“Fórum
de Davos e o papa Francisco
O papa Francisco, em
mensagem ao presidente executivo do Fórum de Davos e apresentada aos
participantes pelo cardeal Turkson, presidente do Conselho Pontifício Justiça e
Paz, conclamou para que o encontro seja ocasião para uma reflexão mais
aprofundada sobre as causas da crise econômica mundial. Em tempos difíceis para
a economia, durante os quais muitos empresários sofrem as consequências da
crise – que reduziram profundamente os resultados das empresas, colocaram em
risco a sobrevivência de muitas e
ameaçaram muitos empregos –, o papa mantém a esperança de que a política e a
economia devam trabalhar na promoção de uma abordagem inclusiva que tenha em
conta a dignidade de cada pessoa humana e do bem comum.
Quando
os homens de negócios e as economias de mercado funcionam corretamente, e estão
focados no serviço do bem comum, contribuem grandemente para o bem-estar
material e até espiritual da sociedade.
A
crise mundial desencadeada em 2008 ainda perdura e trouxe à tona pensamentos,
estudos e teorias de que é preciso repensar o modelo econômico praticado nos
dias atuais, em que o capital se sobrepõe ao trabalho, a especulação se
sobrepõe à produção, e o dinheiro tem mais valor do que as relações humanas.
Assim,
iniciativas que visam a rearranjos econômicos e novas formas de relacionamento
entre empresa, mercado e sociedade se fazem necessárias. Essas práticas devem
recolocar o ser humano no centro das decisões, resgatar a dignidade humana e
valorizar a dimensão espiritual, indispensável para formação da consciência
individual e coletiva e para o equilíbrio na convivência entre os stakeholders.
Muitos
problemas globais ainda não foram resolvidos e até mesmo se agravaram.
Ganância, perturbações econômicas, escândalos na política e nos negócios
causaram erosão na confiança. O individualismo e a falta de solidariedade
levaram à injustiça e à desigualdade social.
Preocupa-nos
o frágil equilíbrio social em países com altas diferenças de renda e padrões de
vida. Um desafio para a atual e as próximas
gerações. Assim, a Igreja, especialista em humanidade, sempre defendeu a
dignidade do ser humano e se preocupou com as condições da vida na Terra. A
mensagem é clara: o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, deve ser o
centro das atenções do mundo político e do mundo econômico, que devem estar a
serviço desse homem, trabalhando para a sua promoção e propiciando o bem comum.
Daí a
importância da mensagem do papa Francisco no Fórum de Davos. O pontífice
destacou a necessidade de não se tolerar que milhares de pessoas morram
diariamente de fome, embora existam à disposição grandes quantidades de
alimentos muitas vezes simplesmente desperdiçados – e a indiferença com muitos
refugiados em busca de condições de vida minimamente dignas.
Tomando
as palavras de Bento XVI, Francisco ressaltou que a equidade não deve ser
apenas econômica, mas deve ser baseada numa visão transcendente da pessoa, de
modo que se possa obter uma distribuição mais equitativa das riquezas, a
criação de oportunidades de emprego e uma promoção integral dos pobres que
ultrapasse a mera assistência.
A
mensagem do papa em Davos traduz-se num forte apelo para fazer com que a
riqueza esteja a serviço da humanidade e não que a governe, na ótica de uma
ética verdadeiramente humana, levada a cabo por pessoas de grande honestidade e
integridade, guiadas pelos altos ideais de justiça, generosidade e preocupação
pelo autêntico desenvolvimento da família humana.”
(SÉRGIO
FRADE. Presidente da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE
MG), em artigo publicado no jornal ESTADO
DE MINAS, edição de 10 de fevereiro de 2014, caderno OPINIÃO, página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de VIVINA
DO C. RIOS BALBINO, que é psicóloga, mestre em Educação, professora da
Universidade Federal do Ceará e autora do livro Psicologia e psicologia do escolar no Brasil, e que merece
igualmente integral transcrição:
“Analfabetismo
e avanços
Uma das maiores
potências econômicas, mediano no IDH e na educação, o Brasil tem alguns índices
educacionais lamentáveis. No Relatório de Monitoramento Global de Educação para
Todos – Unesco 2005 a 2011, o Brasil aparece em 8º lugar entre os países como
maior número de analfabetos adultos entre 150 países. São 13,9 milhões de
analfabetos adultos. Índia, China, Paquistão, Bangladesh, Nigéria, Etiópia e
Egito compõem esse grupo. No Fórum Mundial de Educação realizado em 2000, 164
países, incluindo o Brasil, 35 instituições internacionais adotaram o Marco de
Ação de Dacar para otimizar esforços necessários para melhorar a educação até
2015. Os objetivos traçados são: expandir os cuidados na primeira infância e na
educação; universalizar o ensino primário; promover as competências de
aprendizagem e de vida para jovens e adultos; reduzir o analfabetismo em 50%;
alcançar a paridade e igualdade de gênero e melhorar a qualidade da educação.
Segundo,
a Unesco, a situação da educação global não é positiva, pois 57 milhões de
crianças estão fora da escola. Falta de acesso e de qualidade é o que mais
compromete a aprendizagem. Para alcançar a meta até 2015 é preciso intensificar
a universalização do ensino fundamental e a redução dos níveis de analfabetismo
dos adultos. Em todo o mundo, a taxa de alfabetização de adultos passou de 76%
para 82%. Há 774 milhões de adultos que não sabem ler nem escrever, dos quais
64% são mulheres. Índices bem abaixo da média estão na Ásia Meridional e
Ocidental e na África Subsaariana, com aproximadamente 60%. Nos Estados Árabes
e no Caribe, as taxas estão em cerca de 70%.
Além
dos 13,9 milhões de analfabetos adultos, o Brasil tem 33 milhões de analfabetos
funcionais (cerca de 18% da população) e 16 milhões de maiores de 15 anos não
alfabetizados. Segundo a coordenação da Unesco, o Brasil dificilmente alcançará
a meta: “Além da redução no analfabetismo, o Brasil precisa alcançar uma melhor
qualidade de ensino e corrigir as distorções idade/série”. No Brasil, o gasto
anual por aluno da educação básica é de cerca de R$ 5 mil. Nos países ricos,
esse valor é três vezes maior.
O
Brasil não deveria valorizar mais a educação fundamental e o salários dos
educadores? Penso ser importante reavaliar os gastos públicos e prioridades no
Brasil. O piso nacional salarial do educador é de apenas R$ 1.697,37, mas
muitos profissionais nos três poderes recebem até acima do teto constitucional
de R$ 28.059,29. Por que tanta disparidade salarial e por tantas mordomias para
alguns? O Brasil gasta R$ 10,7 bilhões nos três poderes só com transferência de
pessoal, auxílio-moradia e acomodação dos profissionais do alto escalão. É
preciso diminuir as desigualdades salariais, valorizar a educação, eliminar as
mordomias e extinguir funcionários fantasmas.
Dados
de 2011 mostram que o país investe 6,1% do PIB na educação. Mas qual a
prioridade que o ensino fundamental e qualificação dos educadores têm?
Atualmente, menos de 10% dos professores estão fazendo cursos de formação
custeados pelo governo federal, segundo dados do Ministério da Educação (MEC).
O recente programa do MEC “Quero ser cientista, quero ser professor”, para
incentivar nas escolas públicas o estudo de disciplinas como matemática,
física, química e biologia.
Com
certeza, a médio e longo prazo essa política educacional terá impacto positivo
na qualidade dos ensinos fundamental e médio e no aumento do interesse pelas
licenciaturas nas universidades brasileiras. Dados positivos do Brasil o atual
relatório são: o país investe 10 vezes mais do que a Índia por criança na
educação primária; prioriza escolas da área rural com maior ênfase nos grupos
indígenas marginalizados; aumenta matrícula e aprendizagem na Região Norte, e
concede bônus coletivos a escolas que se destacam na aprendizagem. No ensino
superior, são inegáveis as políticas de incentivo como Prouni, Fies e Sistema
de Seleção Unificada (Sisu) com base na adesão de candidatos ao Enem, e o
Ciência sem Fronteiras, criado em 2011, que disponibiliza 101 mil bolsas em
quatro anos para intercâmbios com
grandes centros acadêmicos mundiais, incentivando a ciência, tecnologia e
inovação e a competitividade brasileira. A alfabetização de qualidade de
crianças e adultos com certeza é o maior desafio da educação brasileira.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas
estruturas educacionais, governamentais,
jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais,
de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação
universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de
idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos
nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especilização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas
políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis (por
exemplo, quando o IBGE e a Conab estimam a safra brasileira 2013/2014 em 196
milhões de toneladas, na outra ponta, são previstas em cerca de 20% as perdas
envolvendo as fases de plantio à pré-colheita; colheita; transporte e
armazenamento...);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 639 bilhões), a exigir imediata,
abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-as absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água
tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana,
logística reversa); meio ambiente;
habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; assistência social;
previdência social; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; segurança alimentar e nutricional;
segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística;
pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e
lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático
e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade,
economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente
no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos
como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do
pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da
internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da
inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo
mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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