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segunda-feira, 9 de maio de 2016

A CIDADANIA, OS DESAFIOS DA PLENA APRENDIZAGEM E A FORÇA DOS VALORES E PRINCÍPIOS CRISTÃOS

“Estudante é alienado pela aprendizagem
        Certos sintomas decorrentes do modo de ser e de viver de uma dada sociedade são notados de forma privilegiada no ambiente escolar. Isso decorre de ser este um lugar social privilegiado, com três importantes variáveis: o tempo, espaço; e o número de pessoas envolvidas. A escola, por sua vez, não está fora desta mesma sociedade e atua ora fazendo contrapontos e tensionando, ora reforçando e legitimando determinadas práticas. A síntese da atuação dessas forças é sentida, fortemente, nas crianças e jovens, seja pela forma como falam, escrevem, opinam, vestem, relacionam-se com os colegas ou com a figura da autoridade.
         Tem sido recorrentes algumas falas, vindas de diferentes contextos em relação à imaturidade e falta de autonomia dos estudantes. No desdobramento desta constatação, segue a dificuldade de ouvir, organizar o local de estudo, a ausência da coordenação motora fina, que influencia no recorte de uma folha, na colagem, no manuseio de equipamentos ou na própria escrita. Algumas habilidades cognitivas estão ficando a desejar, como a resolução de contas básicas para a solução de problemas que extrapolam os exercício da aula de matemática; a falta de noção de proporção; ausência de conteúdo para uma produção de texto, e mais uma série de itens.
         Há um movimento que depende muito da família e, em parte, da escola, mais especificamente com a educação infantil e as primeiras séries do ensino fundamental. Abandonamos algo essencial, que é a linguagem corporal. No afã de vermos nossos filhos lendo e escrevendo, cada vez mais cedo, minimizamos o tempo de brincar e jogar. Suprimimos o pular, saltar, correr, equilibrar, escalar, esquivar, agarrar, lançar, e tudo isso com seus respectivos tombos, arranhões e trombadas. Enxergamos tudo com ameaça.
         Estamos presenciando e sentido a falta que faz o equilíbrio, o ritmo, a noção de espaço, de tempo, coordenação motora grossa e fina, pensar estrategicamente e de forma antecipada. Sabem onde se aprende isso? Na queimada, na amarelinha, no soltar elástico, no pular corda individual ou com pequenos grupos, nas brincadeiras cantadas com gestos e em duplas, trios ou quartetos, pegador, no soltar pipa, no boliche, na bola de meia e de gude, rouba-bandeira, para citar alguns. Quantas e quantas horas nossas crianças estão passando em ambientes fechados, fazendo programas de adultos ou na frente de uma tela de smartphone, tablete ou TV?
         O sujeito-estudante tem sido um alienado do próprio processo de aprendizagem. Sujeito oculto. Ele não comparece, não se engaja intelectualmente e não se mobiliza para o saber. Isso foi ensinado e começa, a meu ver, desde a hora de acordar, quando despertamos por eles. Providenciamos o café, pensamos o lanche, resolvemos o problema do transporte, dos esquecimentos, do uniforme e da organização do quarto. Chegamos ao ponto de atravessar a rua por eles. Considero que nosso certificado de bons pais e educadores deveria ser medido pela autonomia alcançada por nossos filhos. Para cada idade há um grau de autonomia a ser alcançado. Tenho sérias dúvidas se seremos aprovados.
         Para concluir, deixando uma palavra de esperança, aposto no investimento de cada família na qualificação da infância. A decisão de colocar uma criança no mundo deveria ser precedida de uma promessa de preservar e amparar para que ela tenha tempo para ser criança. Que as escolas sejam avaliadas pelo tempo investido em tempos qualificados de jogos e brincadeiras, música e arte. Que seus professores sejam, antes de qualquer coisa, brincantes e disponíveis corporalmente para este diálogo lúdico. Que nossos filhos tenham a prerrogativa de resolver seus próprios problemas e que mostrem não apenas o novo brinquedo eletrônico, mas o roxo no braço, o joelho ralado. Isso fortalece, cria fibras, desenvolve o senso de autoproteção, aguça os sentidos, deixa-as espertas e ágeis. Que possamos “dar corda”, sem soltar as pontas.”.

(ALELUIA HERINGER LISBOA TEIXEIRA. Diretora do Colégio Santo Agostinho Unidade Contagem, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 6 de maio de 2016, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Apelo aos cristãos
        Cristãos todos, de diferentes confissões, precisam vivenciar o compromisso com a unidade. Essa é a provocação da Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos, preparação para a festa litúrgica de Pentecostes, em 15 de maio. Unidade inscrita no compromisso obediente ao mandato do Senhor Jesus quando ora ao seu Pai e roga a graça “para que todos sejam um”. Eis o princípio do evangelho que exige o envolvimento de cada pessoa que testemunha a fé em Cristo. A súplica de Jesus precisa balizar a conduta de todos os cristãos, a partir de sua identidade confessional, na construção da unidade. Para além de qualquer pretensão de uniformidade, o objetivo é fazer valer a força dos valores do evangelho nos norteamentos da história e nos rumos novos que a sociedade precisa trilhar.
         A busca dessa unidade foi um dos objetivos centrais do Concílio Vaticano 2º. Ainda incomoda muito constatar que os princípios cristãos ainda não livraram a sociedade dos esquemas de corrupção, dos desmazelos sociais e das indiferenças que comprometem a paz. Essa realidade é uma vergonha para quem crê em Jesus, pois os processos de transformação social e política precisam ser fecundados pela força da fé. Falta a consciência clara de que se está caminhando para o reino definitivo. A unidade dos cristãos como força de articulação que pode colaborar nessa caminhada, pela singularidade dos valores do evangelho, é uma meta que, lamentavelmente, ainda não conquistou a necessária mobilização. Isso pode ser percebido quando se observa a participação das pessoas nos momentos que integram a programação proposta pela Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos. Poucas confissões religiosas se interessam e colaboram.
         Na contramão desse caminho, o tecido cristão subjacente na sociedade brasileira vai recebendo matizes e direcionamentos que se distanciam do sentido e compromisso da unidade. Está se verificando um fenômeno que urge a atenção do Estado, com seus governantes, bem como das igrejas, com seus líderes, no sentido de parar um preocupante processo de deterioração da essencialidade do viver cristão. A fé cristã pode contribuir de maneira determinante e transformadora para o bem da sociedade. Porém, é uma aberração fazer da fé uma prática para sustentar partidarismos, bancadas, nos âmbitos parlamentares, apoios em troca de interesses específicos, sombreando o horizonte de uma política que busca, acima de tudo, o bem comum.
         Não menos preocupante é a realidade que se configura com a facilidade para se autodeterminar “igreja cristã” e, assim, conseguir isenções de taxas e impostos, almejando negócios e enriquecimento ilícito. Esse problema merece a atenção das confissões religiosas cristãs, particularmente pede a abertura para se reverem os tratamentos recebidos em razão de legislações que favorecem também práticas na contramão do bem comum. A força que impulsiona a construção e a vivência da unidade dos cristãos deve ser cultivada a partir da autenticidade e da coerência no âmbito das práticas religiosas, sem medo, sem proselitismos, sem disputa para arrebanhar mais gente. Assim, os cristãos, em unidade, poderão enfrentar problemas, a exemplo do que incide sobre a população jovem, cada vez mais indiferente em relação à vivência da religiosidade. É oportuno lembrar que a construção de um caminho sem o horizonte dos valores e princípios cristãos reforça o ciclo de crises existenciais e sociopolíticas. Também não se pode deixar de pensar na urgência do fortalecimento do tecido da unidade entre os cristãos para que todos possam melhor cuidar da “casa comum”.
         Essa tarefa, é verdade, envolve prioritariamente as instâncias governamentais e os detentores do poder de decisão. As autoridades que representam o povo precisam trabalhar para deter das desarvoradas ganâncias que levam a um desenvolvimento questionável. Mas os cristãos todos também têm um insubstituível compromisso com a “casa comum”. Pela força da fidelidade ao evangelho, devem cultivar hábitos novos, participação cidadã qualificada e, assim, colaborar na reconstrução da sociedade.
         Diante da obra da Criação, a partir da redenção conquistada pela morte e ressurreição de Jesus, os cristãos são chamados, pois, a construir sua unidade, enriquecida pelas diferenças. Assim, poderão protagonizar a cidadania, com o perfil próprio de quem crê em Cristo, dando as mãos em torno de programas e projetos que balizem o caminho da sociedade sempre no horizonte da verdade, da justiça e da solidariedade. A Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos, embora tão frágil em publicidade e em participação das igrejas, das várias confissões denominadas cristãs, é um broto de esperança. Trata-se de alerta que mostra a importância de os cristãos se unirem para defender a vida. Deixar para depois o momento dessa união pode ser prenúncio de um futuro triste, conforme sinaliza significativa parte da juventude de hoje, indiferente à fonte inesgotável de vida plena: o evangelho de Jesus Cristo. Que a Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos contribua para que todos, como discípulos de Jesus, caminhem de mãos unidas.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em março a ainda estratosférica marca de 449,1% para um período de doze meses; e mais ainda em abril, o IPCA acumulado nos doze meses chegou a 9,28%, com os juros do cheque especial em históricos 300,8%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,044 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016)...

- Estamos nos descobrindo através da Cidadania e Qualidade...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  




  



          

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

A CIDADANIA, A IDENTIFICAÇÃO DOS VALORES DA ESCOLA E AS RAÍZES DA CORRUPÇÃO

“Quem é o “galo” da escola?
        O que leva as escolas a ensinar aquilo que ensinam? Qual é o motivo de termos currículos que se diferenciam de uma escola para outra? Utilizaremos o termo currículo, pois ele carrega a bonita ideia de um percurso educacional, “um conjunto contínuo de situações de aprendizagem às quais um indivíduo vê-se exposto ao longo de um dado período, no contexto de uma instituição de educação formal”, conforme definição do sociólogo da educação Jean-Claude Forquin.
         A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 1996), ao delegar aos sistemas de ensino a competência de montar seus currículos, possibilitou vários arranjos, além de não prescrever a quantidade de aulas para cada disciplina. Ela estabelece algumas obrigatórias, abre espaço para uma parte diversificada e, no mais, são diretrizes e parâmetros.
         Sabemos que a configuração dos currículos se altera de acordo com os interesses de uma dada sociedade, em razão de disputas corporativistas ou pelos valores que a comunidade elege. Dessa forma, é bom deixar claro que o formato final de um currículo não é algo apenas técnico, mas também envolve muitas disputas que passam pela visão de mundo e de educação dos sujeitos envolvidos.
         No Brasil, a partir de 2009, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ganha força ao se tornar um mecanismo de seleção para o ingresso no ensino superior e, com isso, passa a ser, indiretamente, uma referência e dispositivo regulador daquilo que as escolas irão ofertar aos seus estudantes. A meu ver, estamos diante de um sismo pedagógico, que vem provocando algumas sutis movimentações em que alguns saberes ganham ou perdem espaços.
         Forquin alerta para o fato de que geração, cada “renovação” da pedagogia e dos programas, são partes inteiras da herança que desaparecem daquilo que ele chama de memória escolar. Nesse movimento, novos elementos surgem, novos conteúdos e novas formas de saber. Então é importante estarmos atentos a esse movimento feito pelas escolas da educação básica. Qual o sinal que a matriz e os itens Enem estão enviando para as escolas? Estão em consonância com aquilo que é posto como premissa pela LDB ou pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o ensino médio ou ensino fundamental? Diante disso, uma grave questão se coloca: qual parte de nossa herança cultural corre o risco de desaparecer nesse contexto e qual dimensão ganhará espaço?
         A ameaça maior recai, como sempre, sobre aquelas disciplinas ou saberes que não têm uma utilidade imediata, mas que estão no âmbito dos conteúdos simbólicos, dos valores estéticos, das atitudes morais e sociais, conforme define Forquin, “ referenciais de civilização”. Esse mesmo autor considera que toda tentativa de se subordinar ou definição dos programas escolares a uma avaliação do grau de utilidade social dos saberes destinados a ser ensinados teria, aliás, implicações devastadoras. É, a meu ver, aquela crônica de Rubem Alves que conta a história de um proprietário de granja que só pensava em lucros. Na ânsia de otimizar a produção e diminuir gastos, mandou matar os galos “por falta de utilidade”, afinal, eles não botam ovos!
         No contexto da abordagem que ora faço, identifico que os “galos” da escola (aqueles que correm o risco de ter seus tempos e espaços reduzidos) são a arte (música, teatro, canto, dança, artes plásticas, literatura, etc.), a filosofia e a educação física (com seu enorme acervo de práticas corporais). Curiosamente, essas “disciplinas” compõem o conjunto de possibilidades estéticas, éticas e lúdicas de conhecer o mundo.
         Da ideia do currículo como percurso, como caminhada, somos levados ao movimento apressado do turista que vai cumprindo de forma nervosa sua programação e roteiro, não como alguém que frui a experiência, mas como quem precisa ir, precisa chegar. Essa imagem, transposta para a escola, é como se a vida terminasse na 3ª série do ensino médio. Fiquemos atentos: o tempo da rapidez, do muito, do exagero chegou à escola. Se vivemos a época das descobertas, da elucidação de problemas, temos que concordar com Edgar Morin, quando afirma que “os nossos ganhos inusitados de conhecimento são pagos com ganhos inusitados de ignorância”. Em última instância, o que justifica o empreendimento educativo é a responsabilidade de transmitir e perpetuar a experiência humana considerada como cultura. Temos como premissa que a escola não tem o direito de desistir deste compromisso, exceto se ela, antes, já desistiu de ser, também, escola.”

(ALELUIA HERINGER LISBOA TEIXEIRA. Doutora em educação (UFMG), diretora do Colégio Santo Agostinho – Contagem), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de dezembro de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 29 de novembro de 2014, caderno PENSAR, página 2, de autoria de INEZ LEMOS, psicanalista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Raízes psíquicas e sociais da corrupção
        Qual conexão podemos estabelecer entre a família brasileira e a cultura de corrupção que se implantou no Brasil desde que a Coroa portuguesa aqui se instalou? O modelo de colonização português foi de exploração e não de povoamento, como o que ocorreu nos Estados Unidos pelos ingleses. Explorar o máximo de riquezas de forma predatória, por meio de mão de obra africana e escrava. Desrespeitando índios, culturas, rios e florestas. Na casa-grande, vão se instalar os donos das terras, os coronéis e nas senzalas, os escravos. Assim nasce a cultura brasileira, marcada pela segregação e exclusão. A desigualdade social, que sempre fez parte do projeto civilizatório, nunca foi empecilho ou alvo de críticas pelos defensores do desenvolvimento econômico brasileiro.
         Como repensar a corrupção que sempre dominou as grandes empresas nacionais? Furnas, Petrobras e Vale do Rio Doce (antes da privatização) sempre foram alvos de políticos e empresários ensandecidos pela cultura de propinas. Ao que hoje assistimos é parte de um modelo corrupto que aqui chegou, se expandiu e que, além de não o erradicarmos, o alimentamos. Sem repensar qual cultura queremos educar os filhos, sem definir o modelo filosófico e político que escolhemos viver não saberemos como contribuir com a mudança de paradigma.
         Pais culpados por trabalhar em excesso e se ausentar da educação dos filhos – tensos e pressionados em atender às demandas de consumo –, acabam perdendo autoridade. Pais subservientes aos modismos, ou por comodismo, aderem às posturas antiéticas. Muitos justificam os atos insanos alegando que, se não se submeterem, os filhos se sentirão excluídos. A subserviência dos pais nos remete à do país – que nasce submisso a outro com a missão de fornecer ouro, prata, terras e mulheres. E que, tardiamente, inicia os primeiros passos rumo à distribuição de renda, fator que garante a autonomia e a resistência do cidadão aos mandos e desmandos do poder econômico.
         Ao se aproximar da opção ética de vida, devemos intensificar a participação social. Incentivar, entre as crianças, a convivência positiva, não predatória. Se respeitamos o espaço público, se jogamos o lixo na lixeira e não na rua, se evitamos fila dupla, reafirmamos a opção pela ética, pela não corrupção, uma vez que estamos subvertendo os impulsos perversos. Corrupção e perversão, dois conceitos que se entrelaçam. Qual a política social que defendemos? Exclusão ou inclusão? Há uma diretriz ético-política que nos obriga a repensar os rumos que traçamos para os filhos. Enriquecer a qualquer custo? Educá-los para a submissão ao mercado, ou encorajá-los nas escolhas que priorizam a realização pessoal?
         O conceito de ética coloca o outro no centro da questão. Uma escolha ética exige consciência social, propostas que implicam o outro e ultrapassam o mero prazer. O princípio é o bem comum, convivência que garante qualidade de vida à maioria. Não há desenvolvimento econômico sem preservação do espaço público. Sem os mananciais não teremos água, bem sagrado que não pode ser privatizado. A Amazônia é uma dádiva dos deuses, e, no entanto, o homem está destruindo-a. Como ensinar a reverenciar a natureza mais que shoppings, livros mais que sapatos?
         O declínio da função paterna deflagra o declínio da ética quando sentimentos como constrangimento e vergonha são substituídos por arrogância e cinismo. A cultura da ostentação é uma forma velada de favorecer a corrupção, uma vez que ela prega o culto à aparência e ao espetáculo.
         Chamar os políticos de ladrões, corruptos, sem-vergonha, é simplificar a questão. Tudo isso faz parte da sexualidade humana, são atos perversos. A perversão significa “versão em direção ao pai”: ela provoca e escarnece a lei para melhor a aproveitar. A velha política exige liderança, aquele que pode tudo, lugar do pai primevo, o que tinha todas as mulheres da horda, o único que gozava. É muito difícil ocupar poder de forma ética, democrática, pois o poder traz em sua essência a père-version – a versão do  pai –, o que detém o poder! Contudo, os que não foram educados para respeitar as regras que regem o espaço público são seduzidos pelo poder. Lá eles fazem e acontecem à revelia dos poucos neuróticos que tentam manter a moral, a ética e a lei.

CIDADANIA Famílias interessadas em contribuir com a seriedade das instituições, como na defesa e no fortalecimento da democracia, devem se ocupar com a educação sexual e psíquica dos filhos. Quanto mais exemplos dos pais no campo da cidadania e da ética, menor as chances de condutas perversas e corruptas se alastrarem. Ninguém nasce corrupto, perverso e criminoso. O cidadão se torna assim em função da educação que recebe. Não se nasce corrupto, torna-se corrupto. O Brasil sempre cultuou condutas perversas e de desrespeito à coisa pública. Atos antirepublicanos.
         Jacques Rancière, em Ódio à democracia,  coloca em xeque políticas liberais que, embora defendam essa forma de governo, deturpam o ideal democrático seguindo as determinações de uma classe dominante que não aceita perder espaço entre as forças capitalistas. No Brasil pós-eleições, assistimos a uma parcela da população que foi à rua explicitar a obsessão pelo individualismo democrático. Para Rancière, esse conceito é parte do chamado ódio à democracia. Uma classe de abastados que não concorda em contribuir com políticas que visam diminuir as desigualdades sociais, tampouco perder o lugar e as condições de privilegiados. Muitos chegam a surtos e delírios e, sem nenhum pudor, lançam palavras de ordem a favor da intervenção militar. Convocam a ditadura em defesa dos abusos patrimoniais – modelo apropriado pelas oligarquias.
         O ódio à expansão de oportunidades aos excluídos deve ser combatido nas salas de aulas e nas famílias. Vida feliz inclui ensino à cidadania. A democratização do Estado é antídoto à delinquência. A desfaçatez dos políticos e o enriquecimento ilícito são um convite à corrupção. Além de injusto, gera violência e revolta. Ao defender direitos, promovemos autonomia e ética.
         Neste Natal, recomendamos de presente aos filhos, ética. Interditar a criança em seus atos descabidos e perversos. Reprimir e frustrar é não submissão aos impulsos narcísicos. É prevenção contra a perversão, à violência e ao crime.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País  no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, e mais uma vez, lemos na mídia que “Os mesmos escândalos e seus protagonistas... vêm destruindo o país e abalam seu povo sofrido há mais de 60 anos...); III – o desperdício, em todas as suas modalidade, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!


O BRASIL TEM JEITO!...

segunda-feira, 5 de maio de 2014

A CIDADANIA, O SAL DA TERRA E OS RESÍDUOS DA EDUCAÇÃO (59/1)

(Maio = mês 59; falta um mês para a Copa do Mundo)

“O sal da terra
        
         Está escrito em Mateus, capítulo 5, versículo 13, que Jesus teria dito a seus seguidores: “Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal perde o sabor, para que há de servir?”.
Nos dias atuais, nunca foi tão necessário rever conceitos, reavivar valores esquecidos, desenterrar as lições que nos foram dadas de graça pelas pessoas ilibadas com quem encontramos nesta vida. Reinventar o homem, eis a missão! E o que cabe a nós, advogados, operadores do direito e aqueles que na academia almejam tal distinção? Somos convidados a fazer justiça e, como o sal da terra, nos tornamos necessários!
A Constituição de 1988, com a sabedoria do povo, nos diz: sois vós, advogados, indispensáveis à administração da justiça (Artigo 133). Ora, me pergunto: se o advogado perde a noção do que é reto, como se efetivará a sociedade justa e solidária que a Constituição promete no seu Artigo 3?
A justiça, parafraseando santo Agostinho, se me perguntarem o que é, não saberei responder, mas com certeza sei o que não é. E é como o que não é que devemos nos preocupar. Se nos dispusermos a trabalhar para construir uma sociedade justa, aspiração coletiva do povo brasileiro e inconsciente de toda a humanidade, e se, por força da lei maior, nos tornamos essenciais a esse exercício, resta-nos pedir a Deus que nos dê sabedoria e ponha freios em nossas iniquidades para que possamos dar alma à lei e traduzir em ação na vida corriqueira aquilo que entendemos ser justiça. Não é decorando códigos que se dá vida à lei, mas compreendendo as suas entrelinhas, olhando nos olhos das pessoas  que esperam de nós que a justiça se faça.
Há muitos que se impressionam pelos discursos eloquentes dos tribunais, pela linguagem esmerada dos textos jurídicos, pela indumentária elegante dos juristas, pela pompa das Cortes ou pelas possibilidades financeiras, as reverências e salamaleques. Não. Decididamente, a justiça não se faz com tais adereços. Antes, os dispensa pela simplicidade do oprimido, pelo desespero do encarcerado, pela dor das vítimas, pela fragilidade do desamparado, pela fome, pelo medo, pela angústia. Não é de aparências que vive a justiça. Aqui, vale de novo uma paráfrase: desta vez, recorro a são Paulo para afirmar que a justiça não se ensoberbece, não vocifera, não grita. É mansa e prudente. Quando ela acontece, ainda que em silêncio, todos nós a percebemos. É como um bálsamo, um fino perfume. Tudo o que vier além é pirotecnia desnecessária.
Na verdade, a sociedade justa que almejamos precisa muito do advogado-conselheiro, equilibrado, estudioso, que fala a língua de gente, que conhece as dificuldades das pessoas e se dispõe a ser serviço. Com facilidade troca-se a gritaria, o estardalhaço, a velhacaria pela compreensão, pelo zelo, pela concórdia, pela boa-fé. Há duas portas para se entrar para a história, e uma delas é a porta dos fundos, notadamente mais fácil. A nossa vida é feita de escolhas, e, não raro, somos aquilo que escolhemos ser. Do direito romano herdamos a máxima que deveria nos direcionar: “Honest vivere, alterum non laedere, suum cuique tribuere” (viver honestamente, não prejudicar ninguém, dar a cada um o que é seu). Essa é a prática da justiça. Todo o resto é literatura!”

(Israel Quirino. Professor e advogado, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 3 de maio de 2014, caderno O.PINIÃO, página 15).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 26 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de ALELUIA HERINGER LISBOA TEIXEIRA, doutora em educação pela UFMG e diretora do Colégio Santo Agostinho – Contagem, e que merece igualmente integral transcrição:

“Resíduos da educação
        
         Toda atividade humana produz seus resíduos, pois nosso processos são lineares. Entretanto, não é essa a sábia e longeva lógica da natureza, na qual os processos são cíclicos. Se a instituição escolar abriga uma atividade humana, logo, também produz seus resíduos Em quais contextos são produzidos? Para responder a essa pergunta é preciso observar toda a “cadeia produtiva”, que se inicia com o processo de seleção de alunos, até sua conclusão no ensino médio.
         A produção da excelência escolar está em relação direta com a produção do resíduo escolar. Essa metáfora pode nos ajudar a entender os bastidores dessa relação que é tão pouco explicitada. Hoje, nos damos por satisfeitos com a posição da escola no ranking que é elaborado e divulgado anualmente pela grande mídia, com base nos resultados do Enem e disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
         Ressalto que uma avaliação sistêmica como essa é de fundamental importância para o fornecimento de dados que irão subsidiar as políticas públicas e os projetos pedagógicos das escolas. É preciso, sim, analisar os resultados, cruzar informações, identificar e agir nas deficiências. Entretanto, a ligeira apropriação realizada, sem a observância de outras variáveis, é ago empobrecedor e não nos ajuda a melhorar o nível da educação brasileira. Isto porque, na ânsia de “sair bem na fita”, mais e mais o foco e o interesse das escolas se voltam para aqueles estudantes que poderão oferecer retorno rápido em menos tempo; e menos valor e interesse se tem em trabalhar aqueles com dificuldades de aprendizagem em algumas áreas e métodos. Aquilo que deveria ser uma responsabilidade compartilhada da sociedade, que é a melhoria da educação de todo o seu povo, segue, de forma perigosa e egoísta, ofuscada pela necessidade atlética de subir no pódio.
         A produção de resíduo da excelência escolar se dá antes mesmo da largada, no processo de seleção, que, no passado, era temido e conhecido como exame de admissão. Quantos tentam uma vaga? Quantos irão conseguir? Quanto mais disputado for esse processo, melhor será a composição do alunado.
         Em nossa pesquisa sobre o Colégio Estadual de Minas Gerais, escola com 100% de aprovação nos vestibulares, no período de 1956 a 1964, prevalecia o critério de admissão por mérito de cada candidato, ou seja, garantia da igualdade de condições para a competição. De fato, todos podiam se inscrever, e a prova seria a mesma para todos, contudo identificamos que, antes da competição, outras variáveis, além dos pressupostos acima, influenciavam de forma significativa o resultado, tais como o grupo escolar de origem, a possibilidade ou não de fazer um bom curso preparatório, a origem social do aluno e o capital cultural herdado na família. Dessa elite escolar era possível exigir sempre mais, o que redundava em um alto nível de aprovação no vestibular. Esse ciclo virtuoso fortalecia a representação da escola como lugar da excelência acadêmica.
         Os alunos residuais desse exame, provavelmente os com maiores dificuldades de aprendizagem e que iriam exigir mais dos professores, desistiam ou buscavam escolas “mais fracas”. Para o sociólogo francês François Dubet, uma escola justa não pode se limitar a selecionar os que têm mais mérito; ela deve também se preocupar com a sorte dos vencidos.
         Em 1963, já dentro da política nacional de ampliação do número de vagas para o ensino secundário, encabeçada pelo então presidente João Goulart, o Colégio Estadual de Minas Gerais abriu escolas anexas e diminuiu o rigor do exame de admissão. O que aconteceu? A excelência escolar foi diluída e se perdeu em poucos anos, fazendo-nos entender que a excelência só existiu por causa de sua raridade. Era uma escola para poucos, e poucos bons, uma elite escolar.
         Podemos encontrar outro nicho de produção do resíduo relacionado à produção da excelência escolar quanto levantamos os índices de reprovação, de evasão ao longo do ano letivo e de transferidos no final do ano motivados pela dificuldade em acompanhar o ritmo da escola. O que acontece? Há ensino e não há aprendizagem? Se for de qualidade e de excelência, porque não se aprende? Como a escola lida com isso? Se não deu conta, foi porque o aluno não se esforçou? Pode ser. Exceto para alguns poucos privilegiados, aprender exige um grande investimento de tempo e dedicação por parte do estudante. Entretanto, nem todos vão mal por falta de esforço. Conforme Dubet, “o jogo escolar é mais propício aos mais favorecidos”.
         Constato com satisfação os avanços alcançados com a aplicação e os resultados do Enem. Todos precisam se mexer. Entretanto, não podemos perder de vista o quanto é de valor social o trabalho de tantas escolas e professores que não desistem de seus alunos com baixo aproveitamento escolar. Com propostas metodológicas interessantes, abrem mão do pódio, mas não de seus projetos, e suportam bravamente a competição bruta e a pressão do mercado. Estamos desvirtuando a grande oportunidade de alavancarmos a nossa educação. O conceito de educação de qualidade ou de excelência educacional inclui, necessariamente, um bom resultado no Enem, mas é empobrecedor reduzi-lo a esse único dado.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de  moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
  
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A CIDADANIA, A BOA ESCOLA E AS DINÂMICAS DO DIÁLOGO E CONFRONTO

“Escola: trampolim ou plataforma?
        
         Desde a chegada dos jesuítas, em 1549, instituindo o primeiro projeto de educação no Brasil, apregoava-se, nos ordenamentos legais da educação brasileira, que a “elite educada” seria a condutora do país. Teríamos, assim, pessoas capacitadas em todos os segmentos da vida pública, mais sensíveis e envolvidas com os problemas do país. Revisitando todo este período de educação no Brasil, até chegarmos a 1996 com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, considero ser possível uma reflexão.
         Há no imaginário social a ideia de que a escola ou a “escola forte” é aquela que tem bons professores, bons alunos e um bom índice de aprovação nos concursos vestibulares em geral; em especial, uma boa posição no ranking do Enem. Todos esses atributos estão numa determinada perspectiva, corretos, e é o que todos desejam para as suas escolas. Esse modelo coroa de êxito o sucesso do aluno, do professor e, evidentemente, da escola. Denomino-a, por isso, escola trampolim. Na escola trampolim, o aluno se empenha ao máximo, estuda bastante, afinal, o colega ao lado é seu concorrente. Então, cada um por si e Deus por todos!
         Estudam-se atualidades com o objetivo de conhecer as temáticas que poderão ser cobradas na produção de texto do Enem, mas é como se a atualidade e aquilo que está acontecendo no mundo não fossem algo com o qual é preciso se envolver nem dissesse respeito ao estudante. A escrita é tecnicamente perfeita, porém o seu conteúdo é algo que se pode esquecer junto com o ponto final. Assim, o conhecimento não transforma, não torna ninguém melhor, não aprimora a sociedade. Por sua vez, o professor é o melhor que há no mercado, referência em sua área. Seu espaço de atuação na escola é a sua sala. Ele tem o seu método, o seu jeito. Para dar conta do enorme programa, as propostas interdisciplinares ou de diálogo com outras áreas ou colegas de equipe são deixadas de lado.
         Por fim, a escola. No modelo trampolim, ela é a própria referência. Seus muros, reais ou não, isolam-se da comunidade, da vida e da realidade. Torna-se uma ilha de treinamento, descolada  dos problemas do mundo. Podemos dizer que Paulo Freire e a função social da escola ficaram esquecidos nos papéis, já amarelados, da faculdade. Esta é a escola trampolim: suporte para o sucesso individual, seja do aluno, do professor ou da escola.
         Entretanto, existe outra possibilidade de ser escola. Trata-se da escola plataforma. Também essa escola almeja o bom aluno, o bom professor e os bons resultados, entretanto, altera-se o conceito do que vem a ser bom. O bom aluno é aquele que faz boas perguntas e não apenas o que dá boas respostas; é aquele que organiza melhor o seu conhecimento à medida que ajuda os colegas com dificuldades. O bom professor é aquele que domina com excelência a sua disciplina e, generosamente, dialoga com as outras áreas do conhecimento. Ele estabelece pontes entre aquilo que ensina, o que acontece no seu entorno e as grandes temáticas que afligem a humanidade. Dessa forma, ele afeta os estudantes para que se comportem de forma comprometida com a transformação da realidade.
         Por fim, a escola plataforma cumpre uma relevante função social. O estudante não aprende sobre cidadania apenas ouvindo palestras; ele aprende “na cidadania”. É algo que se dá na ação, na experiência e no modelo dado por seus professores, coordenadores e diretores. Sua estrutura física, material e capital humano estão a favor da melhoria e emancipação humana, social, cultural e política da comunidade. Esses dois modelos de escola – plataforma e trampolim – nos levam a destinos diferentes como nação e não há dúvida sobre qual deles será capaz de nos resgatar dessa inércia cidadã. O senso do bem comum, coletivo, o trato honesto e responsável com aquilo que é público se aprende em casa e, principalmente, na escola, espaço republicano por excelência.”

(ALELUIA HERINGER LISBOA TEIXEIRA. Doutora em educação (UFMG), diretora do Colégio Santo Agostinho (unidade Contagem), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 24 de setembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 27 de setembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Diálogos e confrontos
        
         Os tecidos sociocultural, político e religioso se configuram por dinâmicas de diálogos e confrontos, entre pessoas na esquina de uma rua ou até em processos de elaboração decisória numa suprema corte. Dialogar é imprescindível na geração e manutenção de processos vitais e politicamente indispensáveis ao funcionamento da sociedade. Sem essa atitude, tudo fica comprometido. Não é raro ouvir sobre crises institucionais, perda de identidades e de força por falta de diálogo, de comunicação. E esse processo é também marcado por confrontos que são inevitáveis.
         Valem a sabedoria e a habilidade para não permitir que os embates gerem desgastes irreparáveis, ou retardem avanços indispensáveis quando são consideradas as metas já definidas. No núcleo dos diálogos e confrontos, na vida comum, política, religiosa e profissional, está instalado um processo interpretativo que é, na verdade, um confronto inevitável em busca da verdade.
         Esse processo de interpretação é um impulso que determina rumos, ilumina compreensões e garante o compromisso necessário no viver da história. Em jogo está a questão de princípios e valores, fundamentais para o norteamento da vida da sociedade e para o equilíbrio de suas instituições. Todos estão nesse cenário na condição de intérpretes. Por isso mesmo, é tão comum ouvir as mais diversificadas opiniões. Não raro é ver também quem dá opinião sobre o que não conhece.
         Fique sublinhado, no entanto, o lugar determinante de rumos e escolhas a partir do lugar que se ocupa e de onde se interpreta a realidade, influenciando destinos políticos, bem como os tipos e modos de vivências religiosas. Um aspecto é determinante e insubstituível nesse complexo processo de diálogos e confrontos. Trata-se do apreço, respeito e compromisso de cada um pela verdade – respeitá-la e testemunhá-la responsavelmente. É incontestável que a verdade possui a força ordenadora das relações sociais, permite a competência de respeitar a dignidade de toda pessoa.
         Ora, a sociedade e suas relações não podem se estabelecer como um puro arbítrio. Exige-se um processo educativo permanente e denso, que capacita as pessoas na vivência de sua cidadania. É a conquista da competência cidadã para viver as dinâmicas de diálogo e confrontos que permite alcançar mais justiça, liberdade e respeito aos direitos. A verdade, nessa perspectiva, não pode ser reduzida a opiniões ou relativizações. Sua busca permanente configura a liberdade de toda pessoa, como exigência inseparável do entendimento adequado da dignidade humana.
         Ganhou exemplaridade o que se passou recentemente no Supremo Tribunal Federal, com a consideração de “embargos infringentes”, vocabulário novo no entendimento cidadão Cinco ministros contra e cinco a favor. O parecer de um fez o desempate. Afinal, nesse processo interpretativo, quem está com a razão? A retomada do julgamento, com base em argumentos interpretativos, permitiu uma mudança de cenário para o que estava já decidido, e todo tipo de volatilidade no percurso de busca da verdade é extremamente danosa.
         Inegociável deve ser o respeito a identidades ou ao que, em sua decorrência, se assume como compromisso e posturas sociais, políticas, religiosas e culturais. Uma conduta importante que baliza funcionamentos democráticos, fazendo cumprir aquilo que realmente é papel institucional. No caso específico do julgamento, uma corte suprema não pode tender a interpretações que comprometam o sentido pleno do direito defendido. Também assim, uma família não pode ser, em respeito à sua identidade e missão, palco de ataques ou de propagação de elementos que contradigam o seu sentido. Instituição alguma pode ensinar aquilo que é contrário à sua identidade
         Sem esses zelos institucionais, com a complexidade dos processos interpretativos, com suas nuances subjetivas e impostações científicas, se poderá presenciar absurdos como quem defende a vida propagando argumentações abortistas, ou de quem se compromete com a justiça, mas deixa-se levar por dinâmicas ilegítimas. Não se pode aceitar que, em nome da participação ou democracia, autoridades e cidadãos negociem identidades, emprestando suas vozes para fazer ouvir o que é contrário àquilo que é fundamental: os princípios e valores.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
    a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

    b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inquestionavelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública, a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; sistema financeiro nacional; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; turismo; esporte, cultura e lazer; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...