“O
século da conciliação
Com o iluminismo, a
razão passou a ser um elemento central no avanço civilizatório, fazendo da
ciência a fonte primordial de justificação das questões do mundo. Em sua rota
evolutiva, o racionalismo extremo trouxe o apego à materialidade estanque, fechando os
olhos para as razões que só o coração consegue enxergar. A prepotência
racionalista foi tanta que levou a humanidade à irracionalidade feroz de duas
guerras mundiais. O Velho Mundo, berço do pensamento ocidental, há pouco mais
de 50 anos, quase virou pó.
Em
termos históricos, isto foi ontem e deve servir de viva advertência de que a
violência é um vício latente do poder.
Na
reconstrução do pós-guerra, duas forças políticas surgiram como alternativas de
aperfeiçoamento político: o socialismo marxista, ligado à luta de classes e ao
dirigismo estatal, e o capitalismo liberal, centrado na defesa da liberdade e
no progresso socioeconômico do povo. Com uma Europa em destroços, a Guerra Fria
marcou o duelo da União Soviética e dos Estados Unidos pela hegemonia política
mundial. Os modelos de desenvolvimento econômico eram contrapostos: um, de viés
estatizante, o outro, apoiado no livre mercado. No governo Gorbachev, o
paradigma russo começou a ruir, vindo a desmoronar, definitivamente, com a
queda do Muro de Berlim.
Diante
da inegável ruptura política, prestigiado intelectual norte-americano chegou a
afirmar que estaríamos no “fim da história”. Ledo engano. A história é um
caminho para a eternidade, fazendo da democracia uma permanente obra inacabada.
Nesse contexto cambiante, cada geração humana possui desafios civilizatórios
próprios, devendo, para tanto, se valer da cultura e do saber acumulado como forças
atuantes para a construção de dias melhores.
Por
ser assim, o processo educacional adquire importância fundamental para o
aperfeiçoamento político do povo, pois somente ensinando a pensar bem
conseguiremos elevar a cidadania para um patamar civilizatório mais
aperfeiçoado.
Como
bem apontou a inteligência superior de John Dewey, a democracia “é mais do que
uma forma de governo; é, primacialmente, um forma de vida associada, de
experiência conjunta e mutuamente comunicada”.
Após
um tempo de severos antagonismos, vivemos um século de necessária conciliação.
Caberá à política democrática bem exercida demonstrar que o inegociável direito
à liberdade individual é o primeiro passo para uma consciência política de
aperfeiçoamento coletivo. O povo é um conjunto de cidadãos livres, e não um
amontoado de fantoches do poder.
Sem
cortinas, o postulado da democracia traz consigo a ideia de educação para uma
liberdade humanista que consiga bem ponderar os anseios individuais com uma
visão integradora da sociedade em sua pulsante pluralidade existencial. Eis o
desafio e nossa oportunidade histórica como cidadãos do mundo.”
(Sebastião
Ventura Pereira da Paixão Jr.. Advogado, em artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 25 de
junho de 2014, caderno O.PINIÃO, página
21).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 27 de junho
de 2014, caderno OPINIÃO, página 7,
de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE
AZEVEDO, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece integral
transcrição:
“Povo
brasileiro, campeão?
O futebol do Brasil é o
único que se fez representar em todas as Copas do Mundo e, nessa história, pela
primeira vez, o povo brasileiro tem a oportunidade de dar um tratamento
diferente ao megaevento esportivo, justamente quando é realizado aqui. Em
outras ocasiões, comentava-se o risco de manipulação governamental em proveito
próprio e de interesses partidários. Mas, neste Mundial de 2014, cresce a
esperança de que a sociedade avançará em suas análises políticas e avaliações
de impactos sociais. Nesse exercício, devem ser incluídas as reflexões sobre
gastos bilionários em detrimento de necessidades básicas urgentes na infraestrutura.
Também é importante saber separar a euforia do torcedor das avaliações sobre os
políticos e a política partidária. Afinal, a conquista do hexa não será,
obviamente, a garantia de que o povo brasileiro se tornará campeão.
A
competitividade esportiva, além do divertimento e do entusiasmo da festa, por
sua força educativa própria, é metáfora rica com indicações para o
comportamento cidadão que almeja uma condição campeã. Há, pois, sinalização
concreta de amadurecimento popular nesta etapa nova dos desdobramentos
políticos e sociais no Brasil. A Copa do Mundo tem data fixada para acabar e,
evidentemente, a vitória brasileira será motivo de alegria para o povo.
Contudo, não garante os mais significativos avanços na busca das vitórias
necessárias e urgentes, quando se consideram os enormes desafios a serem
vencidos para mudar cenários desoladores que mancham a pátria amada.
Terminada
a Copa, o povo brasileiro tem ainda um longo caminho a percorrer em busca de
sua indispensável condição campeã no tratamento os pobres, na superação da
exclusão social vergonhosa, na grande concentração das riquezas e do dinheiro
nas mãos de uma minoria, entre outros desafios. Encontrar um novo modo de se
fazer política no Brasil, de maneira mais civilizada, lúcida, propositiva, sem
demagogias, em diálogo com a população, também é meta a ser alcançada. E esse
caminho não será percorrido sem que a sociedade brasileira paute suas ações a
partir de inequívoca reciprocidade, baseada em princípios e valores que
reconhecem o bem moral como condição indispensável para a estruturação da vida
social e política.
Percebe-se
que a batalha é grande. A corrupção endêmica que tempera funcionamentos
institucionais, governamentais, condutas individuais, precisa de um tratamento
extremamente incidente. As eleições de 2014 precisam ser marcadas pelo
exercício cidadão de buscar corrigir os rumos do país. Na contramão desse
caminho, a oportunidade de mudanças mais profundas será entregue de “mão
beijada” aos produtores de uma política inócua. É fundamental uma reeducação a
partir do gosto pela verdade, capaz de promover uma grande mudança cultural.
Desse modo, será possível até mesmo o enfrentamento da postura irônica de
considerar serem politicamente corretas as falsas posturas, que objetivam
captar a simpatia do cidadão para se alcançarem certos objetivos e, em seguida,
após conquistá-los, ignorar completamente os anseios do povo.
Gostar
da verdade ainda é um enorme desafio na configuração da sociedade. Trata-se de
imprescindível condição para se formar um tecido cultural mais consistente e,
consequentemente, uma capacidade para lidar de modo mais nobre com a liberdade
e com a justiça. Só a plena verdade sobre o homem, vivida na tratamento da vida
cotidiana, permite a superação de uma visão distorcida do que é justo, abrindo
o horizonte daqueles que estão nas cortes, instâncias governamentais, nos
diversos campos profissionais, nas relações familiares e interpessoais, para a
solidariedade e o amor.
Os
elogios à receptividade brasileira aos visitantes estrangeiros é o sinal de que
as praças esportivas, embora chamadas de “arenas”, as ruas e todos os lugares
devem ser espaços de acolhida, ambientes para o intercâmbio civilizado e
construtivo. Permanecerá o desafio de, terminado o Mundial, conservar no
coração do povo brasileiro essa abertura para o encontro, impulsionando um caminho
novo de solidariedades e revisões profundas das desigualdades. Enquanto não se
conseguir eliminar a exclusão social, vergonhosa entre nós, não se vencerá a
violência crescente. O sistema social em que vivemos é injusto na sua raiz. É
indispensável continuar a luta contra a idolatria do dinheiro e outros males
para que a cultura da vida com seus valores e tradições seja salva. Com ou sem
o hexa, conta é que seja o povo brasileiro campeão.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
incisivas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidades de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, como prioridade absoluta de nossas políticas
públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente,
competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares
civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da
vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária
ordem; III – o desperdício, em todas
as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos,
inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com projeção
para 2014, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável
desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a
título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta
rubrica, previsão de R$ 654 bilhões), a exigir igualmente uma imediata,
abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão
descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a
nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta
a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e
regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores
como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); a educação;
a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos
sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana
(trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às
commodities; sistema financeiro nacional; assistência social; previdência
social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas;
polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; cultura, esporte e lazer; turismo; comunicações;
qualidade (planejamento –
estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia,
efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade);
entre outros...
São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente participativa, justa, ética, educada,
civilizada, qualificada, livre,
soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas
extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros. Ainda mais
especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que
contemplam eventos como a Copa do Mundo; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e
os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da
globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do
conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um
possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...