segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A CIDADANIA, A BOA ESCOLA E AS DINÂMICAS DO DIÁLOGO E CONFRONTO

“Escola: trampolim ou plataforma?
        
         Desde a chegada dos jesuítas, em 1549, instituindo o primeiro projeto de educação no Brasil, apregoava-se, nos ordenamentos legais da educação brasileira, que a “elite educada” seria a condutora do país. Teríamos, assim, pessoas capacitadas em todos os segmentos da vida pública, mais sensíveis e envolvidas com os problemas do país. Revisitando todo este período de educação no Brasil, até chegarmos a 1996 com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, considero ser possível uma reflexão.
         Há no imaginário social a ideia de que a escola ou a “escola forte” é aquela que tem bons professores, bons alunos e um bom índice de aprovação nos concursos vestibulares em geral; em especial, uma boa posição no ranking do Enem. Todos esses atributos estão numa determinada perspectiva, corretos, e é o que todos desejam para as suas escolas. Esse modelo coroa de êxito o sucesso do aluno, do professor e, evidentemente, da escola. Denomino-a, por isso, escola trampolim. Na escola trampolim, o aluno se empenha ao máximo, estuda bastante, afinal, o colega ao lado é seu concorrente. Então, cada um por si e Deus por todos!
         Estudam-se atualidades com o objetivo de conhecer as temáticas que poderão ser cobradas na produção de texto do Enem, mas é como se a atualidade e aquilo que está acontecendo no mundo não fossem algo com o qual é preciso se envolver nem dissesse respeito ao estudante. A escrita é tecnicamente perfeita, porém o seu conteúdo é algo que se pode esquecer junto com o ponto final. Assim, o conhecimento não transforma, não torna ninguém melhor, não aprimora a sociedade. Por sua vez, o professor é o melhor que há no mercado, referência em sua área. Seu espaço de atuação na escola é a sua sala. Ele tem o seu método, o seu jeito. Para dar conta do enorme programa, as propostas interdisciplinares ou de diálogo com outras áreas ou colegas de equipe são deixadas de lado.
         Por fim, a escola. No modelo trampolim, ela é a própria referência. Seus muros, reais ou não, isolam-se da comunidade, da vida e da realidade. Torna-se uma ilha de treinamento, descolada  dos problemas do mundo. Podemos dizer que Paulo Freire e a função social da escola ficaram esquecidos nos papéis, já amarelados, da faculdade. Esta é a escola trampolim: suporte para o sucesso individual, seja do aluno, do professor ou da escola.
         Entretanto, existe outra possibilidade de ser escola. Trata-se da escola plataforma. Também essa escola almeja o bom aluno, o bom professor e os bons resultados, entretanto, altera-se o conceito do que vem a ser bom. O bom aluno é aquele que faz boas perguntas e não apenas o que dá boas respostas; é aquele que organiza melhor o seu conhecimento à medida que ajuda os colegas com dificuldades. O bom professor é aquele que domina com excelência a sua disciplina e, generosamente, dialoga com as outras áreas do conhecimento. Ele estabelece pontes entre aquilo que ensina, o que acontece no seu entorno e as grandes temáticas que afligem a humanidade. Dessa forma, ele afeta os estudantes para que se comportem de forma comprometida com a transformação da realidade.
         Por fim, a escola plataforma cumpre uma relevante função social. O estudante não aprende sobre cidadania apenas ouvindo palestras; ele aprende “na cidadania”. É algo que se dá na ação, na experiência e no modelo dado por seus professores, coordenadores e diretores. Sua estrutura física, material e capital humano estão a favor da melhoria e emancipação humana, social, cultural e política da comunidade. Esses dois modelos de escola – plataforma e trampolim – nos levam a destinos diferentes como nação e não há dúvida sobre qual deles será capaz de nos resgatar dessa inércia cidadã. O senso do bem comum, coletivo, o trato honesto e responsável com aquilo que é público se aprende em casa e, principalmente, na escola, espaço republicano por excelência.”

(ALELUIA HERINGER LISBOA TEIXEIRA. Doutora em educação (UFMG), diretora do Colégio Santo Agostinho (unidade Contagem), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 24 de setembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 27 de setembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Diálogos e confrontos
        
         Os tecidos sociocultural, político e religioso se configuram por dinâmicas de diálogos e confrontos, entre pessoas na esquina de uma rua ou até em processos de elaboração decisória numa suprema corte. Dialogar é imprescindível na geração e manutenção de processos vitais e politicamente indispensáveis ao funcionamento da sociedade. Sem essa atitude, tudo fica comprometido. Não é raro ouvir sobre crises institucionais, perda de identidades e de força por falta de diálogo, de comunicação. E esse processo é também marcado por confrontos que são inevitáveis.
         Valem a sabedoria e a habilidade para não permitir que os embates gerem desgastes irreparáveis, ou retardem avanços indispensáveis quando são consideradas as metas já definidas. No núcleo dos diálogos e confrontos, na vida comum, política, religiosa e profissional, está instalado um processo interpretativo que é, na verdade, um confronto inevitável em busca da verdade.
         Esse processo de interpretação é um impulso que determina rumos, ilumina compreensões e garante o compromisso necessário no viver da história. Em jogo está a questão de princípios e valores, fundamentais para o norteamento da vida da sociedade e para o equilíbrio de suas instituições. Todos estão nesse cenário na condição de intérpretes. Por isso mesmo, é tão comum ouvir as mais diversificadas opiniões. Não raro é ver também quem dá opinião sobre o que não conhece.
         Fique sublinhado, no entanto, o lugar determinante de rumos e escolhas a partir do lugar que se ocupa e de onde se interpreta a realidade, influenciando destinos políticos, bem como os tipos e modos de vivências religiosas. Um aspecto é determinante e insubstituível nesse complexo processo de diálogos e confrontos. Trata-se do apreço, respeito e compromisso de cada um pela verdade – respeitá-la e testemunhá-la responsavelmente. É incontestável que a verdade possui a força ordenadora das relações sociais, permite a competência de respeitar a dignidade de toda pessoa.
         Ora, a sociedade e suas relações não podem se estabelecer como um puro arbítrio. Exige-se um processo educativo permanente e denso, que capacita as pessoas na vivência de sua cidadania. É a conquista da competência cidadã para viver as dinâmicas de diálogo e confrontos que permite alcançar mais justiça, liberdade e respeito aos direitos. A verdade, nessa perspectiva, não pode ser reduzida a opiniões ou relativizações. Sua busca permanente configura a liberdade de toda pessoa, como exigência inseparável do entendimento adequado da dignidade humana.
         Ganhou exemplaridade o que se passou recentemente no Supremo Tribunal Federal, com a consideração de “embargos infringentes”, vocabulário novo no entendimento cidadão Cinco ministros contra e cinco a favor. O parecer de um fez o desempate. Afinal, nesse processo interpretativo, quem está com a razão? A retomada do julgamento, com base em argumentos interpretativos, permitiu uma mudança de cenário para o que estava já decidido, e todo tipo de volatilidade no percurso de busca da verdade é extremamente danosa.
         Inegociável deve ser o respeito a identidades ou ao que, em sua decorrência, se assume como compromisso e posturas sociais, políticas, religiosas e culturais. Uma conduta importante que baliza funcionamentos democráticos, fazendo cumprir aquilo que realmente é papel institucional. No caso específico do julgamento, uma corte suprema não pode tender a interpretações que comprometam o sentido pleno do direito defendido. Também assim, uma família não pode ser, em respeito à sua identidade e missão, palco de ataques ou de propagação de elementos que contradigam o seu sentido. Instituição alguma pode ensinar aquilo que é contrário à sua identidade
         Sem esses zelos institucionais, com a complexidade dos processos interpretativos, com suas nuances subjetivas e impostações científicas, se poderá presenciar absurdos como quem defende a vida propagando argumentações abortistas, ou de quem se compromete com a justiça, mas deixa-se levar por dinâmicas ilegítimas. Não se pode aceitar que, em nome da participação ou democracia, autoridades e cidadãos negociem identidades, emprestando suas vozes para fazer ouvir o que é contrário àquilo que é fundamental: os princípios e valores.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
    a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

    b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inquestionavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública, a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; sistema financeiro nacional; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; turismo; esporte, cultura e lazer; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...  

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