“Homenagem
a um antigo pós-moderno
‘O que se deve exigir
do escritor, antes de tudo, é certo sentimento íntimo que o torne homem do seu
tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no
espaço’. A fórmula lapidar de Machado de Assis é aplicável com a máxima justiça
a um novo mestre cuja obra se destaca no horizonte da nossa literatura:
Jacyntho Lins Brandão. Helenista reconhecido internacionalmente, a relevância
da sua obra vem receber o merecido destaque com a eleição à Academia Mineira de
Letras, em cerimônia que acontece hoje, às 20h, onde assume a cadeira 25 (antes
ocupada pelo ex-governador de Minas Gerais Francelino Pereira dos Santos).
Professor
titular da Faculdade de Letras (Fale) da UFMG desde 1977, onde leciona língua e
literatura grega, além de pesquisador, tradutor, crítico literário, romancista
e dramaturgo, Jacyntho possui uma carreira que alia a prática docente à
atividade literária, sempre atento à necessidade de assumir responsabilidades
pessoais: diretor da Fale por duas vezes (1990-1994 e 2006-2010) e vice-reitor
da UFMG (1994-1998), atuou ainda como professor visitante em várias
instituições estrangeiras.
A
maior parte dos seus livros transita pelas áreas de teoria, crítica e história
da literatura, ensino de grego antigo, filosofia e tradução. Defensor da tese
de que as origens da ficção estariam na própria Antiguidade, Jacyntho escreveu
obras que se tornaram referências incontornáveis, como Antiga Musa: arqueologia da ficção (2 ed., Relicário, 2015) e A Invenção do romance (Ed. UnB, 2005).
Além disso, trabalha, incansavelmente, pela divulgação entre nós da obra de
Luciano de Samósata, um importante escritor da Antiguidade tardia, cuja
influência se estende sobre nomes tão relevantes quanto os de Rabelais,
Voltaire, Dostoiévski e até Machado de Assis. O seu principal estudo sobre este
autor “pós-antigo” é ainda A poética do
hipocentauro (Ed. UFMG, 2001), embora títulos mais recentes complementem a
sua bibliografia sobre o assunto: Como se
deve escrever a história (Tessitura, 2009) e Biografia literária (Ed. UFMG, 2015) oferecem traduções de
importantes textos de Luciano, constituindo uma fonte inestimável para quem se
interessa por um diálogo que – segundo Mikhail Bakhtin – atravessa séculos sob
o nome de “tradição luciânica”.
Como
não poderia deixar de ser, o próprio Jacyntho faz parte de tal tradição, posto
que as suas obras ficcionais abusam de elementos luciânicos e revelam que o
riso é coisa para ser levada muito a sério. Seja no romance O fosso de Babel (Nova Fronteira, 1997),
seja na peça Que venha a Senhora Dona (Tessitura,
2007), um complexo jogo intertextual se vale de inúmeras estratégias narrativas
para criar uma trama em que o humor coloca em xeque as certezas do leitor e o
leva a uma profunda reflexão crítica.
Em
plena era digital, Jacyntho começa a se dedicar também ao estudo de
civilizações antigas do Médio Oriente e tem decifrado os segredos inscritos em
tabuinhas de argila de povos tão antigos quanto os acádios, os assírios e os
babilônicos. Um primeiro fruto dessas pesquisas é a sua tradução comentada da
epopeia de Gilgámesh (composta por Sin-léqi-unnínni): primeira versão em língua
portuguesa traduzida diretamente do acádio, o livro – indicado ao Prêmio Jabuti
na categoria tradução em 2018 – saiu com o título Ele que o abismo viu (Ed. Autêntica, 2017).
Se a
sua eleição à Academia Mineira de Letras, hoje, vem coincidir com a
aposentadoria na carreira docente – em momento de profundas dúvidas quanto ao
futuro da educação e dos educadores no Brasil –, permanece a certeza de que,
tratando de “assuntos remotos no tempo e no espaço”, Jacyntho se mostrará
sempre “homem do seu tempo e do seu país”, como Luciano e o próprio Machado já
haviam se mostrado antes dele.”.
(RAFAEL
GUIMARÃES SILVA. Doutorando em estudos clássicos, UFMG, em artigo publicado
no jornal ESTADO DE MINAS, edição de
11 de dezembro de 2018, caderno OPINIÃO,
página 7)
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno
e página, de autoria de DANIEL MEDEIROS,
mestre e doutor em educação histórica pela UFPR, professor do Curso Positivo, e
que merece igualmente integral transcrição:
“O
trabalho no futuro
Vivemos na era das
incertezas. Essa expressão tornou-se comum não porque as incertezas tenham
passado a existir só agora, mas porque se multiplicaram exponencialmente nas
últimas décadas. Como sabemos, nunca tivemos certeza de nada, exceto da morte.
Agora, nem isso. Já se fala em escaneamento da consciência, uma espécie de pen
drive que seria conectado a um androide e permitiria que vivêssemos e
vivêssemos long time. Ficção científica? Não. A ficção tornou-se o nome do que
ainda não foi realizado e não mais do fantasioso e do mirabolante. E todas as
mudanças mudarão as pessoas e as coisas em volta delas. Como entender e
participar desse mundo?
É fato
que há 30 ou 40 anos, quando pensávamos no futuro, apareciam na tela de nossa
imaginação não mais do que umas seis ou sete possibilidades de trabalho:
médico, engenheiro, advogado, militar, funcionário do Banco do Brasil ou de
algum cartório, motorista de ônibus ou ajudar o pai na loja (lembrando que
astronauta e arqueólogo eram profissões desejadas em um tempo ainda mais
remoto). Agora, o problema é que, diante da mesma pergunta, são dezenas as
profissões possíveis, muitas das quais ainda nem têm nome, outras conhecemos de
ouvir falar, mas não sabemos exatamente quais habilidades seriam necessárias
para exercê-las: energias renováveis, inteligência artificial, manipulação
genética, robótica, internet das coisas etc. e tal. Jovens miram perplexos o
horizonte dos próximos anos e se perguntam: vai ter lugar para mim?
Tudo
vai sendo virado de cabeça para baixo e as tradições que ancoraram tantas
práticas sociais, conceitos e valores do mundo do trabalho, rapidamente vão se
tornando obsoletas. Isso gera um desconforto, quando não um sentimento de
revolta. Mas a saída continua a ser uma só: buscar entender as mudanças em vez
de maldizê-las. Quanto maior a compreensão do que está acontecendo, maiores as
chances de assumir um protagonismo nesses novos tempos. E então, o que está
acontecendo? Como um jovem de hoje pode ter chance de uma boa colocação
profissional no mundo de amanhã?
Em
primeiro lugar, compreendendo que precisa aprender o tempo todo e precisa se
comunicar com o mundo. Ou seja: a ideia de “estar formado” em algo, de “ter
feito seus estudos” em tal lugar, de “ter terminado a escola” em tal ano não
tem mais nenhum futuro. Viver é aprender permanentemente e da maneira mais
heurística possível. Heurística? É, trata-se do aprendizado constante e do uso
intensivo da imaginação, da criatividade, do pensamento disruptivo. Disruptivo?
Sim, refere-se ao pensamento que rompe com o padrão da normalidade, que
rastreia novos paradigmas, que está sempre atento para outras maneiras de
associação, composição, reorganização dos fatos e dos saberes.
Além
de aprender o tempo todo, é preciso também poder se comunicar com todo mundo.
Daí a importância de dominar as linguagens: línguas estrangeiras, linguagens da
programação, mas também a linguagem social do network, a linguagem emocional
das negociações, a linguagem afetiva das parcerias. Em resumo: conectividade e
capacidade de tradução, esses são os dois pilares do trabalho no futuro.
A
escola, em algum momento, vai precisar contribuir para essa reconstituição de
saberes, rompendo com a ideia de que há coisas que precisam ser aprendidas
porque são coisas importantes. Não é assim que funciona. Tudo o precisa ser
aprendido não é importante por si, mas porque tem um papel no processo de
transformação constante do mundo. A linguagem matemática é fundamental, assim a
compreensão histórica ou o conhecimento dos seres vivos, mas apenas à medida
que estão inseridos no contexto da descoberta, que é o lugar da
problematização; da justificação, que é onde se analisam os dados e
apresentam-se as conclusões; e da aplicação, quando esses conhecimentos agem
como ferramentas de transformação da realidade.
Assim,
pensar uma escola a partir de cases, de questionamentos, de problematizações,
associando diversas disciplinas com diferentes mentes de diversas idades,
estimulando a formulação de hipóteses, sendo rigoroso na apresentação e
verificação dos dados, premiando o esforço, a criatividade e o espírito de
equipe são os passos para colocar a escola no lugar de relevância para as
exigências desse tempo, que é o de olhar o horizonte e não enxergar o que há,
mas imaginar o que haverá lá. Um tempo cujo futuro será uma invenção do
presente.”.
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e
oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança
de nossa história – que é de ética, de
moral, de princípios, de valores –, para
a imperiosa e urgente necessidade de profundas
mudanças em nossas estruturas educacionais,
governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas,
financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no
concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e
sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras
cruciais como:
a) a excelência educacional – pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas, gerando o pleno
desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional
(enfim, 129 anos depois, a República proclama o que esperamos seja
verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira
incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria;
a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da
democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b) o combate implacável, sem eufemismos e
sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são:
I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa
de juros do cartão de crédito atingiu em outubro a ainda estratosférica marca
de 275,68% nos últimos doze meses, e a
taxa de juros do cheque especial se manteve em históricos 300,37%; e já o IPCA,
em novembro, também no acumulado dos últimos doze meses, chegou a 4,05%); II –
a corrupção, há séculos, na mais
perversa promiscuidade – “dinheiro público versus interesses privados”
–, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando
incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária
ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da
Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor,
de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é
cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional; eis, portanto, que todos os valores que vão
sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 518
anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios,
malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a
corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo,
segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a
“... Desconfiança das empresas e das famílias é
grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase
nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses
recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à
ineficiência do Estado e do setor privado, à falhas de logística e de
infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de
planejamento...”;
c) a dívida pública brasileira - (interna e
externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para
2018, apenas segundo o Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos
Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e
insuportável desembolso de cerca de R$
1,847 trilhão (52,4%), a título de juros, encargos, amortização e
refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,106 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega,
do direito e da justiça:
- pagar,
sim, até o último centavo;
-
rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
-
realizar uma IMEDIATA, abrangente,
qualificada, independente, competente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda
a propósito, no artigo Melancolia,
Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente
degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das
contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).
Destarte,
torna-se absolutamente inútil lamentarmos
a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –,
transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e
melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre
outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira
alguma, abatem o nosso ânimo e nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela excelência
educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e
desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas
riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos
os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos
bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de
infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à
luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização
das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas
tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a
nossa esperança... e perseverança!
“VI,
OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
57 anos
de testemunho de um servidor público (1961 – 2018)
-
Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
-
ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas ...
- Por
uma Nova Política Brasileira ...
- Pela
excelência na Gestão Pública ...
- Pelo
fortalecimento da cultura da sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares
do desenvolvimento integral: econômico; social, com promoção humana, e,
ambiental, com proteção e preservação dos nossos recursos naturais ...
- A
alegria da vocação ...
Afinal, o Brasil é uma águia pequena que já ganhou
asas e, para voar, precisa tão somente de visão olímpica e de coragem! ...
E
P Í L O G O
CLAMOR
E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO
“Oh! Deus, Criador e Legislador, fonte de infinita
misericórdia!
Senhor, que não fique, e não está ficando, pedra
sobre pedra
Dos impérios edificados com os ganhos espúrios,
injustos e
Frutos da corrupção, do saque, da rapina e da
dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim! Eternamente!”.
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