“Sentido
e significado
A verdade existe antes
e depois da mentira. O Brasil tem convivido com a mentira há mais de uma
década. E não se sabe se o país desmoronou quando se conscientizou da mentira
ou se a mentira o desmoronou. É fato que o hábito de mentir para conquistar
implantou-se nas quatro últimas campanhas eleitorais para a Presidência da
República e grassou durante os mandatos que se seguiram. A segunda campanha de
Dilma Rousseff tornou-se um acinte e acinte tem sido a mentira neste mandato
que agoniza.
É fato
que a “afirmação daquilo que se sabe ser falso” concorreu, entre outras mazelas
e absoluta incapacidade de gestão, para detonar a economia, a saúde e a
segurança pública, a infraestrutura e, ao fim, a credibilidade do país. Assim,
como dói constatar que o convívio com a mentira e a gradativa percepção de que
o Brasil vivia uma fantasia destruiu nos brasileiros um bem precioso: a
vontade! Em uma só palavra é possível expressar o legado perverso da mentira no
governo de Dilma Rousseff: anomia. A perda, no indivíduo, do reconhecimento de
si mesmo; perda de objetivos, não reconhecimento de normas, leis ou regras, às
vezes até mesmo perda da vontade de existir. Nesse estado de espírito em que o
presente se torna a única realidade, o indivíduo se entrega ou, em oposição,
adota uma fruição obsessiva do presente e o futuro é o nada. Em ambas as
condutas, perde-se o sentido da vida.
É tão
grave essa perda que o impeachment, a renúncia ou a cassação do mandato por
decisão do TSE, soluções postas à mesa neste momento, nenhuma delas terá real
valor para o futuro se não se impuser uma visão ética que responda aos jovens
esta pergunta: por que viver no Brasil?. É urgente devolver ao indivíduo e à
população o sentido atrofiado, perdido ou ignorado do sentido da vida.
A
produção de sentido liga-se à noção de liderança. Essa é a questão crucial do
momento. O fomento à criação de lideranças e, precedendo isso, uma tomada de
consciência de que é o novo que se busca nessa golfada de ar puro que sentimos
passar por nós neste outono. Não se quer mais saber de velhos modelos, velhos
métodos, velhas posturas, velhos personagens. São eles os responsáveis por esse
efeito trágico, a falta de significado, ao passo que só o líder é capaz de
gerar o novo, porque tem a capacidade de valorizar o que recebeu e o desejo de
elaborar a sua própria existência. É isso: o líder é aquele que deseja produzir
significado.
O
professor Ricardo Carvalho, da Fundação Dom Cabral, trata da questão no
miniensaio A obscura tensão entre o
sujeito e a liderança. Chama a atenção para a distinção entre sentido e
significado. Este tem caráter mais amplo, ao passo que sentido integra todos os
significados. “O líder, diz ele, constrói o significado com o outro e o sentido
vai sendo incorporado e internalizado na elaboração da experiência. É como a
expressão ‘saquei’ ou ‘caiu a ficha’. Um fato marcante que se vive hoje é que
se pode pinçar, na terra arrasada que nos deixa o governo Dilma, esta
constatação: “caiu a ficha”. Agora é, enfim, percebido que estamos vivendo no
deserto e decidimos não aceitar as condições do deserto.
O
momento requer também a consciência de que humanismo e república, desde a
Antiguidade romana, caminham juntos quando se trata de possibilitar ao homem
construir seu próprio destino. A esses dois conceitos se acrescente que a
liberdade, entendida como faculdade dos homens de agir em conjunto pelo bem
comum. É notavelmente atual a visão de Tocqueville, registrada no século 18: o
mérito da democracia americana, segundo ele, residia no fato de, não
descuidando do seu próprio bem-estar, serem as pessoas capazes de se preocupar
com a felicidade de seus concidadãos. “Cidadãos podem agir concertadamente na
elaboração de metas comuns”, ele escreveu. Constata-se que o autor de A democracia na América atualizou para a
modernidade o antigo princípio da virtude. O que ele chamou de “o interesse bem
compreendido” não tinha o valor da virtude dos antigos, mas era qualidade
apropriada às necessidades dos homens do nosso tempo. Não conduzia diretamente
à virtude, pela vontade, mas aproximava-se dela pelos hábitos.
É essa
visão do associativismo, como força capaz de fomentar em cidadãos a capacidade
de gerar poder em favor do bem comum, que nos inspira em nossa atuação na
ACMinas.”.
(LINDOLFO
PAOLIELLO. Jornalista, presidente da Associação Comercial e Empresarial de
Minas – ACMinas, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 10 de abril de 2016, caderno OPINIÃO, página 11).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
13 de abril de 2016, mesmo caderno, página 9, de autoria de ARISTIDES JOSÉ VIEIRA CARVALHO, médico,
mestre em medicina, coordenador da residência médica de medicina da família e
comunidade do Hospital das Clínicas (UFMG) e da residência multiprofissional da
Secretaria Municipal de Saúde e Hospital Municipal Odilon Behrens, professor do
curso de medicina da Faseh, e que merece igualmente integral transcrição:
“Promover
a saúde
Em 1986 foi realizada
na cidade de Ottawa, Canadá, a Primeira Conferência Internacional sobre a
Promoção da Saúde. As discussões desse evento se irradiaram para o mundo e
produziram bons frutos. Muitos países entenderam a mensagem e a levaram a sério:
criaram leis, estratégias, construíram políticas públicas voltadas para uma
melhor qualidade de vida da população.
A
perspectiva da promoção da saúde contempla a proatividade, o olhar positivo que
mobiliza e se empenha na construção de hábitos, ambientes e cidades saudáveis.
Em vez de focar na doença, volta-se para a conquista da saúde. Substitui a
atuação fragmentada dos profissionais por atividades multi e
interdisciplinares.
Quando
o pensamento e a condução da política e da assistência à saúde priorizam apenas
o controle e o tratamento das doenças, os investimentos se voltam para a
construção de serviços de saúde, aquisição de medicamentos e ambulâncias. Sem
dúvida, essas medidas, na dependência de cada contexto, são importantes,
fundamentais. Mas se relacionam com apenas uma das facetas da saúde.
Se,
por outro lado, o olhar se volta para a promoção da saúde, além das
intervenções assistenciais, há uma maior compreensão dos fatores determinantes
da saúde e outras iniciativas são tomadas. Em outras palavras, se queremos
promover a saúde, nosso olhar e nossa prática devem mudar. Para que as mudanças
ocorram na nossa saúde e na saúde das nossas cidades, é fundamental que
tenhamos sensibilidade, usando uma das palavras do filósofo Emmanuel Levinas quando
se referia à ética. Sim, as mudanças não acontecerão apenas com o conhecimento,
o discurso ou a informação. Passam pela sensibilidade; por deixarmo-nos tocar
pelos problemas e seus desafios e buscar de forma determinada a sua superação.
Isso tem a ver com a nossa adesão a práticas saudáveis e com investimento de
nossos governos em políticas públicas. Nesse sentido, fazendo uma analogia com
Levinas não nos basta a convicção, temos que estar verdadeiramente
sensibilizados, tocados para podermos intervir sobre os fatores e situações que
nos impedem de alcançar a saúde.
Felizmente
temos, em nosso meio, muitos exemplos positivos de iniciativas de promoção da
saúde em nível coletivo: as academias da saúde (Academia da Cidade, em Belo
Horizonte), os trabalhos educativos desenvolvidos em diversos serviços de
saúde, as diferentes atividades realizadas em escolas da rede pública e
privada, em serviços de assistência social, os trabalhos sociais desenvolvidos
pelas igrejas, associações, sociedades de profissionais de diferentes
categorias, entre outros. O que nos falta é torná-los conhecidos, divulgá-los,
integrá-los, fazê-los conversar entre si, e mais do isso, valorizá-los – o que
requer investimento em pessoal e recurso financeiro para que possam atuar e
crescer.
O
desconhecimento dessas iniciativas tem uma explicação: ainda estamos voltados
para a perspectiva biológica da saúde. Quando falamos e pensamos em saúde nos
vem com frequência a imagem dos cuidados com o corpo e a cura das doenças
orgânicas. Nossa concepção de saúde é restrita e precisa incluir, em nível
individual, a introdução de hábitos saudáveis (atividade física, alimentação
adequada, combate ao tabagismo, às drogas ilícitas, ao uso abusivo do álcool,
ao estresse, entre outros) e, em nível coletivo, políticas públicas de saúde
(saneamento, transporte, lazer, educação, habitação, assistência à saúde etc).
Na
perspectiva individual, para além dos hábitos, é fundamental ambientes/relações
saudáveis na família, no trabalho e nas relações sociais. Costumamos
negligenciar esses aspectos. E mais, valorizar fatores que estão sendo,
atualmente, resgatados – e não menos importantes – como o cultivo da
espiritualidade, que cria perspectivas novas e dá motivação ao viver.
Abril,
o mês em que se comemorou o Dia Mundial da Saúde (7/4), deve nos deixar uma
pergunta: estamos de fato promovendo a saúde? Não podemos nos esquecer que
precisamos iniciar em nós mesmos o movimento da mudança, vencendo o comodismo
que nos leva a aderir a hábitos e práticas que podem nos trazer problemas
futuros e impactar na nossa qualidade de vida. Devemos sim, de forma
determinada e proativa, fazer escolhas que tenham repercussão positiva em nossa
própria saúde, na saúde de nossas famílias e reivindicar políticas públicas que
contribuam para que nossas cidades sejam mais saudáveis.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a)
a educação
– universal e de qualidade –, desde a educação
infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em
pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas
crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –,
até a pós-graduação (especialização,
mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República
proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução
educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do
país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da
justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da
sustentabilidade...);
b)
o combate
implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e
mais devastadores inimigos que são: I – a inflação,
a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se
em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco
Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em março a ainda
estratosférica marca de 432,24% para um período de doze meses; e mais, em
fevereiro, o IPCA acumulado nos doze meses chegou a 10,36%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso
específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e
que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c)
a dívida
pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal)
–, com projeção para 2016, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da
União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,348 trilhão, a título de juros,
encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão
de R$ 1,044 trilhão), a exigir
alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das
exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das
organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
-
Estamos nos descobrindo através da Cidadania e Qualidade...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...
Nenhum comentário:
Postar um comentário