“As
opções políticas e seus humores e interpretações
Uma situação de crise
generalizada no mundo e em nosso país permite muitos humores e não poucas
interpretações. Toda crise é angustiante e dolorosa porque desaparecem as
estrelas-guia e ela nos dá a impressão de um voo cego.
Todo
grupo, comunidade e sociedade precisa sempre criar um bode expiatório sobre o
qual recaem todas as frustrações e queixas das pessoas. Ora são os comunistas,
ora os subversivos, ora os homoafetivos, ora os fundamentalistas, geralmente os
políticos e os governantes. Modernamente chamam a esse fenômeno social
“complexo de bouling”. Com isso se aliviam as tensões sociais, e a sociedade
encontra relativo equilíbrio, sempre frágil e instável. Mas criam-se também
muitas vítimas, deixa-se de reforçar o valor da convivência pacífica, e abre-se
lugar para o preconceito e para atitudes fundamentalistas. Tal situação está se
verificando claramente no Brasil. Praticamente não há pessoa que não expresse
algum tipo de desconforto.
Quem
conhece um pouco o discurso psicanalítico não se admira. Sabe que no ser humano
agem, ao mesmo tempo, duas forças: a de sombra, sob a qual cabem decepções e
descontentamentos, e a de luz, que representa tudo o que há de bom no ser
humano. O desafio é sempre este: a que damos mais primazia? À sombra ou à luz?
O
desafio é buscar a justa medida, que representa o ótimo relativo, o equilíbrio
entre o mais e o menos; ou a autolimitação, que significa o sacrifício
necessário para que nossa ação não seja destrutiva das relações, mas boa para
todos.
Atualmente,
constata-se que leque grande de expressões políticas (direita, centro, esquerda
etc.), cada qual com suas nuances. Há os que são conservadores em política, mas
economicamente são até progressistas.
Há os
que olham o cenário mundial, onde as grandes potências ditam os rumos da
história, e pensam: não somos suficientemente desenvolvidos e fortes para
termos um projeto próprio. É mais vantajoso caminhar com eles, mesmo como
sócios menores e agregados. Assim não ficamos marginalizados.
Há os
que dizem que não devemos pisar nas pegadas deixadas por outros. Temos que
fazer a nossa própria pisada com recursos de que dispomos. Esses são
alternativos e se opõem diretamente à perspectiva imperial de alinhamento ao
projeto da globalização.
Há os
que não esperam nada de cima, pois a história tem mostrado que todos os
projetos elaborados pelos do andar de cima sempre deixaram as grandes maiorias
do andar de baixo onde estavam ou simplesmente de fora. Visam a uma democracia
participativa e a políticas públicas que beneficiem os milhões historicamente
deixados para trás. Esses, no Brasil e em outros países da América Latina, com
seus partidos, ocuparam o poder de Estado. Melhoraram a situação dos mais
penalizados, e todos de alguma forma ganharam. Lutam para se garantir no poder
e levar avante o projeto popular.
Mas
não basta essa vontade generosa. Ela precisa vir revestida de ética,
transparência e figuras de políticos exemplares que dão corpo ao que pregam.
Infelizmente, isso não ocorreu, ou aconteceu de forma fragmentada e
insuficiente. Não poucos sucumbiram ao poder, porque este nos dá a ilusão de
onipotência divina, de poder decidir o destino das pessoas, além de inúmeras
vantagens pessoais.
Max
Weber, o mestre do estudo do poder, sentenciou: só exerce bem o poder quem toma
distância dele e considera-o passageiro e a serviço desinteressado da
comunidade.”
(LEONARDO
BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 10 de
abril de 2015, caderno OPINIÃO, página
20).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, mesma edição, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:
“Em
busca da alegria
‘Este é o dia que o
Senhor fez para nós, exultemos e nele alegremo-nos!’ Essa é a antífona que
emoldura os 50 dias do tempo da Páscoa, a vitória da vida sobre a morte, do
amor sobre o ódio, da luz sobre as trevas, porque Cristo Jesus passa pela
paixão, morte e ressuscita. Eis uma referência que, certamente, pode soar de
modo estranho em ambientes que ultrapassam os limiares das igrejas cristãs.
Porém, trata-se de uma compreensão que pode garantir ao coração humano o que se
procura tão intensamente: a alegria. É importante não confundir alegria com
satisfação, que remete a uma sensação passageira. A satisfação, muitas vezes, é
transformada em necessidade pela dinâmica da cultura contemporânea e, assim,
converte-se na extenuante busca de “coisas e circunstâncias” que produzem,
momentaneamente, apenas o prazer da alegria.
Essa
busca alimentada e produzida como necessidade impede que o ser humano encontre
a alegria que dura. A consequência é uma desarvorada procura, de maneira cega,
que produz absurdos, perversidades e esvaziamentos. Na busca equivocada pela
alegria, volta-se, repetidamente, ao ponto de partida. Isso gera permanente
insatisfação, que produz loucuras e irracionalidades revestidas de
arbitrariedades. É reforçado, por exemplo, o caráter dominador do dinheiro,
patrocinador do impulso de se querer e tentar encontrar a alegria em coisas, em
situações meramente prazerosas, em posses. É um erro entender que a alegria
necessária está na superficialidade do que dá prazer. Nesse equívoco, a
humanidade se afunda numa lógica perversa de disputas e de perda da
essencialidade, do sentido da verdade e do bem. Ser alegre se torna uma louca
aventura que custa alto preço, produz sérios prejuízos.
O
tempo da Páscoa é o anúncio e o convite para que se tome consciência e se torne
experiência a busca pela fonte da verdadeira alegria. Essa fonte não é um
“ajuntamento” de coisas produtoras de satisfações passageiras e superficiais. É
a pessoa de Cristo ressuscitado. Não são coisas que garantem a conquista da
alegria. O caminho que perpassa a humanidade é desenhado e percorrido pelo
Filho de Deus, Salvador e Redentor, o homem perfeito que assume sobre si as
dores, dissabores e esvaziamentos da condição humana e os transforma por sua
paixão, morte e ressurreição vitoriosa. Ele, Cristo, portanto, é o ponto
referencial de encontro, iluminando e dando sentido a todos os outros
encontros. O Mestre redimensiona tudo e garante as condições para que se busque
e se encontre a alegria verdadeira.
O
tempo pascal é oportunidade para que se compreenda, pela claridade da razão e
pela singularidade do amor, o que concluiu Santo Agostinho, ao refletir sobre
os equívocos que cometeu na busca desarvorada pela felicidade. Dirigindo-se a
Deus, o Santo de Hipona diz, enfaticamente: “A vida feliz consiste em nos
alegrarmos em Vós, de Vós e por Vós. Eis a vida feliz e não há outra. Os que
julgam que existe outra apegam-se a uma alegria que não é verdadeira”. A alegria
que nasce do encontro com Deus é terapêutica, pois a tristeza infinita que
dizima o coração humano só se cura com um amor infinito. Põe-se o desafio de
uma experiência pessoal de encontro com Cristo para saborear a sua amizade e a
sua mensagem. Eis o caminho para configurar a busca da alegria verdadeira, que
ultrapassa as satisfações momentâneas e contentamentos passageiros.
A
lógica da alegria que se sustenta no encontro com Cristo ressuscitado, sem medo
de estar próximo de suas chagas e sofrimentos, que são também dores da
humanidade, capacita o coração para não se acovardar diante do drama humano.
Essa lógica permite avanços nas relações e uma compreensão alicerçada na
alegria que dura. É antídoto para a ganância que envenena, para a indiferença que
corrói e empurra a sociedade na direção de um lento suicídio, encoberto por
tudo o que apenas contenta e dá prazer fugaz. A alegria verdadeira e que dura é
encontrada quando se comprova que não se vive melhor ao fugir do outro, por
negar-se a partilhar e por fechar-se em comodidades. O tempo pascal é para
exercitar o coração e a inteligência em busca da alegria.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados,
ou seja, próximos de zero; II – a corrupção,
há séculos, na mais perversa promiscuidade
– “dinheiro público versus
interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem (a propósito, vai ganhando novos contornos que transcendem ao campo
quantitativo, mensurável, econômico, e
que podem afetar até mesmo gerações futuras...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (haja vista as
muitas faces mostrando a gravidade da dupla crise de falta – de água e de
energia elétrica...);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de
exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e
eficaz auditoria...
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!...
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