“A fonte da graça é infinita, mas nem sempre ela é bem recebida
A graça (do latim
“gratia”), como a palavra já diz, é o que adquirimos gratuitamente de Deus.
Paulo defendeu-a. E ela significa também ação de agradecimentos a Deus. Daí as
preces e missas em ação de graças dos católicos.
A
graça procedente de Deus é infinita. E entre os teólogos, ela é inseparável da
fé. Mas elas não devem ser entendidas, como acontece muito, com a ideia de se
ficar na preguiça, não tendo as pessoas que fazer nada para a sua salvação ou
libertação. Se fosse assim, Jesus teria vindo ao nosso mundo para perder seu
tempo para nos trazer a boa nova! É que a salvação ou libertação não se
consegue de modo fácil. Pelo contrário, a porta estreita do evangelho, a qual
simboliza a salvação, é uma porta em que a passagem por ela é difícil. O Mestre
dos mestres até disse que muitos querem passar por ela, mas não conseguem. E
nós a isso acrescentamos que muitos, por enquanto, nem querem passar por ela.
Porém, ainda vai chegar o dia em que eles vão querer também passar por ela, mas
será que, de imediato, vão conseguir ultrapassá-la?
São
Paulo ensina que, onde abundou o pecado, superanbundou a graça (Romanos 5:20).
O que quer dizer que a graça não falta nunca para ninguém. Porém, de um modo
geral, nós não nos predispomos a recebê-la. Isso porque, geralmente, somos mais
voltados para as coisas materiais de nosso ego. Jesus, já sabendo disso, nos
aconselha a buscarmos, primeiramente, as coisas do reino dos céus. Santo
Agostinho, depois de Paulo, foi quem difundiu muito as doutrinas da graça e da
fé, com o que não concordava o grande teólogo Pelágio, seu contemporâneo. E a
Igreja, durante séculos, seguiu mais Pelágio.
Lutero,
mil anos depois da polêmica agostiniano-pelágica, abraçou totalmente essa
doutrina Paulo-agostiniana. Por isso, os protestantes e evangélicos
adotaram-na. Ultimamente, a Igreja a tem aceitado discretamente.
Ainda
Paulo nos ensina que somos salvos pela graça mediante a fé, e que elas não vêm
de nós, pois são dons de Deus. Ele ensinou também que a salvação não vem de
obras, para que ninguém se envaideça disso (Efésios 2:8-9). Mas é errada a
interpretação tradicional que, geralmente, se dá a esse texto. Tudo bem que as
ganhemos sem as merecermos. Mas nem tudo que nos vem gratuitamente é bem
recebido por nós.
Ademais,
as obras a que Paulo se refere são as das leis mosaicas (no total de 613), e
não as de Deus (do Decálogo). Já as inseridas pelo evangelho salvam-nos, sim.
Vejamos
o que diz o próprio Paulo: “Eu posso ter uma fé que remove montanhas, posso
falar a língua dos homens e dos anjos, mas se eu não tiver amor, eu nada seria”
(1 Coríntios: 1 e 2).
E as
palavras “pistis” e “fides”, grega e latina, significam também fidelidade.
Conforme o caso, o sentido delas é mesmo fidelidade e não de fé ou crença. Por
exemplo: Quem tem fé em Jesus Cristo se salva. Nessa fase, o significado das
citadas palavras é mesmo fidelidade. E poderemos até construir a frase assim:
Quem é fiel a Jesus se salva.
A
graça é como o sol. Nós podemos recebê-lo em abundância e totalmente de graça,
mas muitos só querem sombra e água fresca!”.
(JOSÉ REIS
CHAVES. Teósofo e biblista, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 9 de
junho de 2014, caderno O.PINIÃO, página
14).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 11 de junho
de 2014, caderno OPINIÃO, página 7,
de autoria de FREI BETTO, escritor,
autor do romance Minas do Ouro
(Rocco), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:
“Fome
de pão e justiça
Olivier De Schutter,
belga, 45 anos, encerrou neste semestre seu mandato de seis anos como relator
da ONU para o direito à alimentação. Declarou que, se dependesse de uma única
decisão para erradicar a fome no mundo, optaria pela “generalização da proteção
social” que, nos países pobres, representaria menos de 7% do PIB.
Segundo
a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) há 842
milhões de pessoas (12% da população mundial em situação de desnutrição
crônica. De Schutter acredita que o dado da FAO está subestimado, pois
considera apenas quem passa fome 12 meses por ano, e não a carência sazonal.
Ele avalia em 1 bilhão o número de famintos crônicos. E admite que “cometemos o
erro de apostar demasiado nos ganhos de produtividade e não investimos o
suficiente na proteção e no apoio aos pequenos produtores.”
Acrescenta
que faliu a “solução” apontada pela Organização Mundial do Comércio (OMC): os
países com mais poder de produção agrícola exportarem para os países com menos.
A prática demonstrou que isso é mero neocolonialismo, para reforçar a
dependência dos pobres em relação aos ricos e eliminar a agricultura familiar
dos países importadores. Nos últimos 50 anos, a produção de alimentos aumentou
anualmente 2,1%, enquanto as vítimas da fome diminuíram pouco. Dados da FAO
indicam que em 1990 elas eram 900 milhões.
Está
provado que não basta ampliar a produção nem promover a desaceleração
demográfica para resolver o problema. Se não há carência de alimentos nem
excesso de bocas, é óbvio que a causa reside na falta de justiça social.
De Schutter
propõe um novo paradigma na produção alimentar favorável à agricultura familiar
e à agroecologia: “Não nos colocamos a questão de saber se a industrialização
da agricultura era compatível com o respeito pelos ecossistemas e
negligenciamos a questão da saúde, da diversidade alimentar. São três
dimensões: justiça social, sustentabilidade ambiental e saúde”.
O
ex-relator da ONU aponta como uma das dificuldades o descompasso entre o
governo e a iniciativa privada. Das empresas surgem as decisões estratégicas.
Elas vinculam o produtor ao consumidor. O grave, segundo ele, é que “tomam
decisões em função do lucro esperado, e as questões de sustentabilidade,
desenvolvimento rural e igualdade na compensação dos atores não as preocupam
muito”.
Acelera-se,
hoje, a mercantilização dos produtos alimentares e também de suas fontes, como
a terra e a água: “Os consumidores do Norte (do mundo), que querem carne e
biocombustíveis, fazem concorrência aos do Sul, que querem a mesma terra e água
para as suas necessidades essenciais. É um problema ético e jurídico”.
O
Brasil se gaba de ser um dos pioneiros em matéria de biocombustíveis. Eis o que
destaca De Schutter: “A corrida à produção de biocombustíveis produz três tipos
de impactos: primeiro, vincula o mercado alimentar ao da energia. Quanto mais
sobe o preço do petróleo, mais rentável se torna a produção de biocombustíveis
e mais aumenta a produção sobre o mercado agrícola. Segundo, os biocombustíveis
fazem pressão sobre a terra arável do Sul. Terceiro, o mercado de
biocombustíveis encoraja a especulação financeira, pois quando a União Europeia
e os EUA anunciam metas de produção e consumo de biocombustíveis até 2020, eles
dão um recado aos investidores : ‘Independentemente de variações, os preços vão
continuar a subir. Especulem!’”.
De
Schutter elogia a preocupação de José Graziano da Silva, atual diretor-geral da
FAO, quanto ao desperdício no mundo, que atinge, hoje, a cifra de 1/3 dos
alimentos produzidos! Ao todo, 1,3 bilhão de toneladas por ano. Isso equivale a
mais da metade dos cereais cultivados anualmente.
Agora
entendo por que minha mãe dizia quando, na infância, eu mirava inapetente o
prato de comida: “Come, menino. Há muita gente passando fome”. Por uma questão
de justiça.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, na pré-escola) – e mais o imperativo da
modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta
de nossas políticas públicas;
b) o
combate, severo e sem trégua, aos
três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis (a propósito, buscamos no texto acima: “... quanto
ao desperdício no mundo, que atinge, hoje, a cifra de 1/3 dos alimentos
produzidos! Ao todo, 1,3 bilhão de toneladas por ano...”);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de estratosférico e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia
federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia
e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento
– estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia,
efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade);
entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas,
oportunidades e potencialidades com todas
as brasileiros e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016;
as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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