sexta-feira, 5 de abril de 2013

A CIDADANIA, A HORA DOS TALENTOS, A HUMANIDADE E A SOLIDARIEDADE


“Resgate de talentos
        
         Comenta-se que o governo está preocupado com os talentos profissionais que deixam o Brasil em busca de oportunidades lá fora: em 2012, o número deles seria de 3 milhões, mas o contingente pode ser maior, pois muitos estão em situação irregular e evitam se submeter a censos. Uma comissão especial de técnicos dos ministérios de Relações Exteriores, do Trabalho e Emprego e da Justiça vai debater propostas para criar programas de estímulo para que parte desse público retorne e seja aproveitada por empresas nacionais e estrangeiras.
         Segundo o presidente do Conselho Nacional de Imigração (CNI), Paulo Sérgio de Almeida, há estudantes e especialistas que se formaram lá fora e, com a crise global, podem retornar ao Brasil. Não há dados estatísticos ou um cadastro com nomes e qualificações, contudo, o fato é que vivemos um momento de grandes obras de infraestrutura, logística e construção civil, necessitando muito de mão de obra especializada (graduados e técnicos) nas áreas de engenharia, petróleo, gás e tecnologia.
         Um ingrediente que esquenta esse debate é que talentos profissionais de outros países também estão vindo para o Brasil em busca de oportunidades, que em seus país não estão mais disponíveis em função da crise econômica mundial. Entretanto, a legislação em vigor cria muitas dificuldades: se um estrangeiro que está no Brasil com visto de turista, por exemplo, se for convidado a trabalhar em uma empresa no país instalada, terá de voltar a seu país e seguir todos os trâmites exigidos, o que pode demorar meses.
         Para o especialista em mercado de trabalho Armando Castelar, a medida é positiva: “Há muita gente voltando, inclusive professores universitários”. Muitos brasileiros que foram para o exterior hoje estão em dificuldade. Os países que lhes ofereceram oportunidades não podem mais acolhê-los. São profissionais de todos os níveis com famílias e expectativas. A volta para o Brasil é algo que vem sendo analisado a cada dia com mais seriedade. Desta forma, qualquer política para trazer talentos de volta é muito bem-vinda. E os brasileiros têm grande vantagem em relação aos estrangeiros: além de não existir a burocracia para os vistos, conhecem a cultura e a língua.
         Porém, não serão somente políticas de emprego que garantirão esse retorno. Os brasileiros saíra em busca de dias melhores e melhor qualidade de vida. Se voltarem, encontrarão um país que ainda precisa melhorar em segurança, juros altos, precária assistência de saúde, escolas públicas sucateadas e poucas escolas de nível superior para prosseguirem com os estudos. Basta conversar com muitos deles para entender. Por outro lado, temos também que avaliar a criação de programas de incentivo aos profissionais que acreditaram no seu país e não saíram. Temos de capacitá-los, ou, pelo menos, incentivá-los para que possam também competir por essas oportunidades.”
(KLEBER CÂMARA. Diretor da Faculdade IBS/FGV, coordenador dos convênios internacionais da FGV em BH, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 30 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 3 de abril de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor de Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Renzo e a solidariedade
        
         Ensina a catequese que alguns cristãos lograram o impossível: viver segundo a vontade de Deus. Tiveram vida coerente, praticaram virtudes heroicas,  deram testemunho do Evangelho como discípulos de Jesus. São chamados santos.
         Com o tempo descobri que nem tudo que reluz é ouro. Há inúmeros santos anônimos que jamais serão canonizados, e há santos que merecem a glória dos altares e, no entanto, tiveram atitudes nada condizentes com os valores evangélicos. Aliás, os processos de canonização custam caro, e são inacessíveis àqueles que viveram para os pobres, como Padre Cícero, dom Helder Câmara, dom Luciano Mendes de Almeida, dom Oscar Romero, para citar apenas alguns clérigos.
         Na segunda, 25 de março, perdemos um santo real, incontestável, de quem tive a graça de ser amigo: padre Renzo Rossi, italiano de Florença, jesuíta como o papa Francisco. No sábado, 23, eu deveria visitar Renzo no hospital. Como a Universidade de Florença cancelou minha palestra, deixei de abraçar o amigo de 87 anos, que padecia de câncer no pâncreas.
         Renzo era movido a uma alegria exuberante. Parecia dotado de mil baterias. De aparência jovial, nunca o vi triste nem mesmo carrancudo. Falava alto, tinha por hábito tocar seus interlocutores e tratá-los com irreverência. Nada parecia abatê-lo nem constrangê-lo.
         Em 1965, ele veio integrar, no Brasil, a missão jesuíta de Salvador. Um ano depois do golpe militar. Atuava junto aos pobres sem se envolver com a militância em luta contra a ditadura. Em 1969 nós, frades dominicanos, fomos presos, acusados de subversão. Ao todo, sete frades. Um deles, Giorgio Callegari, era italiano de Veneza. No ano seguinte, ao retornar de férias à Itália, Renzo encontrou a mãe de frei Giorgio. Ela pediu-lhe que, ao retornar ao Brasil, fosse a São Paulo visitá-lo.
         Padre Renzo foi ao Presídio Tiradentes, onde nos encontrávamos presos em companhia de quase 200 companheiros (Dilma Rousseff se encontrava na ala feminina). Frei Tito de Alencar Lima tinha sido reconduzido à tortura em fevereiro de 1970. Renzo ficou impressionado ao vê-lo. Decidiu que, dali em diante, sua missão seria apoiar as vítimas da ditadura. Ao longo de seis anos. Renzo visitou 14 cadeias brasileiras que abrigavam prisioneiros políticos. Como ele não tinha nenhum vínculo com política, e aparentava ser um cristão destituído de ideologia, não levantou suspeitas.
         Renzo não era “neutro”. Estava ali para servir às vítimas, não aos algozes. Tanto que, por ocasião de uma greve de fome nacional, quando todas as comunicações entre presídios foram interrompidas, a repressão cometeu o equívoco de permitir que aquele sacerdote insuspeito visitasse os grevistas. Talvez pensasse que suas preleções poderiam demover os prisioneiros do “gesto suicida”. Mal sabia a ditadura que Renzo servis de pombo-correio entre os cárceres, passando informações e alento.
         Em Salvador, foi preso um jovem de 18 anos: Theodomiro Romeiro dos Santos. Já no carro de polícia, sacou seu revólver e atingiu três agentes, matando um quarto, um sargento da Aeronáutica. Renzo passou a visitá-lo. Em 1971, Theodomiro foi condenado à pena de morte, mais tarde comutada em prisão perpétua. Veio a anistia, em 1979, e o jovem marcado para morrer não foi beneficiado.
         Renzo temia, como todos nós, pela vida de Theodomiro, isolado em um cárcere e alvo do ódio da ditadura que, aos poucos, desmoronava. Era preciso libertar Theodomiro. Isso implicava subornar carcereiros e policiais. Renzo voltou à Europa e levantou recursos. Conseguiu tirar Theodomiro da prisão e do Brasil, conforme relato detalhado no inestimável livro  de Emiliano José, As asas invisíveis do padre Renzo, que em breve deve chegar às telas de cinema.
         Renzo se foi. Seu exemplo fica. Exemplo de algo que constitui a essência de nossa condição humana e, no entanto, nada fácil de ser praticado: a solidariedade. Jesus ensinou que isso, que é tão humano, é também divino aos olhos de Deus. E quando se traduz em arriscar a própria vida para salvar outras vidas se chama amor.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação –  universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal abismo das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...    

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