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segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, A FORÇA DAS LETRAS NA PROMOÇÃO HUMANA E AS LUZES DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL NA SUSTENTABILIDADE


“Homenagem a um antigo pós-moderno
        ‘O que se deve exigir do escritor, antes de tudo, é certo sentimento íntimo que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço’. A fórmula lapidar de Machado de Assis é aplicável com a máxima justiça a um novo mestre cuja obra se destaca no horizonte da nossa literatura: Jacyntho Lins Brandão. Helenista reconhecido internacionalmente, a relevância da sua obra vem receber o merecido destaque com a eleição à Academia Mineira de Letras, em cerimônia que acontece hoje, às 20h, onde assume a cadeira 25 (antes ocupada pelo ex-governador de Minas Gerais Francelino Pereira dos Santos).
         Professor titular da Faculdade de Letras (Fale) da UFMG desde 1977, onde leciona língua e literatura grega, além de pesquisador, tradutor, crítico literário, romancista e dramaturgo, Jacyntho possui uma carreira que alia a prática docente à atividade literária, sempre atento à necessidade de assumir responsabilidades pessoais: diretor da Fale por duas vezes (1990-1994 e 2006-2010) e vice-reitor da UFMG (1994-1998), atuou ainda como professor visitante em várias instituições estrangeiras.
         A maior parte dos seus livros transita pelas áreas de teoria, crítica e história da literatura, ensino de grego antigo, filosofia e tradução. Defensor da tese de que as origens da ficção estariam na própria Antiguidade, Jacyntho escreveu obras que se tornaram referências incontornáveis, como Antiga Musa: arqueologia da ficção (2 ed., Relicário, 2015) e A Invenção do romance (Ed. UnB, 2005). Além disso, trabalha, incansavelmente, pela divulgação entre nós da obra de Luciano de Samósata, um importante escritor da Antiguidade tardia, cuja influência se estende sobre nomes tão relevantes quanto os de Rabelais, Voltaire, Dostoiévski e até Machado de Assis. O seu principal estudo sobre este autor “pós-antigo” é ainda A poética do hipocentauro (Ed. UFMG, 2001), embora títulos mais recentes complementem a sua bibliografia sobre o assunto: Como se deve escrever a história (Tessitura, 2009) e Biografia literária (Ed. UFMG, 2015) oferecem traduções de importantes textos de Luciano, constituindo uma fonte inestimável para quem se interessa por um diálogo que – segundo Mikhail Bakhtin – atravessa séculos sob o nome de “tradição luciânica”.
         Como não poderia deixar de ser, o próprio Jacyntho faz parte de tal tradição, posto que as suas obras ficcionais abusam de elementos luciânicos e revelam que o riso é coisa para ser levada muito a sério. Seja no romance O fosso de Babel (Nova Fronteira, 1997), seja na peça Que venha a Senhora Dona (Tessitura, 2007), um complexo jogo intertextual se vale de inúmeras estratégias narrativas para criar uma trama em que o humor coloca em xeque as certezas do leitor e o leva a uma profunda reflexão crítica.
         Em plena era digital, Jacyntho começa a se dedicar também ao estudo de civilizações antigas do Médio Oriente e tem decifrado os segredos inscritos em tabuinhas de argila de povos tão antigos quanto os acádios, os assírios e os babilônicos. Um primeiro fruto dessas pesquisas é a sua tradução comentada da epopeia de Gilgámesh (composta por Sin-léqi-unnínni): primeira versão em língua portuguesa traduzida diretamente do acádio, o livro – indicado ao Prêmio Jabuti na categoria tradução em 2018 – saiu com o título Ele que o abismo viu (Ed. Autêntica, 2017).
         Se a sua eleição à Academia Mineira de Letras, hoje, vem coincidir com a aposentadoria na carreira docente – em momento de profundas dúvidas quanto ao futuro da educação e dos educadores no Brasil –, permanece a certeza de que, tratando de “assuntos remotos no tempo e no espaço”, Jacyntho se mostrará sempre “homem do seu tempo e do seu país”, como Luciano e o próprio Machado já haviam se mostrado antes dele.”.

(RAFAEL GUIMARÃES SILVA. Doutorando em estudos clássicos, UFMG, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 11 de dezembro de 2018, caderno OPINIÃO, página 7)

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de DANIEL MEDEIROS, mestre e doutor em educação histórica pela UFPR, professor do Curso Positivo, e que merece igualmente integral transcrição:

“O trabalho no futuro
        Vivemos na era das incertezas. Essa expressão tornou-se comum não porque as incertezas tenham passado a existir só agora, mas porque se multiplicaram exponencialmente nas últimas décadas. Como sabemos, nunca tivemos certeza de nada, exceto da morte. Agora, nem isso. Já se fala em escaneamento da consciência, uma espécie de pen drive que seria conectado a um androide e permitiria que vivêssemos e vivêssemos long time. Ficção científica? Não. A ficção tornou-se o nome do que ainda não foi realizado e não mais do fantasioso e do mirabolante. E todas as mudanças mudarão as pessoas e as coisas em volta delas. Como entender e participar desse mundo?
         É fato que há 30 ou 40 anos, quando pensávamos no futuro, apareciam na tela de nossa imaginação não mais do que umas seis ou sete possibilidades de trabalho: médico, engenheiro, advogado, militar, funcionário do Banco do Brasil ou de algum cartório, motorista de ônibus ou ajudar o pai na loja (lembrando que astronauta e arqueólogo eram profissões desejadas em um tempo ainda mais remoto). Agora, o problema é que, diante da mesma pergunta, são dezenas as profissões possíveis, muitas das quais ainda nem têm nome, outras conhecemos de ouvir falar, mas não sabemos exatamente quais habilidades seriam necessárias para exercê-las: energias renováveis, inteligência artificial, manipulação genética, robótica, internet das coisas etc. e tal. Jovens miram perplexos o horizonte dos próximos anos e se perguntam: vai ter lugar para mim?
         Tudo vai sendo virado de cabeça para baixo e as tradições que ancoraram tantas práticas sociais, conceitos e valores do mundo do trabalho, rapidamente vão se tornando obsoletas. Isso gera um desconforto, quando não um sentimento de revolta. Mas a saída continua a ser uma só: buscar entender as mudanças em vez de maldizê-las. Quanto maior a compreensão do que está acontecendo, maiores as chances de assumir um protagonismo nesses novos tempos. E então, o que está acontecendo? Como um jovem de hoje pode ter chance de uma boa colocação profissional no mundo de amanhã?
         Em primeiro lugar, compreendendo que precisa aprender o tempo todo e precisa se comunicar com o mundo. Ou seja: a ideia de “estar formado” em algo, de “ter feito seus estudos” em tal lugar, de “ter terminado a escola” em tal ano não tem mais nenhum futuro. Viver é aprender permanentemente e da maneira mais heurística possível. Heurística? É, trata-se do aprendizado constante e do uso intensivo da imaginação, da criatividade, do pensamento disruptivo. Disruptivo? Sim, refere-se ao pensamento que rompe com o padrão da normalidade, que rastreia novos paradigmas, que está sempre atento para outras maneiras de associação, composição, reorganização dos fatos e dos saberes.
         Além de aprender o tempo todo, é preciso também poder se comunicar com todo mundo. Daí a importância de dominar as linguagens: línguas estrangeiras, linguagens da programação, mas também a linguagem social do network, a linguagem emocional das negociações, a linguagem afetiva das parcerias. Em resumo: conectividade e capacidade de tradução, esses são os dois pilares do trabalho no futuro.
         A escola, em algum momento, vai precisar contribuir para essa reconstituição de saberes, rompendo com a ideia de que há coisas que precisam ser aprendidas porque são coisas importantes. Não é assim que funciona. Tudo o precisa ser aprendido não é importante por si, mas porque tem um papel no processo de transformação constante do mundo. A linguagem matemática é fundamental, assim a compreensão histórica ou o conhecimento dos seres vivos, mas apenas à medida que estão inseridos no contexto da descoberta, que é o lugar da problematização; da justificação, que é onde se analisam os dados e apresentam-se as conclusões; e da aplicação, quando esses conhecimentos agem como ferramentas de transformação da realidade.
         Assim, pensar uma escola a partir de cases, de questionamentos, de problematizações, associando diversas disciplinas com diferentes mentes de diversas idades, estimulando a formulação de hipóteses, sendo rigoroso na apresentação e verificação dos dados, premiando o esforço, a criatividade e o espírito de equipe são os passos para colocar a escola no lugar de relevância para as exigências desse tempo, que é o de olhar o horizonte e não enxergar o que há, mas imaginar o que haverá lá. Um tempo cujo futuro será uma invenção do presente.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 129 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em outubro a ainda estratosférica marca de 275,68% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial se manteve em históricos 300,37%; e já o IPCA, em novembro, também no acumulado dos últimos doze meses, chegou a 4,05%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade    “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 518 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, à falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2018, apenas segundo o Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,847 trilhão (52,4%), a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,106 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega, do direito e da justiça:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
57 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2018)

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas ...
- Por uma Nova Política Brasileira ...
- Pela excelência na Gestão Pública ...
- Pelo fortalecimento da cultura da sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral: econômico; social, com promoção humana, e, ambiental, com proteção e preservação dos nossos recursos naturais ...
- A alegria da vocação ...  

Afinal, o Brasil é uma águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão olímpica e de coragem! ...      

E P Í L O G O

CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO

“Oh! Deus, Criador e Legislador, fonte de infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e não está ficando, pedra sobre pedra
Dos impérios edificados com os ganhos espúrios, injustos e
Frutos da corrupção, do saque, da rapina e da dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim! Eternamente!”.



        

sexta-feira, 9 de maio de 2014

A CIDADANIA, A FORÇA DA BELEZA E O BISPO DOS EXCLUÍDOS

“A beleza é que salvará o mundo do desespero, disse Dostoiévski
        
         Dos gregos aprendemos, e isso atravessou todos os séculos, que todo ser, por diferente que seja, possui três características transcendentais (estão sempre presentes, pouco importa a situação, o lugar e o tempo): ele é “unum, verum et bonum”), o que quer dizer que ele goza de uma unidade interna que o mantém na existência; ele é verdadeiro, porque se mostra assim como de fato é; e é bom porque desempenha bem o seu lugar junto aos demais, ajudando-os a existirem e coexistirem.
         Foram os mestres franciscanos medievais, como Alexandre de Hales, e especialmente são Boaventura, que, prolongando uma tradição vinda de Dionísio Aeropagita e santo Agostinho, acrescentaram ao ser mais uma característica transcendental: o “pulchrum”, vale dizer, o belo. Baseados, seguramente, na experiência pessoal de são Francisco, que era um poeta e um esteta de excepcional qualidade e que, “no belo das criaturas, via o Belíssimo”, enriqueceram nossa compreensão do ser com a dimensão da beleza. Todos os seres, mesmo aqueles que nos parecem hediondos, se os olharmos com afeição, nos detalhes e no todo, apresentam, cada um a seu modo, uma beleza singular, senão na forma, mas na maneira como neles tudo vem articulado com um equilíbrio e harmonia surpreendentes.
         Um dos grandes apreciadores da beleza foi Fiódor Dostoiévski. Para ele a contemplação da Madonna de Rafael era a sua terapia pessoal, pois sem ela desesperaria dos homens de si mesmo, diante de tantos problemas que via. Em seus escritos, descreveu pessoas más e destrutivas, e outras que mergulhavam nos abismos do desespero. Mas seu olhar, que rimava amor com dor compartida, conseguia ver beleza na alma dos mais perversos personagens. Para ele, o contrário do belo não era o feio, mas o utilitarismo, o espírito de usar os outros e, assim, roubar-lhes a dignidade.
         “Seguramente, não podemos viver sem pão, mas também é impossível existir sem beleza”, repetia. Beleza é mais que estética; possui uma dimensão ética e religiosa. Ele via em Jesus um semeador de beleza”. “Ele foi um exemplo de beleza e a implantou na alma das pessoas para que, por meio da beleza, todos se fizessem irmãos entre si”. Ele não se referia ao amor ao próximo; ao contrário: é a beleza que suscita o amor e nos faz ver no outro um próximo a amar.
         A nossa cultura, dominada pelo marketing, vê a beleza como uma construção do corpo, e não da totalidade da pessoa. Então, surgem métodos e mais métodos de plásticas e botoxes para tornarem as pessoas mais “belas”. Por ser uma beleza construída, ela é sem alma. E, se repararmos bem, nessas belezas fabricadas, emergem pessoas com uma beleza fria e como uma aura de artificialidade, incapaz de irradiar. Daí irrompe a vaidade, não o amor, pois beleza tem a ver com amor e comunicação.
         O papa Francisco conferiu especial importância na transmissão da fé cristã à via “pulchritudinis” (a via da beleza). Não basta que a mensagem seja boa ou justa. Ela tem que a mensagem seja boa e justa. Ela tem que ser bela, pois só assim chega ao coração das pessoas e suscita o amor que atrai (“Exortação ‘A alegria do Evangelho’, nº 167). A Igreja não visa o proselitismo, mas a atração que vem da beleza e do amor, cuja característica é o esplendor.
         A beleza é um valor em si mesmo. Não é utilitarista. É como a flor que floresce por florescer, pouco importa se a olham ou não, como diz o místico Angelus Silesius. Mas quem não se deixa fascinar por uma flor que sorri gratuitamente ao universo? Assim devemos viver a beleza no meio de um mundo de interesses, trocas e mercadorias. Então, ela realiza sua origem sânscrita Bet-El-Za, que quer dizer: “o lugar onde Deus brilha”. Brilha por tudo e nos faz também brilhar pelo belo.”

(LEONARDO BOFF. Teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 2 de maio de 2014, caderno O.PINIÃO, página 14).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 7 de maio de 2014, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de FREI BETTO, escritor, autor de Fome de Deus (Paralela), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“O bispo dos excluídos
        
         Em fevereiro de 1973, na Penitenciária de Presidente Venceslau (SP), misturados a presos comuns, cinco presos políticos – frei Fernando de Brito, Maurice Politi, Ivo Lesbaupin, Wanderley Caixe e eu – fomos castigados com 15 dias de isolamento em celas individuais, por demonstrar solidariedade ao sexto preso político, Manoel Porfírio, que sofrera punição injusta.
         No domingo, 11 de fevereiro, ao encerrar o período do nosso isolamento, recebemos inesperadamente a visita dos bispos Tomás Balduino, José Maria Pires, Waldyr Calheiros e José Gonçalves. Tinham aproveitado o recesso da assembléia dos bispos do Brasil, em Itaici (SP), para voar até Presidente Venceslau no teço-teco pilotado por Dom Tomás Balduino.
         Relatamos as torturas a que eram submetidos os presos comuns e as sanções injustas impostas a nós, presos políticos. Na tarde do mesmo dia, na reunião de Itaici, os bispos repetiram nossas denúncias em coletiva de imprensa. O diretor da penitenciária ficou irritado e intrigado. Isolados como estávamos, com que recursos havíamos convocado a comitiva episcopal? Teríamos um radiotransmissor dentro da cela? Talvez nunca tenha se convencido de se tratar de mera coincidência.
         Nosso confrade na Ordem Dominicana, dom Tomás Balduino, falecido no último dia 2 de maio, em Goiânia, em decorrência de embolia pulmonar, visitava periodicamente os frades encarcerados e não temia denunciar a ditadura e defender os direitos humanos.
         Nascido em Posse (GO), no último dia de 1922, seu nome de batismo era Paulo Balduíno de Souza Décio. Ao ingressar na vida religiosa, adotou, como era costume na época, o prenome de Santo Tomás de Aquino. Foi o último filho homem de uma família de onze filhos, três homens e oito mulheres. Seu pai, promotor público, encerrou a carreira como juiz.
         Formado em filosofia, dom Tomás fez o mestrado em teologia em Saint Maximin, na França. Em 1957, nomeado superior da missão dominicana na prelazia de Conceição do Araguaia (PA), viveu de perto a realidade indígena e sertaneja. Na época, a pastoral da prelazia acompanhava sete grupos indígenas. Para aprimorar seu trabalho junto aos índios, fez mestrado em antropologia e linguística na Universidade de Brasília (UnB), concluído em 1965. Aprendeu a língua dos índios xicrin, do grupo bacajá-kayapó.
         Para melhor atender a região da prelazia, que abrangia todo o Vale mato-grossense, frei Tomás aprendeu a pilotar avião. Amigos da Itália o presentearam com um teco-teco, com o qual  prestou inestimável serviço, sobretudo na articulação de povos indígenas. Também ajudou a salvar pessoas perseguidas pela ditadura militar.
         Em 1965, foi nomeado pelo papa prelado de Conceição do Araguaia. Lá enfrentou os primeiros conflitos com as grandes empresas agropecuárias que se estabeleciam na região com incentivos fiscais da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Elas invadiam áreas indígenas, expulsavam famílias sertanejas (posseiros) e traziam trabalhadores braçais de outros estados, sobretudo do Nordeste brasileiro, submetidos, muitas vezes, a regime análogo ao trabalho escravo.
         Nomeado bispo diocesano da cidade de Goiás, em 1967, foi ordenado bispo e ali permaneceu 31 anos, até 1999. Ao completar 75 anos, apresentou sua renúncia e mudou-se, como simples frade, para o convento dominicano de Goiânia. Seu ministério episcopal coincidiu, por longo tempo, com a ditadura militar (1964-1985).
         Movimentos sociais, como o do Custo de Vida e a Campanha Nacional pela Reforma Agrária, contaram com todo o apoio de dom Tomás, que participou ativamente da criação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), em 1972, e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975. Presidiu o CIMI, de 1980 a 1984, e a CPT, de 1999 a 2005. A Assembleia  Geral da CPT, em 2005, o nomeou conselheiro permanente.
         Agora, seu corpo está enterrado na catedral de Goiás. E seu exemplo de vida perdura na memória de todos que conheceram um homem fiel à proposta do Evangelho de Jesus.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, inovação, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade – , e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...  

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A CIDADANIA, O MAL-ESTAR DO MUNDO, A ALEGRIA E A FORÇA DA FRATERNIDADE

“Em meio ao mal-estar do mundo, ainda há lugar para a alegria
         
         No meio do inegável mal-estar mundial, irrompeu, surpreendentemente, em 2013, uma figura que nos devolveu esperança: o papa Francisco. Seu primeiro texto oficial leva como título “Exortação Pontifícia ‘Alegria do Evangelho’. Ele vem perpassado pela alegria, pelas categorias do encontro, da proximidade, da misericórdia, da centralidade dos pobres, da beleza, da “revolução da ternura” e da “mística do viver juntos”.
         Tal mensagem faz contraponto à decepção e ao fracasso face às promessas do projeto da modernidade de trazer bem-estar e felicidade para todos. Na verdade, a modernidade está colocando o futuro da espécie em risco por causa do assalto avassalador que continua fazendo sobre os bens e serviços escassos da mãe-terra. Bem diz o papa Francisco: “A sociedade técnica multiplicou as possibilidades de prazer, mas tem grandes dificuldades de engendrar alegria” (Exortação, n. 7). Prazer é coisa dos sentidos. Alegria é coisa do coração. E nosso modo de ser é sem coração.
         Essa alegria brota de um encontro com uma pessoa concreta que lhe suscitou entusiasmo, lhe produziu enlevo e simplesmente o fascinou. É a figura de Jesus de Nazaré. Não se trata daquele Cristo coberto de títulos de pompa e glória que a teologia posterior lhe conferiu. Mas é o Jesus do povo simples e pobre, que trazia palavras de frescor e de fascínio. O papa Francisco testemunha o encontro com essa pessoa. Foi tão arrebatador que mudou sua vida e lhe criou uma fonte inesgotável de alegria e de beleza. Para ele, evangelizar é refazer essa experiência, e a missão da Igreja é resgatar o frescor e o fascínio pela figura de Jesus.
         O papa Francisco não entende o cristianismo como uma doutrina. Mas sim como um encontro pessoal com uma pessoa, com sua causa, com sua luta, com sua capacidade de enfrentar as dificuldades sem fugir delas.
         Na evangelização tradicional, tudo passava pela inteligência intelectual (“intellectus fidei”) expressa pelo credo e pelo catecismo. Em sua versão, papa Francisco defende que a evangelização passa pela inteligência cordial (“intellectus cordis”), porque aí tem sua sede o amor, a misericórdia, a ternura e o frescor da pessoa de Jesus.
         Pois é desse cristianismo que precisamos, capaz de produzir alegria, pois tudo o que nasce verdadeiramente de um encontro profundo e verdadeiro gera a alegria, que ninguém pode tirar.
         Falta-nos em nossa cultura midiática e internética esse espaço do encontro. Para isso, temos que realizar “saídas”, palavra sempre repetida pelo papa. Saída de nós mesmos para o outro, saída para as periferias existenciais (as solidões e os abandonos), saída para o universo dos pobres.
         Assim, nada melhor que lembrar o testemunho de F. Dostoiésvski ao “sair” da “Casa dos Mortos”, na Sibéria: “Às vezes, Deus me envia instantes de paz; nestes instantes, amo e sinto que sou amado; foi em um desses momentos que compus para mim mesmo um credo, onde tudo é caro e sagrado. Esse credo é muito simples. Ei-lo: creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais humano, de mais perfeito do que o Cristo; e eu o digo a mim mesmo, com um amor cioso, que não existe e nem pode existir. Mais do que isso: se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se encontra nele, prefiro ficar com Cristo a ficar com a verdade”.
         O papa Francisco faria suas essas palavras de Dostoiésvski. Não é uma verdade abstrata que preenche a vida, mas o encontro vivo com uma pessoa, com Jesus, o Nazareno. É a partir dele que a verdade se faz verdade. Se 2014 nos trouxer um pouco desse encontro, então teremos cavado uma fonte de onde jorra alegria, que é infinitamente melhor do que qualquer prazer induzido pelo consumo.”

(LEONARDO BOFF. Teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 3 de janeiro de 2014, caderno O.PINIÃO, página 14).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, mesma edição, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Mensagem do papa Francisco
        
         Em sua primeira mensagem de 2014, no Dia Mundial da Paz, o papa Francisco trata de um tema importante: “Fraternidade, fundamento e caminho da paz”. O texto é fruto de um zelo apostólico que desenha um horizonte luminoso para a humanidade, em busca de rumos novos para a história. A partir de preocupações pastorais, e balizado por sensibilidade missionária, o papa Francisco argumenta sobre a importância fundamental da fraternidade como condição insubstituível para a construção da paz. Resgata e indica o anseio irreprimível pela fraternidade que se hospeda no coração de cada homem e de cada mulher. Um anseio que, em razão de desgastes e de dinâmicas na contramão da solidariedade – como os cenários de violência e corrupção –, fica sepultado no mais recôndito dos corações. E nessa condição impede que cada pessoa seja instrumento da paz pela força do amor fraterno.
         Por sua constituição própria, o coração humano possui um dinamismo que conduz ao caminho da comunhão, superando o sentido inaceitável de ver o outro como concorrente ou inimigo. Imprescindível e prioritário é recuperar a fraternidade como dimensão essencial de cada pessoa, cultivando cotidianamente o exercício que reforça, em cada um, o sentido relacional que define o ser humano. Assim, desenvolve-se a capacidade de tratar cada pessoa como verdadeiro irmão e irmã. Esse exercício, o papa sublinha, se faz primeiramente no seio da família, graças, sobretudo, às funções responsáveis e complementares de cada um dos seus membros, particularmente do pai e da mãe.
         Na mensagem, o papa Francisco afirma categoricamente que “a família é a fonte de toda a fraternidade, sendo, por isso mesmo, também o fundamento e o caminho primário para a paz, já que, por vocação, deveria contagiar o mundo com seu amor”. Esse entendimento é um convite irrecusável a cada membro de cada família, sobretudo para o pai e a mãe, a pensar muito seriamente em seu papel, seu modo de conduzir a vida em família. Não se pode querer construir a paz sem compreender e sem se comprometer com o próprio núcleo familiar. Cada família tem um papel decisivo na configuração da fraternidade universal. Todos precisam investir nesse núcleo celular, convencidos de que daí vem uma força notável, decisiva na formação da consciência relacional que é condição para se alcançar a paz.
         O papa Francisco cita Bento XVI que, em certa oportunidade, lembrou que a globalização torna cada um vizinho do outro sem, necessariamente, converter essa proximidade em sentimentos fraternos. Há uma permanente luta a ser travada contra ideologias que reforçam o individualismo, egocentrismo e o consumismo materialista, que debilitam laços sociais e alimentam a mentalidade do descartável. Essas ideologias conduzem ao desprezo e abandono dos mais fracos, daqueles que, nessa distorcida visão de mundo, “são considerados como inúteis”.
         É urgente, portanto, multiplicar, pela célula familiar, experiências – pequenas, grandes, simples, cotidianas – de práticas que permitam a aprendizagem e a criação do gosto por uma ética que capacite cada pessoa a produzir e a manter vínculos. Sem essa prioridade, nem mesmo com outras ações, projetos e programas, não se poderá desenhar um cenário de paz. As lamentações aumentarão, os absurdos hediondos de todo tipo continuarão a acontecer, o medo vai empurrar todo mundo cada vez mais para dentro de guetos de segregação, desconfiança e preconceitos. Comprometida estará, cada vez mais, a fraternidade universal. Não se alcançará um nível razoável de solidariedade, com força para mudar o que faz parte de uma ladainha interminável de reclamações, necessidades e reivindicações.
         Esse exercício de construir vínculos pode começar por uma interrogação que deve interpelar a consciência de cada um –aquela pergunta de Deus a Caim, querendo saber de Abel: “Onde está teu irmão?” Uma pergunta que, respondida, reforça a convicção que salvará o mundo e fará dele um lugar de paz. “Somos todos irmãos”, ensina a mensagem do papa Francisco.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 639 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação;cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional – , transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...