sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

A CIDADANIA, A PLENITUDE DA VIDA PRESENTE, A ECOLOGIA HUMANA E INTEGRAL E A SEVERA LIÇÃO DE MARIANA

“A vida se torna plena quando se 
manifesta no eterno presente
        Certo dia, entardecia e fui levado a estar diante do pôr do sol. Observava o movimento da luz e via que, para nós, sem a luz não existem cores, e sem sua presença a vida manifestada se tornaria irreconhecível e indecifrável. Constatava que, quando a Fonte de Luz desaparece no horizonte, inicia-se um indescritível bailado das cores, com mudanças e transformações que prenunciam o ciclo seguinte.
         Enquanto saudava interiormente a presença das energias superiores nestes tempos em que a discórdia e o confronto se disseminam rapidamente pela superfície do planeta, veio-me uma impressão muito clara, impulsionadora em seu significado, trazendo consigo uma onda de infinito amor: grande é a responsabilidade daqueles que se omitiram. Tanto lhes foi dado e tão pouco distribuído. A omissão, assim como a mentira, tem efeito corrosivo sobre as pétalas de amor no coração dos servidores.
         Por meio dessas palavras eu podia perceber como é simples a instrução espiritual. A verdade é simples, e, como tal, é para ser vivida. É o ego, com suas circunvoluções sobre si mesmo, que traz uma série de complicações ao processo espiritual e à vida em si. A verdade diz: siga a Lei, desapegue-se e entregue-se ao Supremo. Mas isso tem que ser vivido.
         A vida se torna plena a cada instante reconhecido como o eterno presente, livre de toda e qualquer cronologia. Se o instante for vivenciado em sua totalidade, com a justa e exata vibração por ele vinculada, pode-se estar diante de outros instantes-vida com total adesão da consciência. Quando isso ocorre livremente, o Infinito pode aproximar-se dos mundos de ignorância e redimi-los.
         Indivíduos ou grupos podem até não prosseguir externamente rumo à meta que elegeram, como em geral acontece. Todavia, para o atual grau de adensamento da consciência humana, já é um avanço o fato de terem despertado, e de certos estados mentais e emocionais estarem relativamente preparados para tarefas evolutivas, às vezes desempenhadas até mesmo inconscientemente. Entretanto, o que no passado existiu em mosteiros ocultos nas altas cordilheiras deveria agora se dar mais abertamente entre os indivíduos.
         Lançada uma semente, em algum momento ela poderá florescer. Cada indivíduo desperto, cada grupo que se forma, é como uma porta aberta para a entrada de outras pessoas naquele mesmo caminho. O Ensinamento diz: “De um grão de trigo semeado colhem-se algumas espigas, mas de algumas espigas podeis colher todo um trigal. Em solo fértil deveis plantar as novas sementes e sobre rocha firme construir a Nova Morada. Não com meias medidas o homem desta Terra entrará no Reino; é por completo que ele terá de se render à vida do espírito”.
         A experiência humana se desenvolveu no sentido oposto ao que deveria; a vida na superfície da Terra não realizou o seu propósito superior em decorrência, entre outras coisas, das opções de toda a humanidade, desde o início da sua manifestação. Entretanto, essa aparente frustração não deve ser confundida com essência do Plano de Deus para todos nós.
         Assim como existem ciclos de impulsos, há prazos para que as respostas a eles sejam dadas. E quando surge a preciosa oportunidade de um trabalho manifestar certo grau de realização do Plano Divino, ela traz consigo os bálsamos do despertar interior e a Graça para a superação dos obstáculos.”

(TRIGUEIRINHO. Escritor, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 8 de novembro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 5 de dezembro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM JOAQUIM GIOVANI MOL GUIMARÃES, bispo auxiliar de Belo Horizonte, reitor da PUC Minas, e que merece igualmente integral transcrição:

“Francisco e a tragédia
        O que está acontecendo com nossa casa comum? É a pergunta que abre o primeiro capítulo da encíclica Laudato si, do papa Francisco, lançada em 18 de junho. Hoje faz, exatamente, um mês da terrível e previsível tragédia de Mariana, em Minas Gerais, sob a responsabilidade da Samarco (leia-se Vale e BHP), que dizimou comunidades e matou 13 pessoas, sendo que outras oito ainda estão desaparecidas. Foi, certamente, a maior tragédia ambiental já registrada no Brasil. A encíclica oferece-se como iluminação para que, de modo crítico e humano, olhemos para as causas e efeitos desse terrível acontecimento, que produziu consequências avassaladoras sobre o meio ambiente, cortando centenas de quilômetros, atravessando dois estados brasileiros, provocando perdas ambientais que dificilmente poderão ser compensadas.
         A Laudato si é uma encíclica por meio da qual a Igreja lança ao mundo um apelo sobre a urgência de se proteger o planeta, nossa casa comum. Isso, alerta Francisco, deve incluir “a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar”.
         A carta do papa ocupa-se dos riscos ao meio ambiente e à vida humana dos processos não sustentáveis de exploração da natureza, em especial com o lançamento de resíduos poluentes. “Produzem-se anualmente”, diz a encíclica, centenas de milhões de toneladas de resíduos, muitos deles não biodegradáveis: resíduos domésticos e comerciais, detritos de demolições, resíduos clínicos, eletrônicos e industriais, resíduos altamente tóxicos e radioativos. A Terra, nossa casa, parece transformar-se cada vez mais num imenso depósito de lixo”.
         Próximos à Barragem do Fundão, que se rompeu, os distritos foram tomados pela lama, que destruiu casas, pequenas empresas, sítios e suas plantações e animais. Mais de 600 pessoas ficaram desabrigadas. De acordo com o Ibama, o volume extravasado foi estimado em 60 bilhões de litros de rejeitos de mineração de ferro, quantidade que encheriam 24 mil piscinas olímpicas. A lama seguiu ao longo de mais de 500 quilômetros na Bacia do Rio Doce, a quinta maior do país, passando por várias cidades de Minas e do Espírito Santo. No município capixaba de Linhares, ela desembocou no mar.
         Essa tragédia teve gigantesco poder destruidor de vidas, mas também de projetos de vida. Famílias expulsas de seus lares, amputadas, certamente, dos seus meios de sobrevivência e da possibilidade de cuidarem de seus animais, de suas pequenas plantações. Amputadas de seus amigos e familiares. O ecossistema foi criminosamente violentado na região atingida e, ao certo, os próprios especialistas têm dificuldade de afirmar em que prazo as áreas atingidas estarão recuperadas.
         Aqui, vale, certamente, retomar trechos da própria Laudato si, que nos convoca não apenas a refletir, mas para a constituição de ações que protejam nossa casa. “O cuidado dos ecossistemas requer uma perspectiva que se estenda para além do imediato, porque, quando se busca apenas um ganho econômico rápido e fácil, já ninguém se importa realmente com a sua preservação. Mas o custo dos danos provocados pela negligência egoísta é muitíssimo maior do que o benefício econômico que se possa obter. Por isso, podemos ser testemunhas mudas de gravíssimas desigualdades, quando se pretende obter benefícios significativos, fazendo pagar o resto da humanidade, presente e futura, os altíssimos custos da degradação ambiental.”
         Papa Francisco salienta ainda que essas situações “provocam os gemidos da irmã Terra, que se unem aos gemidos dos abandonados do mundo, com um lamento que reclama de nós outro rumo. Nunca maltratamos e ferimos a nossa casa comum como nos últimos dois séculos”. E assinala, ainda, que “torna-se indispensável criar um sistema normativo que inclua limites invioláveis e assegure a proteção dos ecossistemas, antes que as novas formas de poder derivadas do paradigma tecnoeconômico acabem por arrasá-los não só com a política, mas também com a liberdade e a justiça.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)      a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)      o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a estratosférica marca de 414,30% para um período de doze meses; e mais, em novembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 10,48%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)       a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  

 
        


       

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