“A
ética do cotidiano e a crise
A palavra ética é
utilizada, com muita frequência, em vários espaços de discussão. Pelo seu uso
corriqueiro entre nós, passou a adquirir significados diferentes e, algumas
vezes, divergentes. Perdeu, com isso, em muitos contextos, a sua força
questionadora e a sua capacidade de reflexão sobre os comportamentos e atitudes
humanas.
Ao
contrário do que possa parecer e soar, quando falamos em ética não estamos nos
referindo a uma prática estática, acomodada. Ética, muito menos, é sinônimo de
moralismo e conservadorismo. Pelo contrário, é movimento. É inquietação sadia
que busca a vida boa, a arte de viver, conforme afirma o filósofo Fernando
Savater. A prática da ética é libertadora e geradora de vida e, por isso, se
debruça na defesa da dignidade das pessoas, da justiça social e da proteção do
planeta.
Aprendemos
em nossa tradição judaico-cristã que “quem é fiel nas pequenas coisas também o
será nas grandes”. Esta mensagem, rica em sabedoria, nos aproxima do que
pretendemos discutir quando falamos em ética do cotidiano, que é uma
perspectiva que nos remete a valores como responsabilidade, coerência,
honestidade, respeito, reconhecimento, entre outros, que devem iluminar e
nortear a nossa prática no dia a dia.
Ao
pensarmos no agir ético, estamos nos preparando – e a nossos filhos e netos –
para lidar de forma responsável e humana com questões que nos acontecem. É
nesse instante que o texto bíblico se faz presente e com ele fazemos uma
analogia, dizendo que se formos éticos nas pequenas coisas, também o seremos
nas grandes.
A
crise que assola o nosso país convida a um resgate dos valores morais e, mais
do que isso, a um questionamento ético sobre o nosso agir. Sabemos que não foi
um estalar de dedos que desencadeou a situação atual. Ela é fruto de
comportamentos aprendidos e práticas desenvolvidas anos a fio. Lamentavelmente.
Observando o pipocar dos escândalos em diversos locais – alguns inesperados –,
perguntamo-nos se teremos um país onde não se ouça mais falar de propinas e
corrupções. Mesmo admitindo que tais desvios de comportamento não desaparecerão
por completo, acreditamos que movimento desencadeado pelas mobilizações populares
e pelas apurações do Judiciário terá um efeito benéfico na construção de novas
práticas.
A
reflexão sobre a crise nos remete à busca de alternativas. A nosso ver, a ética
do e no cotidiano da vida nos parece ser o melhor caminho para superar os fatores
envolvidos na causalidade da situação atual pela qual nosso país está passando
e a prevenção necessária e eficaz dos escândalos que comprometem a nossa
tranquilidade e segurança.
A
crise brasileira atual tende a nos desestabilizar e a nos tornar descrentes com
o presente e com o futuro. A ética do cotidiano nos anima. Mostra-nos a beleza
de seguir em frente, com a cabeça erguida. Não nos isenta dos conflitos, dos
dilemas, dos insucessos, mas nos amadurece, nos torna mais humanos e
acolhedores e, por isso, torna-nos pessoas mais felizes. Traz-nos, como
desafio, o exercício diário e persistente de nos inquietarmos com aquilo que
nos parece desumano e ultrapassado. Dá-nos uma boa sacudida. E fortalece em nós
o desejo de acolher o que gera mais vida, o que supera e previne as crises e
nos faz pessoas mais autênticas e livres.
A ética do cotidiano desafia-nos a descobrir o
conteúdo ético presente nos encontros mais simples da vida familiar, do
trabalho, da escola, dos negócios, das relações sociais e políticas. Tira-nos
da mesmice. Coloca-nos em marcha e dá um colorido especial aos nossos dias.”.
(ARISTIDES
JOSÉ VIEIRA CARVALHO. Médico, mestre em medicina, especialista em medicina
de família e comunidade, especialista em clínica médica, em artigo publicado no
jornal ESTADO DE MINAS, edição de 14
de abril de 2017, caderno OPINIÃO,
página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição,
caderno e página, de autoria de DOM
WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e
que merece igualmente integral transcrição:
“Deus
amou tanto o mundo
O silêncio desta
Sexta-Feira da Paixão não é apenas uma inquietação para uma sociedade que não
costuma silenciar. Trata-se de possiblidade única para fixar o olhar em um
momento fundamental, capaz de corrigir dinâmicas equivocadas da sociedade, de
cultivar no coração humano a sensatez e a sensibilidade necessárias para
condutas solidárias. No centro desse momento principal está Cristo crucificado:
a escolha de Deus para revelar ao mundo o seu supremo amor, ensinando a cada
pessoa que o caminho é amar o próximo. Deus deu o seu Filho único por amor à
humanidade, para a salvação do mundo.
O amor
é, pois, o único parâmetro de toda medida, de toda meta, de todo o sentido a
ser dado à vida, de toda a razão para se viver. Ultrapassa o limite de normas e
leis. Oportuno é lembrar que Jesus desafia a compreensão reduzida à norma de um
mestre da lei. Instigando-o a compreender que o horizonte maior e verdadeiro é
o amor. E a paixão, morte e ressurreição de Cristo, acontecimento
insubstituível e inigualável, a sua condição de Filho de Deus – Deus e homem –,
o tornam fonte inesgotável do amor.
O
horizonte religioso e confessional ensina que Cristo crucificado, morto e
ressuscitado é a referência para que o ser humano defina seus caminhos. Perder
esse fundamento central oferecido no silêncio da Sexta-Feira Santa é um risco
perigoso, pois esse momento é a possiblidade de reencontrar rumos perdidos e de
superar dinâmicas que provocam descompassos no coração da humanidade. É
justamente o distanciamento da reverência a Cristo crucificado, a indiferença
em relação à paixão e morte de Jesus, que explicam as dificuldades da sociedade
para articular-se em novos padrões civilizatório, à altura de outros avanços e
conquistas.
Diferentemente
de reconhecer o ensinamento de Jesus, que entrega sua vida para salvar a
humanidade, o mundo insiste nas escolhas mesquinhas, nas interpretações das
leis que estão muito aquém do alcance do amor. Com entendimentos estreitos, não
são conseguidas as respostas urgentes esperadas. A quebra do silêncio
meditativo na Sexta-Feira Santa, que qualifica o coração a partir do
misericordioso gesto de Jesus Cristo, Deus e Homem, comprova o preço alto que
se paga numa sociedade em que outras pessoas – e não Jesus – são compreendidas
como parâmetro para juízos.
A
pretensão humana de ser em si o parâmetro ético de decisões e escolhas, com
subjetivismos destruidores, é um equívoco. Há uma referência maior que pode
oferecer fundamentos adequados para normatizações e escolhas acertadas. Essa
referência é o amor, que tem como fonte Cristo crucificado. Na oferta que faz
de si, Jesus manifesta a sua autoridade, alicerce que sustenta a vida humana no
amor de Deus. Reconhecer que Deus amou tanto o mundo a ponto de oferecer o seu
Filho único para a salvação da humanidade é necessidade urgente para evitar
situações que são terríveis: os envolvidos em corrupção, os terroristas que
atentam contra a vida, os juízes e os representantes do povo que também o a
ameaçam quando consideram legalizar o aborto, cidadãos que não se comprometem
com as práticas que objetivam a ética, o bem, a paz e a justiça.
O
silêncio da Sexta-Feira Santa, a coragem de fixar o olhar n’Ele, o crucificado,
fecunde em cada coração uma instigante interpretação para se orientar a partir
do amor, do amor em Cristo Jesus revelado. Desse modo, ecoe nos corações a
lógica inigualável e convincente de Deus, que amou tanto o mundo e por isso deu
o seu Filho único para que todo aquele que n’Ele crer não pereça, mas tenha a
vida eterna.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a excelência educacional – pleno desenvolvimento
da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade,
em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da
modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da
participação, da sustentabilidade...);
b) o combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em fevereiro/2017 a ainda estratosférica
marca de 481,46% nos últimos doze meses,
e a taxa de juros do cheque especial registrou históricos 326,96%; e já o IPCA
em março, no acumulado dos últimos doze meses, chegou a 4,57%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa
promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a
lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato,
Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso
específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e
que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão sendo
apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já
se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c) a dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para
2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável
desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão,
a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com
esta rubrica, previsão de R$ 946,4
bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);
Isto
posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos
a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela excelência
educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que
possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e
potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além
de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do
século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da
informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da
sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da
paz, da solidariedade, da igualdade
– e com equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
- 55
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...
-
Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas...
- Por
uma Nova Política Brasileira...
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