segunda-feira, 20 de maio de 2013

A CIDADANIA, A EVASÃO UNIVERSITÁRIA, A ÉTICA E O BEM COMUM


“Evasão universitária
        
        Conforme dados do Censo da Educação Superior/2011, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC), houve aumento de 5,7% nas matrículas do ensino superior no país, entre 2010 e 2011. O total alcançado atingiu 6,7 milhões  de pessoas incluídas na educação superior. Por outro lado, o levantamento também apresenta dados sobre uma questão que, cada vez mais, aflige as universidades brasileiras: a evasão.
         Levantamento baseado em números divulgados pelo MEC revela que, de 2010 para 2011, praticamente um milhão de alunos não renovaram as matrículas – taxa equivalente a 18%. Dos 5.398.637 graduandos, 4.392.994 efetivaram a matrícula para o ano seguinte.
         Em todo o Brasil, há 1,7 milhão de alunos nas instituições públicas superiores – 1,03 milhão (federais), 619,3 mil (estaduais) e 121,02 (municipais) – e o índice médio de evasão anual é de 11%. Isso significa que, de cada grupo de 100 alunos matriculados em um ano, 11 não renovam a matrícula no exercício posterior. Os motivos são vários: o desconhecimento sobre o curso escolhido, a falta de motivação e de interesse, a falta de maturidade para a escolha da área profissional, defasagem de conhecimento herdada no ensino médio, incompatibilidade de tempo para estudo/família/trabalho, dificuldades financeiras, estranhamento na adaptação à metodologia do universo acadêmico, além da rigidez curricular e a formação docente nos aspectos práticos e pedagógicos.
         Há algum tempo que a evasão  é pauta de discussão nas universidades brasileiras, que tentam buscar alternativas para amenizar o problema. Em 1996, foi elaborado um documento pela Comissão Especial de Estudos sobre a Evasão nas Universidades Públicas Brasileiras. Um trabalho coletivo que envolveu 61 Instituições de Ensino Superior Públicas (Iesps) federais e estaduais, as quais representavam 77,2% do universo da educação superior pública do país.
         Em fevereiro de 2012, o Ministério da Educação e as universidades começaram a discutir nova proposta para o combate à evasão no ensino superior. Dados divulgados à época mostraram que 15,6% dos alunos das universidades particulares abandonaram o curso enquanto nas universidades públicas o percentual estava na casa dos 13,2%.
         O problema persiste como um elemento desafiador. Mais que discutir a questão, dirigentes, coordenadores de cursos e docentes precisam encará-lo com ações firmes e efetivas para combater a evasão. É preciso criar programas de permanência dos alunos, incentivar as pesquisas durante a graduação e renovar as ferramentas pedagógicas.
         As transformações nas universidades brasileiras devem ser profundas e bem alicerçadas, reestruturando o ensino superior como forma de combater a evasão. Nossa ação, enquanto defensores de um ensino de qualidade, é focar nas inovações pedagógicas na educação superior. O problema de âmbito nacional precisa ser discutido a fim de tornar as ações mais efetivas.
         Na Universidade Estadual de Montes Claros, nossa proposta é encará-lo com inovação e uma nova cultura de enfrentamento da evasão. No âmbito da nossa instituição, diversas estratégias estão sendo implementadas para a permanência dos alunos até a conclusão dos cursos, entre as quais enumeramos: acompanhamento psicopedagógico; ingresso por área e definição posterior com nivelamento e tutoria quando necessário; política de assistência estudantil; revisão dos projetos político-pedagógicos (PPPs); disciplinas flexíveis; distribuição de encargos didáticos e de professores por disciplina/formação docente; organização departamental; integração e ação dos centros acadêmicos e avaliação adequada; programa de formação pedagógica docente; criação dos núcleos docentes estruturantes (NDEs), principalmente.
         O problema da evasão não pode ser analisado de modo simplista. Nossa responsabilidade é criar ações de combate e mobilizar as pessoas de forma adequada, sensibilizando para o problema na tentativa de promover um debate sério com diretrizes de ações concretas. As universidades públicas precisam ter uma agenda de enfrentamento da situação. Uma instituição de ensino superior não pode se contentar com os avanços. É preciso ir além. Repensar seu papel, atualizar, inovar seus programas e projetos pedagógicos e ter ações proativas de combate à evasão.”
(JOÃO DOS REIS CANELA. Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 14 de maio de 2013, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 17 de maio de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é arcebispo de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“A ética no diálogo e o bem comum
         
         A sociedade sofre avalanches de todo tipo: escândalos morais no âmbito político, incoerências absurdas no mundo religioso, crises diversas nas relações familiares e a redução do trabalho à lógica do lucro. Pode-se fazer uma longa “ladainha de avalanches” que distanciam a vida de sua compreensão como dom, oportunidade de experiências valiosas. Sem nenhum sentido de pessimismo, ao fazer essas constatações, ainda é possível, louvado seja Deus, construir um rosário de fatos e acontecimentos que dignificam as pessoas, alavancam a construção de uma sociedade justa e solidária. Existem ações de grande alcance, engenhadas com grande competência e espírito de solidariedade, que merecem constante reconhecimento e cotidiana divulgação, alimentando imaginários para que se tornem efetivas as convicções e condutas solidárias. E que a sociedade brasileira faça jus ao que canta, em verso e prosa, de ser uma cultura marcada pela proximidade.
         Contudo, é importante a consideração das condutas que geram prejuízos para ganhar estatura  no seu enfrentamento e, consequentemente, modificar cenários. Sobretudo o clamor dos mais pobres não pode ser desconsiderado nunca. Essa sensibilidade não deve servir apenas para construir argumentos e promessas em campanhas eleitorais. Escutar os pobres e considerar suas urgências, atendendo-as com presteza e como prioridade, têm uma força educativa que, se não for alcançada, reduz as conquistas apenas a indicadores econômicos. Esses números tornam-se insignificantes, pouco incidentes na vida dos pobres, quando não estão emoldurados por uma sensibilidade social e apurada consciência política, que não é, obviamente, aquela partidária do cenário brasileiro.
         Infelizmente, a consciência política partidária no Brasil é uma verdadeira lástima. Basta verificar a quantidade de siglas que carregam de tudo e tudo negociam, a partir de interesses cartoriais e grupais. Não menos, carregam também muitos que não têm competência  para exercícios executivos e parlamentares, atrasando processos, burocratizando e retardando serviços para o bem comum. A sociedade não pode ser regida estritamente pelas ideologias desses partidos, tantas vezes filosoficamente pouco lúcidas, eivadas, não raramente, de interesses mesquinhos, ferindo direitos intocáveis. A vida social tem que ser pautada pela mais alta consciência cidadã, para que políticos, executivos e tantos outros compreendam e ajam, de fato, não como mandatários, mas como servidores dos interesses daqueles que neles depositaram confiança.
         Retomando as “avalanches” que transformam a sociedade brasileira, merece consideração especial a profusão de informações e opiniões difundidas nas redes sociais. Pela internet, as pessoas podem se manifestar sobre tudo, mas é importante que o façam com responsabilidade, cada um reconhecendo o seu fundamental papel na construção de um mundo melhor. Aqueles que estão nos governos, nos serviços religiosos e humanitários, assim como os que se beneficiam dessas ações, precisam redobrar a atenção para a exigência ética nesse diálogo na web. Não se pode dizer e espalhar inverdades.
         Na perspectiva das instituições, deve ser prioridade a manutenção de ouvidorias efetivas para que se saiba a opinião do povo sobre as ações dos governos, sobre os serviços religiosos e de entidades diversas, como uma prestação de conta social e indispensável diálogo numa sociedade que busca ser cada vez mais igualitária. Assim, os políticos não podem tomar cafezinho com o povo e andar nas ruas apenas no tempo das eleições. Os religiosos, primando pela conduta moral ilibada, devem comprometer-se com as instâncias de participação e comunhão no exercício de sua liderança. Os empreendedores não podem deixar de equilibrar seus interesses com aqueles da coletividade. Os formadores de opinião devem veicular a voz dos pobres. Nesse caminho e com essa sensibilidade se garantirá a indispensável ética no diálogo que leva ao bem comum.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, lúcidas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, isto é, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, minas a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a confiança em nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; defesa civil; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; logística; turismo; comunicações; esporte, cultura e lazer; sistema financeiro nacional; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa das Confederações em junho; a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em  julho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade  e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...  
        

Nenhum comentário: