segunda-feira, 6 de julho de 2015

A CIDADANIA, A MEDIDA DA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE E A ECOLOGIA INTEGRAL

“Avaliação educacional no Brasil
        O sucesso nos resultados de qualquer atividade depende da gestão de recursos materiais e humanos. A avaliação é uma aliada do gestor, capaz de oferecer-lhe diagnósticos da realidade e subsidiar suas decisões e investimentos. Essa análise exige o uso de instrumentos adequados de coleta de dados elaborados com o rigor metodológico necessário, pois uma distorção nesse processo inicial e na consequente qualificação da realidade poderá levar o gestor a tomar decisões inadequadas e insatisfatórias. No caso da educação, existem três objetos principais da prática avaliativa: a aprendizagem do educando, levando em conta as necessidades individuais de cada aluno; a instituição escolar onde o estudante está inserido e que lhe oferece as condições de aprender, por meio de todas as atividades de ensino; e, por último, o próprio sistema de ensino, que pode ter a abrangência de um município, de um estado ou do país.
         Até aproximadamente os anos 1980, acreditava-se que o único responsável pelo fracasso escolar fosse o aluno. Vagarosamente, estamos aprendendo a compreender que todo o sistema está comprometido com o sucesso ou com o fracasso das crianças e dos jovens nas escolas. Desde então, em vários lugares do mundo e também no Brasil, observamos investimentos não só na avaliação da aprendizagem dos alunos considerados individualmente nas salas de aula, mas também da instituição escolar e do sistema de ensino.
         Hoje, no Brasil, temos várias atividades avaliativas, denominadas de larga escala, que analisam o desempenho das instituições escolares e do sistema de ensino, tendo por base os resultados da aprendizagem dos estudantes. Nesse contexto, podemos citar o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a Prova Brasil e, mais recentemente, A Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), estabelecida em 2012.
         Permanece, então, a necessidade da avaliação da aprendizagem do educando individualmente, dentro da sala de aula, uma vez que essa avaliação subsidia, em primeiro lugar, o professor a tomar decisões que possam viabilizar o sucesso em suas atividades de ensino; além disso, é o resultado da aprendizagem dos estudantes que orienta todas as outras práticas avaliativas em educação, à medida que o aprendizado satisfatório dos alunos é a finalidade principal tanto das instituições escolares como do sistema de ensino.
         Dessa forma, nas atividades cotidianas em sala de aula, a avaliação precisa ser praticada com um pouco mais de rigor metodológico, com instrumentos de coleta de dados que não sejam aleatórios, e com critérios determinados para avaliar a satisfatoriedade ou não do desempenho dos estudantes da instituição. O sistema de ensino e as instituições escolares podem apresentar todos os requisitos institucionais necessários, tais como estrutura física, mobiliário, equipamentos, mas não terão cumprido sua finalidade caso os estudantes não aprendam efetivamente.
         Para se alcançarem os resultados desejados e expressos nos planejamentos, a avaliação é uma boa aliada do gestor, revelando-lhe constantemente se suas ações têm sidos satisfatórias ou não. Caberá a ele, subsidiado pela avaliação, investir construção de boas práticas. Se assim acontecer, nosso país será bem-sucedido em seus projetos educativos; caso contrário, não teremos o êxito que desejamos nos resultados da educação nacional.”

(CIPRIANO CARLOS LUCHESI. Doutor em educação, colaborador da Fundação Santillana, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 3 de junho de 2015, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 3 de julho de 2015, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Ecologia integral
        O papa Francisco, em sua carta encíclica Louvado Sejas – Sobre o cuidado da casa comum, faz uma grande convocação: é hora de uma reação mais revolucionária e contundente à cultura do descarte. Para além de análises técnicas e científicas, é urgente sensibilizar-se para compreender o que está acontecendo – sublinha o Santo Padre – com a nossa casa, a Terra. Infelizmente, a dinâmica hegemônica que preside as relações e, particularmente, o uso dos bens da criação é sustentada pela cultura do descarte. O Santo Padre adverte que a Terra – nossa casa – parece transformar-se cada vez mais num imenso depósito de lixo.
         Há uma aceleração descontrolada nos processos de mudança da humanidade e do planeta. A vida ganha ritmo cada vez mais frenético e, nesse contexto, o consumismo torna-se parâmetros que baliza fundamentos. Na contramão de uma vida saudável, o que se constata é um crescente processo de degradação, impulsionado pela perversidade das ações humanas em nome do “progresso” e do crescimento da economia. Impõe-se um ritmo que é avassalador frente à dinâmica da evolução biológica.
         Obviamente, não é o caso de se opor ao progresso. O que se defende é a reavaliação de perspectivas e processos que não levam em conta o bem comum. Deve-se buscar, sempre, o desenvolvimento sustentável e integral. São fundamentais as ações que permitam à humanidade perceber, cada vez mais, que a cultura do descarte ameaça a vida. Nesse sentido, a contribuição de cada pessoa é fundamental. O papa Francisco fala da necessidade de se tomar dolorosa consciência diante das muitas e complexas questões que nos preocupam. Os congressos, protocolos, fóruns e outras instâncias que objetivam a preservação do planeta precisam efetivar e operacionalizar com mais rapidez os seus propósitos e compromissos.
         A cultura do descarte tudo converte em lixo, na dinâmica do desarvorado consumismo, e só pode ser superada a partir de processos educativos que capacitam para a vivência de uma ecologia integral. A própria natureza muito nos ensina. O papa Francisco chama a atenção para o funcionamento de ecossistemas, que mostram a interdependência entre os seres vivos. Lembra o Santo Padre que as plantas sintetizam substâncias nutritivas que sustentam os herbívoros. Os carnívoros, por sua vez, se alimentam dos herbívoros e dão origem a uma nova geração de vegetais ao fornecerem significativos volumes de resíduos orgânicos.
         O ser humano não pode perder-se mas irracionalidades que incentivam, de modo generalizado, o descarte. É preciso engajar-se nos processos educativos que promovem a ecologia integral, especialmente as suas dimensões sociais e humanas. As condições de vida e a sobrevivência precisam ser mais adequadamente pensadas. Nessa direção, o meio ambiente exige que consideremos a natureza como algo que faz parte de nós, não uma simples moldura. Todos são convocados a pensar a íntima relação entre a crise ambiental e a crise social.
         Por isso mesmo, quando se reflete, por exemplo, sobre o estado de saúde de instituições da sociedade, imediatamente há que se considerar o impacto que causam no ambiente e na qualidade de vida. É central, pois, falar de uma ecologia econômica, que não pode distanciar-se do humanismo, não permite o divórcio entre a economia e as análises dos contextos humanos, familiares, urbanos, de trabalho, da relação do ser humano consigo mesmo e com os outros. Também é imprescindível promover uma ecologia social, quando se considera a responsabilidade das instituições que regulam as relações humanas.
         No processo de enfrentamento da cultura do descarte, não se pode desconsiderar o crescente problema da violência, o comprometimento da liberdade e prática perversa da injustiça. É muito grave a hegemonia da postura consumista do ser humano, impulsionada pelos mecanismos da economia globalizada. Lamentável também é a pobreza legislativa de países que não conseguem fortalecer as instituições responsáveis em promover o bem do povo. O que se vê é um sacrifício imposto, principalmente, aos mais pobres.
         É urgente trabalhar para uma recuperação da interioridade, ameaçada pelo consumismo, pelo descarte que produz lixo, de modo ilimitado, gerando descompassos que arruínam as condições necessárias para uma vida sustentável. A insanidade destes tempos precisa ser debelada a partir de investimentos e compromissos com a compreensão e a prática de uma ecologia integral.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito subiu 1,7 ponto percentual em abril e atingiu 347,5%  ano ano...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a simples divulgação do balanço auditado da Petrobras, que, em síntese, apresenta no exercício de 2014 perdas pela corrupção de R$ 6,2 bilhões e prejuízos de R$ 21,6 bilhões, não pode de forma alguma significar página virada – eis que são valores simbólicos –, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, e segundo o estudo “Transporte e Desenvolvimento – Entraves Logísticos ao Escoamento de Soja e Milho, divulgado pela Confederação Nacional do Transporte, se fossem eliminados os gastos adicionais devido a esse gargalo, haveria uma economia anual de R$ 3,8 bilhões...);

     c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir IMEDIATA, abrangente, qualificada e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br).

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

O BRASIL TEM JEITO!...     
     
        


    

                

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