quarta-feira, 25 de junho de 2014

A CIDADANIA, O PROTAGONISMO JUVENIL, A COPA, O POVO E A POLÍTICA

“Protagonismo juvenil
        
         Os índices de evasão escolar no Brasil ainda são assustadores.O último censo escolar, realizado em 2011, revelou que a taxa de reprovação no ensino médio brasileiro é de 13,1%. O desinteresse é o principal impulsionador do abandono escolar, conforme pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, sendo que 40% dos entrevistados, jovens de 15 a 17 anos, apontaram esse  motivo como principal, seguidos de 27%, que precisam trabalhar, e 10,9% com dificuldade de acesso à escola. É preciso traçar estratégias para reconceituar o ensino médio, propondo aos jovens que sejam sujeitos centrais na sua formação, ou seja, tornando-os protagonistas.
         A realidade das escolas públicas aponta dois grandes problemas: alto índice de abandono escolar e de permanência em sala de aula. Os programas governamentais de universalização do ensino conseguiram amenizar um pouco os percentuais de evasão escolar quando se consideram os números registrados nas décadas passadas. Porém, o Brasil ainda tem a terceira maior taxa de abandono entre os países com maior Índice de Desenvolvimento Humano, atrás apenas da Bósnia Herzegovina (26,8%) e das ilhas de São Cristovam e Névis, no Caribe (26,5%).
         O panorama é ainda mais assustador ao se considerar o índice de reprovação, indicando que os jovens estão passando mais tempo repetindo a mesma série. Quanto maior o tempo despendido em uma mesma faixa escolar, menor o interesse em estudá-la por mais de um ano.
         A reversão desse quadro deve ser feita com a ajuda dos estudantes. O indivíduo é o principal responsável pela mudança de sua própria realidade. O papel da escola é criar oportunidade para que o jovem esteja no centro da sua formação educacional e direcione seu aprendizado, aliando seus interesses à grade curricular obrigatória dessa etapa.
         Educar é, antes de tudo, proporcionar uma formação integral ao estudante. A juventude é um período marcado por grandes transformações e amadurecimento. Temas como sexualidade, carreira e relacionamentos interpessoais são questionamentos comuns nessa faixa etária. Desconsiderar a realidade em que o jovem vive é o principal erro dos métodos de ensino tradicionais, por visar apenas à aprovação nos vestibulares e a boa classificação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
         Não se constrói um país sem educação. Assim como não se ensina sem ética e valores. O interesse dos pelas atividades escolares cresce proporcionalmente à sua participação em projetos pedagógicos e atividades extracurriculares. O ensino deve abranger as disciplinas tradicionais, com exercícios para o cotidiano do aluno e ouvindo-o sobre suas opiniões e preferências.
         Atualmente, realizamos o Fórum de Jovens no colégio. A iniciativa reúne estudantes do 9º ano do ensino fundamental II e do ensino médio para criar laços e facilitar a transição de períodos. A organização parte da equipe pedagógica, mas conta com a participação dos alunos com a sugestão dos temas para abordagem, fazendo com que a proposta se torne ainda mais rica e alie as disciplinas aos anseios da faixa etária. A experiência já nos rendeu grandes resultados, principalmente, com o envolvimento e o comprometimento deles com os estudos.
         Quando o aluno é protagonista da sua própria formação educacional, não há queda da frequência escolar. A juventude é uma fase cheia de ideias que podem dar origem a grandes projetos educacionais. A evasão escolar será naturalmente reduzida quando a escola escuta os jovens e mostra o interesse em formá-los como cidadãos e, não apenas, em aprová-los e entregar-lhes um diploma.”

(ROSA LÚCIA SIMÕES. Coordenadora do ensino médio do Colégio ICJ, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 19 de junho de 2014, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 20 de junho, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Copa, povo e política
        
         A Copa do Mundo no Brasil está desenhando importantes lições apontadas pelo povo, responsável pela progressiva construção de um quadro que, passo a passo, consegue distinguir os muitos aspectos que envolvem o torneio. De um lado, o interesse meramente econômico de dirigentes e mandatários, os altos salários inadmissíveis de jogadores e as indevidas apropriações políticas do esporte. Do outro, o gosto pelo futebol, sua arte e elemento de diversão, e o exercício de fraternidade universal, alegria e confraternização que reúne diferentes línguas, culturas e nações.
         Sem perder essa luz própria, mesmo com as sombras de algum cenário de violência e vandalismo, o povo mostra uma força que deve servir de alerta a governantes, especialmente neste ano eleitoral, e a todos os construtores da sociedade pluralista. Trata-se de uma mobilização que não apenas pode, mas deve se manifestar nas urnas. O voto consciente tem a propriedade para reconstruir a sociedade. Para alcançá-lo, é preciso reconhecer-se como cidadão, parte de uma grande comunidade que deve caminhar unida na busca da superação dos desafios que atrapalham o desenvolvimento do país. O ambiente que vem sendo construído pelo povo, ao longo desta Copa do Mundo, pode contribuir para que se alcance esse objetivo.
         A vibração pelo esporte e a inteligência de não se perder a oportunidade da confraternização entre as pessoas estão sendo vividas de uma maneira muito singular. Essa particularidade está na postura político-cidadã de gestos como a acolhida aos visitantes e a realização de manifestações pacíficas, altamente significativas. Nos próprios estádios, o povo quebra o protocolo dos organizadores e canta mais forte, de modo completo, o hino nacional, fazendo ecoar um recado de cidadania e o entendimento de que o governo de uma sociedade é feito pelo povo. Desse modo, seus delegados e representantes devem estar a serviço do bem comum.
         A Copa do Mundo gera uma oportunidade para o próprio povo mostrar que não é multidão amorfa, inerte, a ser manipulada e instrumentalizada. É, na verdade, a união de pessoas, cada uma no seu lugar e a seu modo, como ensina a doutrina social da Igreja Católica, com autonomia para formar opinião própria a respeito da coisa pública e de exprimir sua sensibilidade política em vista do bem comum. Quando os representantes do povo aprendem a ouvir a voz que vem das ruas, em vez de obedecer aos interesses partidários e de segmentos poderosos, tornam-se políticos dignos de autêntica estatura cidadã, capazes de trabalhar em busca de uma sociedade justa, solidária e civilizada.
         O povo está sinalizando aos “profissionais da política”, nos âmbitos Legislativo e Executivo, que é urgente a comprovação desse pacto com o bem comum antes de se submeter às urnas. A autoridade política não pode ser fruto meramente de conchavos, articulações partidárias interesseiras garantidas pelos leilões de cargos e de vantagens, mas de um incondicional respeito e vivência de inegociável moralidade. Compreende-se, portanto, que a autoridade política não se esgota simplesmente em alguns feitos quase sempre distantes das mais urgentes demandas sociais. Trata-se, justamente, de reconhecer  que essa autoridade é o povo, detentor da sua soberania, conforme bem ensina a doutrina social da Igreja.
         A Copa está confirmando a etapa inaugurada em junho do ano passado, quando a sociedade brasileira, em muitas manifestações, fez ouvir a sua voz. Há um senso comum no país recôndito da consciência popular, que está se aflorando pela alegria proporcionada pelo futebol. Um clima de confraternização que não inclui governos e deixa recados para os políticos, mantendo distância daqueles que usufruem absurdamente do que pertence ao bem comum. O Mundial, no conjunto de suas circunstâncias e desdobramentos, participação e debates, manifestações e indiferenças, está fazendo crescer – e que não seja perdida a oportunidade – uma sociedade brasileira politicamente diferente.
         Vive-se um momento que precisa de desdobramentos e não pode ser perdido, com o término da Copa e a partir da profusão de discursos políticos obsoletos, particularmente daqueles que se constroem com os ataques mútuos e com as promessas sempre não cumpridas. O Mundial pode mesmo ser um exercício de vitalidade do povo, por suas escolhas de alegrar-se, manifestar-se, manter distâncias, debater e formar opinião de modo que a participação política ultrapasse os atos formais de votar e mesmo de se reunir em associações, partidos e sindicatos. É hora de um passo qualificado na política, diante da insatisfação com governos e representantes, em busca de uma sociedade politicamente mais cidadã e igualitária. Quem sabe, por isso mesmo, esta será para os brasileiros a “Copa das Copas”, porque sem esgotar-se em euforias que permitem manipulações, aponta um amadurecimento político do povo.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (por exemplo, segundo a mídia, “apenas com acidentes fatais no trânsito e assassinatos, o Brasil perde até R$ 524 bilhões por ano,  no cálculo de especialistas, em estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea; número que equivale a 10% do PIB do país em 2014”);

c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...

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