sexta-feira, 10 de maio de 2013

A CIDADANIA, A NEUROCIÊNCIA, A EDUCAÇÃO E A VIAGEM DE AMOR AO BRASIL


“Neurociência e educação

A metodologia utilizada pelos sistemas convencionais de ensino tem sido focada apenas no ato de enviar a mensagem aos aprendizes, e não como fazer isso. A mensagem, dentro do processo de aprendizagem, deve ser vista como pacotes cognitivos, ou seja, cada pessoa tem uma maneira exclusiva de aprender. Essa formação envolve preferências sensoriais que, ao serem identificadas pelo professor, podem se tornar uma das mais avançadas metodologias de ensino. Ela tem sido grande aliada nessa transmissão de conhecimento. A neurociência é o estudo do sistema nervoso (SN), bem como seu desenvolvimento, funcionamento, estrutura e sua relação com o comportamento humano. O cérebro apenas com dados elementares para a sobrevivência é como um computador ao sair da fábrica, somente com as conexões básicas. Os demais “programas” será adicionados por meio da interação do indivíduo com o ambiente. Esse processo é crucial na fase do desenvolvimento, que se inicia no pré-natal e vai até os seis anos de idade. Contudo, esse desenvolvimento é constante, reduzindo apenas a velocidade e a amplitude. O que define o cérebro de um indivíduo são suas experiências de vida.
         Quanto mais rica a mente for, mais funcional será o cérebro. Exposições a estímulos criam possibilidades de conexão neurológica refletindo nos comportamentos e nas habilidades do indivíduo, incluindo seu equilíbrio emocional. O cérebro consome aproximadamente 25% da energia de um indivíduo e é autorregulável. Entre manter a atenção numa sala de aula e economizar energia para outras funções biológicas, ele escolherá a segunda opção. Outra característica cerebral é eliminar estímulos repetitivos, portanto, professores com vozes constantes e aulas com o mesmo formato e sistema tendem a ser “eliminados”. Essa reação não acontece pela vontade dos alunos, mas sim por mecanismo de defesa do cérebro pelo processo de habituação. Os sentidos de uma turma de 20 ou mais alunos podem ser estimulados de formas diferentes para contemplar todos os tipos de aprendizado. Cada sentido envia mensagens  (pacotes cognitivos) para áreas especializadas do cérebro e gera um impacto significativo na formação das memórias. Algumas ações no processo de educação podem ser motivadoras para facilitar a aprendizagem. Uma quebra de estado com pausas de um a três minutos a cada 50 minutos de aula para realização de outra atividade, como alongamentos, dança e brincadeiras, recarrega a energia corporal e predispõe o cérebro ao estado de aprendizagem.
Outro aspecto importante no ato de  enviar informações é a linguagem utilizada pelo professor. Palavras abstratas não produzem experiências internas e dificultam o aprendizado. Usar o corpo, os gestos, a voz e dispor de suportes didáticos como jogos, vídeos, ilustrações e outras práticas amplifica a capacidade de aproveitamento da proposta de ensino. A neurociência ressalta que se forem consideradas todas essas características no processo de ensino será viável incrementar e reforçar o aprendizado. A atualização do processo deve ser considerada pelos educadores, deixando de lado somente a preocupação em repassar determinados conteúdos. É preciso ter consciência de que ao mudar a maneira de aplicar o ensino, de modo que todos os sentidos sejam estimulados e respeitando o processo de aprendizado de cada aluno, será possível potencializar o aprendizado coletivo.”
(AGUILAR PINHEIRO. Neurocientista e coach do Instituto Brasileiro de Gestão Avançada (IBGA), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 8 de maio de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor, em parceria com Marcelo Barros, de O amor fecunda o universo – Ecologia e espiritualidade (Agir), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Navegar é preciso
        
        Fiz uma viagem literária pelo Rio Negro na primeira semana de maio. Uma centena de pessoas lotou o navio Iberostar para conversar sobre literatura com os escritores Affonso Romano de Sant’Anna, Marina Colassanti, CadãoVolpato (que fez ali o lançamento de seu primeiro romance, Pessoas que passam pelos sonhos, editado pela Cosac Naify), Xico Sá e eu. A atriz Clarice Niskier nos apresentou uma leitura dramática de sua próxima peça, A lista, monólogo de autoria da canadense Jenniffer Tremblay. A banda Projeto Coisa Fina animou nossas noites e nos ofereceu um verdadeiro concerto em homenagem ao músico pernambucano Moacir Santos (l926-2006), radicado nos EUA, e cujo repertório influenciou compositores como Tom Jobim.
         Em suas duas primeiras edições, o projeto Navegar É Preciso, promovido pela Livraria da Vila, de São Paulo, levou ao Rio Negro os escritores José Eduardo Agualusa, Laurentino Gomes, Ignácio de Loyola Brandão, Cristovão Tezza, Mary Del Priore, Ilan Brenmam, Walter Hugo Mãe e Milton Bonder. Navegamos quase 200 quilômetros. Nosso ponto de retorno foi Novo Airão, município ribeirinho de 6 mil habitantes. A cidade de Velho Airão, invadida por formigas, sucumbiu à voraz agressão desses insetos. Nossa embarcação, de 95 camarotes distribuídos em quatro andares, deslizava pelo rio de águas escuras, ácidas, desprovidas de mosquitos. A decomposição dos vegetais no leito rico em magnésio, potássio e ferro impede que as larvas se proliferem. Nesta época do ano o rio sobe de oito a 10 metros (no ano passado, excepcionalmente chegou a 17 metros), ampliando os igarapés e inundando a mata de igapós.
         Em geral, os igapós são fechados no alto pela copa das árvores, deixando a impressão de claustros aquáticos. Em suas águas se abriga o poraquê, também chamado de enguia-elétrica, que emite descarga de eletricidade de 300 a 1.500 volts, dependendo do tamanho. Com esse recurso, ele derruba os frutos das árvores que tremulam sob o efeito do choque, garantindo-lhe alimentação. No interior dos igapós é costume se deparar com a majestosa macucu-do-rio-negro, imponente árvore que se sobressai por seu tronco plissado. Índios e ribeirinhos apreciam a carapanaúba, árvore cuja casca, rica em quinino, tem propriedades cicatrizantes e da qual se faz o chá que reduz os efeitos da malária e da febre amarela. Provamos a seiva branca, leitosa, da sorva, que serve de matéria-prima ao cicletes e, na falta de leite materno, é utilizada para alimentar o bebê. Já o cipó da piranheira aplaca, na falta de cigarros, o vício dos ribeirinhos. O curare, abundante na região, é um poderoso anestésico, utilizado também pelos índios, em suas zarabatanas, para imobilizar caças e facilitar a captura. Já a matamatá é uma árvore cuja fibra resistente se usa no artesanato local e para amarrar caibros de casas.
         Os passeios de barcas nos permitiram atracar nas margens do Rio Negro, caminhar pelas trilhas da floresta e conhecer a tapiba, árvore que, após leve tapa em seu tronco, solta milhares de microscópicas formigas que, esmagadas na pele, imprimem um odor que serve de repelente para que índios e caboclos se projetam de insetos e peçonhas. No leito do rio apreciamos o espetáculo dos botos-vermelhos, quase sempre em duplas, arqueando sobre as águas. São eles os principais predadores das piranhas, frequentes na região. Um boto chega a consumir por dia de 10 a 15 quilos desses peixinhos de dentes afiadíssimos e apetite de vampiro. Do navio desfrutamos cenários esplendorosos, como o nascer e o pôr do sol na Floresta Amazônica e, próximo a Manaus, o encontro das águas, quando os rios Negro e Solimões mesclam aos poucos seus leitos negro e barrento e se juntam para formar o Amazonas.
         Mais do que literatura, a viagem nos propiciou um contato direto com a mais importante floresta tropical do mundo, que comporta 12% da água potável do planeta e abriga uma biodiversidade de três mil espécies vegetais e animais por quilômetro quadrado. Ao som da música da banda Coisa Fina, enquanto bebíamos sucos de cupuaçu, açaí e graviola, à espera de refeições fartas em tucunaré e pirarucu, comentamos como seria importante descolonizar a cabeça dos brasileiros de classes média e rica. Em vez de levar filhos e netos à Disneylândia, incutindo-lhes o consumismo, melhor e mais sábio seria levá-los à Floresta Amazônica, ao Pantanal Mato-Grossense, à Chapada dos Veadeiros, de modo a educá-los no senso de preservação ambiental, respeito aos povos indígenas e ribeirinhos e amor ao Brasil.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental –, independentemente do mês de seu nascimento, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, irremediavelmente irreparáveis;
    
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes demandas, necessidades, carências e deficiências, o que aumenta o colossal fosso das desigualdades sociais e regionais e nos afasta num crescendo do seleto grupo dos sustentavelmente desenvolvidos...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa das Confederações em junho; a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...  

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