“Escola:
trampolim ou plataforma?
Desde a chegada dos
jesuítas, em 1549, instituindo o primeiro projeto de educação no Brasil,
apregoava-se, nos ordenamentos legais da educação brasileira, que a “elite
educada” seria a condutora do país. Teríamos, assim, pessoas capacitadas em
todos os segmentos da vida pública, mais sensíveis e envolvidas com os
problemas do país. Revisitando todo este período de educação no Brasil, até
chegarmos a 1996 com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, considero ser
possível uma reflexão.
Há no
imaginário social a ideia de que a escola ou a “escola forte” é aquela que tem
bons professores, bons alunos e um bom índice de aprovação nos concursos
vestibulares em geral; em especial, uma boa posição no ranking do Enem. Todos
esses atributos estão numa determinada perspectiva, corretos, e é o que todos
desejam para as suas escolas. Esse modelo coroa de êxito o sucesso do aluno, do
professor e, evidentemente, da escola. Denomino-a, por isso, escola trampolim.
Na escola trampolim, o aluno se empenha ao máximo, estuda bastante, afinal, o
colega ao lado é seu concorrente. Então, cada um por si e Deus por todos!
Estudam-se
atualidades com o objetivo de conhecer as temáticas que poderão ser cobradas na
produção de texto do Enem, mas é como se a atualidade e aquilo que está
acontecendo no mundo não fossem algo com o qual é preciso se envolver nem
dissesse respeito ao estudante. A escrita é tecnicamente perfeita, porém o seu conteúdo
é algo que se pode esquecer junto com o ponto final. Assim, o conhecimento não
transforma, não torna ninguém melhor, não aprimora a sociedade. Por sua vez, o
professor é o melhor que há no mercado, referência em sua área. Seu espaço de
atuação na escola é a sua sala. Ele tem o seu método, o seu jeito. Para dar
conta do enorme programa, as propostas interdisciplinares ou de diálogo com
outras áreas ou colegas de equipe são deixadas de lado.
Por
fim, a escola. No modelo trampolim, ela é a própria referência. Seus muros,
reais ou não, isolam-se da comunidade, da vida e da realidade. Torna-se uma
ilha de treinamento, descolada dos
problemas do mundo. Podemos dizer que Paulo Freire e a função social da escola
ficaram esquecidos nos papéis, já amarelados, da faculdade. Esta é a escola
trampolim: suporte para o sucesso individual, seja do aluno, do professor ou da
escola.
Entretanto,
existe outra possibilidade de ser escola. Trata-se da escola plataforma. Também
essa escola almeja o bom aluno, o bom professor e os bons resultados,
entretanto, altera-se o conceito do que vem a ser bom. O bom aluno é aquele que
faz boas perguntas e não apenas o que dá boas respostas; é aquele que organiza
melhor o seu conhecimento à medida que ajuda os colegas com dificuldades. O bom
professor é aquele que domina com excelência a sua disciplina e, generosamente,
dialoga com as outras áreas do conhecimento. Ele estabelece pontes entre aquilo
que ensina, o que acontece no seu entorno e as grandes temáticas que afligem a
humanidade. Dessa forma, ele afeta os estudantes para que se comportem de forma
comprometida com a transformação da realidade.
Por
fim, a escola plataforma cumpre uma relevante função social. O estudante não
aprende sobre cidadania apenas ouvindo palestras; ele aprende “na cidadania”. É
algo que se dá na ação, na experiência e no modelo dado por seus professores,
coordenadores e diretores. Sua estrutura física, material e capital humano
estão a favor da melhoria e emancipação humana, social, cultural e política da
comunidade. Esses dois modelos de escola – plataforma e trampolim – nos levam a
destinos diferentes como nação e não há dúvida sobre qual deles será capaz de
nos resgatar dessa inércia cidadã. O senso do bem comum, coletivo, o trato
honesto e responsável com aquilo que é público se aprende em casa e,
principalmente, na escola, espaço republicano por excelência.”
(ALELUIA
HERINGER LISBOA TEIXEIRA. Doutora em educação (UFMG), diretora do Colégio
Santo Agostinho (unidade Contagem), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 24 de
setembro de 2013, caderno OPINIÃO, página
9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
27 de setembro de 2013, caderno OPINIÃO,
página 9, de autoria de DOM WALMOR
OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que
merece igualmente integral transcrição:
“Diálogos
e confrontos
Os tecidos
sociocultural, político e religioso se configuram por dinâmicas de diálogos e
confrontos, entre pessoas na esquina de uma rua ou até em processos de
elaboração decisória numa suprema corte. Dialogar é imprescindível na geração e
manutenção de processos vitais e politicamente indispensáveis ao funcionamento
da sociedade. Sem essa atitude, tudo fica comprometido. Não é raro ouvir sobre
crises institucionais, perda de identidades e de força por falta de diálogo, de
comunicação. E esse processo é também marcado por confrontos que são
inevitáveis.
Valem
a sabedoria e a habilidade para não permitir que os embates gerem desgastes
irreparáveis, ou retardem avanços indispensáveis quando são consideradas as
metas já definidas. No núcleo dos diálogos e confrontos, na vida comum,
política, religiosa e profissional, está instalado um processo interpretativo
que é, na verdade, um confronto inevitável em busca da verdade.
Esse
processo de interpretação é um impulso que determina rumos, ilumina
compreensões e garante o compromisso necessário no viver da história. Em jogo
está a questão de princípios e valores, fundamentais para o norteamento da vida
da sociedade e para o equilíbrio de suas instituições. Todos estão nesse
cenário na condição de intérpretes. Por isso mesmo, é tão comum ouvir as mais
diversificadas opiniões. Não raro é ver também quem dá opinião sobre o que não
conhece.
Fique
sublinhado, no entanto, o lugar determinante de rumos e escolhas a partir do
lugar que se ocupa e de onde se interpreta a realidade, influenciando destinos
políticos, bem como os tipos e modos de vivências religiosas. Um aspecto é
determinante e insubstituível nesse complexo processo de diálogos e confrontos.
Trata-se do apreço, respeito e compromisso de cada um pela verdade –
respeitá-la e testemunhá-la responsavelmente. É incontestável que a verdade
possui a força ordenadora das relações sociais, permite a competência de
respeitar a dignidade de toda pessoa.
Ora, a
sociedade e suas relações não podem se estabelecer como um puro arbítrio.
Exige-se um processo educativo permanente e denso, que capacita as pessoas na
vivência de sua cidadania. É a conquista da competência cidadã para viver as
dinâmicas de diálogo e confrontos que permite alcançar mais justiça, liberdade
e respeito aos direitos. A verdade, nessa perspectiva, não pode ser reduzida a
opiniões ou relativizações. Sua busca permanente configura a liberdade de toda
pessoa, como exigência inseparável do entendimento adequado da dignidade humana.
Ganhou
exemplaridade o que se passou recentemente no Supremo Tribunal Federal, com a
consideração de “embargos infringentes”, vocabulário novo no entendimento
cidadão Cinco ministros contra e cinco a favor. O parecer de um fez o
desempate. Afinal, nesse processo interpretativo, quem está com a razão? A
retomada do julgamento, com base em argumentos interpretativos, permitiu uma
mudança de cenário para o que estava já decidido, e todo tipo de volatilidade
no percurso de busca da verdade é extremamente danosa.
Inegociável
deve ser o respeito a identidades ou ao que, em sua decorrência, se assume como
compromisso e posturas sociais, políticas, religiosas e culturais. Uma conduta
importante que baliza funcionamentos democráticos, fazendo cumprir aquilo que
realmente é papel institucional. No caso específico do julgamento, uma corte
suprema não pode tender a interpretações que comprometam o sentido pleno do
direito defendido. Também assim, uma família não pode ser, em respeito à sua
identidade e missão, palco de ataques ou de propagação de elementos que
contradigam o seu sentido. Instituição alguma pode ensinar aquilo que é
contrário à sua identidade
Sem
esses zelos institucionais, com a complexidade dos processos interpretativos,
com suas nuances subjetivas e impostações científicas, se poderá presenciar
absurdos como quem defende a vida propagando argumentações abortistas, ou de
quem se compromete com a justiça, mas deixa-se levar por dinâmicas ilegítimas.
Não se pode aceitar que, em nome da participação ou democracia, autoridades e
cidadãos negociem identidades, emprestando suas vozes para fazer ouvir o que é
contrário àquilo que é fundamental: os princípios e valores.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas
estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais,
econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do
País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas,
democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inquestionavelmente
irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública, a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; assistência social; previdência social; sistema financeiro
nacional; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; turismo; esporte, cultura e lazer;
pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; comunicações; qualidade
(planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência,
eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada,
livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar
suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com
todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no
horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a
Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do
pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da
internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da
inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo
mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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