“Uma
solução para o ENADE
ALGUÉM
ME PERGUNTOU se o Provão fora ideia minha. Gostaria
que tivesse sido, mas essa grande invenção foi do ministro Paulo Renato de
Souza. É uma iniciativa que faz do Brasil o único país em que se mede quanto do
currículo foi dominado pelo formando. Infelizmente, ao negociarem a lei no
Congresso, os deputados retiraram das notas obtidas pelos alunos – proibiram
que constasse no diploma.
Esse
anonimato é o calcanhar de aquiles da prova, hoje rebatizada de Enade. O curso
de jornalismo da UnB ganhou a nota máxima no exame. Na aplicação seguinte,
desabou para a mínima! Por quê? Ao solicitar recursos à reitoria, o curso teve
seu pedido negado, pois já era nota “A”. É assim? A prova seguinte foi entregue
em branco. Um curso de economia, em São Paulo, estava entre os cinco melhores.
Na aplicação seguinte, caiu para centésimo e tanto. Boicote?
A
confiabilidade do Enade é comprometida pelas flutuações nos humores dos alunos.
O anonimato – que Paulo Renato precisou engolir para ver o teste aprovado –
introduz ruídos e distorções. De fato, pelo menos no curto prazo, os alunos não
são prejudicados por notas ruins da sua escola. O curso é fraco ou alguns
alunos quiseram acertar contas? É claro, toda nota ruim é atribuída a um
boicote!
Mas há
uma solução para essa moléstia. E tem custo zero. A fórmula mágica é da IBM
americana e data de mais de vinte anos atrás. Liderando um consórcio de grandes
empresas, ela combinou que passariam a exigir dos candidatos a emprego a sua
pontuação no SAT (uma prova parecida com o Enem). Tal como no Enem e no Enade,
essas notas são confidenciais. Não obstante, o candidato pode, voluntariamente,
mostrá-la à empresa. E esta tem o direito de decidir que não contrata sem
vê-las. Lembremo-nos, um laudo médico é confidencial, mas pode ser exigido pela
empresa para contratar.
Se as
grandes empresas, antes de contratar, passam a exigir as notas do Enem ou do
Enade, evapora-se a impunidade. E nem é necessário que elas venham a considerar
o teste, basta que possam considerá-lo, se assim o decidirem. Portanto, nota
ruim reduz a empregabilidade. Responder em branco ou com displicência é um tiro
no pé, pois barra o acesso às empresas mais cobiçadas. Outra consequência é
que, al levarem as notas em conta, as empresas estão dizendo que valorizam
quanto o candidato aprendeu, e não apenas o diploma. Isso pode frear a demanda
por cursos que exigem pouco do aluno.
Curiosamente,
essa prática pode democratizar o acesso. Hoje, as empresas valorizam a
reputação do curso. Agem na presunção de que escolas famosas produzem melhores
alunos. Na média, até que é verdade. Mas, se conhecerem as notas do Enade,
poderão contratar alunos brilhantes que cursaram instituições menos brilhantes.
Assim
sendo, aí está a minha conclamação: “Empresas grandes e prestigiosas, uni-vos e
passai a exigir as notas do Enem e do Enade!”.”.
(CLAUDIO DE
MOURA CASTRO, em artigo publicado na revista VEJA, edição 2553 – ano 50 – nº 43, de 25 de outubro de 2017,
página 93).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Excelência Educacional vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 1º de
novembro de 2017, caderno OPINIÃO,
página 7, de autoria de GUILHERME
MARBACK, head da unidade de cultura organizacional da Crescimentum, coach
executivo e especialista em desenvolvimento de liderança, e que merece
igualmente integral transcrição:
“O
povo e o seu governo
As pessoas não se dão
conta da relevância do momento atual. Estamos diante de uma oportunidade de
evolução da nossa sociedade e precisamos aproveitá-la para ampliar a
consciência do cidadão como motor da evolução do país.
Costumo colocar o
cidadão no topo das condições para a evolução da sociedade, mesmo sob críticas
dos que apontam os governantes no centro das responsabilidades. Não proponho
aqui isentá-los nem eximi-los. Apenas acredito que as verdadeiras mudanças
ocorrem a partir do cidadão. É claro que precisamos ampliar a educação,
melhorar a saúde, a infraestrutura. Mas o comportamento da sociedade e suas
consequências têm origem em uma camada mais profunda, nos nossos valores. Em
última instância, os governantes são reflexo do que somos.
Quando pensamos em transformar a cultura de um país, a coisa
é bem mais complexa do que as transformações que ocorrem nas organizações, a
partir da transformação dos seus líderes. O sistema humano de um país
desenvolveu sua cultura após gerações, como consequência de uma série de fatos
históricos, que determinaram modelos daquilo que se estabelece como típico,
normal e característico do caráter ou gênio de um povo. Isso até é passível de
variadas análises e interpretações antropológicas, etnológicas, filosóficas,
sociológicas, no sentido de caracterizar o perfil coletivo, mas seria
impossível localizar nas origens qualquer qualificação das relações de causa e
efeito da forma como fazemos nas organizações. O desenvolvimento do caráter de
um povo ocorre a partir de modelos e padrões estéticos, morais e éticos,
consequentes da experiência histórica da coletividade e, em certa medida, até é
indistintamente desenvolvido. Por outro lado, acredito que a transformação da
cultura de uma sociedade, planejada ou não, pode acontecer a partir da tomada
de consciência do coletivo, mas necessariamente ocorre como consequência de
fatos históricos que patrocinam a reinterpretação de significados
coletivamente. Isso acontece, por exemplo, em situações de guerra. Nenhum país
sai de uma guerra da mesma forma que entrou, pois é um fato que altera a
cultura como se fosse uma alteração genética.
No nosso caso, embora
não estejamos em guerra, enfrentamos uma profunda crise política e econômica.
Na raiz dessa crise emergem assustadores padrões morais e éticos. A exposição
de práticas espúrias no meio político e empresarial é de tal monta que supera
as expectativas de todos, mas nos permite olhar e repensar o que deve ser
aceito ou não. Estamos diante de uma fratura exposta, descortinando uma lógica
que envergonha todos, até alguns dos que se envolveram e chegaram a se
vangloriar da “esperteza”. Os acontecimentos ativaram forças que produzem a
esperança de tempos melhores: Operação Lava-Jato, o impedimento da presidente
da República, Judiciário atuante como nunca, delações premiadas, políticos de
alto escalão presos, empresários do topo amargando anos de prisão, coisas
inimagináveis tempos atrás.
Mas será que tudo isso
trará solução duradoura? Não, a grande oportunidade que se apresenta é a
reflexão e a tomada de consciência. Precisamos aproveitar para mudar a nossa
cultura, aquela do “levar vantagem em tudo”, de tolerar o “rouba mas faz”, do
“jeitinho brasileiro”, de aceitar a corrupção nas mínimas coisas. Precisamos
aproveitar para encontrar novos significados para o que se deve ou não fazer e
assumir um papel de intolerância com o que está errado!
Assim como em uma
empresa, mudar a cultura de um país passa por mudar os comportamentos dos
líderes. A grande questão é que o brasileiro se posiciona criticamente diante
do Brasil e do brasileiro, olhando-se na terceira pessoa, tipo “eu sou honesto,
mas o brasileiro é corrupto...” Pesquisas recentes do Barrett Values Centre
constatam que os valores do brasileiro localizam e apontam tanto os problemas
quanto as soluções associadas na terceira pessoa... “Eles precisam mudar”. São
os governantes, os líderes... Sempre há os vilões e heróis! Esses são os
culpados, aqueles salvam!
Mas, pensando em uma
sociedade, quem são aqueles que efetivamente podem mudar a cultura e o rumo das
coisas? Os verdadeiros líderes, aqueles que forjam a cultura de uma nação são
os cidadãos comuns, TODOS, os pais, filhos, professores, alunos... Qualquer um
que tenha capacidade de influenciar o outro a se comportar do jeito correto,
independentemente da sua classe ou posição sociocultural, mas que se legitima a
partir dos seus comportamentos e exemplo.
A partir do exercício
da cidadania em cada um, conseguiremos mudar a nossa realidade cultural, onde
não se tolere o que não for o certo! Só assim mudaremos para uma sociedade mais
solidária, justa e cidadã.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno desenvolvimento
da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 125 anos
depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de
uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças
vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da
ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da democracia, da participação,
da solidariedade, da sustentabilidade...);
b) o combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em agosto/2017 a ainda estratosférica
marca de 397,44% nos últimos doze meses,
e a taxa de juros do cheque especial registrou históricos 317,31%; e já o IPCA,
também no acumulado dos últimos doze meses, em setembro, chegou a 2,54%); II –
a corrupção, há séculos, na mais
perversa promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária ordem
(a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da
Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor,
de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é
cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c) a dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para
2017, apenas segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável
desembolso de cerca de R$ 1,722 trilhão,
a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com
esta rubrica, previsão de R$ 946,4
bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente e eficaz auditoria...
(ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).
Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta
de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já
combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de
poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições,
negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à
pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas
e sempre crescentes necessidades de ampliação
e modernização de setores como: a gestão
pública; a infraestrutura (rodovias,
ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada,
esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística
reversa); meio ambiente; habitação;
mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda;
agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência
social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança
pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e
desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer;
turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e
operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade
– “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade);
entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela excelência
educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de
infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à
luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização
das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
- 55
anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016) ...
-
Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas ...
- Por
uma Nova Política Brasileira ...
- Pela excelência na Gestão Pública ...
Afinal, o Brasil é uma águia pequena que já ganhou
asas e, para voar, precisa tão somente de visão olímpica e de coragem! ...
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