sexta-feira, 6 de junho de 2014

A CIDADANIA, A ÉTICA E A QUALIDADE NO TRABALHO E NA EDUCAÇÃO

“Ética e qualidade no trabalho
        
         Outra dia, caminhando pela calçada de uma avenida central da cidade, vi uma senhora levar um tombo feio. Ajudei-a a levantar-se e comentamos a situação que provocara o acidente. Tudo por culpa de uma recente reforma feita em todo o piso, mas de forma tão precária que estava se desfazendo completamente. Quem fez o serviço foi irresponsável e não se importou com o que viria depois. Quem devia fiscalizar a obra, atuou da mesma forma. Tudo teria de ser totalmente refeito. Retrabalho, novos gastos e perda de tempo com algo que, se fosse realizado corretamente, representaria uma economia vital de recursos e aborrecimentos.
         Pena que isso não é uma exceção, não é mesmo? Todos os dias nos deparamos com coisas assim e não gostamos. O problema é que muitos dos se queixam também acabam fazendo o mesmo em inúmeras outras situações. É que se tornou um lugar comum ser pouco profissional, fazer errado, atrasar, prometer e não cumprir, assim como ser conivente ou indiferente com o problema. Isso nos leva depois, como pessoas e como povo, a ter de aceitar o mal feito em todos os níveis. Perdemos assim a autoridade para reclamar contra a corrupção, injustiças, preconceitos, mau uso dos recursos e tudo mais de feio que vemos por aí.
         Em particular no Brasil, ainda não temos uma cultura de qualidade no trabalho. Não temos o hábito de cuidar dos detalhes, de fazer melhor, de ter uma postura profissional e social responsável. Ainda insistimos em ser o país do jeitinho, onde sempre se improvisa, onde as coisas são feitas pelas metades, às pressas, onde vale tudo, onde o mau exemplo vem de cima, onde ganha o mais esperto, onde a oportunidade é uma tradição antiga. Geralmente, não consideramos quesitos como durabilidade, bom acabamento, beleza, conforto e segurança. Não nos colocamos no lugar de quem vai usar e não avaliamos os resultados para corrigir e melhorar.
         Prevalece o lucro a todo custo, o imediatismo, o interesse mesquinho, o egoísmo de quem só olha para o próprio umbigo. Não tem aquela de ganha-ganha. Daí o cliente ainda não ser uma prioridade na ordem das coisas e o mau atendimento se espalha como uma praga por todas as partes. É claro que, vez por outra, nos surpreendemos ao encontrar o contrário de tudo isso. Mas é uma rara exceção e não regra geral. Para completar, ainda vem depois a turma que picha, depreda, suja, estraga e destrói o pouco de bom que foi feito.
         Ao contrário de lugares mais desenvolvidos, aqui a distância social entre as pessoas infelizmente favorece a ideia de que existem vários tipos de brasileiros e que direitos e deveres são diferentes para cada grupo. Em consequência, não nos importamos com o todo, não nos vemos como nação e também não exigimos posturas éticas de governantes, organizações e concidadãos. Isso mostra uma clara falta de valores comuns. Em países melhores, tudo o que é público é de todos e eles cuidam desse patrimônio. Aquilo que é público é de ninguém e é tratado com descaso. Daí muitos políticos serem desonestos com o dinheiro público, as empresas estarem longe de fazer os clientes felizes e as pessoas jogarem papel na rua ou picharem paredes e monumentos. No fim das contas, todos nós sofremos as consequências dessa triste situação, que só tem se agravado nos últimos anos.
         No universo do trabalho, podemos ver que alguns profissionais estão atentos ao seu comportamento só para se sentirem bem consigo mesmos. Outros já atuam melhor por hábito da educação que receberam. Porém, a maioria age corretamente simplesmente por medo das consequências, situação que não oferece nenhuma garantia. Antes de exigir dos outros, cada trabalhador deve desenvolver em si mesmo as competências técnicas e humanas que necessita, numa busca constante para aprimorar seu nível de capacitação.
         Atualmente, quem aspira uma carreira longa, respeitada e sólida deve observar as significativas mudanças nesse novo mercado tão competitivo e globalizado, que não está mais aceitando posições sem compromisso com a qualidade e a ética. Curiosamente, o que faz falta cresce como demanda. Aquela velha lei da oferta e da procura que nunca sai de moda.
         Certo é que os verdadeiros juízes dessa questão são os consumidores, cada vez mais bem informados e exigentes. Eles irão premiar ou punir, na hora da compra, o comportamento de profissionais e organizações. Isso significa uma clara transição de poder de quem vende para quem compra. Mais que qualquer outro argumento, a sanção social é pior que a sanção legal, muitas vezes ineficiente, parcial e permissiva.
         Qualquer dúvida é só observar o que ocorre nas redes sociais. A lógica econômica funciona então como um motor para melhores atitudes e procedimentos, melhores produtos e serviços. Assim todos ganham: os clientes são capazes de obter o que desejam, os trabalhadores amadurecem e os empresários aumentam a margem de sucesso do seu negócio. Aquele que não compreendem essa nova relação de forças estão fadados a desaparecer.”

(RONALDO NEGROMONTE. Palestrante e consultor em desenvolvimento de pessoas e organizações, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de junho de 2014, caderno MEGACLASSIFICADOSADMITE-SE, coluna MERCADO DE TRABALHO, página 2).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado na revista VEJA, edição 2375 – ano 47 – nº 22, de 28 de maio de 2014, página 24, de autoria de Claudio de Moura Castro, economista, e que merece igualmente integral transcrição:

“Mexíveis e imexíveis
        
         ‘A escola é tão boa quanto seus professores.’ Raras afirmativas encontram tanto consenso entre leigos, pesquisadores, ideólogos e agnósticos. Infelizmente, eles concordam por ser excessivamente vaga, cada um pondo suas próprias interpretações. Sendo eu um incurável pesquisador, vejamos o que dizem os estudos.
         Primeiro, há que traduzir: professor bom é aquele cujos alunos aprendem mais. Portanto, o caminho das luzes consiste em perguntar que características dos professores estão associadas ao maior aprendizado dos alunos.
         Seja no Brasil, seja alhures, sabemos o que não explica quanto os alunos aprendem: a experiência do professor, sua idade e nível de escolaridade – mesmo mestrado. Nada disso se correlaciona com  a qualidade do ensino. Não posso deixar de tocas em um vespeiro zangado: o salário dos professores. As pesquisas tendem a mostrar ausência de associação com  qualidade. Uma correlação simples, entre estados brasileiros, mostra que salários mais altos ou mais baixos não se associam ao Ideb de cada um. Mas essa assombração não é o nosso tema.
         O essencial em tais características é serem imexíveis. Não se pode mudar a idade do corpo de professores, sua formação prévia ou sua carreira acadêmica. Só com décadas  isso se faz. No mundo da fantasia, o salário pode até dobrar. Mas quebram o Fisco os aumentos que melhorariam a qualidade.
         Maurício M. Fernandes e Claudio Ferraz (da USP e PUC-RJ) realizaram uma pesquisa econométrica muito cuidadosa, usando funções de produção para testar o impacto de várias características dos professores (http:www.econ.puc.rio.br/uploads/adm/trabalhos/files/td620.pdf). Com dados do Estado de São Paulo, buscaram testar o impacto de duas variáveis críticas sobre o ensino na 8ª série: 1) o domínio da matéria ensinada (usando as provas da Secretaria de Educação, aplicadas aos professores) e 2) as práticas adotadas em salas de aula. Ambas são “mexíveis”, pois é possível aperfeiçoar o conhecimento dos mestres e, ainda mais factível, melhorar suas técnicas de ensino.
         Alvíssaras! Os resultados são memoráveis. Como em outros países, os professores que melhor dominem o assunto ensinado têm alunos que aprendem mais. Do ponto de vista estatístico, esse resultado é robusto.
         Contudo, a análise demonstra que as práticas de sala de aula têm impacto bem maior do que o conhecimento da matéria. Ou seja, qualquer professor que adotar práticas hoje recomendadas terá alunos que vão aprender muito mais. São técnicas simples, que não requerem equipamentos nem malabarismos metodológicos. No caso, obtêm melhores resultados os professores que passam e corrigem o dever de casa, explicam a matéria até os alunos entenderem, mostram para que serve o aprendido e indicam livros de literatura.
         Em pesquisas desse tipo, apenas se consegue medir dimensões relativamente simples do que acontece na sala de aula. Muita coisa importante fica de fora. Mas já é um grande avanço quando se logra desenhar uma pesquisa que associe resultados a medidas confiáveis dessas variáveis. E foi isso que fizeram os autores. Além disso, foram capazes de controlar estatisticamente – ou seja, manter constantes – variáveis que poderiam explicar diferenças de aprendizado. No caso, demonstrar que os resultados não se devem a amostras viciadas, a características do diretor ou ao que os alunos já sabiam, de séries anteriores.
         O miolo das análises estatísticas é demasiado complicado para explicar em poucas palavras. Mas os resultados são perfeitamente compreensíveis. Mostram que, no caldeirão econométrico, as técnicas de sala de aula passaram à frente de todas as outras variáveis lá despejadas. E são práticas fáceis de aprender e adotar.
         Portanto, a notícia não poderia ser mais bem-vinda. Trata-se de uma pesquisa brasileira, conduzida por autores de bom pedigree e cujos resultados são difíceis de ser contestados. Os procedimentos são de fácil incorporação em sala de aula e seu impacto é maior do que tudo o mais que conhecemos. Pode ser difícil convencer alguns professores a mudar suas práticas. Mas, pelo menos, isso está no campo do possível, em contraste com as alternativas imexíveis.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...
    

   

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