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quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, A CELEBRAÇÃO DA ETERNA CRIANÇA E OS FUNDAMENTOS DO DIREITO NA SUSTENTABILIDADE

“Humano assim como Jesus só 
Deus mesmo, já o disse o poeta
        O Natal nos faz lembrar nossas origens humildes. O Filho de Deus não quis nascer num palácio com tudo o que lhe pertence em pompa e glória. Não preferiu um templo, com seus ritos, incensos, velas acesas e cânticos. Nem seque buscou uma casa minimamente decente. Nasceu lá onde comem os animais, numa manjedoura. Os pais eram pobres operários, do campo e da oficina, a caminho de um recenseamento imposto pelo imperador romano.
         Essa cena nos remete à situação presente no país e no mundo: milhões e milhões de pobres, muitos famélicos, outros tantos milhões de crianças cujos olhos quase saltam do rosto por causa da fome e da fraqueza. A maioria morre antes de atingir 3 anos. Eles atualizam para nós a condição escolhida pelo Filho de Deus.
         Ao escolher aqueles que não existem socialmente e os tidos como invisíveis, o Filho de Deus nos quis passar uma mensagem: há uma dignidade divina em todos esses sofredores. Face a eles devemos mostrar solidariedade e “com-paixão”, não como pena, mas como forma de participar de sua paixão. Sempre haverá pobres neste mundo, já o disse a Bíblia. Razão a mais para sempre retomarmos a solidariedade e a com-paixão. Se alguém caminha junto, estende a mão e levanta o caído – mais ainda, se alguém se faz companheiro, quer dizer, aquele que comparte o pão –, o sofrimento se torna menor, e a cruz, mais leve.
         Quem está longe dos pobres, mesmo o cristão mais piedoso, está longe de Cristo. Cabe sempre recordar a palavra do Juiz Supremo: “O que fizer ou deixar de fazer a estes meus irmãos e irmãs mais pequenos: os famintos, os sedentos, os encarcerados e os nus, foi a mim que o fez ou deixou de fazer” (Mt 25,40).
         O Natal é uma festa da contradição: ela nos recorda o mundo que ainda não foi humanizado porque somos cruéis e sem piedade para com aqueles penalizados pela vida. O Natal nos recorda a mesma situação vivida pelo Verbo da vida, o Filho feito carne.
         Por outro lado, no Natal nos alegramos que Deus em Jesus “mostrou sua bondade e jovialidade para conosco” (Epístola a Tito 3,4). Alegra-nos saber que Deus se fez criança, que não julga nem condena ninguém. Quer apenas, como criança, ser acolhido mais que acolher, ser ajudado mais que ajudar.
         Apraz-me terminar esta pequena reflexão com os versos do grande poeta português Fernando Pessoa. Poucos disseram coisas mais belas do que ele sobre o Menino Jesus:
         
         Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
         Ele é o humano que é natural.
         Ele é o divino que sorri e que brinca.
         E por isso é que eu sei com a certeza
         Que Ele é o Menino Jesus verdadeiro.
         E a criança tão humana que é divina
         (...)
         Damo-nos tão bem um com o outro
         Na companhia de tudo
         Que nunca pensamos um no outro
         Mas vivemos juntos os dois
         Com um acordo íntimo
         Como a mão direita e a esquerda.
         Quando eu morrer, filhinho,
         Seja eu a criança, o mais pequeno.
         Pega-me tu ao colo
         E leva-me para dentro de tua casa.
         Despe o meu ser cansado e humano
         E deita-me na tua cama.
         E conta-me histórias, caso eu acorde,
         Para eu tornar a adormecer.
         E dá-me sonhos teus para eu brincar
         Até que nasça qualquer dia
         Que tu sabes qual é.”
        
         Depois dessa beleza singela e verdadeira, só me resta desejar um Feliz Natal sereno a todos dentro de nosso mundo tão conturbado.”.

(LEONARDO BOFF. Teólogo e filósofo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 22 de dezembro de 2017, caderno O.PINIÃO, página 12).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 7 de janeiro de 2018, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de SACHA CALMON, advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ, e que merece igualmente integral transcrição:

“O direito como produto social
        Nas sociedades mais antigas, os sumos sacerdotes, quase sempre, como ocorreu inclusive com os papas, empolgaram o poder político. Estado e religião viviam amalgamados. Os preceitos morais estavam embutidos nos mandamentos da religião e esta, frequentemente, continha códigos jurídicos. Os Dez Mandamentos, com o “não matarás”, “não roubarás”, “não desejarás a mulher do próximo”, já não são codificação jurídica? O “honrarás pai e mãe” já denota a indução da moral utilitária. Entre os humanos “prestantes” é preciso cuidar e venerar os velhos “imprestáveis”. Onde falha o amor solidário reentra o dever moral. Confúcio fez da veneração aos idosos o pilar da moral chinesa clássica. Os historiadores do direito ou os arqueólogos jurídicos dizem que em Roma houve um tempo em que não se distinguia a lex (lei dos homens) da fas (lei divina). Sófocles, na peça teatral Antígona, a seu turno, mostra o conflito entre preceitos religiosos e normas jurídicas antinaturais. A separação entre a Igreja e o Estado (o Estado laico) é recente. É mais recente ainda a renúncia das igrejas em exercer o poder temporal. O catolicismo da Inquisição era poder político na real acepção do termo. E, até hoje, os aitolás islâmicos pensam governar em nome de Deus, aplicando os mandamos do Corão em lugar dos códigos laicos. De qualquer modo, a religião atua a partir de sanções prometidas após a morte.
         O direito é mais prático. A sanção dá-se aqui, agora. Tira-se a vida, a liberdade, os direitos, o dinheiro dos infratores que desobedeceram às suas prescrições. O direito tampouco se preocupa com os dramas de consciência. As intenções em si são irrelevantes, pois o que lhe interessa, verdadeiramente, são as condutas humanas, as prescritas e as proibidas. O direito descreve condutas e prescreve os efeitos que delas podem advir. Faz isso o tempo todo, em todos os tempos. Planifica instituições e comportamentos humanos, regendo o convívio social.
         Freud, com a sua notável intuição em compreender o homem como id (o homem que busca prazer e satisfação a partir dos impulsos de sua estrutura biopsíquica) e como ego (o homem educado que concilia os impulsos com as conveniências comportamentais que lhe foram introjetadas pela educação familial, moral e religiosa – superego), penetrou profundamente na alma humana, tão machucada pelos quereres do corpo e pelas proibições sociais, morais e religiosas. Pode até ter desnudado a hipocrisia moral, iniciando a análise do inconsciente humano, e se apiedado do homem colhido nas malhas das organizações sociais repressoras, mas não alterou em nada o direito, impassível na sua eterna missão de planejar e punir comportamentos. De resto, foi um discípulo de Freud, ademais filósofo e sociólogo, quem mais aprofundou este antagonismo entre o homem-natural e o homem-social. Refiro-me a Marcuse e sua obra intitulada Eros e civilização, em que demonstra que o processo civilizatório se faz às custas do sacrifício do homem, de todos os homens. Opõe o “princípio do prazer” (em si bom) ao “princípio da realidade” (em si necessário ao processo civilizatório). Civilizar é reprimir.
         Da vida em sociedade brota o direito. Ex facto oritur jus. O “ser” e o “outro”, convivendo, realçam o social, e, por certo, do fato social projetam-se interesses, carências e aspirações a suscitar regulação. Daí valores. E são eles que fecundam o direito. Se o direito é dever-ser, é dever-ser de algo, já o disse Vilanova, o recifense, como a sublinhar que o axiológico não paira no ar, desvinculado da concretude da vida. Os valores não são entes etéreos ou coleção de imperativos morais, imutáveis e intangíveis, tais quais essências sacrossantas. Não são supra-humanos nem nos chegam ab extra. Projetam-se do homem na história, do homem concreto, de um estar-aí-no-mundo-com-os-outros. Das necessidades às aspirações e, daí, às normas. Assim, se o direito está na norma, por certo brotou do espaço cultural de cada povo com as suas aspirações e os seus valores, epifenômenos da experiência social, nucleada à volta do processo de reprodução da vida humana.
         Ocorre que os critérios e valores que informam historicamente a construção das “legalidades vigentes” trazem a marca dos interesses concretos, até mesmo conflitantes, que do fundo mais profundo da sociedade emergem à luz colimando “formalização” e “juridicidade”. Trata-se então de dar “forma”, “eficácia” e “vigência” a prescrições que se reputam “certas” e “necessárias” à convivência humana e à “ordem pública”. Tudo isso é feito através de “instituições” que repassam para a ordem jurídica os conflitos de interesses existentes no meio social.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em novembro/2017 a ainda estratosférica marca de 333,8% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial se manteve em históricos 323,73%; e já o IPCA, também no acumulado dos últimos doze meses, em dezembro, chegou a 2,95%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 516 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2018, apenas segundo o Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,847 trilhão (52,4%), a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,106 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
55 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2016)

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas ...
- Por uma Nova Política Brasileira ...
- Pela excelência na Gestão Pública ...  

Afinal, o Brasil é uma águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão olímpica e de coragem! ...      

E P Í L O G O

CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO

“Oh! Deus, Criador e Legislador, fonte de infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e não está ficando, pedra sobre pedra
Dos impérios edificados com os ganhos espúrios,
Frutos da corrupção, do saque, da rapina e da dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim!”.




segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A CIDADANIA, A EDUCAÇÃO JURÍDICA E A CENTRALIDADE DA FÉ

“POR UMA
EDUCAÇÃO JURÍDICA EMANCIPATÓRIA
        
         “Estuda humanidades. Para quê? Para ser humano. Ou seja, um homem digno entre os homens” (De doc, Christ. 11,12).
         É um truísmo afirmar que a sociedade brasileira clama por uma educação jurídica emancipatória. Esta começa nas escolas. É primordial que as crianças e jovens aprendam sobre as nossas leis mais básicas, como a noção dos direitos humanos ou Constituição da República Federativa do Brasil e seus direitos e garantias fundamentais dispostos no artigo 5º. Ou até mesmo algumas normas específicas, como o artigo 229 da Constituição Federal, que aduz: “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores tem o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”.
         Uma vez conhecedores dos direitos, saberão também reconhecer seus deveres, formando indivíduos cidadãos, patriotas e, sobretudo, humanos. O conhecimento em direitos engaja o povo para a inclusão social. É basilar que tenhamos o conhecimento das leis em todos os setores da sociedade, para que elas sejam obedecidas e cumpridas. A lei precisa ser aplicada e ter eficácia, sob o risco de tornar-se somente letra morta no papel.
         No âmbito universitário, é preciso entender as universidades não só como um local de graduação. Mas também composta pela pesquisa e extensão que trazem à baila o entendimento do aluno sobre a realidade que os cerca. É um convite a se pensar sobre o certo e o errado, o justo e o injusto, o lícito e o ilícito. Isso possibilita a participação dos indivíduos na construção de sua existência como sujeitos de direitos ativos na história de nosso país, que é construída diariamente.
         Com uma educação jurídica emancipatória, livre e independente, formaremos seres humanos preocupados não só com o mercado de trabalho e com sus sobrevivência, mas também como aplicadores dos direitos individuais, sociais e políticos. Serão profissionais humanos que saberão lidar de forma digna e ética com os seus semelhantes, numa cultura marcada pela diversidade e pelos direitos.
         Indivíduos conhecedores das principais leis que compõem o ordenamento jurídico brasileiro terão chances de saber viver bem em sociedade, marcada pela heterogeneidade, diversidade, desigualdade, injustiças e violência. Desenvolverão valores relativos à coletividade e à resolução de conflitos pacificamente. Mais do que saber as leis, aprenderão um convívio democrático, respeitando as diversas diferenças e crenças e tomando-se como uma forma de enriquecimento pessoal.
         A educação em direitos não deve mais ficar em segundo plano. É tão importante quanto as disciplinas aprendidas nas escolas e nas universidades. É fundamental para alcançarmos a nossa plenitude profissional e pessoal. É, pois, imperativo passarmos a nos preocupar com tal mister.
         A teoria aprendida sobre o direito vinculada à prática demonstra o caráter ideológico tão bonito de nossas jurisprudências, doutrinas e legislações. Primando pelos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, quais sejam: construir uma sociedade livre, justa e solidária, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (artigo 3º, incs I-IV, CF/88).”.

(CAMILA ROSADO. 6º período de direito da PUC Minas, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 16 de outubro de 2015, caderno DIREITO & JUSTIÇA, página 2).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo e edição, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Igreja em saída, desafio
        A expressão “Igreja em saída”, utilizada pelo papa Francisco na exortação apostólica Alegria do evangelho, significa uma Igreja de portas abertas para acolher e, ao mesmo tempo, pronta para ir ao encontro do outro, capaz de chegar às periferias humanas. Nesse horizonte, o Documento de Aparecida, fruto da 5ª Conferência Latino-Americana e Caribenha dos Bispos da Igreja Católica, sublinha a urgência de um despertar missionário, na forma de missão continental. A compreensão de uma “Igreja em saída”, em estado permanente de missão, decididamente depende da vivência do Evangelho, sempre boa-nova. Necessita de homens e mulheres renovados, que vivenciem essa tradição e novidade como discípulos de Jesus Cristo.
         O núcleo central é, portanto, a fé no Deus amor. Eis o desafio: saber tratar a fé à luz da palavra de Deus, instância com força de correção diante das complexidades da vida contemporânea. Desse modo, é possível tocar o núcleo existencial de cada pessoa e, assim, promover qualificação, construir sólido alicerce para escolhas que garantam a fecundidade de uma cidadania civil e eclesial. Muitas são as dificuldades enfrentadas hoje pela Igreja Católica, desafiada a dar novas respostas. Isso não se resume simplesmente à análise de dados estatísticos envolvendo perda de fiéis ou a verificação de trânsito religioso. Para além de números, embora eles sejam importantes indicadores na avaliação da capacidade para ajudar cada pessoa a qualificar sua dimensão existencial.
         As dinâmicas de evangelização na Igreja estão girando polarizações – com as próprias do pentecostalismo e aquelas já morridas do racionalismo. Urgente é uma "Igreja em saída”, que eleja como meta as periferias geográficas. Para isso, conforme sublinha o papa Francisco, são necessárias transformações de costumes, estilos, horários e de toda a linguagem eclesial. A autopreservação, no dizer do papa, ou pastoral de conservação, desenha a enorme barreira que atrasa ou impede a esperada resposta.
         Assim, estruturas eclesiais que condicionam o dinamismo evangelizador precisam ser renovadas para que a Igreja possa, cada vez mais, ajudar o mundo a superar seus desafios. Esse passo de conversão e essa resposta não são alcançados apenas pela reafirmação conceitual das verdades intocáveis que definem a fé cristã, sua vivência e testemunho. Almeja-se uma nova e inadiável consideração da dimensão existencial do ser humano, para fortalecer a centralidade da fé vivida e professada. Nesse caminho, por meio da palavra de Deus será possível qualificar cada pessoa. O primeiro passo é uma revitalização no modo de ser cristão-católico e, consequentemente, avaliar melhor as escolhas pessoais. Não basta investir conceitualmente em mudanças de configurações organizacionais sistêmicas no conjunto dos funcionamentos das estruturas eclesiais. O que precisa priorizado é o existencial humano, aprisionado pelo individualismo, dominado exclusivamente por emoções e devocionismos tortos, ou presididos pela hegemonia de uma autonomia que ceja, impossibilitando o gosto transformador e libertador de crer.
         A luta que atrasa esperados avanços rumo à meta de uma “Igreja em saída” requer urgente substituição de modelos, mentalidades e entendimentos engessados. A prioridade é o dom do encontro com Jesus Cristo pela escuta e vivência da palavra de Deus. Oportuno é lembrar o que diz o Documento de Aparecida: “Nossa maior ameaça é o medíocre pragmatismo da vida cotidiana da Igreja, na qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas, na verdade, a fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez”. Diante dos modelos obsoletos que presidem práticas pastorais e vivências eclesiais e de fé, vale a advertência poética de Fernando Pessoa: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma de nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam aos mesmos lugares”. Ora, continua ele dizendo: “é tempo de travessia, e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”. Esse é o desafio!”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)      a educação – universal e de qualidade –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas (enfim, 125 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da civilidade, da democracia, da participação, da sustentabilidade...);

     b)      o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em setembro a estratosférica marca de 361,40% ao ano; e mais, também em setembro, o IPCA acumulado nos últimos doze meses chegou a 9,49%...); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade  –  “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 515 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, a falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;

     c)       a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com projeção para 2015, apenas segundo a proposta do Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,356 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 868 bilhões), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”);

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a   Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do Pré-Sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”  
  
     



          

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A CIDADANIA, O LEGADO DO ANO NOVO E A FELICIDADE

“O legado do ano que começa

“De tudo ficam três coisas: a certeza de que estamos sempre começando, a certeza de que precisamos continuar e a certeza de que seremos interrompidos antes de terminar. Portanto, devemos fazer da interrupção um caminho novo, da queda, um passo de dança, do medo uma escada, do sonho uma ponte, da procura um encontro” (Fernando Pessoa). Certos anos nunca terminam: 1968 foi um deles, e este escriba era do adolescente de 17 anos à época daquela transformação social empreendida pelo babyboomers com o woodstock, e a tríade sexo, drogas e rock n’roll. 2001, com o ataque e destruição das Torres Gêmeas, foi outro ícone. E 2010, 10 anos depois, com a crise econômica do mundo desenvolvido, somado à Primavera Árabe, nos transmite a mesma sensação de que um novo tempo de mudanças está apenas começando.

Uma era de oportunidades e de transformações que nos colocam desafios como nação, que enumero: primeiro, realizar uma revolução educacional; segundo, uma revolução sanitária, em paralelo com a revolução sociológica que a partir de reformas estruturais desaguarão na implantação da igualdade social (as reformas tributária, política e fiscal), pois não queremos repetir a Grécia de 2011. Em terceiro, seria desejável a construção de um marco de gestão ambiental no país, como benchmarking para o mundo, aproveitando nossas vantagens comparativas inatas. Sobre esse tema é relevante lembrar a Rio + 20, que se realizará em 2012 com temas caros para o mundo, como as medidas necessárias para evitar maiores desastres climáticos com o aumento da temperatura da Terra.

Vale lembrar que a construção de Belo Monte vai em sentido contrário a esse paradigma, haja vista seu planejamento ter acontecido antes da agudização dos eventos do clima. E não será agora, depois de este governo ter jogado goela abaixo da sociedade essa obra, cujos impactos sociais e ambientais sequer são conhecidos em sua totalidade, que grupos econômicos ligados à mídia impressa e eletrônica queiram calar o debate, que deveria ter acontecido democraticamente antes de se tomar a decisão da construção. Infelizmente a maior parte da inteligência nacional não foi ouvida para proporcionar inovações e opções melhores que essa solução do século passado, e com custos menores. Há que se lutar pela consolidação da reforma do Judiciário, não permitindo retrocessos no controle externo desse poder pela Procuradoria do CNJ. É preciso aplicar a Lei da Ficha Limpa.

Se quisermos, poderemos fazer em cinco anos a principal revolução necessária ao país, a educacional, e para isso precisaremos de menos recursos e energia do que estamos devotando a Fifa para a realização da Copa de 2014, vide os acordos ora realizados no Congresso Nacional para a votação de leis específicas, muitas delas deletérias ao arcabouço institucional e jurídico da nação, como o favorecimento de acionistas de cervejarias através de venda de álcool em estádios. Tudo isso para uma entidade transnacional amoral e metida em escândalos de corrupção.

A revolução sanitária é simples de ser feita e, com ela, deixaríamos de gastar vários bilhões de dólares por ano com o SUS. Basta sanearmos as cidades brasileiras, construindo estações de tratamento de água e esgoto, além de aterros sanitários. Essas metas estratégicas farão girar a economia e os resultados ficarão para sempre como marcos favoráveis às atuais e futuras gerações de brasileiros, em vez dos elefantes brancos em que se converterão vários estádios de futebol agora construídos.”
(JOSÉ CARLOS NUNES BARRETO, Professor, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 4 de janeiro de 2012, Caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma IMPORTANTE, ALVISSAREIRA e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de FREI BETTO, Escritor, autor, em parceria com Leonardo Boff, de Mística e espiritualidade (Vozes), entre outros livros, e que merece igualmente INTEGRAL transcrição:

“Feliz 2012

Desejo um feliz ano novo em que, se Deus quiser, todas as crianças, ao ligarem a TV, recebam um banho de Mozart, Pixinguinha e Noel Rosa; aprendam a diferença entre impressionistas e expressionistas; vejam espetáculos que reconstituem a Balaiada, a Confederação do Equador e a Guerra dos Emboabas; e durmam depois de fazer suas orações. Quero um ano novo em que, no campo, todos tenham seu pedaço de terra, onde vicejem laranjas e alfaces e voejem bem-te-vis entre vacas leiteiras. Na cidade, um teto sob o qual haja um fogão com panelas cheias, a sala atapetada por remendos coloridos, a foto do casal exposta em moldura oval sobre o sofá.

Espero um ano novo em que as igrejas abram portas ao silencio do coração, o órgão sussurre o cantar dos anjos, a Biblia seja repartida como pão. A fé, de mãos dadas com a justiça, faça com que o céu deixe de concentrar o olhar daqueles aos quais é negada a felicidade nesta terra. Um feliz ano novo com casais ociosos na arte de amar, o lar recendendo a perfume, os filhos contemplando o rosto apaixonado dos pais, a família tão entretida no diálogo que nem se dá conta de que o televisor é um aparelho mudo e cego num canto da sala.

Desejo um ano novo em que os sonhos libertários sejam tão fortes que os jovens, com o coração a pulsar ideais, não recorram à química das drogas, não temam o futuro nem expressem-se em dialetos ininteligíveis. Sejam, todos eles, viciados em utopia. Espero um ano novo em que cada um de nós evite alfinetar rancores nas dobras do coração e lave as paredes da memória de iras e mágoas; não aposte corrida com o tempo nem marque a velocidade da vida pelos batimentos cardíacos.

Um ano novo para saborear a brevidade da existência como se ela fosse perene, em companhia de ourives de encantos, cujos hábeis dedos incrustam na rotina dos dias joias ternas e eternas. Quero um ano novo em que a cada um seja assegurado o direito ao trabalho, a honra do salário digno, as condições humanas de vida, as potencialidades da profissão e a alegria da vocação. Um ano novo capaz de saciar a fome de pão e de beleza. Rogo por um ano novo em que a polícia seja conhecida pelas vidas que protege e não pelos assassinatos que comete; os presos reeducados para a vida social; e que os pobres logrem repor nos olhos da Justiça a tarja da cegueira que lhe imprime isenção.

Um ano novo sem políticos mentirosos, autoridades arrogantes, funcionários corruptos, bajuladores de toda espécie. Livre de arroubos infantis, seja a política a multiplicação dos pães sem milagres, dever de uns e direito de todos. Espero um ano novo em que as cidades voltem a ter praças arborizadas; as praças, bancos acolhedores; os bancos, cidadãos entregues ao sadio ócio de contemplar a natureza, ouvir no silêncio a voz de Deus e festejar com os amigos as minudências da vida – um leque de memórias, um jogo de cartas, o riso aberto por aquele que se destaca como o melhor contador de piadas.

Desejo um ano novo em que o líder dos direitos humanos não humilhe a mulher em casa; a professora de cidadania não atire papel no chão; as crianças cedam o lugar aos mais velhos; e a distância entre o público e o privado seja encurtada pela ponte da coerência. Quero um ano novo de livros saboreados como pipoca, o corpo menos entupido de gorduras, a mente livre do estresse, o espírito matriculado num corpo de baile, ao som dos mistérios mais profundos.

Desejo um ano novo em que o governo evite que o nosso povo seja afetado pela crise do capitalismo, livre a população do pesado tributo da degradação social, e tome no colo milhões de crianças precocemente condenadas ao trabalho, sem outra fantasia senão o medo da morte. Espero um ano novo cujo principal evento seja a inauguração do Salão da Pessoa, onde se apresentem alternativas para que nunca mais um ser humano se sinta ameaçado pela miséria ou privado de pão, paz e prazer. Um ano novo em que a competitividade ceda lugar à solidariedade; a acumulação à partilha; a ambição à meditação; a agressão ao respeito; a idolatria por dinheiro ao espírito das bem-aventuranças.

Aspiro a um ano novo de pássaros orquestrados pela aurora, rios desnudados pela transparência das águas, pulmões exultantes de ar puro e mesa farta de alimentos despoluídos. Rogo por ano novo que jamais fique velho, assim como os carvalhos que nos dão sombra, a filosofia dos gregos, a luz do sol, a sabedoria de Jó, o esplendor das montanhas de Minas, a música gregoriana. Um ano tão novo que traga a impressão de que tudo renasce: o dia, a exuberância do mar, a esperança e nossa capacidade de amar. Exceto o que no passado nos fez menos belos e bons.”

Eis, pois, mais páginas contendo RICAS, ALENTADORAS e OPORTUNAS abordagens e REFLEXÕES que acenam para a IMPERIOSA e URGENTE necessidade de PROFUNDAS MUDANÇAS em nosso PENSAR e AGIR, de modo a promovermos a INSERÇÃO do PAÍS no concerto das POTÊNCIAS mundiais LIVRES, SOBERANAS, DEMOCRÁTICAS e SUSTENTAVELMENTE DESENVOLVIDAS...

Destarte, URGE também a árdua missão de PROBLEMATIZARMOS questões CRUCIAIS como:

a) a EDUCAÇÃO – UNIVERSAL e de QUALIDADE, como PRIORIDADE ABSOLUTA de nossas POLÍTICAS PÚBLICAS;
b) o COMBATE – vigoroso e sem TRÉGUA – dos três dos nossos MAIORES e mais DEVASTADORES inimigos: I – a INFLAÇÃO, a exigir PERMANENTE e DIUTURNA vigilância, com vistas ao seu enquadramento em patamares CIVILIZADOS; II – a CORRUPÇÃO, que campeia por TODAS as esferas da vida NACIONAL, com ralos de todas as dimensões; III – o DESPERDÍCIO, em TODAS as suas MODALIDADES;
c) a DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA, com projeção para 2012, segundo o ORÇAMENTO GERAL DA UNIÃO de 2012, do desembolso do ASTRONÔMICO montante de R$ 1 TRILHÃO, a título de JUROS, ENCARGOS, AMORTIZAÇÃO e REFINANCIAMENTO da DÍVIDA...

Torna-se, portanto, absolutamente INÚTIL lamentarmos a FALTA de RECURSOS diante de tanta SANGRIA de nossa ECONOMIA, que ainda MINA nossa capacidade de INVESTIMENTO e de POUPANÇA e, mais GRAVE, afeta a CONFIANÇA em nossas INSTITUIÇÕES, ao lado de uma ampla gama de NECESSIDADES, CARÊNCIAS e DEFICIÊNCIAS, a exigir AMPLIAÇÃO e MODERNIZAÇÃO de áreas como: INFRAESTRUTURA (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); MOBILIDADE URBANA (transportes, trânsito e acessibilidade); EDUCAÇÃO; SAÚDE; ASSISTÊNCIA SOCIAL; PREVIDÊNCIA SOCIAL; SEGURANÇA PÚBLICA; SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL; FORÇAS ARMADAS; SANEAMENTO AMBIENTAL (água TRATADA, esgoto TRATADO, resíduos sólidos TRATADOS, logística REVERSA; MACRODRENAGEM urbana); MEIO AMBIENTE; COMUNICAÇÃO; ENERGIA; LOGÍSTICA; EMPREGO, TRABALHO e RENDA; HABITAÇÃO; CIÊNCIA e TECNOLOGIA; PESQUISA e DESENVOLVIMENTO; QUALIDADE (eficiência, economicidade, produtividade e competitividade); CULTURA; ESPORTE e LAZER...

Sabemos, e bem, que são GIGANTESCOS DESAFIOS mas, NADA, NADA mesmo, ABATE o nosso ÂNIMO nem ARREFECE nosso ENTUSIASMO e OTIMISMO nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, QUALIFICADA, LIVRE, SOBERANA, DEMOCRÁTICA, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que permita a PARTILHA de suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS, OPORTUNIDADES e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos para EVENTOS como a CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DESENVOLVIMETO SUSTENTÁVEL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS (RIO + 20) neste ano; a 27ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE no RIO DE JANEIRO em 2013; a COPA DAS CONFEDERAÇÕES em 2013; a COPA DO MUNDO de 2014; a OLIMPÍADA de 2016; as OBRAS do PAC e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO 21, da era da GLOBALIZAÇÃO, da INTERNACIONALIZAÇÃO das EMPRESAS, da INFORMAÇÃO, do CONHECIMENTO, das NOVAS TECNOLOGIAS, da SUSTENTABILIDADE e de um NOVO mundo, da PAZ, da IGUALDADE – e com EQUIDADE, e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...