“Sustentabilidade
sem apoio no Brasil
Embora no ambiente
corporativo as práticas sustentáveis já estejam se disseminando rapidamente
aqui no Brasil, a exemplo do que acontece em diversos outros países,
especialmente na Europa, as questões ligadas à sustentabilidade parecem não ter
ainda entusiasmado o nosso governo federal. Essa constatação ficou bastante
evidente para mim depois de participar do 6º Fórum Internacional pelo Desenvolvimento
Sustentável 2013. Nos dois dias do evento, foram discutidos os fatores sociais,
econômicos, ambientais e culturais que balizam a construção de nação
sustentável – tema do encontro.
Percebeu-se
com nitidez, por meio dos muitos cases apresentados,
que praticamente todas as iniciativas bem-sucedidas de investimentos em
sustentabilidade no nosso país tiveram origem no setor privado, entre os quais
o maior projeto do mundo para reciclagem de água industrial, que está sendo
executado por duas companhias brasileiras em associação com a Sabesp, empresa
paulista de saneamento com capital misto.
Há uma
razão óbvia para isso: as práticas sustentáveis, ao reduzirem o consumo de
matérias-primas e a produção de resíduos, ao aprimorarem processos e
incrementarem a qualidade também jogam para baixo os custos. Chama a atenção o
fato de a grande maioria dessas empresas serem de grande porte, não
necessariamente no sentido de dimensões físicas, de número de empregados ou de
patrimônio, mas, principalmente, no sentido da capacidade de agregar valor aos
seus produtos. Porte e rentabilidade são, claramente, fatores que lhes permitem
investir bilhões na implantação de projetos de sustentabilidade em seus
negócios – e, não poucas vezes, até nas suas redes de fornecedores, que, quase
sempre constituída por empreendimentos de médio porte, nem sempre dispõem de
recursos financeiros para bancar seus próprios investimentos, essenciais para
assegurar que hiatos na cadeia produtiva não comprometam a integridade do
conjunto. Em diversos países, essas empresas dispõem de incentivos
governamentais de natureza fiscal, conhecidos como “impostos verdes”.
No ano
passado, uma rede internacional de consultoria empresarial, a KPMG, elaborou um
ranking da eficácia do imposto verde entre 21 países que o adotam. Nele, o
Brasil não está nada bem: é o 18º colocado, o que não é motivo de espanto:
muito pouco se faz aqui, na esfera governamental, para estimular projetos dessa
natureza. O mais próximo disso é o Inova Empresa, programa federal de financiamento
à inovação, com orçamento de R$33 bilhões, no qual sustentabilidade é um termo
que aparece timidamente entre as iniciativas que nele podem se enquadrar. Por
esses dias, quase um semestre depois do lançamento do projeto, havia demanda de
1.904 empresas pelos recursos – o que é, sem dúvida, um bom sinal, já que a
sustentabilidade é irmã gêmea da inovação. Mas apenas demanda. Nenhum projeto,
até ontem, havia sequer sido avaliado, e o mais provável é que o Inova Empresa
faça seu primeiro aniversário sem que um centavo tenha sido liberado.
Também
no papel, há o Brasil Sustentável, programa da Finep lançado durante a Rio +
20, ou seja, há mais de um ano. Numa consulta feita à página do projeto no site
daquele órgão, cuja última atualização foi feita há oito meses, constava a
seguinte informação: “O Brasil Sustentável disponibilizará recursos de R$ 2
bilhões”. Um tempo verbal, convenhamos, desestimulante para quem espera obter
recursos para investir em práticas sustentáveis.
O fato
é que neste nosso Brasil cheio de programas disso, projetos daquilo, dinheiro
sendo distribuído a rodo com finalidades inequivocamente eleitorais em meio a
conturbações econômicas e políticas, não se tem notícia de um único centavo
especificamente para a promoção da sustentabilidade. Enquanto nossas
autoridades não assumirem atitudes proativas, engajamento legítimo e destinarem
recursos específicos para investimentos – e aí destaco as médias empresas,
coluna vertebral das cadeias produtivas –, vamos continuar a amargar décimos
oitavos lugares, cada vez mais distantes da construção de uma nação
sustentável.”
(ROBERTO
LUCIANO FAGUNDES. Engenheiro, presidente da Associação Comercial e
Empresarial de Minas e do Instituto Sustentar, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 8 de
setembro de 2013, caderno OPINIÃO, página
7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
11 de abril de 2014, caderno OPINIÃO, página
9, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE
AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente
integral transcrição:
“Buscar
vigor espiritual
Os diagnósticos da
crise contemporânea apontam processos corrosivos de desumanização, pesando
existencialmente sobre os ombros de todos. É incontestável a perda do sentido
da própria vida, com consequentes atentados contra a dignidade do outro.
Violências de todo tipo permeiam as relações sociais e humanas, como o tráfico
de pessoas – tema da Campanha da Fraternidade (CF-2014) –, a banalização da
vida e a perda da noção de moralidade, que resultam no desrespeito aos valores
essenciais do ser humano.
Essa
desumanização que alimenta dia a dia o aumento da violência e intensifica a
inércia de ações governamentais e cidadãs exige reação urgente e massiva na
reconfiguração dos cenários socioculturais e políticos.
Tem-se
a impressão de que a sociedade contemporânea é um caminhão desgovernado ladeira
a baixo, sem freios. De tudo acontece. Tudo parece possível quando deixa de
existir clareza sobre os valores do bem e do mal na vida social e familiar.
Diante dessa realidade, é compromisso inegociável do cristão o combate diuturno
para fazer triunfar o bem e a justiça.
Ardiloso,
o mal não se dobra facilmente a qualquer ameaça. Vencê-lo requer estratégias
inteligentes, de racionalidade e de vontade política próprias de quem tem
estatura cidadã. Mas só a espiritualidade é capaz de sustentar a competência
daquele que assume essa luta. Só ela tem poderes para alargar os corações e
capacitar as pessoas para uma compreensão que ultrapassa a simples lógica das
relações formais e conduzir à construção de uma sociedade justa e solidária,
por meio do aprendizado do amor a partir de sua gênese: a fonte inesgotável, o
amor, Deus revelado de maneira plena na pessoa de seu Filho, Jesus Cristo,
Salvador e Redentor. Significativo é ter presente o ápice do diálogo de Jesus
com Nicodemos, narrado pelo evangelista João, quando o Mestre diz: “Deus amou
tanto o mundo, que deu o seu filho único para que todo aquele que nele crer não
pereça, mas tenha a vida eterna”.
Não se
pode ser coração da paz e, assim, vencer o mal, sem beber da fonte do amor, que
o limite humano não garante, em si. E esse amor de Deus, na história da
humanidade, se personifica em Jesus Cristo. Se há essa compreensão permanece
cotidianamente o desafio de aproximação dessa fonte da oferta dadivosa que ele
faz de si, com ensinamentos e gestos que, imitados e testemunhados, podem fazer
de cada coração da paz instrumento de consecução de uma dinâmica social e
política que promove a dignidade humana.
Esses
espantosos diagnósticos de desumanização da sociedade contemporânea precisam
ser afrontados, com o propósito inadiável de nova configuração, em segurança
pública, educação, trabalho, saúde, moradia, política menos partidarista e mais
cidadã. Pela garantia de oportunidades para todos, por uma cultura que supere a
exclusão social. Sendo assim, a reconquista da humanização que se anseia neste
momento, com a reorganização das diversidades de todo tipo, autonomias e
liberdades, demandas e prioridades, só será possível por meio de uma
espiritualidade enraizada, fazendo de cada pessoa coração da paz.
A
vivência da semana santa, a semana maior, fixando o olhar na revelação plena do
amor de Deus, aproximando-nos da fonte inesgotável, é a grande oportunidade
para se recuperar a espiritualidade tão necessária. A superficialidade de fazer
da semana santa um feriadão pode ser um equívoco. O repouso justo, o silêncio fecundante,
a oração alargadora do coração, as abstinências, a sensibilização pela escuta e
a celebração do mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus são
possibilidades fecundas para um novo
tempo de vida pessoal e comunitária em busca do indispensável vigor
espiritual.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres,
civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
indubitavelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública;forças armadas; polícia
federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade,
produtividade, competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas,
oportunidades e potencialidades com todas
as brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016;
as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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