(Dezembro
= mês 16; faltam 8 meses para a Olimpíada 2016)
“Transformar
em sofrimento
pessoal o que acontece no mundo
Atualmente, há uma
fecunda discussão filosófica no sentido de resgatar a razão sensível como
enriquecimento imprescindível da razão intelectual. Essa diligência é
necessária porque é por meio dela que nos comprometemos afetiva e efetivamente
com a salvaguarda da vida no planeta e com a humanização das relações sociais.
Nesse ponto, curiosamente, o papa Francisco, em sua encíclica sobre o cuidado
da Casa Comum, trouxe-nos valorosa contribuição.
Ele
analisa com espírito científico e crítico o que está acontecendo. Logo adverte
que, na perspectiva da ecologia integral, o tema fundamental de seu texto,
essas categorias são insuficientes. Temos que nos abrir “à admiração e ao
encanto e falar a linguagem da fraternidade e da beleza na nossa relação com o
mundo”. Portanto, não podemos nos restringir à ecologia ambiental, pois ela
atende apenas a relação do ser humano com a natureza, esquecendo-se de que ele
é parte dela.
Ocorre
que o ser humano possui dimensões sociais, políticas, culturais e espirituais
sobre as quais há parca preocupação e insuficiente reflexão, o que dificulta
encontrar uma solução consistente para a grave crise que assola a Casa Comum.
Considerando a amplitude dessas dimensões, devemos ir além de uma análise
meramente técnico-científica, que é imprescindível, mas importa “deixar-nos
tocar por ela em profundidade e dar uma base de concretude ao percurso ético e
espiritual daí derivado”.
O papa
Francisco tem clara consciência de que, por trás das estatísticas, há um mar de
sofrimento humano e muitas feridas no corpo da Mãe Terra. Como somos parte da
natureza e tudo está inter-relacionado, participamos das dores da crise
ecológica.
Mas o
papa não se deixa intimidar por esse cenário. Dá um voto de confiança no ser
humano, em sua criatividade e em sua capacidade de se regenerar e de regenerar
a Terra e muito mais. Francisco confia em Deus, que, segundo as palavras da
tradição judaico-cristã, “não permitirá que nos afundemos totalmente”.
Ainda
faremos uma conversão ecológica e introduziremos “a cultura do cuidado que
permeará toda a sociedade”. Disso nascerá um novo estilo de vida (alternativa
repetida 35 vezes na encíclica), fundado na cooperação, na solidariedade, na
simplicidade voluntária e na sobriedade compartida que implicará um novo modo
de produzir e de consumir.
Por
fim, nos dará “a consciência amorosa de não estarmos de não estarmos separados
das outras criaturas, mas formarmos com os outros seres do universo uma
estupenda comunhão universal”.
Como
se depreende, aqui não fala mais somente da inteligência intelectual, mas da
inteligência emocional e cordial. O papa dá claro exemplo do exercício desse
tipo de inteligência, tão urgente e necessário para superarmos a profunda crise
que recobre todos os âmbitos da vida.
Em
razão dessa inteligência emocional, pede que devemos “ouvir tanto o grito da
Terra como o grito dos pobres”. As agressões sistemáticas, feitas nos últimos
dois séculos, “provocam os gemidos da irmã Terra, que se unem aos gemidos dos
abandonados do mundo”. Por isso, importa cuidar da criação e tratar com desvelo
outros seres vivos.
Somente
quem tem desenvolvida em alto grau a inteligência sensível ou cordial poderia
escrever: “Tudo está relacionado, e todos nós, seres humanos, caminhamos
juntos, como irmãos, numa peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor que
Deus tem a cada uma de suas criaturas”. Tais sentimentos e atitudes hoje constituem
uma demanda geral para afastar as tragédias ecológico-sociais que já se
anunciam no horizonte de nosso tempo.”
(LEONARDO
BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal OTEMPO Belo Horizonte, edição de 20 de
novembro de 2015, caderno O.PINIÃO,
página 18).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de
dezembro de 2015, caderno OPINIÃO, página
7, de autoria de IÊDA MARIA ALVES DE
OLIVEIRA, vice-presidente de veículos pesados da Associação Brasileira do
Veículo Elétrico (ABVE), gerente da Eletra, empresa brasileira de tecnologia
para tração elétrica e hídrica para ônibus, e que merece igualmente integral
transcrição:
“O
clima em debate
Os líderes mundiais
estão reunidos nesta semana em Paris para discutir o papel de cada nação na
redução de emissão de gases poluentes na atmosfera, durante da Conferência do
Clima, a COP21. O futuro do mundo depende das decisões tomadas nessas reuniões,
que foram marcadas por avanços e retrocessos em edições anteriores. Mas, a cada
dia, percebemos diretamente no nosso cotidiano que precisamos adotar medidas
urgentes para preservar a vida na Terra.
Estamos
convivendo diretamente com longos períodos de estiagem em algumas regiões
brasileiras, que afetaram diretamente o abastecimento de água de milhões de
pessoas. Assim como vimos alta densidade pluviométrica em outras regiões,
provocando enchentes. Esses são alguns resultados das mudanças climáticas
provocadas pelos homens nos últimos séculos. Ainda entre os exemplos
brasileiros, nova projeção do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de
Efeito Estufa (Seeg), do Observatório do Clima, aponta que as emissões de gases
de efeito estufa do Brasil em 2014 permaneceram estáveis em relação ao ano
anterior. Os números continuam os mesmos, apesar da queda de 18% na taxa de
desmatamento da Amazônia.
A
explicação dos especialistas para a manutenção desses níveis, mesmo com a
redução do desmatamento, está diretamente ligada ao uso de termelétricas para
abastecimento de energia, necessárias diante dos baixos níveis dos
reservatórios em várias regiões brasileiras. Podia ser ainda pior caso a
economia mostrasse sinais de recuperação, repercutindo em uma maior atividade
econômica.
Os
efeitos da poluição estão ainda por todas as partes e afetam principalmente os
moradores das regiões metropolitanas. A emissão diária de gases por carros e
ônibus já é um problemas de saúde pública na capital paulista, por exemplo.
Pesquisas realizadas pelo professor Paulo Saldiva, do Departamento de Patologia
da Universidade de São Paulo (USP), revelam que se tivéssemos uma redução de
10% da poluição na cidade de São Paulo, poderíamos evitar 114 mil mortes por
doenças respiratórias e cardiovasculares entre os anos 2000 e 2020.
A
capital paulista já conta, inclusive, com instrumentos que poderiam reduzir
esse dramático quadro. Um deles é a Lei de Mudanças Climáticas da Cidade de São
Paulo, que entrou em vigor em julho de 2009, estabelecendo uma série de medidas
para reduzir em 30% as emissões de poluentes atmosféricos para os quatro anos
consecutivos do início da lei.
Para
alcançar essas metas, o município deveria iniciar a troca dos veículos do
transporte público, movidos a diesel por ônibus com fontes energéticas
sustentáveis. Mas, infelizmente, nem mesmo o atual edital de licitação proposto
pelo município para o transporte público incentiva o uso de novas tecnologias.
Os
efeitos da atuação do homem no meio ambiente são percebíveis em várias esferas.
Assim como as discussões envolvendo vários países devem estabelecer metas para
o nosso futuro, precisamos também olhar ao nosso redor e buscar nas cidades,
onde convivemos diariamente com nossos problemas, soluções sustentáveis que
contribuam efetivamente para a melhoria de vida da nossa população.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama
o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional,
mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a
realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da
civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a
estratosférica marca de 414,30% para um período de doze meses; e mais, em
outubro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,93%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso
específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e
que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura,
ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 868 bilhões), a exigir alguns
fundamentos da sabedoria grega:
-
pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e
ainda a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Isto posto, torna-se
absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
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