quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A CIDADANIA, UM ESTADO EFICIENTE E A REVOLUÇÃO DO PAPA

“Por um Estado eficiente
        
         Os olhos da vida e o exercício da razão pensante vêm demonstrando que países com instituições coesas apresentam melhores índices de crescimento, produção e melhora de renda per capita. Ao contrário do que se poderia imaginar, o desenho institucional de uma nação não é uma simples abstração teórica ou meros nacos de tinta sobre papel. Essa visão estática da estrutura organizacional do poder político não se sustenta frente à dinâmica realidade da sociedade contemporânea. Sem cortinas, vivemos um tempo de transformações rápidas que exigem soluções céleres e resultados eficazes. Logo, a continuidade do crescimento econômico brasileiro exige um aprimoramento progressivo das instituições nacionais, firmado em um modelo otimizado de eficiência pública.
         Nesse caminho, é urgente e necessário diferenciar “órgãos de Estado” de “posições de governo”. Não é mais possível que, a cada eleição, a máquina pública seja desmantelada para atender os insaciáveis interesses da casta partidária oficial. O motivo é simples: o interesse público é do Brasil e não deste ou daquele partido. Dessa forma, a confusão entre administração pública e interesses partidários apenas serve para cavar valas de clientelismo e corrupção no seio das instituições nacionais. E clientelismo e corrupção podem ser tudo, menos estimulantes à confiança que faz nascer o crescimento econômico.
         A voracidade no aparelhamento da administração federal pode ser vista em um exemplo pontual, mas elucidativo: o governo federal tem 39 ministérios! Nessa babel política, é provável que, se a presidente da República almejasse fazer uma reunião ministerial, talvez não soubesse o nome de todos os ministros, tendo que se socorrer do bom e velho cartão de visitas. Feito o registro, o fato bem revela que o gigantismo governamental apenas serve para aumentar a despesa pública, inchar a máquina e, ao fim, incorrer em manifesta violação do artigo 37 da Constituição, que estabelece a “eficiência” como princípio vetor da administração pública brasileira.
         Como se vê, ainda vige no Brasil um forte ranço patrimonialista que pensa que o Estado é um serviçal dos donos do poder. Essa circunstância é grave e demonstra um acintoso desapreço pelas instituições republicanas. Há um claro fracasso da Constituição de 1988 na tentativa de moralizar a promíscua relação entre o bem público e o interesse político majoritário. Passados 25 anos de vigência da Carta, seguimos, infelizmente, a conviver com práticas políticas parasitárias que apenas buscam o poder sem qualquer projeto político de nação. Não se discute, por óbvio, o direito da corrente eleitoral vencedora de montar estrategicamente suas posições de governo, trazendo para a administração pública personalidades capacitadas e bem desenvolver o programa partidário prevalecente. Todavia, montar posições de governo não significa empregar amigos e bajuladores. Isso acontecendo, além de ineficiência, temos um poder imoral.
         Em um autêntico Estado constitucional de direito, o governo deve representar segurança jurídica, previsibilidade de condutas, cumprimento da lei e efetiva responsabilidade contra eventuais transgressões políticas. Por conseguinte, um governo firmemente institucionalizado evita o populismo e a demagogia de maiorias parlamentares eventuais. Além de combater os vícios da política pequena, o irrestrito respeito ao princípio da legalidade fomenta o crescimento econômico à medida que sinaliza aos agentes do mercado que as regras do jogo são cumpridas, gerando, ato contínuo, confiança e credibilidade nas instituições nacionais.
         Em sua rota de progresso, é chegada a hora de o Brasil construir autênticas e virtuosas instituições públicas. Além da profissionalização apartidária dos órgãos de Estado – fundada em preceitos de meritocracia, eficiência e exação –, temos que estabelecer um sistema legal mais simples, integrado e compreensível a todo e qualquer cidadão nacional ou estrangeiro. Ora, a lei existe para facilitar a vida em sociedade e não para criar confusão. Quando as coisas complicam, é sinal, justamente, de que a legalidade deixou de ser prestigiada. Será, então, que deixaremos a estabilidade econômica ser comprometida por práticas políticas que prejudicam o sério e eficiente funcionamento das instituições nacionais? Será que, mais uma vez, o Brasil vai perder para si mesmo? Será, enfim, que a voz das ruas muito grita e nada fala?”

(SEBASTIÃO VENTURA PEREIRA DA PAIXÃO JR., advogado, especialista do Instituto Millenium, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 5 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de CARLOS ALBERTO DI FRANCO, que é doutor em comunicação pela Universidade de Navarra, e que merece igualmente integral transcrição:

“A revolução do papa
        
         A Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro, de 23 a 28 de julho, foi o maior fenômeno de massas da nossa história. Mais de 3 milhões de pessoas lotaram as areias da Praia de Copacabana para ouvir o papa Francisco. Foi um espetáculo incrível de fé, unidade e alegria. Como todos que lá estiveram, vivi uma experiência forte. O clima era de final de Copa do Mundo. A multidão gigantesca não era massa despersonalizada. Tinha um toque de família que impressionava e mexia por dentro.
         Usando tênis e mochilas e agitando as bandeiras de seus países, os jovens cantaram, dançaram e entoaram bordões como “ Somos a juventude do papa”. Mas também vi, nos momentos previstos de recolhimento e oração, um silêncio que se podia cortar. Ouvia-se apenas o rumor das ondas do mar. Incrível! Durante quase uma semana, apesar da chuva, do frio e dos problemas de organização, milhares de jovens vindos de todas as partes do mundo mostraram a surpreendente capacidade de renovação da Igreja Católica.
         O papa falou dos riscos dos valores efêmeros como sucesso, dinheiro e poder, alertou para as atitudes egoístas, convocou os jovens a não esmorecerem na luta contra a corrupção e reforçou seu empenho contra a pobreza, a desigualdade e a insensibilidade social.  Mas, sobretudo, o papa sacudiu a própria Igreja Católica e fustigou as atitudes de acomodação e burocracia. Falando aos jovens argentinos, na Catedral do Rio, papa Francisco pediu uma Igreja “barulhenta” que “saia às ruas”. “Espero uma confusão na JMJ, mas quero confusão e agito nas dioceses, que vocês saiam às ruas. Quero que a Igreja vá para as ruas. Quero que nos defendamos de tudo que seja acomodação e ficar fechado em torno de nós mesmos. Não podemos esvaziar a fé”, disse. Na missa que marcou o encerramento da jornada, o papa mais uma vez apontou os jovens como os atores principais da propagação  da fé católica. Na homilia, ele pediu à multidão, estimada em 3,5 milhões de pessoas, que não ficasse “trancafiada” em casa. “A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que os caracteriza”.
         Em uma semana no Brasil, o papa Francisco delineou os caminhos de seu pontificado. Em discurso para os bispos da América Latina no último dia de sua visita ao Brasil, o papa criticou a “ideologização” da Igreja por grupos que vão da “categorização marxista” até os “restauracionismos” de “formas superadas”. Mas a crítica do papa também disse respeito à leitura do evangelho de acordo com o “liberalismo de mercado” ou como uma mera forma de autoconhecimento – e, portanto, sem sentido missionário.
         A humildade como princípio e disposição ao diálogo nortearam os discursos do papa dirigido aos políticos e às autoridades. Depois de criticar “pessoas que, em vez de procurar o bem comum, procuram o próprio benefício”, ele defendeu que a formulação de políticas públicas seja baseada em valores éticos. Impressionou, e muito, o tom positivo que permeou todos os discursos e homilias do papa. Impressionou, também, a transparência do papa Francisco em suas entrevistas aos jornalistas. O que se viu não foi uma Igreja acuada, na defensiva. Ao contrário. O papa rasgou um horizonte valente e generoso. Deixou claro que os católicos não são antinada. O cristianismo não é uma alternativa negativa, encolhimento medroso ou mera resignação. É uma proposta afirmativa, alegre, revolucionária. Os discursos do papa não desembocaram num compêndio moralizador, mas num desafio empolgante proposto por uma pessoa: Jesus Cristo. Os jovens entenderam o recado e mostraram notável sintonia com o papa.
         O papa é exigente. Sem dúvida. E os jovens vão atrás do seu discurso comprometedor. Não gostam de um cristianismo desidratado. A juventude abraça grandes bandeiras: a coerência com a fé, a rebelião dos valores, a luta contra as discriminações, a defesa da vida, o combate à corrupção. Quem não perceber, na mídia e fora dela, essa virada comportamental perderá conexão com o novo mundo. Afinal, como bem salientou o papa: “A juventude é a janela pela qual o futuro entra na mundo”.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
  
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; sistema financeiro nacional; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; comunicações; esporte, cultura e lazer; turismo; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...         

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