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sexta-feira, 1 de setembro de 2017

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, A LUZ DO CAMINHO ESPIRITUAL E OS CAMINHOS DA JUSTIÇA E DA PAZ NA SUSTENTABILIDADE (11/159)

(Setembro = mês 11; faltam 159 meses para a Primavera Brasileira)

“A perseverante entrega do 
peregrino no caminho espiritual
        Constitui para o peregrino uma prova não ter nenhuma novidade que o anime e que o faça caminhar, pois deve, mesmo assim, permanecer fiel à meta a que se propôs cumprir. Sua consciência precisa manter-se no essencial e não enveredar por atividades que não sejam realmente necessárias. Para todos, inclusive para os que são regidos pela energia da atividade, chega o momento de cessar os movimentos e aguardar que uma Luz maior lhes indique a direção a seguir.
         A fidelidade à meta é conseguida mais facilmente quando se navega velozmente, com horizonte claro e céu limpo, ou em meio a tempestades, em que o empenho e a desenvoltura dos marinheiros são solicitados ao máximo, do que quando o mar se aquieta, as ondas desaparecem e não há brisa a soprar as velas do barco. Nesses momentos a vigilância tem de ser mantida, o ardor ampliado com a intenção de se doar mais e mais ao Ser Supremo e de não se deixar levar pela aparente lentidão da viagem.
         Quanto mais próximo estiver de participar da Obra da Espiritualidade, maior responsabilidade será dada ao ser, e também maior influência ele exercerá sobre tudo o que esse trabalho engloba.
         As verdadeiras transformações da humanidade não ocorrem porque todos a querem, mas porque um, ou alguns poucos, a querem em tal intensidade que é como se todos a quisessem.
         Pode haver maior gratidão que a nascida de um coração tocado pela Presença? Maior fé a do homem que, caminhando no escuro, busca a Luz?
         Conto-vos uma história: Um camponês retornava à sua casa após longo e extenuante dia de trabalho. O sol já se deitava no horizonte e uma suave aragem anunciava a noite. Repentinamente, porém, o céu encobriu-se, um vento forte começou a soprar e, com muitos relâmpagos e trovões, uma chuva torrencial desabou.
         O camponês estava só na estrada deserta; não tinha onde abrigar-se, nem como agasalhar-se do frio.
         Que faríeis vós, nessa situação?
         Nos tempos que se aproximam é preciso integral vivência da fé, completo esquecimento de si, certeza inabalável de que se está sendo guiado e obediência incondicional às indicações internas. Milagres surgirão na superfície da Terra como flores celestiais entre a amarga cinza do viver humano. Deixai o ínfimo, para que o Infinito se aproxime.
         O caminho espiritual é um caminho sem promessas. Nele o peregrino deve ingressar sem expectativa alguma. O que antecipadamente lhe é dado saber é que esse caminho é de renúncia, de autoesquecimento, de superação dos próprios limites. Poucos são os que aceitam tais condições; entretanto, ilimitadas são as dádivas provindas dos que o trilham.
         Ainda que muitos sejam os aspectos imaturos, os desejos e os planos dos que iniciam a trajetória para o mundo espiritual, passo a passo as ilusões lhes vão sendo retiradas, revelando gradualmente a beleza que existe em seu próprio interior. Aos poucos, vai lhes sendo desvelado o grande segredo, guardado no centro da flor sagrada.
         O peregrino não espera nenhuma realização; de cálice se fez canal amplo e desobstruído para nada reter, mas estar sempre aberto ao fluir da seiva da vida. Não procura ver, ouvir, sentir ou tocar coisa alguma com fins de deleite pessoal, mas permite que a energia se aproxime, o envolva e o permeie, pois nada sabe que não lhe seja por ela revelado. Por essa energia foi erguido da escuridão, por ela foi conduzido à senda interior e, sob suas orientações, caminha nessa senda.”.

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 27 de agosto de 2017, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 23 de agosto de 2017, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de ARISTIDES JOSÉ VIEIRA CARVALHO, médico e professor, e que merece igualmente integral transcrição:

“Não somos ilhas
        Quando nos damos conta de que precisamos das outras pessoas, tudo muda. O escritor e poeta Thomas Merton dizia que “home algum é uma ilha”. Para Merton, a vida ganha sentido quando admitimos que não nos bastamos a nós mesmos. Dependemos uns dos outros. Concordamos com ele: crescemos quando interagimos com os outros e nos permitimos dividir o que temos: nossas experiências, nossos aprendizados. Só assim damos e recebemos ao mesmo tempo.
         N área da saúde, por exemplo, quando nos prontificamos a realizar abordagens integrais às pessoas – considerando os seus aspectos biopsicossociais –, percebemos o quanto é importante a participação de diferentes categorias de profissionais. O trabalho multi e interdisciplinar enriquece o atendimento e faz toda a diferença. Observamos isso quando lidamos com a prevenção das doenças, a promoção da saúde, os cuidados paliativos, entre outros. São impressionantes os resultados que surgem com a construção de planos de cuidados feitos com “várias mãos”.
         A realização de trabalhos conjuntos é, sem dúvida, um bom caminho para se romper com o olhar que se volta para si mesmo e desconhece o crescimento que surge com a contribuição das outras pessoas. O médico Maimônides (1135-1204), ao referir-se à prática médica, dizia sobre a importância da humildade no exercício profissional: “A ninguém é dado ver por si mesmo tudo aquilo que os outros veem”.
         No ambiente de trabalho, na família e nas atividades sociais, “dependemos uns dos outros”. A sabedoria dos dias nos ensina que o olhar ensimesmado e prepotente está na origem das intolerâncias, dos desrespeitos e dos escândalos de corrupção que nos surpreendem a cada dia. O antídoto para essa onda de desumanidades, que parece não ter fim, é a percepção do outro. Não se vive para si mesmo. Há outras pessoas.
         Quando observamos as posturas de determinados grupos sociais e políticos – sem fazer generalizações para não sermos injustos – ficamos intrigados. Suas atitudes trazem perguntas: não limites para essa gente? Ou o limite é o próprio benefício, a satisfação dos próprios – e insaciáveis – interesses?. Especificamente, no caso brasileiro, as situações atuais que nos chateiam nos levam a pensar que alguns dos nossos representantes esqueceram-se de que existe uma nação onde habitam cidadãos que merecem respeito. Se Erasmo de Roterdã estivesse em terras brasileiras escreveria uma sátira sobre alguns integrantes da “alta classe política” e as suas formas de convivências com o povo. Falaria das artimanhas que utilizam para se manter no poder e do descaso com as políticas públicas. O Elogio da Loucura, versão brasileira, seria enriquecido por histórias escabrosas e assustadoras. Algo muito vergonhoso para todos nós.
         O fato é que precisamos vencer a perspectiva e a prática que privilegiam alguns (grupos e pessoas) e construir caminhos de equidade e dignidade humana para todos. Alguns podem chamar isso de utopia. Achamos melhor chamar de justiça e de paz.
         Acontecimentos recentes no cenário nacional e internacional (Espanha e Estados Unidos) nos convidam a refletir sobre a importância de construir culturas de respeito e de paz onde existam a tolerância, o reconhecimento das diferenças e da dignidade de cada ser humano. E nos alertam: o olhar que se fecha à ideologia pode causar um mal terrível às pessoas. A ideologia, seja qual for, é apenas a explicação a partir de um ponto de vista. Não alcança toda a realidade. É fundamental partilhar, fazer desconstruções e construir novas práticas. Isso requer sensibilidade, vontade, sobretudo, coragem.
         Merton estava certo: não somos ilhas. Isso vale para cada um de nós e vale para as lideranças nos campos sociopolítico e econômico. Somos pessoas em relação, que precisam umas das outras. Crescemos à medida que partilhamos, que reconhecemos a importância do outro e cuidamos das convivências e das cidades.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em julho/2017 a ainda estratosférica marca de 399,05% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial registrou históricos 321,30%; e já o IPCA também no acumulado dos últimos doze meses chegou a 2,71%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 946,4 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”

- 55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por uma Nova Política Brasileira...  
        


        

          

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A CIDADANIA, A VISÃO CÓSMICA DA SOCIEDADE, A POLÍTICA E A ESPIRITUALIDADE

“Saúde, governo e dinheiro sob 
um ponto de vista cósmico
        Grandes somas de dinheiro são, às vezes, aplicadas inutilmente em coisas supérfluas, revelando que a energia monetária está fora de lugar neste planeta.
         Sri Aurobindo, filósofo e escritor que viveu na Índia, considerava os assuntos de um ponto de vista cósmico, não limitado pelas leis tridimensionais da matéria física. Declarou, certa vez, que não havia encontrado solução para três setores da vida de superfície do planeta Terra: o primeiro era o de saúde; o segundo, o do governo; e o terceiro, o da energia monetária, ou dinheiro. Conforme sua visão, algo teria que ser transformado e esclarecido na consciência humana, antes que esses setores tivessem uma solução ou recebessem um tratamento de nível espiritual.
         A respeito da saúde, o homem não poderá vivê-la enquanto usar o livre-arbítrio, dado que opta por certas situações, movido pela aparência, e não por um conhecimento profundo.
         Por meio do seu ponto de vista ainda mental, o homem confunde seus desejos com suas necessidades verdadeiras, dando margem, assim, para que o supérfluo predomine em sua vida terrena. Vivendo para o supérfluo, ele deixa de compreender o que se passa no interior das demais pessoas e dos eventos, desgastando-se em uma luta contínua. Somente quando passar a auscultar sua verdadeira necessidade, interna e espiritual, e não superficial e material, o homem poderá ter saúde e seguir uma vontade suprema, de raízes assentadas no plano cósmico da consciência.
         Também o governo, enquanto não for movido por energias espirituais vindas do núcleo interno da consciência cósmica do homem, não contará com uma liderança externa de nível superior, harmonizada com as leis universais. Os governos existentes cuidam, na melhor das hipóteses, do progresso material, social, econômico e tecnológico da sociedade (a expensas de outros povos menos favorecidos em vários sentidos) e o considera como desenvolvimento. Na verdade, porém, esse progresso é uma manifestação apenas parcial da lei evolutiva. Há nessa lei aspectos superiores que, se não forem observados e vividos na prática, deixarão de proporcionar ao homem o seu verdadeiro alimento.
         Chegamos agora ao terceiro ponto até hoje insolúvel na vida da superfície da Terra: o dinheiro. Se no universo existe tudo o que é necessário para todos, por que aqui há miséria?
         É do nosso conhecimento que raramente o dinheiro é usado para o bem universal, e o desejo ou o problema pessoal de um indivíduo é, em geral, posto à frente de necessidades maiores. A grande maioria dos homens está longe de cumprir a Lei espiritual superior. Segundo essa Lei, quando o indivíduo começa a esquecer-se de si e a usar os próprios bens para suprir os que precisam mais, vê instaurar-se em sua vida a verdadeira abundância.
         Aos que tencionam entrar na abundância incondicional pode-se sugerir um pequeno roteiro para reflexão. Que perguntem a si próprios, em primeiro lugar, qual é o motivo que os move a usar o dinheiro ou um bem material: cumprir deveres, beneficiar entes queridos ou satisfazer os próprios desejos? Em qualquer desses casos, o motivo precisa ser transformado. Uma outra questão a ser colocada é se o que os motiva é uma causa particular ou um ideal grupal. Em qualquer caso, é preciso que a energia do amor incondicional seja sempre dominante.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 6 de setembro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 16).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 22 de setembro de 2007, caderno PENSAR, coluna OLHAR, página 2, de autoria de João Paulo, editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:

“Política e espiritualidade
        Thomas Merton (1915-1968) foi um dos pensadores mais marcantes dos anos 60, tendo influenciado a religião, a política e a cultura. Hoje, está praticamente esquecido. Quase 40 anos depois de sua morte, suas obras começam a ser reeditadas e, surpreendentemente, se mostram ainda atuais. A significação de Thomas Merton em seu tempo se deu pela abertura ao misticismo oriental, o que o aproximava da contracultura. No entanto, intelectual rigoroso, sua contribuição vai muito além das emanações da Era de Aquário. O monge não estava em dia com seu tempo. Estava muito à frente.
         Entre os livros que estão chegando novamente ao leitor brasileiro estão A experiência interior, Amor e vida, A sabedoria do deserto e Místicos e mestres zen, todos pela Editora Martins Fontes. As obras são uma boa introdução ao pensamento de Merton no que ele tinha de mais significativo: a capacidade de diálogo entre várias tradições religiosas; a visão do misticismo como inseparável da ação; a valorização do mundo interior como porta principal da convivência entre os homens. Thomas Merton mergulhou na sabedoria oriental para entender melhor o homem do Ocidente; ensinou que a meditação é o caminho mais desimpedido até o outro; buscou a síntese aparentemente contraditória entre mística e socialismo.
         A vida de Thomas Merton traz em si um exemplo. Foi uma das jornadas de alma mais conhecidas do século 20 e, de certa maneira, sintetizou a experiência de uma geração. Antes de se tornar o monge mais conhecido de seu tempo, recolhido na trapa de Nossa Senhora de Getsêmani, no Kentucky (EUA), Merton viveu os anos que antecederam a Segunda Guerra como um cidadão do mundo. Se afundou na estética e na erótica, como um personagem de Ernest Hemingway. Foi um típico moço da geração perdida. A experiência deste tempo foi relatada em sua autobiografia, A montanha dos sete patamares, de 1948, um dos livros de maior sucesso da primeira metade do século.
         A obra, que marcou sua entrada no mosteiro, funcionou como um balanço de vida. Depois de experimentar os caminhos da arte, da política e subjetividade exacerbada, Thomas Merton encontra a via da espiritualidade. Não foi uma saída negativa, um recuo da existência para essência, uma perda de substância mundana em nome dos valores da interioridade. Merton, desde sempre, foi um homem de sínteses impossíveis.
         Há um romance de Hermann Hesse, Narciso e Goldmund, que parece sintetizar duas posições de alma aparentemente irreconciliáveis. Narciso ama a si mesmo, o outro e a natureza só existem como possibilidades, quase como hipóteses para testar a força de sua vida interior. Narciso costura para dentro. Já Goldmund, é um ser para o outro, exemplo de vida dourada, afeita aos brilhos e prazer dos sentidos. Goldmund costura para fora. Herman Hesse sabia que eram tipos presentes em todos nós. Thomas Merton viveu os dois lados com intensidade e, o que é mais raro, construiu uma síntese dos dois universos em uma única existência.
         Narciso, a contemplação; Goldmund, a ação. Existe um termo em sânscrito, ahimsa, que propõe a união desses mundos que parecem mirar para o Leste e Oeste, sem se encontrar no infinito. A tradução possível de ahimsa é compaixão dinâmica. Não existe melhor definição para a vida de Merton.
         Como homem de reflexão e meditação, foi talvez o maior especialista em zen-budismo entre os ocidentais (o juízo era de D. T. Suzuki, o maior dos mestres orientais do zen), aprofundou e ajudou a dar a conhecer o pensamento de Chuang-tsé, estudou a fundo a tradição mística medieval, compreendeu como poucos o pensamento de São João da Cruz e Mestre Eckhart. Como ser comprometido com o mundo, protestou contra todo tipo de injustiça de seu tempo, condenou as ditaduras na América Latina, correspondeu-se publicamente com os maiores líderes de seu tempo.
         Foi um ser de compaixão comprometida, de vigília ativa. Além da defesa das liberdades mais imediatas, ameaçadas em todo mundo por uma conjuntura de guerra fria que inviabilizava o diálogo, antecipou muitas críticas que ganhariam terreno décadas depois, como o excesso de tecnologia que silencia o humanismo, a ganância material que destrói a natureza, a violência que se soma ao medo como estratégia de enfraquecimento dos homens frente ao poder.
         Thomas Merton viveu um movimento permanente. Depois da juventude mundana, o recolhimento no mosteiro. Da aprendizagem da mística do silêncio, parte em direção à comunicação com seus contemporâneos. Quanto mais busca a paz do retiro, mais se sente responsável pelos destinos do mundo. Os últimos anos de Merton foram de peregrinação. Seus livros, por si só, ainda que muitos e belos, de exegese, poesia e reflexão, pareciam exigir que o monge levasse sua palavra viva ao mundo. E o contemplativo vestiu suas sandálias de peregrino e foi em todas as direções.
         Sua morte, em 1968, em Bancoc, foi, como tudo em sua vida, exemplar dos rumos do mundo externo e de sua existência interior. Thomas Merton acabara de proferir uma palestra, se recolhera ao quarto em dia de muito calor. O chão de cimento e o fio desencapado de um ventilador funcionam como potencializador de um acidente banal. Ele não resiste ao choque e morre. A conferência que acabara de proferir tinha se chamado Marxismo e perspectivas monásticas. Enquanto o movimento da contracultura parecia ir em direção a mudanças no comportamento, abandonando a religião, ele convoca a mística a dialogar com o pensamento político.
         Merton não fez uma defesa da revolução armada, mas da revolução interna. O monge destacou a semelhança entre os dois caminhos: tanto o cristianismo como o marxismo vêem o mundo como incompleto. É preciso lutar para mudar as coisas, combater a injustiça, melhorar a distribuição, tornar o mundo melhor para a realização de uma vida completa. Há um ideal de aprimoramento nas duas vias. Merton havia lido Herbert Marcuse e Roger Garaudy e saíra da experiência defendendo que os monges tinham obrigação de criticar as estruturas. Ele vira algo semelhante com os monges das religiões orientais, e se encantou mais uma vez com a possibilidade de uma contemplação que também é ação.
         Sua lição deixava incomodados tanto os místicos como os políticos. Os primeiros se sentiam cobrados ao comprometimento trabalhoso com o outro; já os políticos, eram instados a se aprimorarem como pessoas para melhor levar adiante sua missão de representar os interesses da comunidade. Era mais fácil aceitar a passividade monástica e o cinismo ideológico. Mas Merton não foi homem de facilidades. Consta que suas últimas palavras na conferência de Bancoc foram: “E agora vou desaparecer”. Pelo menos desta vez, felizmente, ele estava errado.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

)      a)  a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)      o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em agosto a estratosférica marca de 350,79% ao ano; e mais, também em agosto, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,52%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)       a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  
     


  


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A CIDADANIA, A SOCIEDADE PARTICIPATIVA E UM EXEMPLAR DE HUMANIDADE

“A volta da cidadania
        
         A radicalização nada acrescenta à formação da cidadania tão desejada pela sociedade. Os atos de violência e vandalismo, da mesma forma, não coaduna com as aspirações da coletividade. O diálogo e as discussões no campo das ideias, indubitavelmente, representam um passo largo ao encontro das soluções civilizadas. No entanto, diante da insistente profusão de interesses mesquinhos que causam engulhos aos cidadãos de bem, não resta aos brasileiros outra saída, senão voltar às ruas e continuar demonstrando, com suas faixas e seus cartazes, a mais absoluta indignação com o descaso e o desrespeito das autoridades públicas. A população pediu de forma educada, mas enérgica, que os governantes priorizassem a saúde, a educação, o transporte, a segurança e o meio ambiente. Passados mais de 60 dias, as providências nem sequer foram iniciadas e as autoridades continuam inertes nos seus confortáveis observatórios do poder.
         A sociedade brasileira, da mais liberal à mais conservadora, corroborou em pensamentos e em atos as manifestações cívicas e ordeiras, bem como endossou as justas pautas de reivindicações do povo. Contudo, de nada adiantou, porque os políticos assentados nas esferas federal, estadual e municipal permanecem alheios e ausentes, absortos com o efêmero.
         O remédio constitucional impetrado por peroração pública em favor da cidadania, traduzido por via de habeas corpus, embora esse, no sentido figurativo, não tinha somente alguns na sua régia titularidade, mas a nação como impetrante. Esse habeas corpus nacional não trata da hipótese de constrangimento à liberdade de locomoção, mas constitui um instrumento de defesa da vida, imprescindível aos direitos e garantias dos indivíduos, que exigem mais que simples sobrevivência e que não admitem a atrofia, a mutilação ou a escravização da pessoa. A volta da cidadania às ruas é uma prerrogativa do povo, requerente não apenas do direito de ir e vir, como também da liberdade de expressão. O povo é requerente do aperfeiçoamento das práticas democráticas, da sua participação ampla na vida do país e da realização dos sonhos das famílias, que têm como aspiração a efetiva e percuciente busca pela qualidade de vida.
         A população brasileira merece mais que promessas feitas de quatro em quatro anos. Fazem-se necessárias as reformas engavetadas pelo sistema bicameral. Basta de exclusão social com segregação econômica e cultural. Chega de conivência governamental na defesa  dos interesses de poucos, em detrimento dos direitos de muitos. E, se não existia oposição, ela já está surgindo: a oposição cidadã. Valho-me, por fim, da lição do pensador político, advogado e constitucionalista Rui Barbosa, que assim lecionava: “O sino da liberdade não terá de dobrar sobre o sepulcro dos juízes, mas sobre o ignominioso  trespasse da República, contra o qual, nas mãos da nação revoltada pela falta de justiça, se levantarão as pedras das ruas”.”

(WILSON CAMPOS. Advogado, presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade da OAB-MG, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 10 de setembro de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 7 de setembro de 2013, caderno PENSAR, página 2, de autoria de JOÃO PAULO, que é editor de Cultura, e que merece igualmente integral transcrição:

“Um documento humano
        As novas gerações talvez não conheçam Alceu Amoroso Lima (1892-1983). O escritor, crítico literário e pensador católico foi um dos homens de pensamento mais importantes do Brasil no século 20 e se tornou uma referência intelectual e moral para o país em seus momentos mais difíceis. Alceu escreveu quase 100 livros em diversos campos do conhecimento – direito, filosofia, sociologia, política, teologia e jornalismo –, além de ter sido, com o pseudônimo de Tristão de Ataíde, o mais influente crítico literário de seu tempo.
         Mas Alceu não foi apenas um grande intelectual, foi um mestre da ação. Sua trajetória, curiosamente, foi na contramão da maioria dos homens de seu tempo: foi conservador na juventude para se revelar de esquerda e libertário na maturidade. Desde que assumiu seu catolicismo, em 1928, com uma carta que se tornou célebre, “Adeus à disponibilidade”, endereçada a Sérgio Buarque de Holanda, Alceu fez da Igreja Católica e de seus desafios no século 20 uma de suas grandes preocupações.
         A importância de Alceu Amoroso Lima se torna ainda mais relevante quando se acompanha sua ação política destacada em todos os campos. Dentro da Igreja, foi da doutrina social à teologia da libertação, acompanhando de perto o Concílio Vaticano II e o aggiornamento da Igreja romana, se ligando ao processo de renovação da instituição milenar em crise com as demandas de seu momento histórico. E é bom lembrar que Alceu fez parte dos grupos mais conservadores da Igreja e que, por isso, foi deixando no caminho, em nome de sua coerência, muitos amigos e companheiros de jornada.
         Sua relação com a Igreja – talvez também seja difícil para os mais novos entender a força do pensamento católico no Brasil e o mundo por volta dos meados do século 20 – fez dele interlocutor de grandes filósofos, como Jacques Maritain, e até mesmo de papas, como Paulo VI. Mas a religião também deu a Alceu liberdade para se aproximar do pensamento místico (como do trapista americano Thomas Merton) e, sobretudo, das grandes questões políticas, como a crítica à injustiça social e o combate às ditaduras.
         Em meio a tanto trabalho intelectual e militância – some-se ainda a isso seu labor como professor e os vários artigos que publicava diariamente na imprensa –, Alceu Amoroso Lima viveu no âmbito familiar uma história sublime. Em 1952, aos 23 anos, sua filha Lia Amoroso Lima decide entrar para o convento das beneditinas, onde permaneceu até sua morte, em 2011, aos 82 anos. O pai – que levou a filha até a abadessa do convento para que ela se tornasse uma simples monja – passou então a escrever diariamente para Lia, que assumiu o nome de Maria Teresa, numa correspondência que foi  até os últimos dias de Alceu. E é bom lembrar que se tratava de cartas físicas, escritas à mão e postadas no correio todos os dias.
         Um dos maiores documentos humanos do nosso país, a correspondência trata de temas profundos, como religião e filosofia, entra no debate das questões políticas do momento, encontra espaço para a conversa amigável e afetuosa entre pai e filha. Há passagens em que Alceu fala dos amigos e de trabalhos em andamento, queixa das dificuldades, se anima com as pequenas conquistas, relembra momentos idos e vividos. Há um pouco de tudo na vasta correspondência: filosofia, literatura, política, crônica, memória e comentário político. E sobretudo a confiança absoluta de dois seres que se amavam.
         Como eram cartas diárias e Alceu se encontrava sempre assoberbado de mil atribuições, era de se esperar que as cartas fossem curtas, pequenos registros do dia a dia, uma simples tentativa de estar perto da filha querida. Nada disso, muitas delas se alongam por várias páginas, fazem comentários profundos, ensaiam reflexões que depois ganhariam artigos para imprensa, ensaios e mesmo livros. Alceu era um analista incisivo e dotado ao mesmo tempo de senso crítico, base filosófica e humor, o que dá aos seus comentários um sabor muito especial, sobretudo no momento em que não precisava se preocupar com as censuras de toda natureza, das políticas às psicológicas. Um dos homens mais íntegros e completos que o país já teve, em suas cartas revela ainda a cálida presença de sua personalidade, sempre intensa e entusiasmada (palavra na medida para Alceu, já que sua etimologia registra: estar cheia de Deus).

RELIGIÃO E POLÍTICA Parte da correspondência de Alceu Amoroso Lima à filha já havia sido publicada em 2003, no volume Cartas do pai, pelo Instituto Moreira Salles. Um livro com mais de 600 páginas que reúne as correspondências enviadas entre julho de 1958 e dezembro de 1968. Além de revelar pela primeira vez o teor das cartas – havia uma grande curiosidade sobre elas entre os admiradores de Alceu, que sabiam de sua existência –, o livro se mostrou o registro de um momento marcado principalmente pela religião. Mas a sombra da política brasileira parece se adivinhar, até mesmo pela data de encerramento do volume, às portas da decretação ao Ato Institucional nº 5, que marcaria a fogo a história recente do país e a situação de Alceu Amoroso Lima como um de seus principais combatentes pela liberdade.
         Por isso se torna precioso o lançamento de mais um livro dedicado às cartas de Alceu à filha, Diário de um ano de trevas, que abrange o período que vai de janeiro de 1969 a fevereiro de 1970. Lançado também pelo Instituto Moreira Salles, o volume é organizado por Frei Betto e por Alceu Amoroso Lima Filho, que trabalhou ao lado da irmã na decifração da caligrafia do pai até a morte da madre Maria Teresa. O trabalho dos organizadores é soberbo. A seleção é primorosa – não há uma carta publicada que não emocione ou ensine sobre o tempo abarcado e os personagens –, as notas sempre informativas e concisas, a concentração nos temas de interesse amplo é mantida com equilíbrio (houve supressões de trechos por razões de ordem pessoal, segundo os organizadores, o que em momento algum prejudica a leitura), a recuperação do contexto histórico é sempre competente e a favor da legibilidade dos documentos.
         O que em Cartas do pai era revelação humana e religião, em Diário de um ano de trevas é política e indignação. Alceu Amoroso Lima vive, com a decretação do AI-5 um sofrimento pessoal palpável. Ele parece antever, e chega a registrar, que a ditadura demoraria 20 anos para deixar a sociedade brasileira e que, por isso, talvez não vivesse mais a democracia em seu país. Ao morrer em 1983, não sem deixar de lutar todos os dias, Alceu ajudou a conquistar a redemocratização, mas não chegou a experimentá-la. Suas cartas à filha documentam esse período, um longo ano de batalhas pela liberdade no mais duro dos períodos da ditadura militar.
         O sempre afável e esperançoso Alceu tem momento de revolta e impaciência, padece pelo afastamento de amigos, vê os jornais lhe fecharem as portas em razão do medo da censura. Não havia general com estofo suficiente para censurar o pensador, mas nas redações o medo ia além do razoável. Alceu não negociou com o inimigo, não mudou de tom – antes o tornou mais ácido e até feroz – não deixou de pensar nem mesmo pela sedução de incendiar as consciências. Sua crítica aos militares se unia à crítica à Igreja que retrocede em seu caminho de abertura para apoiar o golpe. Como escreve à Maria Teresa: “Somos um país inchado, e não grande, não por culpa do nosso povo pobre, mas dos dirigentes que o exploram de qualquer modo, e agora, particularmente dessa oligarquia militar puritanística”.
         Ao tratar da situação por que passava o país, Alceu o faz a partir de análise de fatos do momento, não necessariamente apenas da conjuntura, mas de aspectos ligados à educação, à ciência, aos partidos políticos, à imprensa. Tudo ao lado de análises feitas em cima da hora dos descaminhos da ditadura e da vergonhosa atuação de seus personagens. A correspondência, mesmo atravessada pela política, encontra também espaço para o afeto, para as memórias, para os bastidores da Academia Brasileira de Letras e da vida literária, para as lembranças do Rio antigo, dos amigos que se foram, das leituras de juventude e dos consolos da fé.
         Diário de um ano de trevas é testemunho que revela não apenas a grande figura de Alceu Amoroso Lima, mas a dimensão necessária da resistência humana contra toda forma de injustiça. Em cada ato e omissão escrevemos uma carta ao mundo. Felizes daqueles que podem reuni-las um dia para entregar, como um bastão de corrida de revezamento, nas mãos dos que vêm depois.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas.

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 de anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (por exemplo, a notícia de mais uma operação da Polícia Federal de desmonte de quadrilha que causou desvio de recursos do Ministério do Trabalho e Emprego, em torno de R$ 400 milhões); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; turismo; esporte, cultura e lazer; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...