segunda-feira, 28 de abril de 2014

A CIDADANIA, A ÁGUA NO SEU LUGAR E A ALEGRIA NAS MUDANÇAS

“O lugar da água
        
         Deveria ser na Cantareira, mas ela não está lá; não deveria ser sobre a Francisco Sá, mas ela estava lá, arrastando veículos. São Paulo com reservatório seco e ruas alagadas; Belo Horizonte com partes altas já enxutas e a cidade baixa ainda submersa, com bocas de lobo mandando jatos de água para cima como se repuxos projetados fossem. Muito se tem falado de falta e de excesso de água. A falta d’água é atribuída à falta de chuva e o excesso de água ao descontrole do clima. Simples como isso? Nada mais errado!
         O descontrole da água nos meios urbanos é uma espécie de punição por pecados originais das cidades, que não cogitaram de definir lugar para aágua a substituir o que lhe foi tomado, com vias implantadas em nível colado aos fundos de vales, ou o que lhe foi tornado inacessível pelos telhados e asfalto (placa tectogênica, ou algo mais pedante, chamado antropostroma de Passerini).
         Como começa: os arruamentos pioneiros não contam com drenagem formal, mas sua implantação corresponde a um processo de drenagem, não dirigida, mas drenagem; rios e córregos começam a ter cheias maiores que as naturais. São Paulo e Belo Horizonte já tiveram 5 km de diâmetro. As inundações urbanas duravam o tempo da chuva e na segunda esquina já caíam no meio rural, para sossego dos citadinos. A cidade cresce e as vias vão se estendendo ao tempo em que a drenagem se sofistica, passando a distinguir-se em categorias de micro e macro. O conjunto assume formas arborescentes, em que córregos, quais galhos tortos, ficam retilíneos, levando a água rapidamente aos rios.
         Em Belo Horizonte, que cresceu rio acima, a árvore da analogia tem galhos grandes para um tronco (o Arrudas da parte baixa) que não pode mais crescer.
         Bocas de lobo das partes altas, tão reclamadas, ficam mais limpas com a coleta de lixo mais eficiente, e despejam águas abundantes sobre as baixas, onde se dão as inundações, que cobrem bocas de lobo, algumas projetando refluxos pela alta pressão de águas das galerias a que dão acesso.
         As cidades têm recursos que insistem em não adotar de forma decidida: usar resíduos inertes para absorver parte do fluxo em cabeceiras e fundos de vale não urbanizados; usar telhados como coletores; promover reconexão hidrológica do telhado ao subsolo sedento com enxurradas correndo por cima.
         Que fique claro: a falta d’água na seca não é só por falta de chuva e o excesso nas águas não é só por mudanças climáticas, mas por excesso de descarga. Pode piorar porque esse excesso leva com a água o solo que o processo geológico não substitui na vida curta da civilização. E pensar que não se fala do solo erodido como recurso não renovável! No plano mais amplo, que envolve o campo, pergunto por que defendemos todas as nascentes, inclusive as voçorocas, se queremos a recarga dos aquíferos, sendo elas tão eficazes dispositivos geológicos de descarga dos aquíferos!”

(Edézio T. de Carvalho. Engenheiro geólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 22 de abril de 2014, caderno O.PINIÃO, página 17).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 25 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página 5).

“Mudar pela alegria
        
         Alegrai-vos! Esse é o impactante convite de Jesus ressuscitado a cada discípulo. Mais que isso, é uma intimação que o Mestre faz ao coração dos homens, que foi feito para hospedar a alegria. A humanidade procura a felicidade e sem ela não dá conta de viver. Mas, tantas vezes, busca ser feliz de modo desarvorado, comprometendo situações sociais e humanas. É importante compreender que a verdadeira felicidade é o bem supremo. Por isso, o Mestre ressuscitado, vencedor da morte, faz o convite para que todos se alegrem diante dos dons e bênçãos, tesouro inesgotável do amor de Deus.
         O tempo pascal é, pois, força pedagógica da liturgia da Igreja Católica, a oportunidade rica de exercitar o coração na procura do bem supremo, a verdadeira felicidade. Essa tarefa deve ser vivida fixando o olhar no Ressuscitado, a vitória perfeita e completa na história da humanidade, vida que venceu a morte, amor que venceu o ódio. Há que se ter presente o que Aristóteles sublinhava quanto às diferentes concepções de felicidade, identificada com a conquista de bens diversos, desde virtudes, sabedoria prática, sabedoria filosófica, acompanhada ou não do prazer, ou até a posse de bens materiais. Nem mesmo ele, admirável nas raízes da sabedoria filosófica, conseguiu articular uma conclusão que pudesse fazer entender o significado da felicidade.
         Santo Agostinho a definia como a posse do verdadeiro absoluto, isto é, a posse de Deus, fonte de todas as outras felicidades. Nessa mesma direção, São Boaventura a compreende como ponto final do itinerário que a alma ao Criador. Essas reflexões concluem que a felicidade não é, então, a conquista de patrimônios nem de poder, mas conhecimento, amor e posse de Deus. Assim, ela não é um simples estado de alma, mas algo recebido de fora, que se relaciona a um bem maior e verdadeiro.
         Essas ponderações apontam para o enorme desafio existencial vivido atualmente, quando a experiência da felicidade é confundida com a conquista de bens materiais e prazeres efêmeros. Um entendimento inadequado que sustenta a dinâmica perversa de se buscar conquistas a qualquer preço. Desse modo, cresce o egoísmo, a mesquinhez, e a humanidade se distancia da vivência da solidariedade, o que acaba com qualquer perspectiva de alegria verdadeira. A solidariedade é o que pode curar os males da convivência humana, tão deteriorada em um tempo de tantas possibilidades. A razão crucial dessa crise, indiscutivelmente, está na identificação da felicidade como acúmulo, sem limites, de bens materiais e de poder, o que resulta na efemeridade dos bens da criação e no distanciamento do Criador.
         São vários os entendimentos a respeito da felicidade no pensamento filosófico. Em comum, a anuência de que ela não é um bem em si mesma, já que para ser felicidade é indispensável o conhecimento dos bens que são a sua fonte. Assim, pode-se afirmar que sua conquista, com simplicidade, é a experiência do encontro com Deus, o bem supremo, tão próximo de nós. Sua experiência existencial tornou-se possível pela encarnação do Verbo, Jesus Cristo, o Filho de Deus que morre e ressuscita para resgate e salvação da humanidade. Ele é o Salvador do mundo, o bem supremo, próximo de cada pessoa.
         A conquista da felicidade é o encontro pessoal com Deus, que produz a efusão da alegria. Trata-se de uma felicidade que não é passageira ou periódica e tem a força que possibilita grandes transformações. É exemplar para a história da humanidade a força da alegria produzindo a radical mudança dos discípulos de Jesus. A presença amorosa de Cristo ressuscitado faz dos discípulos ignorantes homens sábios. O medo cede lugar à audácia amorosa. Essa alegria experimentada é fruto da ação do Espírito de Deus, que tira Jesus da morte, vencida definitivamente pela vida. Uma felicidade autêntica e duradoura, fonte da força dos discípulos de Jesus, origem da sabedoria necessária para transformar tudo o que precisa ser mudado pela alegria.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, com um câncer a espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, irremediavelmente irreparáveis;

     c)     dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

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