“O
resgate da utopia no sombrio
contexto atual do Brasil e do mundo
Face ao desamparo que
grassa no Brasil e na humanidade atual, faz-se urgente resgatar o sentido
libertador da utopia. Na verdade, vivemos no olho de uma crise da ordem
política e do tipo de democracia que temos. Mais ainda, uma crise
civilizacional de proporções planetárias.
Toda
crise oferece chances de transformação, bem como riscos de fracasso. Na crise,
medo e esperança, expressões de raiva e de violência real ou simbólica se
mesclam, especialmente nesse momento crítico da sociedade.
Precisamos
de esperança. Ela se expressa na linguagem das utopias. Estas, por sua
natureza, nunca vão se realizar totalmente, mas nos mantêm caminhando.
Acertadamente, observou o poeta Mário Quintana: “Se as coisas são
inatingíveis... Ora!/ Não é motivo para não querê-las/ Que tristes os caminhos
se não fora/ A mágica presença das estrelas”.
A
utopia não se opõe à realidade, antes pertence a ela, porque não é feita apenas
por aquilo que é dado, mas por aquilo que é potencial e que pode um dia se
transformar em dado. A utopia nasce desse “transfundo” de virtualidades
presentes na história, na sociedade e em cada pessoa.
O
filósofo Ernst Bloch cunhou a expressão “princípio-esperança”, que entende o
inesgotável potencial da existência humana e da história, que permite dizer
“não” a qualquer realidade concreta, às limitações espaço-temporais, aos
modelos políticos e às barreiras que cerceiam o viver, o saber, o querer e o
amar.
O ser
humano diz “não” porque primeiro diz “sim”: sim à vida, ao sentido, a uma
sociedade com menos corrupção e mais justa, aos sonhos e à plenitude ansiada.
Embora realisticamente não entreveja a total plenitude no horizonte das
concretizações históricas, nem por isso ele deixa de ansiar por ela com uma
esperança jamais arrefecida.
Jó,
quase nas vascas da morte, podia gritar a Deus: “Mesmo que Tu me mates, ainda
assim espero em Ti”. O paraíso terrenal narrado no Gênesis 2-3 é um texto de
esperança. Não se trata do relato de um passado perdido e do qual guardamos
saudades, mas é antes uma promessa, uma esperança de futuro ao encontro do qual
estamos caminhando. Como comentava Bloch: “O verdadeiro Gênese não está no começo,
mas no fim”. Só no termo do processo da evolução serão verdadeiras as palavras
das Escrituras: “E Deus viu que tudo era bom”. Enquanto evoluímos, nem tudo é
bom, só perfectível;
O
essencial do cristianismo não reside em afirmar a encarnação de Deus. Outras
religiões também o fizeram. Mas é afirmar que a utopia virou eutopia (um lugar
bom). Em alguém, não apenas a morte foi vencida, o que seria muito, mas ocorreu
algo maior: todas as virtualidades escondidas no ser humano explodiram e
implodiram. Jesus é o “Adão novíssimo” na expressão de São Paulo, o homem
abscôndito agora revelado. Mas é apenas o primeiro dentre muitos; nós
seguiremos a ele.
Anunciar
tal esperança no sombrio contexto atual do Brasil e do mundo não é irrelevante.
Transforma a eventual tragédia da política, da Terra e da humanidade devido à
dissolução social e às ameaças sociais e ecológicas numa crise purificadora.
Vamos
fazer uma travessia perigosa, mas a vida será garantida, e o Brasil, bem como o
planeta, ainda se regenerará e encontrará um caminho que nos abra um futuro
“esperançador”.
Para
os cristãos, a grama não cresceu sobre a sepultura de Jesus. A partir da crise
da sexta-feira da crucificação, a vida trinfou. Por isso a tragédia não pode
escrever o último capítulo da história, nem do Brasil, nem da Mãe Terra. Aquele
o escreverá a vida em seu esplendor solar.”
(LEONARDO
BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 18 de
março de 2016, caderno O.PINIÃO,
página 22).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 5 de abril
de 2016, caderno OPINIÃO, página 7,
de autoria de RAFAEL ÁVILA, professor
de relações internacionais do Centro Universitário de Belo Horizonte – UniBH e
diretor de inovação do Grupo Ânima, e que merece igualmente integral
transcrição:
“Revolução
na educação
Se você perguntar a
qualquer cidadão se ele pensa a educação como algo que promove a transformação
individual, que modifica fundamentalmente a sociedade, que possibilita a
introdução de uma mão de obra melhor qualificada, não há qualquer ponto de
divergência. Todos dirão de maneira uníssona que sim, a educação é o caminho
dessas transformações. Mas, da mesma forma que a educação é tratada como algo
relevante no discurso, vemos que ela tem sido tratada como um objeto de menor
empenho político e econômico.
Também
é notório para as pessoas que trabalham com a educação que estamos diante de desafios
fora e dentro das salas de aula: estudantes desengajados; um ensino distante do
mundo real; professores sem suporte mudanças; escolas que reproduzem um modelo
que não dá conta do contemporâneo. Neste sentido, muitos propagandeiam a
necessidade de uma revolução na educação. Mas o que é esta revolução?
A
proposta de (r) evolução na educação que pensamos passa pelas seguintes
mudanças e ressignificações:
1)Dos objetos de
aprendizagem. O que isso significa, senão o repensar de que, se queremos formar
profissionais do futuro, as estruturas curriculares não podem reproduzir uma
formação do passado ou orientada na perspectiva do presente? É preciso que o
currículo tenha espaço para o que é essencialmente disruptivo e orientado para
o futuro mesmo. Também, é preciso incorporar no ensino o desenvolvimento de
habilidades suaves (soft skills), habilidades analíticas e não rotineiras
combinadas com as habilidades socioemocionais. Vemos um geração inteira de bons
técnicos, de dominadores de conteúdos, mas carentes de determinadas habilidades
comportamentais.
2)Das formas de
aprender e ensinar. Ou seja, precisamos aprimorar também os métodos e as
metodologias de ensino e aprendizagem. Como disse acima, é precisos balancear
conteúdos, conhecimentos técnicos, com soft skills. Porém, precisamos ainda
introduzir um pouco mais de “mão na massa”. É o saber aliado com o fazer.
Combinar boas doses de metodologias ativas com o ensino clássico,
teórico-conceitual.
3)Dos papéis na
educação. Não há mudanças sem ressignificação dos papéis dos estudantes, dos
professores e da escola. Quem é responsável pelo quê? Uma proposta é o
professor retomar a função de mentor, permitindo e incentivando legitimamente
que o estudante se torne um ser auto direcionado, autônomo e autoproposto. Um
professor mentor dará lugar ao professor conteudista, transmissor.
4)Dos espaços de
aprendizagem. Espaços produzem efeitos na interação das pessoas e nas possibilidades
de educação. Uma sala de aula tradicional permite um tipo de ensino; quando as
carteiras se reúnem em círculos, isso possibilita outras configurações e,
portanto, outras formas de interagir e aprender. Assim, uma verdadeira
(r)evolução na educação entende que novos e renovados espaços de socialização
de conhecimento e de aprendizagem potencializam novas formas de ensinar e
aprender.
5)Das novas linguagens
de educação. O digital entra não para substituir, mas para agregar. Falamos
muito em uma educação móvel, educação em movimento, que acompanha o estudante onde
ele estiver. Não é ensino presencial ou a distância somente, mas blended
(híbrido). Porém, é ir além do blended, buscando uma educação realmente móvel,
de e em múltiplas plataformas, com múltiplas linguagens. Falamos na
incorporação de vídeos, pod-casts, microblogs, instrumentos de comunicação
instantânea, jogos, redes sociais, todos com o propósito de educar também. A
(r)evolução na educação faz com que ela ocorra de todas as formas, a todos os
momentos e em todos os lugares. São novos papéis, novas mentalidades, um novo
ecossistema.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em fevereiro a ainda
estratosférica marca de 419,60% para um período de doze meses; e mais, também
em fevereiro, o IPCA acumulado nos doze meses chegou a 10,36%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso
específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e
que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e
municipal) –, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do
Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 1,044 trilhão), a exigir
alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade);
entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
-
Estamos nos descobrindo através da Cidadania e Qualidade...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...
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