“Pátria
educadora ou educação sem pátria
Pelo título que dei a
este artigo, talvez eu instigue você, leitor, a se lembrar de alguma situação
bem recente da história de nosso país. História que não condiz com o real
quadro e necessidades da educação no contexto contemporâneo. Há poucos dias
comemoramos o Dia do Professor, categoria que não tem muito o que comemorar em
função do tratamento que lhe é dispensado, não só dentro da sala de aula, mas
também fora dela.
O
dizer “sou professor, sou professora”, antes orgulhoso, hoje tem significado
bem diferente. É representado pelo amor da maioria das pessoas que compõem esta
categoria, com a sua doação e o desejo de ajudar as pessoas a transformarem-se
em vista de mudanças significativas do mundo em que vivem, e não pelo que são
em função do que o trabalho pode oferecer materialmente.
A
situação desse profissional da educação representa vergonha para o país. A mesma
educação que continua sendo apontada como o único caminho para o
desenvolvimento de qualquer sociedade.
Na
história da educação, vamos nos deparar com diferentes formas de conduzir a
questão da aprendizagem. Nas sociedades antigas, os sábios tinham a missão de
ensinar o que lhes era conferido pelos deuses. A sabedoria era um presente, uma
dádiva do Divino. Os alunos eram discípulos ou seguidores. Esta interatividade
entre educador e educando é tão antiga quanto a existência humana.
Com o
desenrolar dos anos, a sala de aula torna-se um espaço em que as relações são
extremamente desiguais: de um lado, o professor representando a ciência; do
outro, os alunos que escutam aquilo que não gostariam de escutar – em resumo, o
que aprendem é uma imposição de um desejo que vem de fora para dentro.
E com
toda a evolução tecnológica, o papel do professor continua sendo de extrema
importância. De detentor, ele assume a posição de facilitador do conhecimento.
Não se fala mais ao aluno “você tem que aprender”, mas, sim, “você pode e tem
capacidade de aprender”. Este é o novo caminho. Ele se torna integrante nesse
processo de construção do conhecimento na nova vertente da educação
contemporânea.
Os
modelos tradicionais já não traduzem mais as expectativas reais desta sociedade
do conhecimento e, por isso, nunca em nossa história humana fomos tão
desafiados. Os desejos que movem as pessoa são outros. A liberdade de poder
escolher novos caminhos para chegar ao saber é o que caracteriza este novo
formato.
O
grande problema da educação no Brasil foi criado pelo próprio desinteresse
político em adotar políticas educacionais populares que gerassem e garantissem
crescimento do conhecimento. Escola para poucos. Esse era o lema e o princípio
que davam à educação num extenso país como o Brasil, que clama por
transformação.
Novos
desafios à vista. E esses desafios ainda são maiores quanto à reconstrução
necessária do modelo que não atende mais a essa demanda e não suporta mais este
aprisionamento mental. Libertar a mente desta nova geração, esse é o
compromisso e maior desafio do professor e da escola na era da informática. Um
movimento dinâmico que deve alimentar ainda uma esperança coletiva de que o
Brasil venha a se tornar realmente uma pátria educadora.
E não
se esqueça de um outro aspecto importante nesta guinada: a aproximação maior
entre os dois segmentos, o que possibilita interação mais proveitosa neste novo
ambiente escolar. O professor que ensina e aprende, o aluno que aprende e
ensina, passando assim a existir cumplicidade e uma responsabilidade
compartilhadas no processo ensino/aprendizagem.
Só
assim podemos oferecer uma pátria à nossa educação, em que docentes como Heley
de Abreu Silva Batista ofertam sua própria vida para defender aqueles que dão
sentido ao seu ser docente; seus alunos. Em contrapartida, enfrentam o desafio
de pertencer a um país chamado Brasil.”.
(EUDÁSIO
CAVALCANTE. Professor, graduado em filosofia, pós-graduado em história,
psicopedagogia e gestão educacional, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 12 de
novembro de 2017, caderno OPINIÃO,
página 7).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
10 de novembro de 2017, mesmo caderno e página, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO,
arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral
transcrição:
“Resgatar
a civilidade
No passado era muito
comum ouvir elogios destinados às pessoas reconhecidamente civilizadas,
qualidade que define homens e mulheres comprometidos com a condução ilibada e
honesta, dedicados ao exercício da cidadania de forma admirável. Importante
sublinhar: ser civilizado não é apenas dominar o conjunto de formalidades e
etiquetas exigidas em certos ambientes. Trata-se de orientar a própria condução
a partir de parâmetros humanitários cultivados na consciência humana. E é
exatamente esse sentido de civilidade que está faltando na sociedade
contemporânea. Assim, a cidadania fica comprometida, pois há carência de um
sólido embasamento antropológico para o exercício da civilidade. Falta clareza
a respeito da origem, destino e missão de todo ser humano, da responsabilidade
de cada um na construção de uma sociedade justa e fraterna.
Os
acelerados avanços tecnológicos não são acompanhados pelo cultivo da
civilidade. As muitas oportunidades para intercâmbios, partilha de informações
e a beleza de poder se comunicar com pessoas diferentes, em todo o mundo,
coabitam com equivocados modos de agir do ser humano, que se mostra
descomprometido com a tarefa de compor e integrar equipes, de formar laços para
trilhar um itinerário em busca do bem comum.
A
perda de civilidade alimenta a delinquência que toma conta de muitas dinâmicas
da sociedade contemporânea, manifestando-se de diferentes maneiras e
intensidades. Contempla a loucura dos atiradores que avançam sobre multidões,
os atentados terroristas, a incontrolável violência dos contextos urbanos e,
também, os diferentes “assaltos” ao erário, praticados por quem busca a
satisfação doentia de aumentar o patrimônio com aquilo que pertence ao povo. Um
tipo de conduta que torna ainda mais distante o sonho de alcançar a civilização
do amor. Aspiração que, para se tornar realidade, depende da eficácia de
processos educativos fundamentados em princípios antropológicos capazes de
possibilitar o reconhecimento do verdadeiro sentido da vida no contexto
contemporâneo.
Se a
vida perde sentido, a liberdade é exercida para alimentar delinquências.
Prevalece o “vale tudo”, com as conveniências egoístas que desconsideram a
existência das outras pessoas, particularmente dos mais pobres, indefesos e
inocentes. Nesse cenário, perde-se a noção de pátria e de pertencimento. Muitos
passam a considerar retrógrados os princípios e valores que sustentam a
civilidade. Acham-se no direito de passar por cima de tudo para alcançar,
mesquinhamente, certos interesses. Uma postura que gera incompetência para a
vida em coletividade, perdendo-se muitas oportunidades para a qualificação da
cidadania. A própria liberdade torna-se ameaçada, pois no “vale tudo”, a
premissa do respeito mútuo é desconsiderada. Perde-se a segurança de ir e vir,
a capacidade para se relacionar harmonicamente com o semelhante e, particularmente,
o compromisso de dedicar-se à solidariedade.
Esse
fenômeno preocupante da perda do sentido de civilidade gera ainda a
incapacidade para ouvir críticas, ou mesmo elaborá-las com o objetivo de
promover mudanças que signifiquem aprimoramento. Aos poucos, convive-se com a
superficialidade de uma sociedade que ocupa território de riquezas
extraordinárias, mas não sabe o que fazer para promover o bem de todos. A
incivilidade na sociedade brasileira atrasa novos passos, a saída das crises.
Mata alegrias e esperanças.
Por
isso, é preciso recuperar a civilidade aprendida nos lares e cultivada nas
muitas escolhas da vida. Sem civilidade não há valorização do amor como norma
suprema na vida social, nos âmbitos políticos, econômico e cultural e nem os
gestos que levam em consideração o respeito às diferenças, às pessoas, aos
momentos e aos ritos. O esquecimento da civilidade permite as discriminações e
a confirmação de elitismos que envenenam a sociedade. É preciso resgatar a
civilidade, seu conjunto de normas e práticas, que contribui para modular
consciências, o caminho para qualificar as relações humanas, viver como
autodoação em benefício da sociedade, autênticos servidores e cidadãos
comprometidos. É preciso trabalhar muito, dos pequenos gestos à nobreza de
grandes atos, para se resgatar a civilidade.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da
democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b) o combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em setembro/2017 a ainda estratosférica
marca de 332,38% nos últimos doze meses,
e a taxa de juros do cheque especial registrou históricos 321,29%; e já o IPCA,
também no acumulado dos últimos doze meses, em outubro, chegou a 2,70%); II – a
corrupção, há séculos, na mais
perversa promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária
ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da
Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor,
de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é
cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c) a dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para
2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável
desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão,
a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com
esta rubrica, previsão de R$ 946,4
bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade,
competitividade); entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela excelência
educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de
infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à
luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização
das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
- 55
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...
-
Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas ...
- Por
uma Nova Política Brasileira ...
- Pela
excelência na Gestão Pública ...
Afinal, o Brasil é uma águia pequena que já ganhou
asas e, para voar, precisa tão somente de visão olímpica e de coragem! ...
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