“Vivências
internas no caminho da busca espiritual
Posso dizer que nunca
tive dúvidas de que participo de uma realidade maior e de que há outros níveis
de consciência. Também nunca duvidei de que sou guiado por algo interno. Mesmo
na infância e na adolescência, quando não me ocupava conscientemente da busca,
essa certeza sempre esteve presente em meu íntimo.
Assim,
pude ver que os fatos marcantes da minha vida estavam traçados e que só me
cabia reconhece-los. O que parecia novo, na verdade acontecia desde sempre, e
no momento da experiência real apenas se projetava externamente. Apesar disso,
quando os vivia, eram “novos” para mim, e nem sempre podia controlar seu
desfecho.
Por
causa da certeza de ser guiado, ao sucederem fatos incomuns, eu não opunha
resistência a eles; entrava na experiência sem conflitos – e por estar inteiro,
decidido a caminhar, não me preocupava com resultados.
Nunca
me perguntei onde tudo aquilo iria acabar. Aprendi que, se não interferimos no
fluxo das coisas quando elas são guiadas internamente, tudo se dirige para o
bem. Temos de vigiar sempre, estar atentos, mas sem preocupações.
Fazer
essas constatações é sinal para todos os que fazem a busca espiritual. Conheci
pessoas cujo eu interior as guiava para tomarem decisões graduais. Na verdade,
podemos receber vários tipos de orientação interna. Algumas indicam o que não
fazer, mas não o que deve ser feito. Outras mostram determinadas coisas nos
níveis superiores e o modo de concretizá-la na vida prática. Tanto num caso
como no outro, a preocupação com os resultados tem de ser eliminada para que a
entrega à condução interna seja incondicional. Obviamente é necessário fé. Só
ela elimina a tendência natural a interferir no curso indicado..
A fé é
um estado da alma, do próprio eu interior, e que não nasce na mente humana.
Como todos têm alma, todos têm fé, embora a maioria se distancie dessa
realidade fundamental. Mas, mesmo que não se reconheça a existência da fé, ela
se encontra no centro de cada ser, e sem ela ninguém estaria vivo.
A
certa altura, mais cedo ou mais tarde, todos entram na busca espiritual e
descobrem a fé. Mas enquanto esse amadurecimento não se dá, grandes são os
desvios e as vacilações a que se expõem.
A
entrega ao eu interior não quer dizer ausência de razão. A razão continua
existindo, e não temos de aboli-la. O exercício é usá-la sempre que necessário,
da melhor forma, porém a serviço de algo maior. É oferta-la continuamente à
sabedoria que está além, para que as energias superiores a alimentem e
transfigurem.
Algumas
vezes nos é dado esquecer que somos guiados, para vermos a diferença entre agir
conduzidos interiormente e agir por conta própria. Nessas situações, fazemos
coisas com as quais não estamos de acordo. Perceber isso nos leva a querer
deixar de agir por nós mesmos o mais depressa possível.
Ao
ficarmos inteiramente receptivos às energias superiores, à ajuda que vem do
Alto, usamos os atributos que temos, sabendo que jamais estamos sós. As
energias que agem por nosso intermédio acabam por nos ampliar a consciência, e
vemos então que não existe uma vida e nós, separados dela. Nossa própria vida
fica à disposição da grande Vida que a inclui, e nada mais resta de fora.
(TRIGUEIRINHO.
Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 12 de abril de 2015, caderno O.PINIÃO, página 18).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 24 de abril
de 2015, caderno OPINIÃO, página 7,
de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE
AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente
integral transcrição:
“CNBB
e a vida do povo
A Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB) conclui nesta sexta-feira, 24 de abril, sua 53ª
Assembleia Geral, que reuniu temas de grande relevância para a vida da Igreja
Católica na tarefa missionária de anunciar, a todos, o evangelho de Jesus
Cristo. Durante a assembleia, a CNBB – força da Igreja Católica de reconhecida
credibilidade a serviço do povo brasileiro – elegeu a sua nova presidência para
o período 2015-2018. Um competente corpo de presidentes de comissões episcopais
levará adiante projetos e programas de evangelização. Os trabalhos serão
desenvolvidos com o apoio de assessorias eficientes, em diálogo permanente com
os segmentos diversos da sociedade. Em cooperação, busca-se construir uma
sociedade mais justa e solidária.
Especialmente
nesse tempo de assembleia, compartilhamos ricas experiências e reforçamos o
compromisso de sempre buscar o diálogo, a inovação interna e, permanentemente,
caminhar com o povo, particularmente ao lado dos mais pobres. Desse modo,
investimos para sempre uma “Igreja em saída”, conforme orienta o papa
Francisco. Essas importantes metas estão desenhadas pelo horizonte das
Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, aprovadas durante
a assembleia. As diretrizes orientam o caminhar da Igreja na realidade
sociocultural diversificada da sociedade brasileira. As definições de projetos,
programas e planos de pastoral, em cada lugar do país com a presença da Igreja,
têm nessas diretrizes ricos parâmetros e efetivas linhas de ação.
Ao
definir seus planejamentos, a Igreja está consciente de que, para além de
aspectos técnicos, são fundamentais o testemunho e a disponibilidade para o
encontro. Como diz o papa Francisco, é imprescindível a coragem de ser uma
Igreja “acidentada” e, até, “enlameada”, jamais autocentrada. No horizonte
desse desafio, a Assembleia Geral da CNBB analisou a complexidade da realidade
social e política que interpela a fé cristã a dar a sua indispensável
contribuição. Por isso, foi incluído um segundo passo no projeto Pensando o
Brasil, criado em 2014 no contexto das eleições. A Igreja Católica olha, com
preocupação e apreensão, a realidade da desigualdade social no país. Os avanços
e conquistas alcançados até hoje não são suficientes para apaziguar o coração
de cada cidadão brasileiro. É uma situação grave e a sociedade brasileira será
julgada pelo modo como trata os mais pobres.
O
tratamento equivocado imposto aos mais pobres traz consequências lamentáveis
como a perda da indispensável humanização. Certo é que não se pode acostumar e
acomodar-se com as situações de desigualdades e injustiças sociais. A Igreja sabe
que a fé vivida e testemunhada tem força para remover esses espectros
desoladores do contexto social. A paz verdadeira só se efetivará quando a
cidadania e a fé impulsionarem novas posturas, sensíveis ao clamor dos pobres,
que respeitem o direito dos povos. Daí nascerá a paz verdadeira. A condição
humana e o exercício da cidadania precisam ser reconfigurados por meio de densa
espiritualidade e mística fecunda. Por isso, os bispos do Brasil aprofundaram o
estudo e o planejamento de ações determinantes no âmbito da fé vivida e
testemunhada.
O
grande dom da fé é o tesouro da Igreja, com as riquezas inesgotáveis de
conceitos e conteúdos, particularmente presentes na Palavra de Deus e na
tradição. Esse tesouro desafia permanentemente a Igreja a revitalizar suas
instituições, dinâmicas e funcionamentos para se alcançarem novas respostas.
Nessa perspectiva, a liturgia é o sustentáculo da ação evangelizadora. A
Igreja, quando transmite a fé, ajuda a humanidade a abrir-se ao amor
inesgotável de Deus, fonte de sabedoria necessária para reequilibrar a vida e
encontrar as saídas urgentes para as crises em curso na sociedade.
A
vivência dessa tarefa tem como horizonte inspirador e esperançoso a convocação
feita pelo papa Francisco ao anunciar a celebração do Ano da Misericórdia. Um
momento especial, promovido pela Igreja, que interpela a sociedade a
compreender e a viver mais intensamente o amor de Deus. Será um jubileu, tempo
de graça, de 8 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016. A sociedade, pelo
testemunho e anúncio da Igreja, precisa conhecer mais Jesus Cristo, o rosto
misericordioso de Deus, a misericórdia encarnada.
Vivenciar,
de modo profundo, a espiritualidade do perdão, da justiça e da misericórdia
pode ser contraponto à vigente cultura hedonista e materialista que retarda
avanços. A sociedade precisa de qualificação que não é meramente técnica. A
misericórdia é um saber vivencial e experiencial imprescindível.
De
modo coerente com essa perspectiva, a CNBB renovou em sua Assembleia Geral o
compromisso de trabalhar para construir uma sociedade mais justa e solidária,
sem medo dos desafios e pronta a dialogar com o pluralismo de ideias. Assim,
está decidida a inovar-se para anunciar com autenticidade o evangelho, sempre a
serviço da vida do povo.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (assim sendo, já é crítica a superação
da marca de 8% no acumulado de doze meses...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem (a propósito, vai ganhando novos contornos
que transcendem ao campo quantitativo, mensurável, econômico, e que podem afetar até mesmo gerações
futuras...); III – o desperdício, em
todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
indubitavelmente irreparáveis (haja vista as muitas faces mostrando a gravidade
da dupla crise de falta – de água e de energia elétrica...);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de
exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e
eficaz auditoria...
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias,
portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!...
Nenhum comentário:
Postar um comentário