ser melhoradas e
tornadas mais eficazes. Ao convergir em boa parte para as organizações que
atuam diretamente no desenvolvimento da inovação, os investimentos certamente darão
novo fôlego à pesquisa, um setor que, efetivamente, precisa de incentivos.
Segundo relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) divulgado no ano passado, o Brasil
investe nessa área não mais que 1,2% do seu PIB.
Ainda
assim, a situação brasileira é invejável se comparada com a dos demais países
da América Latina e do Caribe, excetuado o Chile. Segundo dados de 2007, os
mais recentes disponíveis, a média de investimentos públicos nessas regiões é
de 0,1% da somatória dos PIBs. É nesse contexto que um programa capitaneado
pela Fundação Dom Cabral, oitava melhor escola de negócios do mundo no ranking
do Financial Times, o Escolas de
Negócios da América Latina para o Crescimento Sustentável (Enlaces), vem
atuando. Agregando-se congêneres da Argentina, Chile, México, Venezuela,
Colômbia e Peru, a Rede Enlaces está realizando em Cartagena de Indias, na
Colômbia, entre os dias 10 e 12 deste mês, com apoio do BID, o encontro
“Desafios da inovação empresarial na América Latina”, que tem como propósito a
difusão de experiências bem-sucedidas na região. Paralelamente ao evento, a
ACMinas realiza missão empresarial a Bogotá para dois dias de rodadas de
negócios com empresas de sete países.
Em
suma, tudo parece indicar que o governo brasileiro decidiu se aliar à
iniciativa privada em busca da inovação. Há, porém, dois “entretantos” que
ainda afastam intenções de resultados. O primeiro parte do princípio de que a
base que tornará sustentável o futuro Plano Inova Empresa é a educação, que no
Brasil, a despeito de avanços na última década, ainda derrapa em falhas que
levam, por exemplo, a um índice de evasão escolar de 10% no ensino médio. O
segundo é o risco – infelizmente alto, dado o histórico da corrupção no país –
de que mãos outras avancem sobre os R$ 33 bilhões, inclusive para fins
políticos. Afinal, quase metade dessa dinheirama será liberada ainda em 2013,
segundo o governo federal, e nunca se deve esquecer que o ano que vem é 2014.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental , independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas
políticas públicas;
b)
o combate,
severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores
inimigos que são: I – a inflação, a
exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados; II – a corrupção, como
um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas
modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente
irreparáveis;
c)
a dívida
pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da
União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a
exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tamanha
sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa
capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades
de ampliação e modernização de
setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos
tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; mobilidade urbana (trânsito, transporte,
acessibilidade); habitação; emprego,
trabalho e renda; assistência social; previdência social; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; logística; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; esporte, cultura e
lazer; turismo; minas e energia; comunicações; qualidade (planejamento –
estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade,
economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a Copa das Confederações em junho; a 27ª Jornada Mundial da Juventude no
Rio de Janeiro em julho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras
do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da
globalização, da internacionalização de empresas, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e
perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...