segunda-feira, 8 de junho de 2015

A CIDADANIA, O DIREITO À SAÚDE, O DIÁLOGO E A PAZ

“O direito fundamental à saúde
        O direito à vida como princípio da dignidade da pessoa é indissociável, pois muito embora se tenha vida, nem sempre ela é digna e garante o mínimo existencial. O direito à saúde tem um caráter de fundamentalidade, sendo imprescindível porque garante a dignidade do homem, que é inegociável no jogo político. A noção de que a saúde constitui um direito humano e fundamental, passível de proteção e tutela pelo Estado, é resultado de uma longa evolução na concepção não apenas do direito, mas da própria ideia do que seja saúde. Nesse sentido, o direito à saúde é uma interseção entre o direito positivo e a saúde, entendida como todos os aspectos concernentes à vida.
         A saúde vem assegurada na Constituição Federal de 1988 como direito de todos e dever do Estado, a ser garantido mediante a adoção de políticas públicas, com a garantia do acesso universal igualitária às ações e serviços. Sendo assim, conforme a Constituição Federal de 1988, o Estado tem o dever de garantir a prestação dos serviços sociais à população e ainda o acesso à saúde e tratamento adequado aos que necessitem e as ações e serviços devem ser universais e igualitários. O direito à saúde compreende as obrigações de respeitar, proteger e implementar.
         A saúde como direito se baseia no artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos do Homem (10/12/1948), lavrada pela Organização das Nações Unidas (ONU), cujo teor expressa o direito de todo ser humano à prestação sanitária. Todavia, o direito fundamental à saúde como direitos a prestações implica postura ativa do Estado, no sentido de que este se encontra a colocar à disposição dos indivíduos prestações de natureza jurídica e material. O texto constitucional abriga não apenas o direito, mas também um dever fundamental, conforme prescreve o caput do artigo 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado”. Assim, o direito à saúde é um direito social, uma prestação positiva reclamável perante o Estado, e como tal, exigível. Mediante o reconhecimento normativo, doutrinário e jurisprudencial de que a saúde é um direito fundamental do homem, tem-se que as normas constitucionais são de aplicabilidade imediata e eficácia plena.
         A norma de aplicabilidade imediata, como o próprio nome diz, deve ser aplicada imediatamente, é uma consequência natural da supremacia dos direitos fundamentais, pois não haveria sentido em condicionar a aplicação de determinado direito fundamental a uma futura e incerta regulamentação legislativa. Já as normas de eficácia plena são aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituição, produzem ou têm possibilidade de produzir todos os direitos essenciais relativamente aos interesses, comportamentos e situações, que o legislador diretamente e por meio de sua normatividade, quis regular.
         Sendo assim o direito fundamental à saúde, deve ser imediato e eficaz, levando em consideração a máxima eficácia das normas de direito social, no qual está inserido o direito fundamental à saúde. Os direitos sociais estão ligados aos direitos humanos, vem em consideração que estes correspondem aos princípios morais que devem assegurar condições mínimas para a realização de uma vida digna. O direito fundamental à saúde na esfera dos direitos sociais, é o mais importante, levando em consideração que a falta deste impossibilitaria a perpetuação e continuação da vida humana. O processo de discussão contribuiria para a reflexão sobre as alternativas hermenêuticas mais afinadas com o mandamento da maximização da eficácia e efetividade dos direitos fundamentais, em especial ao direito fundamental à saúde.
         Muito embora os direitos fundamentais estão sendo discutidos durante décadas em outros países, na atual estrutura normativa brasileira, é uma singularidade que é garantida a poucos e ainda de forma precária. Tendo em vista as dificuldades de regulamentar esse Sistema Único de Saúde (SUS), que está garantido na Constituição, por muitas vezes não passa de uma mera falácia, para se ter garantido o direito à saúde é necessário recorrer ao Judiciário, para que este possa efetivar esse direito fundamental garantido a todos.”

(BRUNA DALEFFE DE VARGAS. Advogada, pós-graduanda em direito empresarial e civil, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 27 de maio de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 5 de junho de 2015, mesmo caderno, página 5, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Do diálogo à paz
        O diálogo é o único caminho para se conquistar a efetivação da paz, em todos os níveis, instâncias e segmentos da sociedade. No fundamento do diálogo, está o enorme desafio do entendimento. Os desajustes nas dinâmicas que levam ao entendimento prejudicam a busca pela verdade, não possuída, em caráter absoluto, por ninguém – por nenhuma autoridade religiosa ou sistema político-ideológico. Só se aproxima da verdade quem dialoga. Essa constatação se aplica na administração de situações que ocorrem no ambiente doméstico, nas que se relacionam ao ambiente profissional, ao exercício da cidadania e também nas grandes tratativas de relações políticas internacionais. Buscar a paz acima de tudo é abrir-se ao diálogo. Só o entendimento conquistado pelo diálogo possibilita o avanço na direção da paz. O distanciamento desse dom de Deus é resultado da incompetência para o diálogo. Nesse ponto, há um detalhe de grande importância a ser observado para que o dialogar permita o entendimento e, consequentemente, o aproximar-se da verdade. Trata-se da superação das visões de mundo estreitas, que impossibilitam os avanços necessários para se alcançar a paz a partir do diálogo.
         É interessante pensar, como exemplo que clarifica essa análise, em um conflito de ordem familiar, baseado nas diferenças entre gerações. A velocidade das mudanças culturais e tecnológicas que afetam de modo mais intenso os jovens, localizando-os numa distância muito peculiar de vida e de compreensão, não raramente colide com as visões, posturas e escolhas da geração adulta. O convívio de diferentes perspectivas requer boa administração para que o diálogo não fique comprometido e, consequentemente, falte paz às famílias. A competência para o diálogo é necessária na articulação do conhecimento, no uso das tecnologias e na compreensão das mudanças culturais.
         Caminha rumo à paz, a partir do diálogo que leva ao entendimento, exige sensibilidade social e política. O tipo de orientação que se dá à vida no exercício das próprias responsabilidades tem consequências que podem ser graves. Pode-se avaliar, entre as diversas e importantes situações, a reunião de um grupo em determinado parlamento. Se a visão de mundo desses representantes do povo for equivocada, se agirem orientados a partir de interesses cartoriais – o que indica pouco compromisso com o interesse do povo –, somente serão capazes de oferecer respostas medíocres diante das muitas necessidades sociais.
         Concretamente, pode-se pensar no projeto de reforma política desenvolvido no ambiente parlamentar sem a devida escuta da sociedade civil e, também, na proposta de diminuição da maioridade penal. Iniciativas que escancaram as limitações dos que se posicionam e votam de modo favorável a essas mudanças. A consequência é desastrosa, atrasa processos e inviabiliza o desenvolvimento da sociedade. O que se passa na esfera política não é muito diferente do que ocorre no âmbito religioso. O horizonte de compreensão, muitas vezes, torna-se estreito pela rigidez, pela hegemonia do conservadorismo ou por falta de preparo intelectual. É alto o preço pago por se “rifar” projetos e pessoas – o outro que deve estar na ponta do diálogo que salva.
         A referência ao diálogo como caminho para a paz emoldura o conjunto de outros âmbitos e incursões que precisam permanentemente ser bem tratados. Do diálogo entre diferentes culturas, passando pelo respeito aos direitos humanos, a responsabilidade no cuidado ambiental – livre da ganância, em parâmetros de verdadeira sustentabilidade –, até o primordial combate à pobreza, como condição indispensável na construção e conquista da paz.
         Curioso é que o instrumento contemporâneo das redes sociais e toda a tecnologia digital à disposição, eivadas de informações, podem ter sua força de serviço enfraquecida e comprometida por conta da incompetência individual de dialogar em busca da verdade. Mal maior se forma quando desmorona o mais importante santuário de cada pessoa: a sua consciência. Esse importante lugar para o diálogo, em função de interesses, com o objetivo de elaborar justificativas e de esconder razões espúrias, torna-se ambiente em que mentiras ganham aparência de verdades. Corrompida a consciência, não haverá mesmo saída para a paz.
         A incompetência para o diálogo que constrói a paz impossibilita que sejam alcançadas as muitas soluções necessárias, induz a sociedade a pensar, erroneamente, que a solução de suas crises depende apenas dos números e cifras. Perpetua uma dinâmica cultural da dependência e da mediocridade. É hora de investir na educação para o diálogo a partir da convicção incontestável de que ele é o caminho para a paz.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito subiu 1,7 ponto percentual em abril e atingiu 347,5%  ao ano...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a simples divulgação do balanço auditado da Petrobras, que, em síntese, apresenta no exercício de 2014 perdas pela corrupção de R$ 6,2 bilhões e prejuízos de R$ 21,6 bilhões, não pode de forma alguma significar página virada – eis que são valores simbólicos –, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e segundo o estudo “Transporte e Desenvolvimento – Entraves Logísticos ao Escoamento de Soja e Milho, divulgado pela Confederação Nacional do Transporte, se fossem eliminados os gastos adicionais devido a esse gargalo, haveria uma economia anual de R$ 3,8 bilhões...);

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!...     
     

    

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