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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL E OS DESAFIOS DA SEGURANÇA DIGITAL E DO RIO SÃO FRANCISCO NA SUSTENTABILIDADE

Segurança da informação digital
        Um dos maiores desafios que enfrentamos na área da segurança da informação é encontrar – e manter – profissionais talentosos e capacitados para lidar com as transformações digitais. Ouvimos de nossos clientes as dificuldades de encontrar candidatos, até de vagas de alto escalão, como a de CSO (chief security officer), que atendam aos requisitos da vaga, que atualmente, vão além do conhecimento técnico.
         Segundo o estudo Networking Skills, encomendado pela Cisco à IDC, cerca de 49% do déficit de profissionais de rede, em 2015, na América Latina, foi especificamente por falta de especialistas em segurança. Em 2019, os profissionais de segurança representarão ainda 46% da lacuna na região. E o Brasil deve seguir essa tendência.
         Quais são as razões para isso? Tamanha demanda aponta que existe uma relação intrínseca das novas habilidades requeridas para os profissionais deste setor, pois implica trabalho em conjunto das áreas de tecnologia e segurança com as áreas de negócio das empresas.
         Hoje, qualquer organização que tenha uma presença on-line é confrontada com um problema duplo: enquanto os cibercriminosos estão rapidamente evoluindo suas táticas, as instituições sofrem com a falta de mão de obra qualificada para antecipar-se às vulnerabilidades. E os riscos não se limitam ao setor privado, obviamente. Enquanto nas empresas os prejuízos são de ordem financeira, em hospitais, municípios, agências governamentais e outras entidades, o que estão em jogo são os dados e a privacidade de milhares de cidadãos, sem contar o risco de morte, também.
         Ou seja, a segurança da informação já não é mais um problema somente dos departamentos de tecnologia, mas uma questão que afeta diretamente todos, seja cada área de uma empresa ou pessoa física.
         Por isso, a segurança não é só preocupação das grandes empresas, uma vez que o negócio das empresas depende mais e mais de conectividade, independentemente do seu porte. A relevância do profissional de segurança incrementa proporcionalmente, iniciando pela segurança da rede e do usuário final e evoluindo para ameaças mais avançadas do cibercrime.
         O estudo Networking Skills da IDC também apontou que 86% das empresas na América Latina já têm alguma estratégia – mesmo que ainda em fase inicial – para segurança. Porém, apenas 42% indicaram a inclusão do gerenciamento de vulnerabilidade. O que comprova oportunidades para o profissional especializado.
         Além disso, se antes a segurança se restringia muito mais aos terminais (desktops, smartphones, etc.), com o mundo conectado tudo mudou. Agora, com todas as coisas interligadas, não há mais “bordas” nas redes, e a proteção das informações deve se estender por todas as camadas da infraestrutura. Para se adicionar frente a este cenário, a tecnologia evolui constantemente, e, muitas vezes deixa os profissionais de TI sem o conhecimento das novas soluções necessárias para proteger suas organizações. Ora, com tantas transformações, é mais que natural que o papel do profissional de segurança também tenha mudado.
         Hoje, o mercado abre portas para novos profissionais na área de TI, com perfil dinâmico, conhecimento nas diferentes esferas do negócio, para justamente poder contextualizar a segurança, que atua como uma alavanca para aumentar a receita e a geração de negócios das empresas. Habilidades como criatividade e proatividade somam-se aos critérios técnicos já que com a integração de diversos setores a segurança está muitas vezes presente na estratégia de marketing, no desenvolvimento de produtos e serviços e interligada a outras áreas. O profissional não apenas deve ser capaz de monitorar, identificar, isolar e mitigar ameaças em tempo real, como também de gerenciar a segurança como um todo – desde educação (e conscientização), por meio de treinamentos de todos os usuários de rede sobre as práticas de segurança e privacidade, a insights valiosos para as organizações.
         Para isso, entendo que devemos juntar esforços e ajudar a indústria e os usuários de internet a enfrentar os desafios atuais e futuros de segurança das redes, ajudando nas transformações e evoluções da economia digital.”.

(PAULO BREITENVIESER. Diretor de segurança da Cisco Brasil, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 22 de fevereiro de 2017, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de OSVALDO FERREIRA VALENTE, engenheiro florestal, professor aposentada da UFV e especialista em hidrologia e manejo de pequenas bacias hidrográficas, e que merece igualmente integral transcrição:

“O cansaço do Velho Chico
        Ao ler as reportagens publicadas no Estado de Minas sobre a situação do nosso Velho Chico, o cantado e decantado rio da integração nacional, fiquei imaginando que se ele tivesse o dom da fala estaria reclamando de cansaço. Cansaço não de ainda estar singrando por corredeiras e remansos entre nascentes e foz, mas de atitudes daqueles que mais exploram suas desgraças do que ajudam na sua salvação.
         Em primeiro lugar, acho que reclamaria do cansaço de ficar exposto em reunião intermináveis de comitês e associações diversas, simpósios e seminários. Ver quase sempre as mesmas pessoas falando sobre as mesmas agruras sofridas por ele: diminuição de vazão, assoreamento, poluição de suas águas etc., etc. E sempre falando que é preciso fazer isso e aquilo. Fica sempre com a impressão de não estar em novo atividade, mas apenas assistindo à apresentação de vídeos gravados de atividades anteriores.
         Em segundo lugar, tenho a certeza de que cobraria, para aliviar a sua exaustão, um pouco mais de atenção para o fato de ser ele o produto do ciclo hidrológico desenvolvido ao longo de sua bacia hidrográfica, aquela área responsável por coletar e processar os volumes de água de chuva recebidos. Reclamaria da falta de cuidado no manejo desses volumes recebidos, às vezes escassos, às vezes exagerados, mas fundamentais para a sua existência. Diria que nas reuniões, de quaisquer naturezas, já tem ficado irritado em ver as preocupações concentradas em seu leito e nos arredores bem próximos. Parece-lhe que a sua bacia só serve para nomear o comitê.
         Em terceiro lugar, diria estar preocupado em ver que os ambientalistas não perceberam ainda que a sua bacia está velha e precisa ser tratada com novas tecnologias disponíveis. Não há como devolvê-la a seu estado de juventude. O seu organismo já está desequilibrado pelos maus tratos sofridos ao longo do tempo e remédios antigos já não terão mais efeitos positivos. Ver, de novo, a sua bacia quase toda coberta de vegetação nativa, como era no passado, não faz mais parte de suas aspirações. Prefere ver a implantação de tecnologias de conservação de solos que favoreçam a infiltração e garantam o abastecimento dos seus aquíferos subterrâneos.
         Em quatro lugar, esqueceria o cansaço e passado, com ênfase, a cobrar maior integração de instituições públicas e entidades particulares que vivem e até exploram a sua bacia. Nada de ficar esperando recursos federais. Programas como o “Novo Chico” não passam de propaganda enganosa e nunca saem das gavetas. Ficam bem guardadinhos lá e, depois de certo tempo, são substituídos por outro, com nova denominação e destinado a outra gaveta. Cobraria mais ações simples e que possam ser espalhadas por toda a bacia. Que tal o incentivo a trabalhos voluntários para levar conhecimentos hidrológicos à população, preparando-a para ter mais eficiência no manejo das chuvas? Que tal diminuir a fixação nos reflorestamentos e nas matas ciliares e olhar para outras tecnologias que possam conviver com atividades espalhadas por toda a área da bacia?
         Pois é, o rio teria dado o seu recado. Reclamado, sugerido e cobrado mais conhecimento hidrológico dos comitês. Não dá para salvar o Velho Chico sem a aplicação de conceitos hidrológicos aplicados à produção de água. Tais conceitos precisam ser levados, com linguagem adequada às diversidades da bacia, para que os parcos recursos arrecadados possam ser aplicados com eficiência em tecnologias apropriadas de conservação.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em dezembro a ainda estratosférica marca de 484,06% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial registrou históricos 328,6%; e já o IPCA também acumulado nos últimos doze meses, em janeiro/2017 chegou a 5,35%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 946,4 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  
        
 
 






  

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A CIDADANIA, A REFORMA DO ESTADO E A CONSTRUÇÃO DO SER HUMANO

“As insuficiências de uma reforma política para dar um jeito no Brasil
        
         Na visão econômica convencional, a alocação de recursos para a produção dos bens privados é determinada pelo livre jogo das forças de mercado. Os desequilíbrios entre oferta e procura são corrigidos espontaneamente por meio de ajustes de preços e/ou de quantidades. Mas isso não se aplica ao caso dos bens públicos. Pela natureza indivisível da oferta, que torna impraticável a cobrança de preços individuais, os chamados bens públicos puros, como segurança pública, defesa nacional, administração de justiça e preservação ambiental, não podem ser provisionados pelo mecanismo de mercado. Nesse caso, as condições de oferta dependem de decisões políticas através do Estado.
         Há uma categoria intermediária entre os bens privados e os bens públicos puros: são os chamados bens semipúblicos ou mistos. Estes têm propriedades de bens de bens privados porque, a princípio, podem estar sujeitos a cobranças de preços, como os bens de mercado, e, ao mesmo tempo têm características de bens públicos porque sua fruição individual gera externalidades, ou seja, outros benefícios que extravasam para a sociedade como um todo, e não são passíveis de cobranças individuais especificas. Enquadram-se nessa categoria os serviços de educação, saúde, fornecimento de energia e transporte coletivo.
         Segue-se dessa classificação uma lógica econômica segundo a qual a alocação de recursos na produção de bens privados “fica em boas mãos” sob o comando das forças de mercado, sujeita aos mecanismos de ajustes via preços e/ou quantidades, enquanto a responsabilidade pela provisão de bens públicos deve estar sob a responsabilidade do Estado, diretamente, no caso dos bens públicos puros, ou indiretamente, mediante parcerias com a iniciativa privada, no caso dos semipúblicos.
         Na esfera do mercado, tudo o que causa perda de eficiência alocativa, seja por queda da produtividade ou elevação dos custos, tende a se transmitir como alta da inflação. Mesmo que não tenha nada diretamente a ver com a origem do problema, o aumento da inflação é um anátema para o governo. Não se responsabiliza o mercado pelo mal. É o Estado que é responsabilizado.
         No caso dos bens públicos, as coisas se passam de maneira diferente. Quando a oferta é deficiente, como historicamente tem sido o caso brasileiro, o mal-estar social resultante não é acompanhado de nenhum sintoma inflacionário. Ele pode ser indicado por outros índices, como a taxa de criminalidade, o número de mortes violentas por 100 mil habitantes, o IDH, a colocação do Brasil nos rankings mundiais de qualidade da educação e outros índices que não causam tanta sensação na mídia quanto o IPCA e o PIB. Trata-se de uma miopia típica da sociedade de consumo, da qual os governantes brasileiros têm procurado tirar vantagens eleitorais.
         O que os recentes distúrbios provocados pelas manifestações populares estão mostrando é que há limites de tolerância para o mal-estar social decorrente da situação miserável no fornecimento de bens públicos. Para esse problema, entretanto, não há soluções definitivas que possam provir de pacotes econômicos ad hoc ou estratégias de estabilização, como a do Plano Real. Trata-se de um problema estrutural de ineficiências econômicas incrustradas na máquina estatal, relacionadas não só à corrupção e às vicissitudes políticas, mas também a uma administração pública incompetente e hipertrófica.
         Portanto, não basta uma reforma política, como a que está sendo cogitada. É preciso, sobretudo, uma reforma do Estado.”

(JOSÉ MARIA ALVES DA SILVA. Doutor em economia; professor (UFV), em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 3 de agosto de 2013, caderno O.PINIÃO, página 22).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 21 de junho de 2013, caderno O.PINIÃO, página 26, de autoria de LEONARDO BOFF, que é filósofo e teólogo, e que merece igualmente integral transcrição:

“Construção do ser humano se realiza na sociedade, mas não só
        
         Em 1845, Karl Marx escreveu suas famosas 11 teses sobre Feuerbach, publicadas somente em 1888, por Engels. Na sexta tese, Marx afirma algo verdadeiro, mas reducionista: “A essência humana é o conjunto das relações sociais”. Efetivamente, não se pode pensar a essência humana fora das relações sociais, mas ela é muito mais que isso, pois resulta do conjunto de suas relações totais.
         Descritivamente, sem querer definir a essência humana, ela emerge como um nó de relações voltadas para todas as direções. O ser humano se constrói à medida que ativa esse complexo de relações. Sente em si uma pulsão infinita, embora encontre somente objetivos finitos. Daí a sua permanente implenitude e insatisfação.
         Não se trata de um problema psicológico que um psicanalista ou um psiquiatra possa curar. É sua marca distintiva, ontológica, e não um defeito. Mas, aceitando a indicação de Marx, boa parte da construção do humano se realiza, efetivamente, na sociedade. Daí a importância de considerarmos qual seja a formação social que melhor cria as condições  para o ser humano poder desabrochar mais plenamente nas mais variadas relações. Sem oferecer as devidas mediações, diria que a melhor formação social é a democracia: comunitária, social, representativa, participativa, de baixo para cima e que inclua todos.
         Na formulação de Boaventura de Souza Santos, a democracia deve ser um ser sem fim. Como numa mesa, vejo quatro pernas que sustentam uma democracia mínima e verdadeira.
         A primeira perna reside na participação: o ser humano, inteligente e livre, não quer ser apenas beneficiário de um processo, mas ator e participante. Só assim se faz sujeito e cidadão. Essa participação deve vir de baixo para cima para não excluir ninguém.
         A segunda perna consiste na igualdade. É a igualdade no reconhecimento da dignidade de cada pessoa e  no respeito a seus direitos que sustenta a justiça social.
         A terceira perna é a diferença. Ela é dada pela natureza. Cada ser, especialmente o ser humano, é diferente. São as diferenças que nos revelam que podemos ser humanos de muitas formas, todas elas humanas e, por isso, merecedoras de respeito e de acolhida.
         A quarta perna se dá na comunhão. Aqui aparece a espiritualidade como aquela dimensão da consciência que nos faz sentir parte de um Todo e como aquele conjunto de valores intangíveis que dão sentido às nossas vidas pessoal e social e também a todo o universo.
         Essas quatro pernas vêm sempre juntas e equilibram a mesa – sustentam uma democracia real. Esta nos educa para sermos coautores da construção do bem comum. Em nome dela, aprendemos a limitar nossos desejos por amor à satisfação dos desejos coletivos.
         Essa mesa de quatro pernas não existiria se não estivesse apoiada no chão e na terra. Assim, a democracia não seria completa se não incluísse a natureza, que tudo possibilita. Ela fornece a base físico-química-ecológica que sustenta a vida e a cada um de nós.
         Pelo fato de terem valor em si mesmo, independentemente do uso que fizermos dele, todos os seres são portadores de direitos. Merecem continuar a existir, e a nós cabe respeitá-los e entendê-los como concidadãos. Serão incluídos numa democracia sem fim sociocósmica.
         Esparramado em todas essas dimensões, realiza-se o ser humano na história, num processo ilimitado e sem fim.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


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