segunda-feira, 13 de abril de 2015

A CIDADANIA, A BOA GOVERNANÇA GLOBAL E A FORÇA DA ALEGRIA

“As opções políticas e seus humores e interpretações
        Uma situação de crise generalizada no mundo e em nosso país permite muitos humores e não poucas interpretações. Toda crise é angustiante e dolorosa porque desaparecem as estrelas-guia e ela nos dá a impressão de um voo cego.
         Todo grupo, comunidade e sociedade precisa sempre criar um bode expiatório sobre o qual recaem todas as frustrações e queixas das pessoas. Ora são os comunistas, ora os subversivos, ora os homoafetivos, ora os fundamentalistas, geralmente os políticos e os governantes. Modernamente chamam a esse fenômeno social “complexo de bouling”. Com isso se aliviam as tensões sociais, e a sociedade encontra relativo equilíbrio, sempre frágil e instável. Mas criam-se também muitas vítimas, deixa-se de reforçar o valor da convivência pacífica, e abre-se lugar para o preconceito e para atitudes fundamentalistas. Tal situação está se verificando claramente no Brasil. Praticamente não há pessoa que não expresse algum tipo de desconforto.
         Quem conhece um pouco o discurso psicanalítico não se admira. Sabe que no ser humano agem, ao mesmo tempo, duas forças: a de sombra, sob a qual cabem decepções e descontentamentos, e a de luz, que representa tudo o que há de bom no ser humano. O desafio é sempre este: a que damos mais primazia? À sombra ou à luz?
         O desafio é buscar a justa medida, que representa o ótimo relativo, o equilíbrio entre o mais e o menos; ou a autolimitação, que significa o sacrifício necessário para que nossa ação não seja destrutiva das relações, mas boa para todos.
         Atualmente, constata-se que leque grande de expressões políticas (direita, centro, esquerda etc.), cada qual com suas nuances. Há os que são conservadores em política, mas economicamente são até progressistas.
         Há os que olham o cenário mundial, onde as grandes potências ditam os rumos da história, e pensam: não somos suficientemente desenvolvidos e fortes para termos um projeto próprio. É mais vantajoso caminhar com eles, mesmo como sócios menores e agregados. Assim não ficamos marginalizados.
         Há os que dizem que não devemos pisar nas pegadas deixadas por outros. Temos que fazer a nossa própria pisada com recursos de que dispomos. Esses são alternativos e se opõem diretamente à perspectiva imperial de alinhamento ao projeto da globalização.
         Há os que não esperam nada de cima, pois a história tem mostrado que todos os projetos elaborados pelos do andar de cima sempre deixaram as grandes maiorias do andar de baixo onde estavam ou simplesmente de fora. Visam a uma democracia participativa e a políticas públicas que beneficiem os milhões historicamente deixados para trás. Esses, no Brasil e em outros países da América Latina, com seus partidos, ocuparam o poder de Estado. Melhoraram a situação dos mais penalizados, e todos de alguma forma ganharam. Lutam para se garantir no poder e levar avante o projeto popular.
         Mas não basta essa vontade generosa. Ela precisa vir revestida de ética, transparência e figuras de políticos exemplares que dão corpo ao que pregam. Infelizmente, isso não ocorreu, ou aconteceu de forma fragmentada e insuficiente. Não poucos sucumbiram ao poder, porque este nos dá a ilusão de onipotência divina, de poder decidir o destino das pessoas, além de inúmeras vantagens pessoais.
         Max Weber, o mestre do estudo do poder, sentenciou: só exerce bem o poder quem toma distância dele e considera-o passageiro e a serviço desinteressado da comunidade.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 10 de abril de 2015, caderno OPINIÃO, página 20).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, mesma edição, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Em busca da alegria
        ‘Este é o dia que o Senhor fez para nós, exultemos e nele alegremo-nos!’ Essa é a antífona que emoldura os 50 dias do tempo da Páscoa, a vitória da vida sobre a morte, do amor sobre o ódio, da luz sobre as trevas, porque Cristo Jesus passa pela paixão, morte e ressuscita. Eis uma referência que, certamente, pode soar de modo estranho em ambientes que ultrapassam os limiares das igrejas cristãs. Porém, trata-se de uma compreensão que pode garantir ao coração humano o que se procura tão intensamente: a alegria. É importante não confundir alegria com satisfação, que remete a uma sensação passageira. A satisfação, muitas vezes, é transformada em necessidade pela dinâmica da cultura contemporânea e, assim, converte-se na extenuante busca de “coisas e circunstâncias” que produzem, momentaneamente, apenas o prazer da alegria.
         Essa busca alimentada e produzida como necessidade impede que o ser humano encontre a alegria que dura. A consequência é uma desarvorada procura, de maneira cega, que produz absurdos, perversidades e esvaziamentos. Na busca equivocada pela alegria, volta-se, repetidamente, ao ponto de partida. Isso gera permanente insatisfação, que produz loucuras e irracionalidades revestidas de arbitrariedades. É reforçado, por exemplo, o caráter dominador do dinheiro, patrocinador do impulso de se querer e tentar encontrar a alegria em coisas, em situações meramente prazerosas, em posses. É um erro entender que a alegria necessária está na superficialidade do que dá prazer. Nesse equívoco, a humanidade se afunda numa lógica perversa de disputas e de perda da essencialidade, do sentido da verdade e do bem. Ser alegre se torna uma louca aventura que custa alto preço, produz sérios prejuízos.
         O tempo da Páscoa é o anúncio e o convite para que se tome consciência e se torne experiência a busca pela fonte da verdadeira alegria. Essa fonte não é um “ajuntamento” de coisas produtoras de satisfações passageiras e superficiais. É a pessoa de Cristo ressuscitado. Não são coisas que garantem a conquista da alegria. O caminho que perpassa a humanidade é desenhado e percorrido pelo Filho de Deus, Salvador e Redentor, o homem perfeito que assume sobre si as dores, dissabores e esvaziamentos da condição humana e os transforma por sua paixão, morte e ressurreição vitoriosa. Ele, Cristo, portanto, é o ponto referencial de encontro, iluminando e dando sentido a todos os outros encontros. O Mestre redimensiona tudo e garante as condições para que se busque e se encontre a alegria verdadeira.
         O tempo pascal é oportunidade para que se compreenda, pela claridade da razão e pela singularidade do amor, o que concluiu Santo Agostinho, ao refletir sobre os equívocos que cometeu na busca desarvorada pela felicidade. Dirigindo-se a Deus, o Santo de Hipona diz, enfaticamente: “A vida feliz consiste em nos alegrarmos em Vós, de Vós e por Vós. Eis a vida feliz e não há outra. Os que julgam que existe outra apegam-se a uma alegria que não é verdadeira”. A alegria que nasce do encontro com Deus é terapêutica, pois a tristeza infinita que dizima o coração humano só se cura com um amor infinito. Põe-se o desafio de uma experiência pessoal de encontro com Cristo para saborear a sua amizade e a sua mensagem. Eis o caminho para configurar a busca da alegria verdadeira, que ultrapassa as satisfações momentâneas e contentamentos passageiros.
         A lógica da alegria que se sustenta no encontro com Cristo ressuscitado, sem medo de estar próximo de suas chagas e sofrimentos, que são também dores da humanidade, capacita o coração para não se acovardar diante do drama humano. Essa lógica permite avanços nas relações e uma compreensão alicerçada na alegria que dura. É antídoto para a ganância que envenena, para a indiferença que corrói e empurra a sociedade na direção de um lento suicídio, encoberto por tudo o que apenas contenta e dá prazer fugaz. A alegria verdadeira e que dura é encontrada quando se comprova que não se vive melhor ao fugir do outro, por negar-se a partilhar e por fechar-se em comodidades. O tempo pascal é para exercitar o coração e a inteligência em busca da alegria.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, vai ganhando novos contornos que transcendem ao campo quantitativo, mensurável, econômico,  e que podem afetar até mesmo gerações futuras...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (haja vista as muitas faces mostrando a gravidade da dupla crise de falta – de água e de energia elétrica...);

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!...
            



     

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