quarta-feira, 3 de junho de 2015

A CIDADANIA, A CHAMA DA ESSÊNCIA DA VIDA, A EDUCAÇÃO, A FAMÍLIA E A ESCOLA

“A comunhão com a essência da vida está ao alcance de todos
        Por três vezes nesta vida o destino conduziu-me às terras conhecidas como Portugal e por uma vez às ilhas, na época portuguesas, na África. Fui a tais lugares sob diferentes pretextos, e somente muito depois vim a compreender o verdadeiro sentido de ter sido levado até eles.
         As caminhadas por Lisboa, ou pelas ladeiras das ilhas, constituíam, na verdade, uma ocasião muito especial. O caminhar em silêncio equilibrava a energia dos meus sentimentos e emoções e parecia despir-me do supérfluo, em termos de forças atávicas.
         Certa vez, encontrando-me sobre um promontório, parecia estar de pé em uma pira ardente. A consciência humana, representada pelo cérebro físico, compartilhava daqueles sagrados momentos de purificação, embora sem compreender a extensão do que acontecia.
         Hoje posso definir tais contatos como a comunhão com a essência da Vida nos reinos e nos elementos da Natureza. Eram momentos em que uma Presença pulsava na terra sob meus pés, como se o coração dessa Vida pudesse ser percebido nos grãos minerais que formavam aquele solo; o vento suave passava como se atravessasse meu corpo, preenchendo-o com sua leveza; os arbustos e as pequenas flores nos campos e jardins das cidades reluziam ao sol, revestidos de um dourado que normalmente desconhecemos; os aromas que se faziam sentir testemunhavam a presença de uma energia espiritual que vive nos planos internos e que em sua pura essência transforma os éteres da superfície da Terra.
         Vivenciava essas experiências não apenas como observador, mas unido ao pulsar da Vida que rege os universos. Experimentava, assim, um sentimento de profunda gratidão.
         A partir desses momentos começou a emergir em mim um estado de oração espontâneo, sem palavras, que me dava o ensejo de assumir a vida de serviço, não pela oportunidade que este traria de aproximar-me dos mundos de pura luz e paz, mas pela premente necessidade planetária. Isso me fazia aderir à consciência orante, silenciosa, como um pincel nas mãos de um pintor, um instrumento que se move sob a ação de uma vontade superior e que não escolhe o traçado nem as cores que devem aparecer na tela.
         Existe um mistério na disposição interna da pessoa para sua entrega absoluta às energias superiores. Os segredos da existência em níveis profundos lhe são revelados apenas quando ela tem condições de seguir a Lei espiritual; e tais segredos estão sintetizados na seguinte asserção: estar no mundo sem ser do mundo. Deixando-se pertencer ao mundo, a pessoa perde sua impassibilidade, que é o caminho para o Imutável, para Deus.
         Uma potente energia positiva está hoje mais atuante que no passado, embora muitas vezes não seja notada. Só revela a sua face para aqueles que não ambicionam vê-la. Quando está presente, os ares se movem e acende-se no interior das pessoas uma chama, cuja vibração torna-se um poderoso convite para prosseguirem no Caminho. Entretanto, a grande maioria da humanidade continua adormecida, prisioneira de interesses pessoais, pensando apenas em usufruir os bens que a vida planetária ainda possa oferecer. Mas, independentemente da inércia que existe no campo material, o prosseguimento da vida na Terra já é, por si só, prova inquestionável da presença de uma Lei Maior.
         O que ao homem foi anunciado, inevitavelmente será cumprido; a vida em comunhão com esferas sagradas de consciência está ao alcance dos que a buscam.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 31 de maio de 2015, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 22 de maio de 2015, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Família, uma escola
        As crises no atual contexto da sociedade demandam qualificados investimentos em educação. A escola formal é muito importante, pode transformar processos, mas deve ser permanentemente repensada. Essa atitude reflexiva é necessária justamente para que a dimensão “formal” da escola, seu componente constitutivo, não se torne, no lugar de um processo libertador e alicerce de um novo humanismo, um caminho para a produção de polarizações e radicalismos, que tanto pesam sobre a sociedade. Preocupante também é a quantidade de diplomados sem capacidade para liderar e impulsionar processos, mesmo os mais simples. Trata-se de uma carência que atrasa a superação das muitas crises.
         O tratamento inadequado da realidade educacional no país apena os estudantes e os processos de ensino. Se a educação é prioridade, torna-se inaceitável a imposição de sacrifícios às instituições educativas e aos seus destinatários: os alunos. Esses sacrifícios comprometem a formação pessoal e profissional. Por isso, espera-se lucidez política e governamental para que os problemas criados por outros não imponham dificuldades aos que são esperança do futuro. No conjunto de instituições educativas, deve-se considerar a família, a primeira escola. Indicações oportunas, que precisam ser refletidas, estão na mensagem do papa Francisco para o 49º Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado pela Igreja Católica, no mundo inteiro, dia 15 deste mês. A mensagem sublinha que a família há de ser compreendida sempre como um ambiente privilegiado do encontro na gratuidade e no amor. Por isso mesmo, é uma escola.
         Encontro e gratuidade têm que ser aprendidos, vivenciados e exercitados. Essa capacitação, de caráter espiritual, é indispensável para que a sociedade enfrente suas muitas dificuldades e encontre saídas. Não se pode limitar a compreensão da crise econômica, por exemplo, considerando que sua superação passa apenas por números e taxas. A falta de qualidade humanística, em todas as etapas da história, é o nascedouro de desastres. Trata-se de base para os descompassos, fonte de prejuízos na sociedade. Investir na formação humanística, que começa no contexto familiar, eis uma saída no processo exigente para prevenir e superar crises.
         Por isso, a Igreja Católica coloca a reflexão sobre a família no centro de suas prioridades. Será realizado em outubro deste ano, em Roma, a partir de convocação do papa Francisco, o Sínodo dos Bispos que aprofundará essa reflexão. A Igreja é consciente do caráter determinante da família na sua missão e na sua constituição. Essa consciência sobre a importância do contexto familiar precisa ser cada vez mais partilhada por todas as instituições da sociedade, particularmente as governamentais.
         A aprendizagem singular e insubstituível da comunicação na escola da família abrange a vivência de dinâmicas que qualificam para que se conviva com a diferença. Isso é exigência fundamental na vida contemporânea. É na família que se aprende a língua materna, uma força que desperta a capacidade de percepção e incita o sentido de viver e de fazer algo de bom e belo. A experiência de se constituírem vínculos no contexto familiar é determinante na formação da competência para gerar respostas. É na família que se inicia também a configuração de uma indispensável espiritualidade, sem a qual não se dá conta de viver adequadamente.
         Comprometida a instituição familiar e, consequentemente, os processos de comunicação, muitos serão os prejuízos. Basta listar e analisar situação em que atores inadequadamente interagem, manifestam incompetência para uma comunicação capaz de gerar o que é bom e belo. A estrutura básica de cada pessoa – que inclui a capacidade para interagir –, para ser edificada, depende da família, lugar singular do abraço, do apoio, dos olhares comunicativos, do silêncio, do rir e chorar juntos numa experiência de amor entre pessoas. A família precisa estar mais na pauta cotidiana de instituições e de governos para que a sociedade não sofra grandes perdas e sacrifícios. O tratamento adequado dessa tão importante instituição é inadiável. Todos devem reconhecê-la como importantíssima escola.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito subiu 1,7 ponto percentual em abril e atingiu 347,5%  ao ano...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a simples divulgação do balanço auditado da Petrobras, que, em síntese, apresenta no exercício de 2014 perdas pela corrupção de R$ 6,2 bilhões e prejuízos de R$ 21,6 bilhões, não pode de forma alguma significar página virada – eis que são valores simbólicos –, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e segundo o estudo “Transporte e Desenvolvimento – Entraves Logísticos ao Escoamento de Soja e Milho, divulgado pela Confederação Nacional do Transporte, se fossem eliminados os gastos adicionais devido a esse gargalo, haveria uma economia anual de R$ 3,8 bilhões...);

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!...     
     

     

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