sexta-feira, 19 de abril de 2013

A CIDADANIA, A FORÇA DA EDUCAÇÃO INFANTIL E A PRODUÇÃO DE SENTIDO

“Mais cedo na escola

A inovação educacional agora é para crianças menores. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 foi atualizada. Ela estabelece agora que pais e responsáveis matriculem as crianças na escola a partir dos quatro anos de idade. Os governos estaduais e municipais têm até 2016 para garantir vagas para crianças nessa faixa etária. A lei implica reorganização da carga horária de 800 horas, distribuídas em 200 dias letivos. O aluno da pré-escola terá atendimento de quatro horas diárias para o turno parcial e de sete horas para a jornada integral. Dessa forma, o Estado fica obrigado a garantir educação básica e gratuita para crianças e jovens de 4 a 17 anos de idade, nas fases de pré-escola, ensino fundamental e médio.
Muito positiva a nova lei e cabe ao Ministério da Educação (MEC) e às secretarias estaduais promoverem as mudanças necessárias para que seja oferecido um ensino de qualidade para essas crianças, com professores bem preparados para essa faixa etária e as acomodações e ambientações adaptadas para crianças pequenas. Os gestores e supervisores educacionais federais e estaduais serão agentes importantes nessas mudanças, necessárias para o sucesso da prática da nova lei. De modo geral, as crianças de classe média e alta já frequentam pré-escolas particulares. Essa nova lei vai democratizar ainda o ensino brasileiro, beneficiando as crianças menos favorecidas. A escola pública deverá cumprir também o seu importante papel de educar com qualidade agora os menores de 6 anos no Brasil.
Por que é importante crianças a partir de 4 anos na escola? Infelizmente, a maioria das crianças brasileiras menores de 6 anos estão desprotegidas, com pouco acesso a creches, ficando sujeitas a cuidadores e parentes sem treinamento, tornando-se vítimas fáceis de assassinos e pedófilos cruéis. A cada oito minutos uma criança é abusada sexualmente no Brasil, e a cada 10 minutos uma criança é assassinada, segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Com certeza, a implantação dessa nova lei diminuirá e muito os índices desses hediondos crimes. Há consonância dessa nova lei com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que garante proteção às nossas crianças. Outra justificativa é que nessa fase do desenvolvimento infantil, a criança já tem comportamento básico motor e cognitivo estruturado: anda, corre, diz o que deseja, dá opiniões e geralmente escolhe o que quer ou gosta. Extremamente criativa, usa muito a imaginação inventando histórias e brincadeiras.
Nessa fase criativa, é de suma importância o papel de bons e talentosos educadores para estimular por meio de brincadeiras e práticas educativas inteligentes o potencial criativo das crianças. Proporcionar atividades lúdicas que promovam a construção das diversas áreas do conhecimento, proporcionando adequada estimulação cerebral. Com boa orientação educativa, crianças menores começarão a aprender brincadeiras em grupo, a dividir trabalhos, cooperar em atividades grupais, exercer liderança, ser subordinado desenvolvendo noções de respeito, colaboração, criação e responsabilidade, dando início à formação de pequenos cidadãos.
Essa meta do governo preenche também uma grave lacuna: pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) – 2013 constatou que o Brasil tem a menor média de anos de estudos da América do Sul - 7,2 anos apenas. Com certeza, a prática da nova lei será um grande salto de qualidade da educação brasileira, colocando o país em posição bem mais positiva no ranking mundial. Dados da Unesco colocam o  Brasil em 88º lugar no ranking mundial da educação. A gestão ineficiente, o desprestígio do magistério e a má-formação dos professores são alguns dos empecilhos ao salto educacional brasileiro.
É importante que os fatores acima apontados sejam otimizados para que os ensinos fundamental, médio e superior sejam de qualidade . Somente uma competente cadeia de ensino de qualidade da educação brasileira em todos os níveis de ensino nos proporcionará maior qualidade de vida, desenvolvimento tecnológico e crescimento econômico. Que os gastos públicos de modo geral sejam rigorosamente mais fiscalizados e na educação não pode ser diferente. É extremamente importante a ação do Ministério Público e do Tribunal de Contas da União na fiscalização de todos os recursos públicos, com tolerância zero para corrupção e desvio do dinheiro público.”
(VIVINA DO C. RIOS BALBINO. Psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e psicologia escolar no Brasil, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 18 de abril de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 17 de abril de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor do romance Minas do ouro (Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Produção de sentido
         
         Muitos pais se queixam do desinteresse dos filhos por causas altruístas, solidárias, sustentáveis. Guardam a impressão de que parcela considerável da juventude busca apenas riqueza, beleza e poder. Já não se espelha em líderes voltados às causas sociais, ideal de um mundo melhor, como Gandhi, Luther King, Che Guevara e Mandela.
         O que falta à nova geração? Faltam instituições produtoras de sentido. Há que imprimir sentido à vida. Minha geração, a que fez 20 anos de idade na década de 1960, tinha como produtores de sentido igrejas, movimentos sociais e organizações políticas.
         A Igreja Católica, renovada pelo Concílio Vaticano II, suscitava militantes, imbuídos de fé e idealismo, por meio da Ação Católica e da Pastoral da Juventude. Queríamos ser homens e mulheres novos. E criar uma nova sociedade, fundada na ética pessoal e justiça social.
         Os movimentos sociais, como a alfabetização de Paulo Freire, nos desacomodavam, impeliam-nos ao encontro das camadas mais pobres da população, educavam a nossa sensibilidade para a dor alheia causa por estruturas injustas.
         As organizações políticas, quase todas clandestinas sob a ditadura, incutiam-nos consciência crítica, e certo espírito heroico que nos destemia frente aos riscos de combater o regime militar e a ingerência do imperialismo usamericano na América Latina.
         Quais são, hoje, as instituições produtoras de sentido? Onde adquirir uma visão de mundo que destoe dessa mundividência neoliberal centrada no monoteísmo de mercado? Por que a arte é encarada como mera mercadoria, seja na produção ou no consumo, e não como criação capaz de suscitar em nossa subjetividade valores éticos, perspectiva crítica e apetite estético?
         As novas tecnologias de comunicação provocam a explosão de redes sociais que, de fato, são virtuais. E esgarçam as redes verdadeiramente sociais, como sindicatos, grêmios, associações, grupos políticos, que aproximavam as pessoas fisicamente, incutiam cumplicidade e as congregavam em diferentes modalidades de militância.
         Agora, a troca de informações e opiniões supera o intercâmbio de formação e as propostas de mobilização. Os megarrelatos estão em crise, e há pouco interesse pelas fontes de pensamento crítico, como o marxismo e a teologia da libertação.
         No entanto, como se dizia outrora, nunca as condições objetivas foram tão favoráveis para operar mudanças estruturais. O capitalismo está em crise, a desigualdade social no mundo é alarmante, os povos árabes se rebelam, a Europa se defronta com 25 milhões de desempregados, enquanto na América Latina cresce o número de governos progressistas, emancipados das garras do Tio Sam e suficientemente independentes, a ponto de eleger Cuba para presidir a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
         Vigora atualmente um descompasso entre o que se vê e o que se quer. Há uma multidão de jovens que deseja apenas um lugar ao sol sem, contudo, se dar conta das espessas sombras que lhes fecham o horizonte.
         Quando não se quer mudar o mundo, privatiza-se o sonho modificando o cabelo, a roupa, a aparência. Quando não se ousa pichar muros, faz-se a tatuagem para marcar no corpo sua escala de valores. Quando não se injeta utopia na veia, corre-se o risco de injetar drogas.
         Não fomos criados para ser carneiros em um imenso rebanho retido no curral do mercado. Fomos criados para ser protagonistas, inventores, criadores e revolucionários.
         Quando Hércules haverá de arrebentar as correntes de Prometeu e evitar que o consumismo prossiga lhe comendo o fígado? “Prometeu fez com que esperanças cegas vivam nos corações dos homens”, escreveu Ésquilo. De onde beber esperanças lúcidas se as fontes de sentido parecem ressecadas?
         Parecem, mas não desaparecem. As fontes estão aí, a olhos vistos: a espiritualidade, os movimentos sociais, a luta pela preservação ambiental, a defesa dos direitos humanos, a busca de outros mundos possíveis.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado),  como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tamanha sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescente necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos);  a educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); assistência social; previdência social; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; minas e energia; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; logística; turismo; esporte, cultura e lazer; sistema financeiro nacional; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa das Confederações em junho; a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...    

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