“Drogas,
hora do recomeço
O Governo do Estado de
São Paulo acaba de lançar um plano para auxiliar a recuperação de dependentes
químicos: o programa Recomeço. Segundo o professor Ronaldo Laranjeira, diretor
do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool
e Outras Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), “o conceito
envolve reconstrução dos valores pessoais, familiares e sociais e da vida profissional
ou acadêmica”. O pulo do gato na fase da recuperação é o Cartão Recomeço.
Trata-se de criar uma via fácil para que a família possa custear, com
financiamento do governo, um período de recuperação predominantemente numa
comunidade terapêutica.
O crédito
para tratamento será de R$ 1.350 mensais, a ser depositado diretamente para o
serviço contratado. O valor não será entregue ao dependente ou a um familiar.
As comunidades terapêuticas, reconhecidas pela idoneidade de seu trabalho, são
indispensáveis nos programas de recuperação. Lá, depois de terem descido os
degraus da miséria material e moral, os internos reencontram a chispa da
esperança. Vida saudável, laborterapia, disciplina, resgate de valores e
terapia individual e de grupo compõem a receita do modelo de recuperação. O
respaldo do governo ao trabalho das comunidades terapêuticas pode ter
excelentes resultados. O modelo social de recuperação complementa o modelo
médico de tratamento. Após a fase de estabilização, os dependentes consolidam
seu processo de mudança no sadio ambiente das comunidades terapêuticas.
A luta
contra o avanço das drogas, matriz da violência epidêmica que castiga a
sociedade, passa, necessariamente, por investimentos na recuperação de
dependentes. Manifesto, portanto, meu apoio ao programa de São Paulo. Além
disso, o consumo e tráfico de drogas, responsável maior pela morte de milhares
de jovens, exige uma radiografia verdadeira da mais terrível doença da
atualidade.
A
psiquiatra mexicana Nora Volkow é uma referência na pesquisa da dependência
química no mundo. Foi quem primeiro usou a tomografia para comprovar as
consequências do uso de drogas no cérebro. A revista Veja, ao entrevistá-la,
acertadamente, trouxe à baila um crime que chocou a sociedade. O cartunista Glauco
Villas Boas e seu filho foram mortos por um jovem com sintomas de esquizofrenia
e que usava constantemente maconha e dimetiltriptamina (DMT) na forma de um chá
conhecido como santo-daime. “Que efeito essas drogas têm sobre um cérebro
esquizofrênico?” A resposta foi clara e direta: “Portadores de esquizofrenia
têm propensão à paranóia e tanto a maconha quanto a DMT (presente no chá do
santo-daime) agravam esse sintoma, além de aumentarem a profundidade e a
frequência das alucinações. Drogas que produzem psicoses por si próprias, como
metanfetamina, maconha e LSD, podem piorar a doença mental de uma forma abrupta
e veloz”, sublinhou a pesquisadora.
Quer
dizer: uma eventual descriminalização das drogas facilitaria o consumo das
substâncias. Aplainado o caminho de acesso às drogas, os portadores de
esquizofrenia teriam, em princípio, maior probabilidade de surtar e,
consequentemente, de praticar crimes e ações antissociais.
Todos
sabem que, assim como não existe meia gravidez, também não há meia dependência.
É raro encontrar um consumidor ocasional. Existe, sim, usuário iniciante, mas
que muito cedo se transforma em dependente crônico. Afinal, a compulsão é a
principal característica do adicto. Uma cigarro da “inofensiva” maconha
preconizada pelos arautos da liberação pode ser o passaporte para uma overdose
de cocaína. Não estou falando de teorias, mas da realidade cotidiana e
dramática de muitos dependentes.
As
drogas estão matando a juventude. A dependência química não admite discursos
ingênuos ou campanhas ideológicas, mas ações firmes e investimentos na
prevenção e recuperação de dependentes. Com o novo cartão, São Paulo dá passo
estratégico importante no fortalecimento da rede de proteção aos dependentes e
no combate às drogas.”
(CARLOS
ALBERTO DI FRANCO. Diretor do Departamento de Comunicação do Instituto
Internacional de Ciências Sociais (IICS), doutor em comunicação pela
Universidade de Navarra (Espanha), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 27 de maio
de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2322 – ano 46 – nº 21, de
22 de maio de 2013, páginas 109 e 110, de autoria de GUSTAVO IOSCHPE, que é economista, e que merece igualmente integral
transcrição:
“Educação
e tecnologia: o sarrafo subiu
Há uns meses visitei
escolas públicas na região de Itaperuna, no interior fluminense. Uma delas era
um brinco, com uma direção que conseguiu engajar pais e professores para gerar
uma melhoria significativa: seu Ideb passou de 3,3 para 7,7 em quatro anos. Na
outra escola o que se via era um quadro de abandono (os banheiros dos alunos
não tinham tampa nas privadas, nem papel higiênico ou toalha de papel). Seu
Ideb foi de 3,5 em 2011, e estava estacionado nesse patamar havia anos.
Fui
conversar com o diretor dessa escola com problemas. Ao inquiri-lo sobre a razão
das deficiências de sua escola, o homem engatou um discurso ensaiado que vem se
tornando cada mais comum nas discussões educacionais do Brasil: “O problema é
que os alunos são de uma geração digital e os professores ainda são
analógicos”. O uso intenso da tecnologia, por parte dos alunos, teria criado o
problema insuperável de comunicação entre eles e seus professores, e parecia
ser impossível que um professor munido apenas de “cuspe e giz” pudesse atrair o
interesse desse aluno quase cibernético. No meio educacional a “patologia” já
foi inclusive identificada e tem até termo médico: SPA – síndrome do pensamento
acelerado (e eu que pensava que pensar rápido era uma virtude...). A ideia é
furada. É mais uma tentativa dominante nas discussões educacionais brasileiras.
Falei
então ao diretor sobre a escola que estava na sua vizinhança, também fazia
parte da mesma rede estadual e tinha resultados tão melhores. Perguntei como
explicar aquela diferença. Ele disse que não entendeu a pergunta, pediu que eu
a repetisse. Fui mais explícito: se o problema era geracional e ligado ao uso
de tecnologia, como era possível que uma escola vizinha, atendendo a um público
parecido, tivesse resultados tão melhores do que os dele? Ele pediu licença
para sair e tomar uma água. Na volta, pediu que falássemos sobre esse assunto.
Seria
muito espetacular se a proliferação de tecnologias, e seu uso pelas novas
gerações, fosse o causador dos problemas educacionais brasileiros. Primeiro,
porque desde o começo da Revolução Industrial, pelo menos, tem havido sempre
descompassos tecnológicos significativos
entre gerações. Pense em todas as tecnologias descobertas e popularizadas nos
últimos 200 anos e seu potencial impacto sobre a educação. Pense no que era o
mundo antes do telégrafo, em que comunicações levavam semanas para chegar a
lugares distantes, e a realidade depois da sua invenção, em que notícias eram
transmitidas globalmente quase em tempo real. Pense no impacto do rádio. Da
televisão. Do telefone. Do telefone celular. Talvez a internet seja a revolução
mais importante de todas, mas ela certamente vem num contínuo tecnológico em
que as distâncias e os tempos são encurtados. Durante todas essas disrupções
tecnológicas, a educação não só continuou a funcionar como melhorou: nunca
antes na história deste planeta tantas pessoas tiveram acesso ao conhecimento
quanto hoje.
Em
segundo lugar, a ideia é problemática por partir do pressuposto de que os
avanços tecnológicos estão inacessíveis a adultos, o que é falso. A tecnologia
é hoje tão simples e user-friendly que até a minha avó usava Sype e e-mail.
Sim, provavelmente a nova geração terá maior familiaridade com as novas
tecnologias, porque nasceu e cresceu com elas, mas é uma diferença de grau, não
de ordem de grandeza.
Se a
prevalência da tecnologia fosse um fator de comprometimento educacional, seria
de esperar que as regiões em que as tecnologias são mais difundidas tivessem os
piores desempenhos educacionais. Se olharmos para os testes internacionais mais
importantes de educação, vemos o oposto: os países líderes, como Coreia do Sul
e Finlândia, estão entre os mais tecnológicos
do mundo. Estudos para o Brasil (disponíveis em
twitter.com/gioschpe) mostram que a
posse de computador em casa melhora o desempenho educacional do aluno, já
controladas as diferenças de renda.
Isso
não quer que a tecnologia não tenha nem terá impactos importantes sobre a
educação. Apenas não creio que eles sejam desse tipo quase mágico decantado
pelos pedagogos. Acredito que as novas tecnologias, especialmente a internet,
estão tendo sobre a educação o mesmo efeito que têm sobre uma série de outras áreas: desintermediação.
Para quem não conhece o termo, é mais fácil explicá-lo com exemplos.
No
mundo pré-internet, precisávamos de intermediários para realizar uma série de
atividades. Precisávamos de agência de turismo para comprar passagem de avião,
de um jornal ou revista para receber notícias, de editoras e livrarias para ler
um livro, de médicos para conhecer doenças e opções de tratamento. Precisávamos
também de professores e escolas para ter acesso ao conhecimento acumulado na
história humana. A internet está enfraquecendo ou eliminando totalmente esses
intermediários. Com ela, podemos comprar passagens na companhia aérea, ler
sobre notícias de lugares remotos diretamente de suas fontes ou pela
recomendação de amigos etc. O resultado é que os intermediários precisam
melhorar: ou passam a agregar novos valores, ou são extintos. As agências de
turismo que simplesmente vendiam passagens já devem ter fechado. Uma boa
agência hoje precisa conhecer profundamente os destinos, montar roteiros
personalizados ao gosto do cliente etc. Um jornal ou revista não pode mais
apenas resumir fatos/notícias do dia ou da semana anterior: precisa analisá-los,
ter mais profundidade, trazer furos de reportagem constantes, conhecer
profundamente seu público. Não é que
essas instituições precisam fazer algo de diferente ou inimaginável. Um bom
agente de viagens hoje já seria considerado um bom agente de viagens há vinte
anos. Eis o que mudou: não há mais tolerância para os medíocres. O sarrafo
subiu: nessas áreas, para ser relevante, o nível de entrega de serviços precisa
ser muito mais alto, porque o basicão o sujeito já consegue em uma busca
on-line de dois minutos.
Com
educação é a mesma coisa. Não é que a educação de vinte ou cinquenta anos atrás
não “funcione” no cérebro da meninada atual. Uma ótima aula – cativante, com um
professor que domina a sua matéria e a maneira de comunicá-la e busca
ativamente a compreensão e a participação do alunado – funcionava há 100 anos e
continua funcionando hoje. O que mudou é que a aula em que um professor
simplesmente regurgitava uma série de fatos desconexos e inúteis, que
precisavam ser memorizados e depois devolvidos em um dia de prova, deixou de
fazer sentido, pois esses mesmos fatos podem ser pesquisados on-line, através
de textos, aulas a distância ou videoaulas. Não é que essa era uma aula boa que
hoje virou ruim. Ela sempre foi uma aula ruim. Mas, na época em que os alunos
dependiam exclusivamente do professor para obter qualquer conhecimento, essa
ruindade ficava mascarada e era aceita. Hoje o sarrafo subiu. As boas aulas não
precisarão mudar, mas os professores de baixa qualidade precisarão de uma
reforma profunda em seu jeito de ensinar. Como, infelizmente, a maioria das
aulas brasileiras tem qualidade abaixo da crítica, ouvimos muito agora esse
discurso sobre as dificuldades impostas pela internet, pelas tecnologias etc.
Mas, em vez de compreender esse momento como um de desintermediação e subida do
sarrafo (um processo difícil), a maioria dos educadores e políticos busca a
saída fácil, que é dar um verniz tecnológico
a uma má escola enchendo-a de engenhocas. Junte-se a essa mistificação a
ganância dos fabricantes desses aparelhos e o fascínio da população por tudo o
que é “muderno” e temos a tempestade perfeita para enganar os néscios.
Se a
escola de seu filho ou cidade se vende por conta dos aparatos tecnológicos de
que dispõe, tome muito cuidado. Assim como um babaca não se torna inteligente
ao transferir sua divagações para um blog ou página de rede social, um mau
professor não passará a dar uma boa aula simplesmente por contar com um tablet
ou uma lousa mágica.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade,
em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da
modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e
diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, isto é,
próximos de zero; II – a corrupção, como
um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas
modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente
irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável
desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a
título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta
rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata,
abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta
sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa
capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades
de ampliação e modernização de
setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; saneamento ambiental (água
tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho
e renda; agregação de valor às commodities; segurança alimentar e nutricional;
segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; assistência
social; previdência social; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; comunicações; turismo; esporte, cultura e lazer; sistema
financeiro nacional; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de
maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a Copa das Confederações em junho; a 27ª Jornada
Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa do Mundo de 2014; a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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