“Protagonismo
juvenil
Os índices de evasão
escolar no Brasil ainda são assustadores.O último censo escolar, realizado em
2011, revelou que a taxa de reprovação no ensino médio brasileiro é de 13,1%. O
desinteresse é o principal impulsionador do abandono escolar, conforme pesquisa
da Fundação Getúlio Vargas, sendo que 40% dos entrevistados, jovens de 15 a 17
anos, apontaram esse motivo como
principal, seguidos de 27%, que precisam trabalhar, e 10,9% com dificuldade de
acesso à escola. É preciso traçar estratégias para reconceituar o ensino médio,
propondo aos jovens que sejam sujeitos centrais na sua formação, ou seja,
tornando-os protagonistas.
A
realidade das escolas públicas aponta dois grandes problemas: alto índice de
abandono escolar e de permanência em sala de aula. Os programas governamentais
de universalização do ensino conseguiram amenizar um pouco os percentuais de
evasão escolar quando se consideram os números registrados nas décadas
passadas. Porém, o Brasil ainda tem a terceira maior taxa de abandono entre os
países com maior Índice de Desenvolvimento Humano, atrás apenas da Bósnia
Herzegovina (26,8%) e das ilhas de São Cristovam e Névis, no Caribe (26,5%).
O
panorama é ainda mais assustador ao se considerar o índice de reprovação,
indicando que os jovens estão passando mais tempo repetindo a mesma série.
Quanto maior o tempo despendido em uma mesma faixa escolar, menor o interesse
em estudá-la por mais de um ano.
A
reversão desse quadro deve ser feita com a ajuda dos estudantes. O indivíduo é
o principal responsável pela mudança de sua própria realidade. O papel da
escola é criar oportunidade para que o jovem esteja no centro da sua formação
educacional e direcione seu aprendizado, aliando seus interesses à grade
curricular obrigatória dessa etapa.
Educar
é, antes de tudo, proporcionar uma formação integral ao estudante. A juventude
é um período marcado por grandes transformações e amadurecimento. Temas como
sexualidade, carreira e relacionamentos interpessoais são questionamentos
comuns nessa faixa etária. Desconsiderar a realidade em que o jovem vive é o
principal erro dos métodos de ensino tradicionais, por visar apenas à aprovação
nos vestibulares e a boa classificação no Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem).
Não se
constrói um país sem educação. Assim como não se ensina sem ética e valores. O
interesse dos pelas atividades escolares cresce proporcionalmente à sua
participação em projetos pedagógicos e atividades extracurriculares. O ensino
deve abranger as disciplinas tradicionais, com exercícios para o cotidiano do
aluno e ouvindo-o sobre suas opiniões e preferências.
Atualmente,
realizamos o Fórum de Jovens no colégio. A iniciativa reúne estudantes do 9º
ano do ensino fundamental II e do ensino médio para criar laços e facilitar a
transição de períodos. A organização parte da equipe pedagógica, mas conta com
a participação dos alunos com a sugestão dos temas para abordagem, fazendo com
que a proposta se torne ainda mais rica e alie as disciplinas aos anseios da
faixa etária. A experiência já nos rendeu grandes resultados, principalmente,
com o envolvimento e o comprometimento deles com os estudos.
Quando
o aluno é protagonista da sua própria formação educacional, não há queda da
frequência escolar. A juventude é uma fase cheia de ideias que podem dar origem
a grandes projetos educacionais. A evasão escolar será naturalmente reduzida
quando a escola escuta os jovens e mostra o interesse em formá-los como
cidadãos e, não apenas, em aprová-los e entregar-lhes um diploma.”
(ROSA LÚCIA
SIMÕES. Coordenadora do ensino médio do Colégio ICJ, em artigo publicado no
jornal ESTADO DE MINAS, edição de 19
de junho de 2014, caderno OPINIÃO, página
7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
20 de junho, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo
Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:
“Copa,
povo e política
A Copa do Mundo no
Brasil está desenhando importantes lições apontadas pelo povo, responsável pela
progressiva construção de um quadro que, passo a passo, consegue distinguir os
muitos aspectos que envolvem o torneio. De um lado, o interesse meramente econômico
de dirigentes e mandatários, os altos salários inadmissíveis de jogadores e as
indevidas apropriações políticas do esporte. Do outro, o gosto pelo futebol,
sua arte e elemento de diversão, e o exercício de fraternidade universal,
alegria e confraternização que reúne diferentes línguas, culturas e nações.
Sem
perder essa luz própria, mesmo com as sombras de algum cenário de violência e
vandalismo, o povo mostra uma força que deve servir de alerta a governantes,
especialmente neste ano eleitoral, e a todos os construtores da sociedade
pluralista. Trata-se de uma mobilização que não apenas pode, mas deve se
manifestar nas urnas. O voto consciente tem a propriedade para reconstruir a
sociedade. Para alcançá-lo, é preciso reconhecer-se como cidadão, parte de uma
grande comunidade que deve caminhar unida na busca da superação dos desafios
que atrapalham o desenvolvimento do país. O ambiente que vem sendo construído
pelo povo, ao longo desta Copa do Mundo, pode contribuir para que se alcance
esse objetivo.
A vibração
pelo esporte e a inteligência de não se perder a oportunidade da
confraternização entre as pessoas estão sendo vividas de uma maneira muito
singular. Essa particularidade está na postura político-cidadã de gestos como a
acolhida aos visitantes e a realização de manifestações pacíficas, altamente
significativas. Nos próprios estádios, o povo quebra o protocolo dos
organizadores e canta mais forte, de modo completo, o hino nacional, fazendo
ecoar um recado de cidadania e o entendimento de que o governo de uma sociedade
é feito pelo povo. Desse modo, seus delegados e representantes devem estar a
serviço do bem comum.
A Copa
do Mundo gera uma oportunidade para o próprio povo mostrar que não é multidão
amorfa, inerte, a ser manipulada e instrumentalizada. É, na verdade, a união de
pessoas, cada uma no seu lugar e a seu modo, como ensina a doutrina social da
Igreja Católica, com autonomia para formar opinião própria a respeito da coisa
pública e de exprimir sua sensibilidade política em vista do bem comum. Quando
os representantes do povo aprendem a ouvir a voz que vem das ruas, em vez de
obedecer aos interesses partidários e de segmentos poderosos, tornam-se
políticos dignos de autêntica estatura cidadã, capazes de trabalhar em busca de
uma sociedade justa, solidária e civilizada.
O povo
está sinalizando aos “profissionais da política”, nos âmbitos Legislativo e
Executivo, que é urgente a comprovação desse pacto com o bem comum antes de se
submeter às urnas. A autoridade política não pode ser fruto meramente de
conchavos, articulações partidárias interesseiras garantidas pelos leilões de
cargos e de vantagens, mas de um incondicional respeito e vivência de
inegociável moralidade. Compreende-se, portanto, que a autoridade política não
se esgota simplesmente em alguns feitos quase sempre distantes das mais
urgentes demandas sociais. Trata-se, justamente, de reconhecer que essa autoridade é o povo, detentor da sua
soberania, conforme bem ensina a doutrina social da Igreja.
A Copa
está confirmando a etapa inaugurada em junho do ano passado, quando a sociedade
brasileira, em muitas manifestações, fez ouvir a sua voz. Há um senso comum no
país recôndito da consciência popular, que está se aflorando pela alegria
proporcionada pelo futebol. Um clima de confraternização que não inclui
governos e deixa recados para os políticos, mantendo distância daqueles que
usufruem absurdamente do que pertence ao bem comum. O Mundial, no conjunto de
suas circunstâncias e desdobramentos, participação e debates, manifestações e
indiferenças, está fazendo crescer – e que não seja perdida a oportunidade –
uma sociedade brasileira politicamente diferente.
Vive-se
um momento que precisa de desdobramentos e não pode ser perdido, com o término
da Copa e a partir da profusão de discursos políticos obsoletos,
particularmente daqueles que se constroem com os ataques mútuos e com as
promessas sempre não cumpridas. O Mundial pode mesmo ser um exercício de
vitalidade do povo, por suas escolhas de alegrar-se, manifestar-se, manter
distâncias, debater e formar opinião de modo que a participação política
ultrapasse os atos formais de votar e mesmo de se reunir em associações,
partidos e sindicatos. É hora de um passo qualificado na política, diante da
insatisfação com governos e representantes, em busca de uma sociedade
politicamente mais cidadã e igualitária. Quem sabe, por isso mesmo, esta será
para os brasileiros a “Copa das Copas”, porque sem esgotar-se em euforias que
permitem manipulações, aponta um amadurecimento político do povo.”
Eis, pois, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis (por exemplo, segundo a mídia, “apenas com
acidentes fatais no trânsito e assassinatos, o Brasil perde até R$ 524 bilhões
por ano, no cálculo de especialistas, em
estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea; número que equivale
a 10% do PIB do país em 2014”);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e
intolerável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais
e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura
(rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento
ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados,
macrodrenagem urbana, logística reversa); meio
ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte,
acessibilidade); minas e energia;
emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro
nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e
nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil;
logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura,
esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento –
estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia,
efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade);
entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas,
oportunidades e potencialidades com todas
as brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016;
as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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