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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A CIDADANIA, UM ESTADO EFICIENTE E A REVOLUÇÃO DO PAPA

“Por um Estado eficiente
        
         Os olhos da vida e o exercício da razão pensante vêm demonstrando que países com instituições coesas apresentam melhores índices de crescimento, produção e melhora de renda per capita. Ao contrário do que se poderia imaginar, o desenho institucional de uma nação não é uma simples abstração teórica ou meros nacos de tinta sobre papel. Essa visão estática da estrutura organizacional do poder político não se sustenta frente à dinâmica realidade da sociedade contemporânea. Sem cortinas, vivemos um tempo de transformações rápidas que exigem soluções céleres e resultados eficazes. Logo, a continuidade do crescimento econômico brasileiro exige um aprimoramento progressivo das instituições nacionais, firmado em um modelo otimizado de eficiência pública.
         Nesse caminho, é urgente e necessário diferenciar “órgãos de Estado” de “posições de governo”. Não é mais possível que, a cada eleição, a máquina pública seja desmantelada para atender os insaciáveis interesses da casta partidária oficial. O motivo é simples: o interesse público é do Brasil e não deste ou daquele partido. Dessa forma, a confusão entre administração pública e interesses partidários apenas serve para cavar valas de clientelismo e corrupção no seio das instituições nacionais. E clientelismo e corrupção podem ser tudo, menos estimulantes à confiança que faz nascer o crescimento econômico.
         A voracidade no aparelhamento da administração federal pode ser vista em um exemplo pontual, mas elucidativo: o governo federal tem 39 ministérios! Nessa babel política, é provável que, se a presidente da República almejasse fazer uma reunião ministerial, talvez não soubesse o nome de todos os ministros, tendo que se socorrer do bom e velho cartão de visitas. Feito o registro, o fato bem revela que o gigantismo governamental apenas serve para aumentar a despesa pública, inchar a máquina e, ao fim, incorrer em manifesta violação do artigo 37 da Constituição, que estabelece a “eficiência” como princípio vetor da administração pública brasileira.
         Como se vê, ainda vige no Brasil um forte ranço patrimonialista que pensa que o Estado é um serviçal dos donos do poder. Essa circunstância é grave e demonstra um acintoso desapreço pelas instituições republicanas. Há um claro fracasso da Constituição de 1988 na tentativa de moralizar a promíscua relação entre o bem público e o interesse político majoritário. Passados 25 anos de vigência da Carta, seguimos, infelizmente, a conviver com práticas políticas parasitárias que apenas buscam o poder sem qualquer projeto político de nação. Não se discute, por óbvio, o direito da corrente eleitoral vencedora de montar estrategicamente suas posições de governo, trazendo para a administração pública personalidades capacitadas e bem desenvolver o programa partidário prevalecente. Todavia, montar posições de governo não significa empregar amigos e bajuladores. Isso acontecendo, além de ineficiência, temos um poder imoral.
         Em um autêntico Estado constitucional de direito, o governo deve representar segurança jurídica, previsibilidade de condutas, cumprimento da lei e efetiva responsabilidade contra eventuais transgressões políticas. Por conseguinte, um governo firmemente institucionalizado evita o populismo e a demagogia de maiorias parlamentares eventuais. Além de combater os vícios da política pequena, o irrestrito respeito ao princípio da legalidade fomenta o crescimento econômico à medida que sinaliza aos agentes do mercado que as regras do jogo são cumpridas, gerando, ato contínuo, confiança e credibilidade nas instituições nacionais.
         Em sua rota de progresso, é chegada a hora de o Brasil construir autênticas e virtuosas instituições públicas. Além da profissionalização apartidária dos órgãos de Estado – fundada em preceitos de meritocracia, eficiência e exação –, temos que estabelecer um sistema legal mais simples, integrado e compreensível a todo e qualquer cidadão nacional ou estrangeiro. Ora, a lei existe para facilitar a vida em sociedade e não para criar confusão. Quando as coisas complicam, é sinal, justamente, de que a legalidade deixou de ser prestigiada. Será, então, que deixaremos a estabilidade econômica ser comprometida por práticas políticas que prejudicam o sério e eficiente funcionamento das instituições nacionais? Será que, mais uma vez, o Brasil vai perder para si mesmo? Será, enfim, que a voz das ruas muito grita e nada fala?”

(SEBASTIÃO VENTURA PEREIRA DA PAIXÃO JR., advogado, especialista do Instituto Millenium, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 5 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, que é doutor em comunicação pela Universidade de Navarra, e que merece igualmente integral transcrição:

“A revolução do papa
        
         A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro, de 23 a 28 de julho, foi o maior fenômeno de massas da nossa história. Mais de 3 milhões de pessoas lotaram as areias da Praia de Copacabana para ouvir o papa Francisco. Foi um espetáculo incrível de fé, unidade e alegria. Como todos que lá estiveram, vivi uma experiência forte. O clima era de final de Copa do Mundo. A multidão gigantesca não era massa despersonalizada. Tinha um toque de família que impressionava e mexia por dentro.
         Usando tênis e mochilas e agitando as bandeiras de seus países, os jovens cantaram, dançaram e entoaram bordões como “ Somos a juventude do papa”. Mas também vi, nos momentos previstos de recolhimento e oração, um silêncio que se podia cortar. Ouvia-se apenas o rumor das ondas do mar. Incrível! Durante quase uma semana, apesar da chuva, do frio e dos problemas de organização, milhares de jovens vindos de todas as partes do mundo mostraram a surpreendente capacidade de renovação da Igreja Católica.
         O papa falou dos riscos dos valores efêmeros como sucesso, dinheiro e poder, alertou para as atitudes egoístas, convocou os jovens a não esmorecerem na luta contra a corrupção e reforçou seu empenho contra a pobreza, a desigualdade e a insensibilidade social.  Mas, sobretudo, o papa sacudiu a própria Igreja Católica e fustigou as atitudes de acomodação e burocracia. Falando aos jovens argentinos, na Catedral do Rio, papa Francisco pediu uma Igreja “barulhenta” que “saia às ruas”. “Espero uma confusão na JMJ, mas quero confusão e agito nas dioceses, que vocês saiam às ruas. Quero que a Igreja vá para as ruas. Quero que nos defendamos de tudo que seja acomodação e ficar fechado em torno de nós mesmos. Não podemos esvaziar a fé”, disse. Na missa que marcou o encerramento da jornada, o papa mais uma vez apontou os jovens como os atores principais da propagação  da fé católica. Na homilia, ele pediu à multidão, estimada em 3,5 milhões de pessoas, que não ficasse “trancafiada” em casa. “A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que os caracteriza”.
         Em uma semana no Brasil, o papa Francisco delineou os caminhos de seu pontificado. Em discurso para os bispos da América Latina no último dia de sua visita ao Brasil, o papa criticou a “ideologização” da Igreja por grupos que vão da “categorização marxista” até os “restauracionismos” de “formas superadas”. Mas a crítica do papa também disse respeito à leitura do evangelho de acordo com o “liberalismo de mercado” ou como uma mera forma de autoconhecimento – e, portanto, sem sentido missionário.
         A humildade como princípio e disposição ao diálogo nortearam os discursos do papa dirigido aos políticos e às autoridades. Depois de criticar “pessoas que, em vez de procurar o bem comum, procuram o próprio benefício”, ele defendeu que a formulação de políticas públicas seja baseada em valores éticos. Impressionou, e muito, o tom positivo que permeou todos os discursos e homilias do papa. Impressionou, também, a transparência do papa Francisco em suas entrevistas aos jornalistas. O que se viu não foi uma Igreja acuada, na defensiva. Ao contrário. O papa rasgou um horizonte valente e generoso. Deixou claro que os católicos não são antinada. O cristianismo não é uma alternativa negativa, encolhimento medroso ou mera resignação. É uma proposta afirmativa, alegre, revolucionária. Os discursos do papa não desembocaram num compêndio moralizador, mas num desafio empolgante proposto por uma pessoa: Jesus Cristo. Os jovens entenderam o recado e mostraram notável sintonia com o papa.
         O papa é exigente. Sem dúvida. E os jovens vão atrás do seu discurso comprometedor. Não gostam de um cristianismo desidratado. A juventude abraça grandes bandeiras: a coerência com a fé, a rebelião dos valores, a luta contra as discriminações, a defesa da vida, o combate à corrupção. Quem não perceber, na mídia e fora dela, essa virada comportamental perderá conexão com o novo mundo. Afinal, como bem salientou o papa: “A juventude é a janela pela qual o futuro entra na mundo”.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
  
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; sistema financeiro nacional; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; comunicações; esporte, cultura e lazer; turismo; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...         

sexta-feira, 22 de março de 2013

A CIDADANIA, A HORA DO BOM GOVERNO E O VERDADEIRO MILAGRE


“Hora de institucionalizar o governo
         
         Por um lugar ao sol palaciano, se é capaz de tudo, pois, para alguns, estar fora dos holofotes governamentais soa como um nada absoluto. Pobre país este que navega sem norte entre homens públicos medíocres, partidos tíbios e um sistema político completamente assistemático. Entre tantas sandices e incredulidades, que transbordam na cena pública atual, os homens e mulheres de bem são insistentemente provocados por uma incômoda indagação: será que há solução?
         Pois bem. A solução necessariamente existe; a questão é saber onde ela está. Sabidamente, a democracia é – e sempre será – uma obra inacabada a exigir um permanente devotamento cívico em prol do progressivo aperfeiçoamento político da nação. Nesse contexto, chegamos a um ponto crítico do sistema político brasileiro: a corrupção e a imoralidade vicejam em um país carente de referências políticas de envergadura. Por que? Ora, o motivo é único: o sucesso democrático depende de partidos fortes, conscientes e responsáveis. Sem bons partidos não há boa política. E, sem boa política, não há bons políticos.
         A realidade está aí e não nos deixa mentir. Sem o esteio partidário, a democracia, em vez de se transformar em um sistema político orgânico, vira pura e simplesmente uma projeção pessoal de poder. Infelizmente, a Constituição de 88 não tem tido êxito no processo republicano de institucionalização do governo. Na verdade, entre a lei e a realidade social existe o hiato da política, aquele espaço do possível que procura dar cores de pragmatismo  à utopia do ideal. Por assim ser, quando a política vai bem a realidade se aproxima do plano teórico da norma; já quando a vida pública fracassa, a lei fica desamparada de sua necessária efetividade material.
         Sem cortinas, o sistema político brasileiro, em vez de estimular a formação e o desenvolvimento dos partidos, privilegia o passar de personalismos passageiros. Aliás, em certas atitudes, os egos andam tão elevados que existem aqueles que pensam estar acima do bem e do mal; chegam ao ponto, inclusive, de desmerecer soberanas decisões da colenda Suprema Corte. Frisa-se que a crítica técnica e bem-intencionada é sempre bem-vinda, pois faz pensar e refletir. Agora, a ofensa institucional é algo baixo e desprezível, não podendo ser admitida em uma nação que se queira civilizada.
         Entre os muitos aperfeiçoamentos que temos a fazer, é urgente e necessário institucionalizar o governo. Não é possível que, a cada eleição, a estrutura pública seja desmantelada para atender os interesses da casta partidária. Ora, o governo é do Brasil e, não, desse ou daquele partido. Logo, a confusão entre máquina pública e interesses partidários apenas serve para cavar valas de clientelismo no seio das instituições públicas nacionais.
         Em um autêntico Estado constitucional de direito, o governo deve representar segurança jurídica, previsibilidade de condutas, cumprimento da lei e efetiva responsabilidade contra eventuais transgressões políticas. Por conseguinte, um governo firmemente institucionalizado evita o parasitismo e a demagogia de maiorias parlamentares eventuais que apenas querem o poder pelo poder. O tempo corre e precisamos de dias melhores. Acontece que nada muda por inércia.
         A política não mudará por milagre nem por graça dos céus. É necessário agir e colaborar em maior grau e profundidade. Precisamos, definitivamente, assumir a responsabilidade pelos deveres da democracia que impõem a cada cidadão a obrigação de participar ativamente das questões de interesse público. A inação cívica apenas tem o condão de fazer o nada, permitindo o silencioso desmanche das estruturas éticas das instituições republicanas. Está chegada a hora de o Brasil se reencontrar, definitivamente, com seus bons cidadãos. Até quando deixaremos que poucas dezenas de políticos rasteiros prejudiquem o destino de milhões de brasileiros decentes?”
(SEBASTIÃO VENTURA PEREIRA DA PAIXÃO JR.. Advogado, especialista do Instituto Millenium, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 20 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor, em parceria com Leonardo Boff, de Mística e espiritualidade (Vozes), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Crer em milagres
         
          Desde o surgimento da agricultura, quando o ser humano já não dependia da fase coletora e extrativa, tenta-se domesticar a natureza, impor-lhe limites, desviar o seu curso, exigir que ela não siga suas leis intrínsecas, e sim a nossa lógica voltada ao lucro. Assim, represamos rios, reduzimos o ímpeto das marés, quebramos a escuridão da noite, logramos fazer voar o que é mais pesado do que ar.
         A razão moderna desencantou o mundo. E a primeira vítima foi o milagre que a ciência tenta expulsar do mundo e da mente humana. A crença no milagre revela certa noção de Deus. Seria ele como um encanador, que, tendo cometido erros em sua obra, a todo momento precisa correr aqui e ali para corrigir defeitos imprevistos? Ele livra da doença os filhos preferidos e não os preteridos? Fica atento a quem mais emite súplicas e premia a insistência com o milagre?
         A razão moderna considera que só a ignorância enxerga milagres na ordem natural das coisas. Milagre é quando se desconhecem as leis da natureza, assim como é mágica o que provoca e esconde o truque. O que hoje é tido como milagre será desvendado amanhã pela ciência, como faz na TV o Fantástico em suas reportagens sobre a origem ordinária de fatos extraordinários?
         Há teólogos que restringem a ação divina ao ato da criação. Deus, ao criar, teria dotado a natureza de leis que, como o mecanismo do relógio, funcionam sem que o relojoeiro precise interferir. Se ocorrem imperfeições na criação não é culpa de Deus. Há que buscar as causas na ação humana sobre a natureza e na nossa ignorância, que percebe como defeito o que para Deus seria mero e previsível  efeito.
         As Igrejas demonstram uma posição ambígua diante do milagre. Umas admitem a onipotência divina, o poder de Deus em operar mudanças substanciais no rumo natural das coisas e, ao mesmo tempo, miram com ceticismo qualquer evento que, por seu caráter extraordinário, é tido como milagre.
         As igrejas neopentecostais emulam a fé dos fiéis por meio de sucessivos milagres, em especial os que restabelecem a saúde. Já as igrejas históricas suspeitam da profusão de milagres. A ponto de o Vaticano, nos processos de canonização, nomear um “advogado do diabo” incumbido de desmoralizar fenômenos nos quais a fé identifica origem miraculosa.
         Muitos procuram em Deus a capacidade de operar milagres. Um Deus-mágico, capaz de tirar, de sua onipotente cartola, todo tipo de curas e bênçãos. Um Deus disposto, a todo momento, a contrariar e mesmo subverter as leis da natureza que ele mesmo criou. Um Deus criado à nossa imagem e semelhança.
         O que fez Moisés, naquele mundo politeísta, para convencer o faraó de que Javé era um Deus especial, diferente dos demais? Apresentou-lhe uma série de milagres. E ao se convencer de que o faraó se mantinha obstinadamente apegado a seus deuses egípcios, então recorrer às sucessivas pragas.
         O Deus-espetáculo é tão paradoxal quanto o Deus-utilitário. Enquanto no dólar usamericano está impressa a inscrição “In God we trust” (Nós confiamos em Deus), os soldados nazistas traziam inscrito na fivela do cinto: “Gottmit uns!” (Deus está conosco).
         E o Deus de Jesus, está com quem? Onde ele fica em tudo isso? Jesus agia com discrição, pedia aos discípulos para não fazerem alarde quanto à identidade dele, e ao curar não atribuía o mérito a si, e sim ao fiel: “A tua fé te salvou”.
         O verdadeiro milagre de Deus é a presença de Jesus entre nós. Presença nada espetacular (nasce numa estrebaria e morre assassinado na cruz) e incômoda (entra em choque com as autoridades religiosas e políticas). Não era a ordem da natureza que lhe interessava mudar e sim o coração humano, para impregná-lo de amor, compaixão e justiça. Desconfio da fé que necessita da muleta dos milagres para se sustentar. É a fé-bilhete de loteria: adquiro-a na expectativa de ser sorteado. Em nada mudo minha atitude. Fico à espera de que Deus mude a dele.
         É frequente encontrar quem tenha fé em Jesus. O raro é se deparar com quem tenha a fé de Jesus, que o levou a se posicionar em defesa dos oprimidos e excluídos em nome de um Deus amoroso e misericordioso. A vida humana  é, sem dúvida, o maior de todos os milagres. Mas ele não nos causa impacto. Não cremos nele. Tanto que somos indiferentes a tantas vidas ceifadas precocemente pela miséria e a violência.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, graves e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (a propósito, é razoável contabilizar, apenas, o custo das perdas e danos causados pelo atual caos rodoviário/portuário na comercialização da safra de grãos 2012/2013?);
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); habitação; emprego, trabalho e renda; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; agregação de valor às commodities; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; sistema financeiro nacional; esporte, cultura e lazer; logística; turismo;comunicações; minas e energia; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...