“Educação
para o nosso século
Como preparar
estudantes para uma sociedade marcada pela velocidade das mudanças e pelos
desafios socioeconômicos do nosso século? Esse, talvez, seja um dos principais
desafios da escola contemporânea. Fazendo uma breve contextualização desse
assunto, as instituições de ensino, em um passado próximo, eram responsáveis
pela transmissão de conteúdos, o que se dava com enfoque, quase exclusivo, nas
habilidades cognitivas. Isto é, nas habilidades relacionadas aos conhecimentos
programáticos descritos nas matrizes das diferentes disciplinas curriculares.
Porém, cada tempo tem seu imperativo e, nesse sentido, nossa demanda acadêmica,
em alguma medida, mais complexa.
Como
ilustração, fiquemos com a questão da globalização das economias, das novas
organizações sociais do trabalho e das exigências postas pela sociedade atual.
Esses substanciais recortes ilustram a necessidade de se conjugar, com maior
profundidade, as inter-relações entre emoção, cognição e socialização na
aprendizagem humana. Valendo ressaltar que esse novo lugar não desprestigia a
importância, já sedimentada, dos conteúdos, mas aponta para a necessidade do
desenvolvimento de um outro conjunto de habilidades, quais sejam: as não
cognitivas ou socioemocionais. Essa nova configuração do ensino tem gerado
movimentação intelectual, como o Fórum Internacional de Políticas Públicas,
realizado conjuntamente pelo Ministério da Educação (MEC), pelo Instituto
Ayrton Senna e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE). Evento esse que teve, como linha condutora, reflexões sobre a
importância do desenvolvimento das habilidades socioemocionais para o sucesso
individual e coletivo de uma sociedade. Durante esse encontro, os participantes
destacaram que o desenvolvimento dessas habilidades depende de um programa
intencional e estruturado a ser efetivado por toda a comunidade escolar, ou
seja, pelos gestores, professores e família, uma vez que elas não são talentos
inatos, o que implica dizer que demandam um projeto altamente qualificado para serem
adequadamente trabalhadas. Exemplificando as potencialidades dessa nova
diretriz no que toca à vida escolar, perseverança, equilíbrio emocional,
compaixão e proatividade são habilidades socioemocionais que, quando
desenvolvidas com excelência, permitem aos alunos, entre tantos outros avanços,
prevenir problemas de aprendizagem sua significação mais abrangente.
Nessa linha, muitos estudos revelam o impacto
positivo de um trabalho intencional de desenvolvimento dessas habilidades sobre
a vida das pessoas, permitindo uma constatação: promover uma formação integral
dos estudantes vai além da disponibilização de informações e conhecimentos.
Formação integral é mais do que isso, pois depende da sedimentação de diversas
competências, tanto cognitivas como socioemocionais, aptas a prover os alunos
de experiências pessoais e coletivas atreladas aos valores humanos mais nobres,
como boa convivência, cooperação, responsabilidade socioambiental e engajamento
na construção de uma sociedade melhor.”
(MARCO
ANTÔNIO BARBOSA. Coordenador pedagógico do Colégio Magnum Cidade Nova, em
artigo publicado no jornal ESTADO DE
MINAS, edição de16 de abril de 2015, caderno OPINIÃO, página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
17 de abril de 2015, mesmo caderno, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que
merece igualmente integral transcrição:
“Aventuras
do diálogo
A referência ao diálogo
como aventura, embora cause certo estranhamento, é algo a se considerar no
estágio atual da situação sociopolítica, cultural e mesmo religiosa da
sociedade brasileira. Cenários diversos revelam a dificuldade generalizada para
se estabelecerem diálogos. E o diálogo é condição sem a qual não se edifica a
sociedade, particularmente a contemporânea, na sua constituição plural.
Prejudica esse necessário processo de interação o enquadramento de pessoas e de
situações que pode levar a arbitrariedades e a desrespeitos, criando,
consequentemente, verdadeira anarquia.
As
concepções monolíticas a respeito de situações plurais na política, na cultura
e mesmo na vida religiosa provocam grande confusão. Evidentemente, é preciso
observar certos parâmetros. Princípios éticos e valores inegociáveis devem
sempre pautar as condutas. Porém, o diálogo só é exitoso quando se reconhece a
pluralidade, compreendendo que ninguém é dono da verdade. O respeito ao outro e
às diferenças é condição para se avançar em discernimentos e, assim, fazer
escolhas acertadas, corrigir rumos e alcançar novas respostas. Só o diálogo e a
capacidade de dialogar revelam e comprovam a envergadura moral e cidadã.
Uma
das mais terríveis crises da sociedade brasileira é a generalizada
incompetência para o diálogo entre instituições, grupos e pessoas. Para
complicar esse quadro desafiador, aparecem os oportunistas e também aqueles que
buscam travar as possibilidades do intercâmbio de ideias e opiniões. Prenúncio
para radicalismos e outras perdas no necessário processo de se reconstruir a
nação. Para superar a falta generalizada de diálogo, são necessários exercícios
que alarguem corações e mentes, que iluminem visões capazes de contribuir para
o enfrentamento dos muitos problemas que se abatem sobre a sociedade.
O papa
Francisco, na sua exortação apostólica Alegria do Evangelho, fala sobre a crise
do compromisso comunitário. O enfrentamento desse problema, com respostas
assertivas, é que pode permitir o revigoramento da cidadania, em vista de uma
nação civilizada, estabelecida nos trilhos da igualdade social, da justiça e da
participação de todos. A solução não é simples e demanda mais que análises de
caráter sociológico ou político. É necessário ultrapassar a defesa egoísta dos
próprios interesses, de pequenos grupos ou classes, para empreender esforços e
garantir soluções que gerem benefícios para a coletividade.
Essa
nova postura é que possibilita um processo de interpretação de fatos e de acontecimentos
capaz de suscitar nos corações o desejo e a prática do diálogo. Urgente é
considerar os rápidos processos de desumanização em curso, muitos deles até com
consequências irreversíveis. Uma conta a ser paga no restante da história dessa
sociedade que acata e acelera esses processos. Em vez de se defenderem
interesses partidários ou de poucos, é preciso considerar os descompassos do
mundo contemporâneo. Enormes avanços e conquista, progressos científicos e
inovações tecnológicas contracenam com a violência, a miséria e o medo.
É
irracional aguçar a simples defesa de interesses particulares e não percorrer a
circularidade existencial, exercício indispensável para conseguir ver a partir
do lugar do outro, especialmente de quem é mais pobre. A sensibilidade
necessária para enxergar além do que é particular constitui condição para
abrir-se ao diálogo. Exercitar esse discernimento possibilita reconhecer que
todos partilham a mesma estatura e merecem respeito. Assim, é possível o
diálogo, caminho para superar a mesquinhez e a indiferença que alimentam, entre
outros males, o desarvorado desejo de acumular dinheiro e poder, verdadeira
porta para a corrupção.
Para
promover a abertura ao diálogo, em todos os níveis, na sociedade brasileira,
vale a pena começar por dizer “não”, como ressalta o papa Francisco,
conselheiro admirável, na exortação apostólica Alegria do Evangelho: não a uma
economia da exclusão, pela superação da globalização da indiferença; não à nova
idolatria do dinheiro, pelo reconhecimento de que a crise econômica é, acima de
tudo, antropológica, pois é desconsiderado o primado da pessoa humana; não à
desigualdade vergonhosa, fonte de violência, pois é necessária uma profunda
reforma que inclua mais simplicidade nos gestos de ricos, que precisam ajudar
os pobres. É preciso reduzir distâncias, aproximar do outro, para que se possa
construir um futuro melhor. Essa tarefa tem dinâmica própria, que desafia a
sociedade brasileira a entrar nas aventuras do diálogo.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o
combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (assim sendo, já é crítica a superação
da marca de 8% no acumulado de doze meses...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade –
“dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se
espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos
e comprometimentos de vária ordem (a propósito, vai ganhando novos contornos
que transcendem ao campo quantitativo, mensurável, econômico, e que podem afetar até mesmo gerações
futuras...); III – o desperdício, em
todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
indubitavelmente irreparáveis (haja vista as muitas faces mostrando a gravidade
da dupla crise de falta – de água e de energia elétrica...);
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2015, segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de
exorbitante e insuportável desembolso de cerca de
R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e
eficaz auditoria...
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e
nem arrefecem o nosso entusiasmo e
otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação
verdadeiramente participativa, justa,
ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as
obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da
era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!
O
BRASIL TEM JEITO!...
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