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quinta-feira, 12 de março de 2020

A EXCELÊNCIA EDUCACIONAL, AS URGÊNCIAS E EXIGÊNCIAS DA QUALIFICAÇÃO DO ENSINO E AS LUZES E DESAFIOS DA CONSOLIDAÇÃO DA DEMOCRACIA NA SUSTENTABILIDADE


“A sociedade tem razão?
        A educação é uma urgência. Esse é o principal recado das pessoas ouvidas pela pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira, realizada pela Confederação Nacional da Indústria, em parceria com o Todos pela Educação, divulgada recentemente. Os resultados revelam aumento da insatisfação dos brasileiros com a educação no país, particularmente com a educação pública.
         Aproximadamente metade dos entrevistados considerava o ensino fundamental na escola pública como ótimo ou bom em 2013. Quatro anos depois, esse percentual caiu para 34%. Já no ensino médio, ele passou de 48%, em 2013, para 31%, em 2017, reduções bastante expressivas. A piora na percepção da qualidade da educação também pode ser observada na diminuição do percentual de brasileiros que consideravam os alunos concluintes do ensino fundamental ou do ensino médio bem preparados para a etapa do ensino posterior.
         A percepção dos entrevistados encontra respaldo na realidade. Vários indicadores educacionais apontam nessa direção e acompanham o aluno ao longo de sua vida escolar, da alfabetização ao ensino médio. Um dos exemplos da baixa qualidade do sistema de ensino público no Brasil pode ser encontrado nos resultados da Avaliação Nacional de Alfabetização, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, em 2016, e divulgada no final de 2017. A avaliação mostrou que mais da metade das crianças do 3º ano do ensino fundamental apresentava níveis insuficientes de proficiência em leitura e matemática. Os passivos são grandes, também. Aproximadamente 7,2% da população de 15 anos ou mais era analfabeta em 2016.
         É tolerável que o país não alfabetize suas crianças? Não, não é. Não é tolerável para um país que se queira grande. A escola brasileira pouco ensina adequadamente. Nela, aprende-se menos do que o esperado para uma vida autônoma e de oportunidades para todos. O que a pesquisa da CNI e do Todos pela Educação indica é que a sociedade brasileira sabe disso e que reconhece o papel da educação para o desenvolvimento individual, econômico e social do país. Diante do cenário atual, e das oportunidades de mudanças em um ano eleitoral, essa é uma informação que não se deve menosprezar.
         Há algumas divergências no debate público sobre os caminhos mais curtos a serem seguidos para melhorar a educação pública no Brasil. Alguns entendem, por exemplo, que é necessário concentrar esforços em grupos mais vulneráveis e municípios e escolas com piores indicadores educacionais, reforçando a ideia de que são necessárias soluções diferenciadas para grupos que estão em situação de desigualdade perante os demais. Outros ainda repercutem visões de que “o para todos”, com estratégias e atendimento iguais, é o melhor caminho para se alcançar uma educação de qualidade. No entanto, arrisco dizer que há mais convergências do que divergências no debate nacional e é preciso aproveitá-las para que o recado da população pela urgência da melhoria da qualidade da educação brasileira seja ouvido e atendido. Uma delas é que uma escola com boa gestão, formada por professores preparados para os desafios do século 21 e corpo diretivo qualificado, é capaz de promover mudanças duradouras e sustentáveis. Para isso, o primeiro passo é: a escola deve ser capaz de se conhecer e conhecer experiências dos seus semelhantes. Não é tarefa impossível. O momento é oportuno. Não se pode mais esperar.”.

(JULIANA LEITÃO. Consultora da Falconi Consultores de Resultado, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 2 de maio de 2018, caderno OPINIÃO, página 7).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Excelência Educacional vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição, caderno e página, de autoria de BRUNO CLÁUDIO PENNA AMORIM PEREIRA, advogado, sócio-fundador do escritório Nogueira Amorim, professor, mestre e doutorado em direito público, consultor jurídico da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, e que merece igualmente integral transcrição:

“A democracia brasileira
        A democracia – etimologicamente demokratia, de origem grega, formada pelas palavras demos (povo) e kratos (domínio, poder) – foi concebida e praticada, originariamente, na Grécia antiga, com a organização de uma estrutura de governo no seio das polis (cidades-estados). Em sua origem, em Atenas, a concepção de democracia já se afastou de seu sentido etimológico, de tal modo que a participação no poder e das decisões políticas eram exercidas apenas por alguns, em detrimento de vários indivíduos, por motivos diversos e distintos.
         Ao longo da evolução história e, sobretudo, a partir das revoluções liberais, com o surgimento do constitucionalismo como forma de limitação e organização do poder político, o princípio democrático foi constitucionalizado e consolidou-se por meio de instrumentos de participação popular do poder. O sufrágio, em um primeiro momento restrito, tornou-se, posteriormente, universal, com a eliminação de critérios discriminatórios de viés econômico, racial, de gênero, entre outros, para o exercício da cidadania política. Em alguns momentos, a democracia manifestou-se com a participação direta do povo em assembleias cantonais (landsgemeinde, em alemão), disseminadas em alguns cantões suíços, onde o povo discutia e deliberava sem a presença de intermediários.
         A forma que mais se difundiu nos sistemas políticos pós-revolucionários foi a democracia representativa, pela qual representantes eleitos pelo voto direto e popular passaram, com autonomia, a exercer mandatos políticos. Era um grande avanço diante do sistema de mandato imperativo, próprio do período medieval, o qual exigia dos representantes ações voltadas exclusivamente ao seu eleitorado. A esses instrumentos de democracia direta e indireta foram instituídas novas ferramentas de participação popular de leis, além de outros, como o veto popular e o recall, próprio do sistema estadunidense.
         A análise da concepção de democracia contemporânea indica sua evolução. Evolução no seu conceito e em seu exercício. A democracia passou a ser concebida de forma plurissignificativa. Sua essência é o respeito à vontade popular, manifestada de forma direta e indireta. O principal locus para seu exercício é o Legislativo, em todos os níveis federativos.
         Mas uma República democrática, como a brasileira, não pode se consolidar com a mera participação indireta do povo na vontade estatal por intermédio de representantes eleitos no Legislativo e no Executivo. A crise que assola esses poderes, especialmente a relacionada à representação política no Brasil exige uma reflexão: a democracia brasileira deve ser reconfigurada? Há outras formas de exercício que não pela representação política?
         A nova teoria constitucional indica que “a democracia não flui exclusivamente pelas instâncias políticas tradicionais”. Ela não se configura mais de forma puramente formal (quantitativo de votos). A democracia possui também uma dimensão substantiva, e uma dimensão deliberativa, consubstanciada por meio do debate público. A concepção tripartite de democracia exige, portanto, votos, direitos e razões (Luis Roberto Barroso, em A razão sem voto: o Supremo Tribunal Federal e o governo da maioria, 2015).
         Os meios de exercício da democracia brasileira devem ser repensados. Repensados especialmente por nós, e não apenas por nossos representantes. O voto não nos é mais suficiente para sermos bem representados. A soberania popular exige que o povo exerça o poder. Nesse campo, a iniciativa popular de leis é importante instrumento para transformarmos ideias em projetos de lei. A Lei da Ficha Limpa surgiu a partir desse processo. Sem falar nas inúmeras audiências públicas que ocorrem no seioi do Parlamento. Devemos, também, discutir mais o recall, pelo qual os exercentes de mandato eletivo são avaliados se devem ou não continuar no exercício de suas funções públicas.
         Além disso, no âmbito do Executivo, o povo tem voz ativa. Sua participação não se limita ao voto. A participação em conselhos municipais, estaduais e federais, nos diversos ramos de políticas públicas, possibilita ao povo aproximar-se das decisões que a ele interessam diretamente. O orçamento participativo, ainda que exercido de forma limitada e ainda falha, nos garante a cidadania. Somos cidadãos e as decisões políticas pertencem a todos nós. A esse respeito, bem pertinente o que diz Giovanni Sartori: “A política é um ‘fazer’ humano que, mais do que qualquer outro, diz respeito a todos nós” (em a A política: lógica e método nas ciências sociais, 1979).
E quanto ao Poder Judiciário? Faz ele parte do exercício e da consolidação do princípio democrático? Muitos dizem que juízes, especialmente no Brasil, não representam a vontade popular, por não serem eleitos. O Judiciário seria uma instituição contramajoritária. Suas decisões, portanto, não seriam legítimas. Mas será que esta assertiva é absolutamente verdadeira? É certo que o Judiciário não pode ser o único intérprete da Constituição. Se assim o for, caminharemos para uma “juristocracia”. Mas ele também é responsável por representar a vontade popular. Os direitos fundamentais, fundamental educação e saúde, são diariamente garantidos pelo Judiciário (sem entrar na discussão se isso é ou não ativismo). Os direitos das minorias, que não são amparados pelas Casas Legislativas, encontram respaldo no Judiciário. Um dos exemplos que reflete o viés popular da jurisdição constitucional foi o julgamento, no STF, que considerou a não configuração do crime de aborto quando se tratar de antecipação terapêutica do parto de feto anencéfalo. E, nesse caso, a participação popular foi exercida com a realização de diversas audiências públicas e pela manifestação processual de diversas entidades interessadas (amicus curiae).
         É pertinente tratarmos sobre o assunto no contexto político brasileiro atual. Especialmente diante do questionamento da validade de decisões judiciais condenando diversos políticos. Aqueles que defendem a ilegitimidade dos provimentos judiciais proferidos argumentam a necessidade de respeito às regras do jogo democrático e da vontade popular exercida por meio do voto. Mas a concepção atual daquilo que se entende por democracia exige o respeito às decisões do Judiciário. Ele faz parte do regime democrático e é indispensável na consolidação do Estado de direito. Isso não significa concebê-lo como único intérprete da Constituição. Para tanto, devemos, sim, aumentar os mecanismos de participação popular do poder e de interpretação do texto constitucional.
         A separação entre os poderes, princípio basilar constitucional, deve ser interpretada, cada vez mais, de forma a promover equilíbrio entre eles. Os poderes devem dialogar entre si. A teoria dos diálogos institucionais (Adrian Vermeule) indica que, para que se tenham decisões justas e legítimas, nenhum dos poderes do Estado deve exercer a última palavra de forma absoluta. O fenômeno do backlash, de origem estadunidense, revela que a Suprema Corte, ao declarar a inconstitucionalidade da pena de morte em diversos estados (eg. Furman v. Georgia, 1972), não impediu a aprovação de novas leis estaduais instituindo a pena novamente. No Brasil, já houve também superação da interpretação do STF por atos legislativos aprovados posteriormente no Congresso Nacional, como no caso da contribuição previdenciária dos inativos.
         Assim, as decisões devem ser proferidas a partir do diálogo e consenso entre todos os poderes do Estado. Isso reforça a ideia de democracia, no sentido plurissignificativo e moderno. Compete aos exercentes do poder zelar por esse ideal. E ao povo se fazer pertencente ao poder.”.

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, justas, educadas, qualificadas, civilizadas, soberanas, democráticas, republicanas, solidárias e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
a)     a excelência educacional – pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional –, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas, gerando o pleno desenvolvimento da pessoa, da cidadania e da qualificação profissional (enfim, 130 anos depois, a República proclama o que esperamos seja verdadeiramente o início de uma revolução educacional, mobilizando de maneira incondicional todas as forças vivas do país, para a realização da nova pátria; a pátria da educação, da ética, da justiça, da liberdade, da civilidade, da democracia, da participação, da solidariedade, da sustentabilidade...);
b)    o combate implacável, sem eufemismos e sem tréguas, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero (segundo dados do Banco Central, a taxa de juros do cartão de crédito atingiu em janeiro a ainda estratosférica marca de 316,79% nos últimos  doze meses, e a taxa de juros do cheque especial chegou ainda em históricos 165,60%; e já o IPCA, em fevereiro, também no acumulado dos últimos doze meses, chegou a 4,01%); II – a corrupção, há séculos, na mais perversa promiscuidade    “dinheiro público versus interesses privados” –, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis e irreversíveis prejuízos, perdas e comprometimentos de vária ordem (a propósito, a lúcida observação do procurador chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol: “A Lava Jato ela trata hoje de um tumor, de um caso específico de corrupção, mas o problema é que o sistema é cancerígeno...” – e que vem mostrando também o seu caráter transnacional;  eis, portanto, que todos os valores que vão sendo apresentados aos borbotões, são apenas simbólicos, pois em nossos 518 anos já se formou um verdadeiro oceano de suborno, propina, fraudes, desvios, malversação, saque, rapina e dilapidação do nosso patrimônio... Então, a corrupção mata, e, assim, é crime...); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, indubitavelmente irreparáveis (por exemplo, segundo Lucas Massari, no artigo ‘O Desperdício na Logística Brasileira’, a “... Desconfiança das empresas e das famílias é grande. Todos os anos, cerca de R$ 1 trilhão, é desperdiçado no Brasil. Quase nada está imune à perda. Uma lista sem fim de problemas tem levado esses recursos e muito mais. De cada R$ 100 produzidos, quase R$ 25 somem em meio à ineficiência do Estado e do setor privado, à falhas de logística e de infraestrutura, ao excesso de burocracia, ao descaso, à corrupção e à falta de planejamento...”;
c)     a dívida pública brasileira - (interna e externa; federal, estadual, distrital e municipal) –, com previsão para 2020, apenas segundo o Orçamento Geral da União – Anexo II – Despesa dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social – Órgão Orçamentário, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1,651 trilhão (44,79%), a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (ao menos com esta rubrica, previsão de R$ 1,004 trilhão), a exigir alguns fundamentos da sabedoria grega, do direito e da justiça:
- pagar, sim, até o último centavo;
- rigorosamente, não pagar com o pão do povo;
- realizar uma IMEDIATA, abrangente, qualificada, independente, competente e eficaz auditoria... (ver também www.auditoriacidada.org.br)
(e ainda a propósito, no artigo Melancolia, Vinicius Torres Freire, diz: “... Não será possível conter a presente degradação econômica sem pelo menos, mínimo do mínimo, controle da ruína das contas do governo: o aumento sem limite da dívida pública...”).

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade – “fazer mais e melhor, com menos” –, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo e nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela excelência educacional, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, solidária e desenvolvida, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos em inadiáveis e fundamentais empreendimentos de infraestrutura, além de projetos do Pré-Sal e de novas fontes energéticas, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo do direito, da justiça, da verdade, do diálogo, da liberdade, da paz, da solidariedade, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!

“VI, OUVI E VIVI: O BRASIL TEM JEITO!”
58 anos de testemunho de um servidor público (1961 – 2019)

- Estamos nos descobrindo através da Excelência Educacional ...
- ANTICORRUPÇÃO: Prevenir e vencer, usando nossas defesas democráticas ...
- Por uma Nova Política Brasileira ...
- Pela excelência na Gestão Pública ...
- Pelo fortalecimento da cultura da sustentabilidade, em suas três dimensões nucleares do desenvolvimento integral: econômico; social, com promoção humana, e, ambiental, com proteção e preservação dos nossos recursos naturais ...
- A alegria da vocação ...  

Afinal, o Brasil é uma águia pequena que já ganhou asas e, para voar, precisa tão somente de visão olímpica e de coragem! ...        

E P Í L O G O

CLAMOR E SÚPLICA DO POVO BRASILEIRO

“Oh! Deus, Criador, Legislador e Libertador, fonte de infinita misericórdia!
Senhor, que não fique, e não está ficando, pedra sobre pedra
Dos impérios edificados com os ganhos espúrios, ilegais, injustos e
Frutos da corrupção, do saque, da rapina e da dilapidação do
Nosso patrimônio público.
Patrimônio esse construído com o
Sangue, suor e lágrima,
Trabalho, honra e dignidade do povo brasileiro!
Senhor, que seja assim! Eternamente!”.






sexta-feira, 9 de agosto de 2013

A CIDADANIA, O LEGADO DO PAPA E OS PARADOXOS DA QUALIDADE BRASIL

“O legado que o papa Francisco deixou para o povo brasileiro
        
         Não é fácil em poucas palavras resumir os pontos relevantes das intervenções do papa Francisco no Brasil. Enfatizo alguns com o risco de omitir outros importantes.
         O legado maior foi a figura de Francisco: um humilde servidor da fé, despojado de todo aparato, tocando e deixando-se tocar, falando a linguagem dos jovens e as verdades com sinceridade. Representou o mais nobre dos líderes, o líder servidor que não faz referência a si mesmo, mas aos outros, com carinho e cuidado, evocando esperança e confiança no futuro.
         No campo político, encontrou um país conturbado pelas multitudinárias manifestações  dos jovens. Defendeu sua utopia e o direito de ser ouvidos. Apresentou uma visão humanística na política, na economia e na erradicação da pobreza. Criticou duramente um sistema financeiro que descarta os dois pólos: os idosos, porque não produzem, e os jovens, não criando-lhes postos de trabalho. Uma sociedade assim pode desabar.
         O tema da ética era recorrente, fundada na dignidade transcendente da pessoa. Com referência à democracia, cunhou a expressão “humildade social”, que é falar olho no olho, entre iguais, e não de cima para baixo. Apontou uma opção sempre possível: o diálogo construtivo. Três categorias sempre voltavam: o diálogo como mediação para os conflitos, a proximidade com as pessoas para além de todas as burocracias e a cultura do encontro.
         No campo religioso, foi mais fecundo e direto. Reconheceu que “jovens perderam a fé na Igreja e até mesmo em Deus pela incoerência de cristãos e de ministros do evangelho”. O discurso mais severo reservou para os bispos e os cardeais latino-americanos. Conclamou-os não apenas a abrir as portas para todos, mas a saírem em direção ao mundo e para as “periferias existenciais”. Criticou a “psicologia principesca” de membros da hierarquia. Dois eixos devem estruturar a pastoral: a proximidade do povo, para além das preocupações organizativas, e o encontro marcado de carinho e ternura. Entende a Igreja como mãe que abraça, acaricia e beija. A Igreja não pode ser controladora e administradora, mas servidora e facilitadora.
         Ademais, deu centralidade aos leigos para, junto com os pastores, decidirem os caminhos da comunidade. O diálogo com o mundo moderno e a diversidade religiosa: o papa Francisco não mostrou nenhum medo. Quer inserir-se num profundo sentido de solidariedade para com os privados de comida e de educação. Todas as confissões devem trabalhar juntas em favor das vítimas. Pouco importa se o atendimento é feito por um cristão, um judeu, um muçulmano ou outro. O decisivo é que o pobre tenha acesso à comida e à educação.
         Aos jovens, dedicou palavras de entusiasmo e de esperança. Contra a cultura do consumismo e da desumanização, convocou-os a serem “revolucionários” e “rebeldes”. É através da janela dos jovens que entra o futuro. Criticou o restauracionismo de alguns grupos e o utopismo de outros. Colocou o acento no hoje: “no hoje se joga a vida eterna”. Desafiou-os para o entusiasmo, para a criatividade e para ir pelo mundo espalhando a mensagem generosa e humanitária de Jesus, o Deus que realizou a proximidade e marcou encontro com os seres humanos.
         Na celebração final, havia mais de 3 milhões  de pessoas, alegres, festivas e na mais absoluta ordem. Desceu uma aura de benquerença, de paz e de felicidade sobre o Rio de Janeiro e sobre o Brasil que só podia ser a irradiação do terno e fraterno papa Francisco e do sentimento divino que soube transmitir.”

(LEONARDO BOFF. Filósofo e teólogo, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 2 de agosto de 2013, caderno O.PINIÃO, página 22).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 7 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de FREI BETTO, que é escritor, autor de Alfabetto – autobiografia escolar (Ática), entre outros livros, e que merece igualmente integral transcrição:

“Paradoxos da qualidade Brasil
        
         O Brasil melhora em quantidade e tropeça em qualidade. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) de 5.565 municípios brasileiros, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 29 de julho, subiu 47,5% nos últimos 20 anos. Em 1991, índice de municípios com IDH “muito baixo” era de 85,8%. Hoje, apenas 0,6%. Naquele ano, nenhum município mereceu a classificação de “muito alto”. Em 2000, apenas São Caetano do Sul, no ABC paulista. Agora, 44 municípios brasileiros têm IDH “muito alto”, entre os quais Belo Horizonte, que ocupa a 20ª posição.
         Nosso país melhorou na longevidade, no crescimento da renda da população e na educação. Em 20 anos, a vida média do brasileiro passou de 64,7 anos para 73,9. A renda cresceu 14,2%. Um ganho de R$ 346,31. Mas é bom não esquecer que, se há 10 galinhas e 10 pessoas, não significa que há uma galinha para cada pessoa. Uma delas pode ser dona de nove. Nossa distribuição de renda ainda é das piores do mundo. Basta lembrar que o Brasil é a quarta maior fortuna em paraísos fiscais! Bilionários brasileiros vivem se queixando dos impostos. Da boca para fora. Pesquisa aponta o Brasil como a quarta fortuna mundial em paraísos fiscais: US$ 520 bilhões (mais de R$ 1 trilhão ou quase 1/3 do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que foi de R$ 3,6 trilhões em 2010. Tudo dinheiro sonegado.
         Nem tudo são rosas também em nosso IDH. Quase 30% das cidades brasileiras têm IDH “muito baixo” no quesito educação. E apenas cinco cidades merecem o índice “muito alto”. A educação é o grande entrave da qualidade Brasil. Menos da metade de nossos jovens de 18 a 20 anos termina o ensino médio: 41% dos alunos. Há 20 anos, apenas 13% dos alunos não se diplomavam no ensino médio. Nisso o Brasil anda a passo de caranguejo, para trás. Se 59% dos jovens não têm ensino médio completo, fica difícil para o nosso país suprir seu atual déficit de profissionais qualificados, como médicos e engenheiros.
         “O Brasil avançou na universalização do acesso à educação. Agora é preciso universalizar a aprendizagem”, afirma Priscila Cruz, do Todos pela Educação. E resgatar a qualidade de nossas escolas públicas, hoje sucateadas. O Distrito Federal tem o melhor IDH entre as unidades de nossa federação. Minas ocupa o 9º lugar. Entre as capitais, Belo Horizonte fica em 5º, atrás de Florianópolis, Vitória, Brasília e Curitiba. Alagoas e sua capital, Maceió, amargam o mais baixo IDH brasileiro. Convém salientar que 99% dos municípios com IDH em educação “alto” ou “muito alto” ficaram abaixo das notas consideradas satisfatórias, em língua portuguesa e matemática, na Prova Brasil de 2011.
         Os problemas de nossa ensino médio são a falta de qualidade (sem tempo integral, informática, laboratórios, e com professores mal remunerados e sem formação contínua) e o abismo entre e o que se ensina e a realidade em que vivem os nossos jovens (falta de pedagogia e adequação às novas tecnologias). Em 2009, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) classificou o Brasil na 53ª posição entre 65 países, atrás do México, Uruguai e Chile. Raros os alunos de nossas universidades que conseguem escrever uma simples carta sem graves erros de concordância. Falta à maioria o hábito de frequentar a boa literatura.
         É preciso ouvir a voz das ruas. De nossos jovens, 85,2% consideram a educação prioridade.  O governo federal não pode continuar, em matéria de educação, em passos de escola de dança, um para frente e dois para trás, como no caso dos cursos de medicina. É urgente a aplicação de ao menos 10% do PIB na educação, o incremento do ensino profissionalizante e o resgate da escola pública gratuita, em tempo integral e de qualidade. Em conferência para mais de 5 mil profissionais do ensino, em Brasília, pedi que levantassem as mãos quem era professor. Quase todos o fizeram. Em seguida, pedi que fizessem o mesmo gesto de quem sonha em ter o filho ou a filha no magistério. Pouquíssimas mãos se ergueram. Triste o país que não se orgulha de seus professores, concedendo-lhes condições dignas e qualificadas de trabalho.”

Eis, pois, mais páginas contendo importantes, pedagógicas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, severo e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem (por exemplo, as vísceras expostas das obras de construção de metrô no país); III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões),  a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; assistência social; previdência social; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; sistema financeiro nacional; comunicações; esporte, cultura e lazer; turismo; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...