“O
ser humano: entre o biológico e o social
Uma das questões que
povoam a mente de pensadores das mais diferentes áreas do conhecimento diz
respeito à natureza do comportamento humano e de aspectos da sua complexidade
social. Estudos sociológicos levam em conta principalmente a influência do meio
para determinar as causas da formação dos indivíduos. Em contrapartida, o campo
das ciências naturais se utiliza de explicações genéticas para definir as
origens do comportamento humano.
Ao fim
do século XIX, Gregor Mendel já dava sinais de que nossas características
enquanto seres vivos poderiam ser explicadas por meio do entendimento da
hereditariedade. Pouco tempo depois, Charles Darwin nos deixava como legado a
ideia de que o Homo sapiens não
estaria ocupando o topo do processo evolutivo, tampouco se traduziria na obra-prima da natureza. Atualmente, o
evolucionista Richard Dawkins aponta que a replicação dos genes é a razão
última de nossa existência, nos transformando em meras máquinas de
sobrevivência desses replicadores. Chegamos, então, ao ponto de buscarmos o
entendimento do que poderíamos chamar de “genética do comportamento”, campo de
estudo que busca explicações inatas para a determinação do comportamento
humano, a despeito da análise puramente sociológica.
Por
outro lado, segundo o aforismo de Emile Durkheim, “o social só se explica pelo
social”. Ou seja, a sociedade humana possuiria uma dinâmica própria,
independente de fatores biológicos. O homem seria fruto de seu meio cultural,
sendo uma espécie de “folha em branco” a ser preenchida por suas experiências.
Para Karl Marx, a posição social de um indivíduo é o fator determinante para
compreendermos suas ideias e, consequentemente, o seu comportamento.
Evidentemente
este breve artigo não pretende formular uma conclusão definitiva sobre a
complexa dicotomia hereditariedade versus meio. Entretanto, nossa experiência
intelectual nos permite chegar a algumas colocações pertinentes.
As questões
genéticas são inerentes ao ser humano enquanto parte integrante do mundo
biológico. E, apesar de estarmos talvez no início do caminho a ser percorrido para o
entendimento da complexidade genética que determina as características próprias
de nossa espécie, hoje é impossível descartar a influência dos genes na
sociedade humana. Todavia, o Homo sapiens,
por meio de suas capacidades cognitivas, conseguiu transcender sua mera
condição biológica; é também um ser cultural. Assim como a seleção natural favoreceu
determinadas estratégias evolutivas, a “seleção social” também condiciona
alguns tipos de conduta que fazem com que os mais “aptos” sejam aceitos em
determinados círculos. Sendo assim, seria possível afirmar que nossos
comportamentos possuem tanto origens genéticas quanto sociais?
A
conclusão que se obtém dessa análise é que muito ainda há de ser estudado para
termos uma compreensão satisfatória sobre a complexidade humana e as
verdadeiras particularidades dessa espécie diante da diversidade de vida no
planeta.
(Francisco
Ladeira e Daysa Athaydes, especialista em ciências humanas; bióloga, em
artigo publicado no jornal O TEMPO Belo
Horizonte, edição de 18 de agosto de 2014, caderno O.PINIÃO, página 13).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 20 de agosto
de 2014, caderno OPINIÃO, página 9,
de autoria de VIVINA DO C. RIOS BALBINO,
psicóloga, mestre em educação, professora da Universidade Federal do Ceará
e autora do livro Psicologia e psicologia
escolar no Brasil, e que merece
igualmente integral transcrição:
“Desafios
da educação
O Brasil festeja a
premiação de Artur Ávila em Seul, com a Medalha Fields, tida como o “Nobel da
Matemática”. Primeiro matemático latino-americano a receber a distinção, que
existe desde 1936. Ele é pesquisador do Instituto Nacional de Matemática Pura e
Aplicada (Impa) e do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), na França.
Com certeza, uma conquista extraordinária e incentivo para os novos talentos
das Olimpíadas de Matemática Brasil afora.
No
último Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o
Brasil subiu uma posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), passando da
80ª para 79ª em 2013, entre 187 países. Alguns pontos positivos também na
educação: o crescente aumento das inscrições no Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem), Programa Universidade para Todos (Prouni) e outros programas, a
expectativa de escolaridade brasileira é a mais elevada entre os países
integrantes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e a
expectativa média de vida hoje é de 74,8 anos em vez dos 73,9.
Além
disso, o número de matrículas na educação integral do ensino fundamental
cresceu 139% nos últimos anos, chegando a 3,1 milhões de estudantes. Entre 2012
e 2013, cresceu de 46,5%. Matrículas em creche tiveram crescimento de 72,8% no
período de 2007 e 2013. Entre 2012 e 2013, o aumento das matrículas em creche
foi de 7,5%. São dados recentes divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Hoje, são aplicados 5,8% do PIB
na educação, e, com as novas metas do Plano Nacional de Educação (PNE), o
Brasil pretende elevar essa proporção gradativamente até 10% do PIB.
Apesar
de incentivos e muitos avanços nesses últimos, os resultados não são imediatos
e a educação brasileira ainda é de péssima qualidade. Dados atuais do Pisa,
pesquisa internacional que testa o grau de escolaridade de jovens de 15 anos,
mostram que o país está na retaguarda. Ainda ocupamos o 53% entre 65 países e
731 mil crianças estão fora da escola (IBGE). O analfabetismo funcional ainda é
alto e 20% dos jovens que concluem o ensino fundamental, morando nas grandes
cidades, não dominam o uso da leitura e da escrita. No ensino médio, há grande
evasão, chegando a 70% entre os mais pobres. Os cursos técnicos têm habilitado
jovens para o mercado, mas de modo geral a qualidade do ensino precisa
melhorar.
A
formação dos educadores é precária e
desvalorizada nas universidades mesmo com incentivos recentes. Os cursos de
licenciatura precisam merecer destaque. O salário do docente da educação básica
é de R$ 1.874,50, quantia três vezes menor que o valor recebido por profissionais
da área de exatas, analistas, advogados e outras categorias. Os escândalos na
educação e em outras áreas Brasil afora precisam ter fim. Fraudes e corrupção
ainda são constantes. Com certeza, falta ação mais rigorosa do Ministério da
Educação (MEC) e do Ministério Público na fiscalização de verbas e na punição
dos criminosos. São verbas públicas de fato para uma educação de qualidade com
resultados.
Nas
universidades, houve grande expansão de campi até no interior e de programas de
inclusão de alunos. Melhorias precisam ser aprimoradas. Nossa maior
universidade e com enorme dotação orçamentária, a USP, passa por grave crise e
teve suas contas reprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo por
irregularidades. Apenas seis universidades do Brasil estão entre as 500
melhores do mundo e um única entre as 150 melhores. Hoje, seis das 10 melhores
universidades do Brics são chinesas e duas são brasileiras. A transformação do
país pela educação de qualidade é uma importante meta, mas é preciso gestão
competente em todos os níveis de ensino, valorização do compromisso e
meritocracia e ações fiscalizadoras rigorosas das verbas públicas.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas transformações em nossas
estruturas educacional, governamentais,
jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais,
de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas e sustentavelmente desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem (a propósito, na coluna Momento Econômico de Maurício Pessoa, no caderno
de Economia da edição de 21/08/1997, do jornal ESTADO DE MINAS, lê-se: “... Pois foi o fim da Contadoria Geral da
União que permitiu o aparecimento da inacreditável indústria de obras
inacabadas, uma arapuca pacientemente montada pelos escalões intermediários do
governo para que ninguém soubesse o volume do desperdício e, se soubesse, não
conseguisse tomar providências...”); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar
inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais
e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura
(rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento
ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados,
macrodrenagem urbana, logística reversa); meio
ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte,
acessibilidade); minas e energia;
emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro
nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e
nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil;
logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura,
esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento –
estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia,
efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade);
entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e
solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas,
oportunidades e potencialidades com todas
as brasileiras e com todos os
brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários
previstos e que contemplam eventos como a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e
os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da
globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...