quarta-feira, 10 de abril de 2013

A CIDADANIA, A LEMBRANÇA DE FLORESTAN FERNANDES E O DESPERTAR DA INOVAÇÃO


“Um herói brasileiro

O café da manhã para os empregados era um pedaço de pão. Florestan deixava sempre sua parte para Ana Fernandes, grávida de sete meses de um menino que nasceria sem jamais saber quem era seu pai. Essa solidariedade rendeu ao motorista uma homenagem pelo resto da vida da criança: o garoto também se chamaria Florestan.
Em 22 de julho de 1920, nascia Florestan Fernandes, contando apenas com a aflição de uma mãe analfabeta, empregada doméstica de uma família rica da aristocracia paulistana.
Aos 6 anos, já trabalhava como entregador, dormindo no próprio emprego, onde ratos e insetos dividiam o ambiente. O menino foi de lá retirado pela avó, com todos os riscos da fome, passando a trabalhar como engraxate.
Já adolescente, percebeu que era preciso estudar para o mudar o destino de miséria. De mãos vazias e com os olhos encharcados de esperança, percorreu as etapas do impossível até entrar, entre os primeiros, no curso de ciências sociais da USP. Numa universidade frequentada pela nata da sociedade, ele sabia que somente seria aceito se fosse o melhor.
A USP formou seu corpo docente com mestres vindos da Europa que não falavam português. Assim, os livros disponíveis deveriam ser estudados no idioma original. Sozinho nas noites escuras, ele fez dos obstáculos um trampolim para alargar os limites que poderia transformar. A escuridão começava a ser domada por uma luz interior, de intensa inteligência e determinação.
Em pouco tempo, o autodidata se revelou um gênio. Formou-se em primeiro lugar. Fez mestrado e doutorado. Conquistou a cátedra. Escreveu mais de 50 livros, traduzidos para o mundo inteiro. No Brasil, era um fenômeno admirado pelos intelectuais da época, dentre os quais, Fernando Henrique Cardoso, que fora seu aluno.
Com o golpe de 1964, Florestan foi expulso do país. Esse menino que nasceu sem pai, filho de mãe analfabeta, condenado a ser miserável, partir para os Estado Unidos para ensinar ciências sociais como professor nas universidades de Columbia e Yale. Posteriormente, tornou-se professor titular na Universidade de Toronto, no Canadá.
A redemocratização o trouxe de volta ao Brasil, tendo sido eleito deputado federal constituinte. Era o único parlamentar que, ao ocupar a tribuna, provocava um silêncio de respeito e admiração no plenário.
Numa madrugada de agosto de 1995, Florestan Fernandes vestiu um pijama e se dirigiu ao Hospital dos Servidores Públicos. Estava doente do fígado, algo decorrente de uma hepatite C. Embora tivesse condecorações equiparadas às de embaixador, pelas quais poderia ser tratado em qualquer país do mundo, preferiu juntar-se às centenas de colegas que estavam na fila para ser atendidos. A morte o levou, vítima de erro médico.
O maior gol de placa que o Brasil já fez ainda não foi comemorado: ter um filho como Florestan Fernandes. Já passou da hora de sabermos escolher nossos verdadeiros heróis.”
(CÁSSIO ANDRADE. Procurador do Estado, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 4 de abril de 2013, caderno O.PINIÃO, página 21).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 8 de abril de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de ROBERTO LUCIANO FAGUNDES, que é engenheiro, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas (ACMinas), e que merece igualmente integral transcrição:

“O despertar da inovação
        
         Há no Plano Inova Empresa, lançado recentemente pelo governo federal, um mérito indiscutível: o de, ao disponibilizar quase R$ 33 bilhões em linhas de crédito subsidiado para o setor produtivo, permitir que as empresas possam bancar, elas próprias, projetos de inovação capazes de elevar sua competitividade e a produtividade. São exatamente esses fatores que, ao lado da imensa lista de entraves que compõem o chamado “custo Brasil”, constituem as principais causas de maus resultados, que nem repetidas desonerações fiscais têm conseguido reverter.
         Da iniciativa  deverá também resultar, como efeito paralelo e igualmente bem-vindo, a melhora da posição brasileira no ranking das nações mais inovadoras. Em 2012, de acordo com a Organização Mundial da Propriedade Intelectual, o Brasil perdeu nove posições, mesmo tendo conseguido um crescimento de 4,1% no número de depósitos de patentes, referência para a classificação. Com isso, caiu para o 58º lugar entre os 141 países pesquisados, um resultado que nem sequer nos coloca na liderança da América Latina, ocupada pelo Chile, e nos deixa a anos-luz do topo da lista, ocupado pela Suíça.
         Dez entre 10 especialistas concordam que a razão desse desempenho pífio encontra-se numa quase generalizada ausência de cultura inovadora nas empresas, motivada, por sua vez, por uma aversão ao risco – não sem motivos, diga-se, dada a relativa instabilidade nas regulações econômicas e financeiras do país, além do crescente intervencionismo estatal, que recomendam cautela na hora de decidir investimentos. E isso faz com a busca pela inovação acabe se concentrando fortemente no meio acadêmico: entre as cinco instituições que lideram os pedidos de patentes, três são institutos de pesquisas – a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de São Paulo (USP) – outra é uma fundação, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), e, completando a lista, uma única empresa, a Petrobrás, mesmo assim estatal.
         Não é de se esperar que os recursos do Plano Inova Empresa sejam utilizados pelo setor produtivo no desenvolvimento interno de projetos, até porque pouquíssimas empresas têm vocação. E é nesse aspecto, justamente, que a iniciativa mostra seu maior potencial. Ao disponibilizar uma montanha de dinheiro para ser investida exclusivamente em programas de inovação, a iniciativa privada terá como estabelecer parcerias estratégicas com instituições especializadas para desenvolvimento de novos produtos, processos, sistemas de gestão, engenharia, marketing e uma infinidade de outras atividades que podem ser melhoradas e tornadas mais eficazes. Ao convergir em boa parte para as organizações que atuam diretamente no desenvolvimento da inovação, os investimentos certamente darão novo fôlego à pesquisa, um setor que, efetivamente, precisa de incentivos. Segundo relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento  (BID) divulgado no ano passado, o Brasil investe nessa área não mais que 1,2% do seu PIB.
         Ainda assim, a situação brasileira é invejável se comparada com a dos demais países da América Latina e do Caribe, excetuado o Chile. Segundo dados de 2007, os mais recentes disponíveis, a média de investimentos públicos nessas regiões é de 0,1% da somatória dos PIBs. É nesse contexto que um programa capitaneado pela Fundação Dom Cabral, oitava melhor escola de negócios do mundo no ranking do Financial Times, o Escolas de Negócios da América Latina para o Crescimento Sustentável (Enlaces), vem atuando. Agregando-se congêneres da Argentina, Chile, México, Venezuela, Colômbia e Peru, a Rede Enlaces está realizando em Cartagena de Indias, na Colômbia, entre os dias 10 e 12 deste mês, com apoio do BID, o encontro “Desafios da inovação empresarial na América Latina”, que tem como propósito a difusão de experiências bem-sucedidas na região. Paralelamente ao evento, a ACMinas realiza missão empresarial a Bogotá para dois dias de rodadas de negócios com empresas de sete países.
         Em suma, tudo parece indicar que o governo brasileiro decidiu se aliar à iniciativa privada em busca da inovação. Há, porém, dois “entretantos” que ainda afastam intenções de resultados. O primeiro parte do princípio de que a base que tornará sustentável o futuro Plano Inova Empresa é a educação, que no Brasil, a despeito de avanços na última década, ainda derrapa em falhas que levam, por exemplo, a um índice de evasão escolar de 10% no ensino médio. O segundo é o risco – infelizmente alto, dado o histórico da corrupção no país – de que mãos outras avancem sobre os R$ 33 bilhões, inclusive para fins políticos. Afinal, quase metade dessa dinheirama será liberada ainda em 2013, segundo o governo federal, e nunca se deve esquecer que o ano que vem é 2014.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental , independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tamanha sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); habitação; emprego, trabalho e renda; assistência social; previdência social; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; logística; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; esporte, cultura e lazer; turismo; minas e energia; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa das Confederações em  junho; a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização de empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa  esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...

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