“Estudante
é alienado pela aprendizagem
Certos sintomas
decorrentes do modo de ser e de viver de uma dada sociedade são notados de
forma privilegiada no ambiente escolar. Isso decorre de ser este um lugar
social privilegiado, com três importantes variáveis: o tempo, espaço; e o
número de pessoas envolvidas. A escola, por sua vez, não está fora desta mesma
sociedade e atua ora fazendo contrapontos e tensionando, ora reforçando e
legitimando determinadas práticas. A síntese da atuação dessas forças é
sentida, fortemente, nas crianças e jovens, seja pela forma como falam,
escrevem, opinam, vestem, relacionam-se com os colegas ou com a figura da
autoridade.
Tem
sido recorrentes algumas falas, vindas de diferentes contextos em relação à
imaturidade e falta de autonomia dos estudantes. No desdobramento desta
constatação, segue a dificuldade de ouvir, organizar o local de estudo, a
ausência da coordenação motora fina, que influencia no recorte de uma folha, na
colagem, no manuseio de equipamentos ou na própria escrita. Algumas habilidades
cognitivas estão ficando a desejar, como a resolução de contas básicas para a
solução de problemas que extrapolam os exercício da aula de matemática; a falta
de noção de proporção; ausência de conteúdo para uma produção de texto, e mais
uma série de itens.
Há um
movimento que depende muito da família e, em parte, da escola, mais
especificamente com a educação infantil e as primeiras séries do ensino
fundamental. Abandonamos algo essencial, que é a linguagem corporal. No afã de
vermos nossos filhos lendo e escrevendo, cada vez mais cedo, minimizamos o
tempo de brincar e jogar. Suprimimos o pular, saltar, correr, equilibrar,
escalar, esquivar, agarrar, lançar, e tudo isso com seus respectivos tombos,
arranhões e trombadas. Enxergamos tudo com ameaça.
Estamos
presenciando e sentido a falta que faz o equilíbrio, o ritmo, a noção de
espaço, de tempo, coordenação motora grossa e fina, pensar estrategicamente e
de forma antecipada. Sabem onde se aprende isso? Na queimada, na amarelinha, no
soltar elástico, no pular corda individual ou com pequenos grupos, nas
brincadeiras cantadas com gestos e em duplas, trios ou quartetos, pegador, no
soltar pipa, no boliche, na bola de meia e de gude, rouba-bandeira, para citar
alguns. Quantas e quantas horas nossas crianças estão passando em ambientes
fechados, fazendo programas de adultos ou na frente de uma tela de smartphone,
tablete ou TV?
O
sujeito-estudante tem sido um alienado do próprio processo de aprendizagem.
Sujeito oculto. Ele não comparece, não se engaja intelectualmente e não se
mobiliza para o saber. Isso foi ensinado e começa, a meu ver, desde a hora de
acordar, quando despertamos por eles. Providenciamos o café, pensamos o lanche,
resolvemos o problema do transporte, dos esquecimentos, do uniforme e da
organização do quarto. Chegamos ao ponto de atravessar a rua por eles.
Considero que nosso certificado de bons pais e educadores deveria ser medido
pela autonomia alcançada por nossos filhos. Para cada idade há um grau de
autonomia a ser alcançado. Tenho sérias dúvidas se seremos aprovados.
Para
concluir, deixando uma palavra de esperança, aposto no investimento de cada
família na qualificação da infância. A decisão de colocar uma criança no mundo
deveria ser precedida de uma promessa de preservar e amparar para que ela tenha
tempo para ser criança. Que as escolas sejam avaliadas pelo tempo investido em
tempos qualificados de jogos e brincadeiras, música e arte. Que seus
professores sejam, antes de qualquer coisa, brincantes e disponíveis
corporalmente para este diálogo lúdico. Que nossos filhos tenham a prerrogativa
de resolver seus próprios problemas e que mostrem não apenas o novo brinquedo
eletrônico, mas o roxo no braço, o joelho ralado. Isso fortalece, cria fibras,
desenvolve o senso de autoproteção, aguça os sentidos, deixa-as espertas e
ágeis. Que possamos “dar corda”, sem soltar as pontas.”.
(ALELUIA
HERINGER LISBOA TEIXEIRA. Diretora do Colégio Santo Agostinho Unidade
Contagem, em artigo publicado no jornal ESTADO
DE MINAS, edição de 6 de maio de 2016, caderno OPINIÃO, página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de DOM
WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e
que merece igualmente integral transcrição:
“Apelo
aos cristãos
Cristãos todos, de
diferentes confissões, precisam vivenciar o compromisso com a unidade. Essa é a
provocação da Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos, preparação para a
festa litúrgica de Pentecostes, em 15 de maio. Unidade inscrita no compromisso
obediente ao mandato do Senhor Jesus quando ora ao seu Pai e roga a graça “para
que todos sejam um”. Eis o princípio do evangelho que exige o envolvimento de
cada pessoa que testemunha a fé em Cristo. A súplica de Jesus precisa balizar a
conduta de todos os cristãos, a partir de sua identidade confessional, na
construção da unidade. Para além de qualquer pretensão de uniformidade, o
objetivo é fazer valer a força dos valores do evangelho nos norteamentos da
história e nos rumos novos que a sociedade precisa trilhar.
A
busca dessa unidade foi um dos objetivos centrais do Concílio Vaticano 2º.
Ainda incomoda muito constatar que os princípios cristãos ainda não livraram a
sociedade dos esquemas de corrupção, dos desmazelos sociais e das indiferenças
que comprometem a paz. Essa realidade é uma vergonha para quem crê em Jesus,
pois os processos de transformação social e política precisam ser fecundados
pela força da fé. Falta a consciência clara de que se está caminhando para o
reino definitivo. A unidade dos cristãos como força de articulação que pode
colaborar nessa caminhada, pela singularidade dos valores do evangelho, é uma
meta que, lamentavelmente, ainda não conquistou a necessária mobilização. Isso
pode ser percebido quando se observa a participação das pessoas nos momentos
que integram a programação proposta pela Semana de Orações pela Unidade dos
Cristãos. Poucas confissões religiosas se interessam e colaboram.
Na contramão
desse caminho, o tecido cristão subjacente na sociedade brasileira vai
recebendo matizes e direcionamentos que se distanciam do sentido e compromisso
da unidade. Está se verificando um fenômeno que urge a atenção do Estado, com
seus governantes, bem como das igrejas, com seus líderes, no sentido de parar
um preocupante processo de deterioração da essencialidade do viver cristão. A
fé cristã pode contribuir de maneira determinante e transformadora para o bem
da sociedade. Porém, é uma aberração fazer da fé uma prática para sustentar
partidarismos, bancadas, nos âmbitos parlamentares, apoios em troca de
interesses específicos, sombreando o horizonte de uma política que busca, acima
de tudo, o bem comum.
Não
menos preocupante é a realidade que se configura com a facilidade para se
autodeterminar “igreja cristã” e, assim, conseguir isenções de taxas e
impostos, almejando negócios e enriquecimento ilícito. Esse problema merece a
atenção das confissões religiosas cristãs, particularmente pede a abertura para
se reverem os tratamentos recebidos em razão de legislações que favorecem
também práticas na contramão do bem comum. A força que impulsiona a construção
e a vivência da unidade dos cristãos deve ser cultivada a partir da
autenticidade e da coerência no âmbito das práticas religiosas, sem medo, sem
proselitismos, sem disputa para arrebanhar mais gente. Assim, os cristãos, em
unidade, poderão enfrentar problemas, a exemplo do que incide sobre a população
jovem, cada vez mais indiferente em relação à vivência da religiosidade. É
oportuno lembrar que a construção de um caminho sem o horizonte dos valores e
princípios cristãos reforça o ciclo de crises existenciais e sociopolíticas.
Também não se pode deixar de pensar na urgência do fortalecimento do tecido da unidade
entre os cristãos para que todos possam melhor cuidar da “casa comum”.
Essa
tarefa, é verdade, envolve prioritariamente as instâncias governamentais e os
detentores do poder de decisão. As autoridades que representam o povo precisam
trabalhar para deter das desarvoradas ganâncias que levam a um desenvolvimento
questionável. Mas os cristãos todos também têm um insubstituível compromisso
com a “casa comum”. Pela força da fidelidade ao evangelho, devem cultivar
hábitos novos, participação cidadã qualificada e, assim, colaborar na
reconstrução da sociedade.
Diante
da obra da Criação, a partir da redenção conquistada pela morte e ressurreição
de Jesus, os cristãos são chamados, pois, a construir sua unidade, enriquecida
pelas diferenças. Assim, poderão protagonizar a cidadania, com o perfil próprio
de quem crê em Cristo, dando as mãos em torno de programas e projetos que
balizem o caminho da sociedade sempre no horizonte da verdade, da justiça e da
solidariedade. A Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos, embora tão frágil
em publicidade e em participação das igrejas, das várias confissões denominadas
cristãs, é um broto de esperança. Trata-se de alerta que mostra a importância
de os cristãos se unirem para defender a vida. Deixar para depois o momento
dessa união pode ser prenúncio de um futuro triste, conforme sinaliza
significativa parte da juventude de hoje, indiferente à fonte inesgotável de
vida plena: o evangelho de Jesus Cristo. Que a Semana de Orações pela Unidade
dos Cristãos contribua para que todos, como discípulos de Jesus, caminhem de
mãos unidas.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em março a ainda
estratosférica marca de 449,1% para um período de doze meses; e mais ainda em
abril, o IPCA acumulado nos doze meses chegou a 9,28%, com os juros do cheque
especial em históricos 300,8%...); II – a corrupção,
há séculos, na mais perversa promiscuidade
– “dinheiro público versus
interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da
Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor,
de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é
cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 1,044 trilhão), a exigir
alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
- 55
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016)...
-
Estamos nos descobrindo através da Cidadania e Qualidade...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...