quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

O BRASIL, A LUZ DA ECOLOGIA HUMANA E INTEGRAL E O CLIMA NA SUSTENTABILIDADE (16/8)

(Dezembro = mês 16; faltam 8 meses para a Olimpíada 2016)

“Transformar em sofrimento 
pessoal o que acontece no mundo
        Atualmente, há uma fecunda discussão filosófica no sentido de resgatar a razão sensível como enriquecimento imprescindível da razão intelectual. Essa diligência é necessária porque é por meio dela que nos comprometemos afetiva e efetivamente com a salvaguarda da vida no planeta e com a humanização das relações sociais. Nesse ponto, curiosamente, o papa Francisco, em sua encíclica sobre o cuidado da Casa Comum, trouxe-nos valorosa contribuição.
         Ele analisa com espírito científico e crítico o que está acontecendo. Logo adverte que, na perspectiva da ecologia integral, o tema fundamental de seu texto, essas categorias são insuficientes. Temos que nos abrir “à admiração e ao encanto e falar a linguagem da fraternidade e da beleza na nossa relação com o mundo”. Portanto, não podemos nos restringir à ecologia ambiental, pois ela atende apenas a relação do ser humano com a natureza, esquecendo-se de que ele é parte dela.
         Ocorre que o ser humano possui dimensões sociais, políticas, culturais e espirituais sobre as quais há parca preocupação e insuficiente reflexão, o que dificulta encontrar uma solução consistente para a grave crise que assola a Casa Comum. Considerando a amplitude dessas dimensões, devemos ir além de uma análise meramente técnico-científica, que é imprescindível, mas importa “deixar-nos tocar por ela em profundidade e dar uma base de concretude ao percurso ético e espiritual daí derivado”.
         O papa Francisco tem clara consciência de que, por trás das estatísticas, há um mar de sofrimento humano e muitas feridas no corpo da Mãe Terra. Como somos parte da natureza e tudo está inter-relacionado, participamos das dores da crise ecológica.
         Mas o papa não se deixa intimidar por esse cenário. Dá um voto de confiança no ser humano, em sua criatividade e em sua capacidade de se regenerar e de regenerar a Terra e muito mais. Francisco confia em Deus, que, segundo as palavras da tradição judaico-cristã, “não permitirá que nos afundemos totalmente”.
         Ainda faremos uma conversão ecológica e introduziremos “a cultura do cuidado que permeará toda a sociedade”. Disso nascerá um novo estilo de vida (alternativa repetida 35 vezes na encíclica), fundado na cooperação, na solidariedade, na simplicidade voluntária e na sobriedade compartida que implicará um novo modo de produzir e de consumir.
         Por fim, nos dará “a consciência amorosa de não estarmos de não estarmos separados das outras criaturas, mas formarmos com os outros seres do universo uma estupenda comunhão universal”.
         Como se depreende, aqui não fala mais somente da inteligência intelectual, mas da inteligência emocional e cordial. O papa dá claro exemplo do exercício desse tipo de inteligência, tão urgente e necessário para superarmos a profunda crise que recobre todos os âmbitos da vida.
         Em razão dessa inteligência emocional, pede que devemos “ouvir tanto o grito da Terra como o grito dos pobres”. As agressões sistemáticas, feitas nos últimos dois séculos, “provocam os gemidos da irmã Terra, que se unem aos gemidos dos abandonados do mundo”. Por isso, importa cuidar da criação e tratar com desvelo outros seres vivos.
         Somente quem tem desenvolvida em alto grau a inteligência sensível ou cordial poderia escrever: “Tudo está relacionado, e todos nós, seres humanos, caminhamos juntos, como irmãos, numa peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor que Deus tem a cada uma de suas criaturas”. Tais sentimentos e atitudes hoje constituem uma demanda geral para afastar as tragédias ecológico-sociais que já se anunciam no horizonte de nosso tempo.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal OTEMPO Belo Horizonte, edição de 20 de novembro de 2015, caderno O.PINIÃO, página 18).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de dezembro de 2015, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de IÊDA MARIA ALVES DE OLIVEIRA, vice-presidente de veículos pesados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), gerente da Eletra, empresa brasileira de tecnologia para tração elétrica e hídrica para ônibus, e que merece igualmente integral transcrição:

“O clima em debate
        Os líderes mundiais estão reunidos nesta semana em Paris para discutir o papel de cada nação na redução de emissão de gases poluentes na atmosfera, durante da Conferência do Clima, a COP21. O futuro do mundo depende das decisões tomadas nessas reuniões, que foram marcadas por avanços e retrocessos em edições anteriores. Mas, a cada dia, percebemos diretamente no nosso cotidiano que precisamos adotar medidas urgentes para preservar a vida na Terra.
         Estamos convivendo diretamente com longos períodos de estiagem em algumas regiões brasileiras, que afetaram diretamente o abastecimento de água de milhões de pessoas. Assim como vimos alta densidade pluviométrica em outras regiões, provocando enchentes. Esses são alguns resultados das mudanças climáticas provocadas pelos homens nos últimos séculos. Ainda entre os exemplos brasileiros, nova projeção do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), do Observatório do Clima, aponta que as emissões de gases de efeito estufa do Brasil em 2014 permaneceram estáveis em relação ao ano anterior. Os números continuam os mesmos, apesar da queda de 18% na taxa de desmatamento da Amazônia.
         A explicação dos especialistas para a manutenção desses níveis, mesmo com a redução do desmatamento, está diretamente ligada ao uso de termelétricas para abastecimento de energia, necessárias diante dos baixos níveis dos reservatórios em várias regiões brasileiras. Podia ser ainda pior caso a economia mostrasse sinais de recuperação, repercutindo em uma maior atividade econômica.
         Os efeitos da poluição estão ainda por todas as partes e afetam principalmente os moradores das regiões metropolitanas. A emissão diária de gases por carros e ônibus já é um problemas de saúde pública na capital paulista, por exemplo. Pesquisas realizadas pelo professor Paulo Saldiva, do Departamento de Patologia da Universidade de São Paulo (USP), revelam que se tivéssemos uma redução de 10% da poluição na cidade de São Paulo, poderíamos evitar 114 mil mortes por doenças respiratórias e cardiovasculares entre os anos 2000 e 2020.
         A capital paulista já conta, inclusive, com instrumentos que poderiam reduzir esse dramático quadro. Um deles é a Lei de Mudanças Climáticas da Cidade de São Paulo, que entrou em vigor em julho de 2009, estabelecendo uma série de medidas para reduzir em 30% as emissões de poluentes atmosféricos para os quatro anos consecutivos do início da lei.
         Para alcançar essas metas, o município deveria iniciar a troca dos veículos do transporte público, movidos a diesel por ônibus com fontes energéticas sustentáveis. Mas, infelizmente, nem mesmo o atual edital de licitação proposto pelo município para o transporte público incentiva o uso de novas tecnologias.
         Os efeitos da atuação do homem no meio ambiente são percebíveis em várias esferas. Assim como as discussões envolvendo vários países devem estabelecer metas para o nosso futuro, precisamos também olhar ao nosso redor e buscar nas cidades, onde convivemos diariamente com nossos problemas, soluções sustentáveis que contribuam efetivamente para a melhoria de vida da nossa população.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)      a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)      o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a estratosférica marca de 414,30% para um período de doze meses; e mais, em outubro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,93%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)       a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  



   

           

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