quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A CIDADANIA E A COMPREENSÃO DE QUE NÃO HÁ EMOÇÃO NO ESTADO

“PARTE III: ÉTICA E PARTICIPAÇÃO

Ao longo do texto, afirmamos que a reflexão ética de hoje nos obriga a debruçar sobre o sujeito e investigar o problema da verdade a partir da pessoa humana. Toda tomada de decisão é individual. A decisão coletiva é sempre uma abstração, isto é, é a soma das decisões individuais, como no caso da eleição. No entanto, a ética envolve uma dimensão que, se esquecida, descaracteriza a nossa investigação como ética: a sua relação com a coletividade. A atuação do sujeito no mundo repercute no ambiente social em que vive. Ao tratar a ética de modo personalizado, psicológico, subjetivo, não se pode esquecer da dimensão social da ética. É preciso pensar a ética a partir do sujeito sem cair no individualismo e no narcisismo, gerados pelo processo de personalização.

O individualismo é a auto-afirmação do eu sem considerar a sua participação no mundo. O indivíduo não leva em conta o fato de que faz parte de uma comunidade e desconsidera a importância dela para a própria vida. Geralmente, o individualista é considerado egoísta, no sentido de que só pensa em si mesmo e não está se importando com a coletividade. Entretanto, é preciso rever o significado dessa palavra. Se a comunidade é importante para o bem viver do sujeito e este a prejudica, ele não está pensando em si, ele não está sendo verdadeiramente egoísta. O egoísta de verdade quer tanto o seu próprio bem que cuida para que sua relação com as pessoas e a natureza seja boa tanto para si mesmo quanto para os que lhe são próximos. Aquele que só pensa em si e desconhece que o bem estar do outro lhe é importante está sendo, no mínimo, ingênuo.

O individualista desconhece a interdependência entre as pessoas. Para viver bem, o ser humano precisa da colaboração dos outros seres humanos. Para dormir com tranqüilidade à noite, é necessário que seus vizinhos não façam barulho. Para se nutrir, é necessário que os alimentos que consuma tenham sido preparados com higiene e asseio por todos os responsáveis pela sua produção. Para ganhar o seu dinheiro através do trabalho, é necessário que haja alguém que se beneficie do seu ofício e se disponha a pagar por ele. Para se locomover de automóvel com segurança e rapidez, é necessário que os cidadãos respeitem as leis de trânsito. Para usufruir das praias e cachoeiras em seus momentos de lazer, é necessário que não polua as riquezas naturais. Enfim, se eu me preocupo em viver bem, devo cuidar para que o meu ambiente e as relações que estabeleço com os outros me ofereçam as condições para tal. [...]”
(ROBERTO PATRUS MUNDIM PENA, in Ética e felicidade.- Belo Horizonte: Faculdade de Estudos Administrativos, 1999, páginas 93 e 94).

Mais uma IMPORTANTE e OPORTUNA contribuição para o nosso trabalho de MOBILIZAÇÃO PARA A CIDADANIA E QUALIDADE vem de artigo publicado no Jornal ESTADO DE MINAS, edição de 26 de agosto de 2010, Caderno CULTURA, página 10, de autoria de FREI BETTO, que merece INTEGRAL transcrição:

“Não há emoção no Estado

Época de eleição é época de desvarios. A razão costuma entrar em férias e a sensibilidade fica à flor da pele. Em família e no trabalho, no clube e na igreja, todos manifestam opiniões sobre articulações políticas e candidatos.

O tom varia do palavrão a desqualificar toda a árvore genealógica do candidato à veneração acrílica de que o julga perfeito. A língua se espicha em sete léguas para difamar ou louvar políticos. Marido briga com a mulher, pai com o filho, amigo com amigo, cada um convencido de que tem a melhor análise sobre os candidatos... e todos parecem ignorar que vivemos numa relativa democracia em que reina a diversidade de forças políticas, embora impere a ideologia das elites dominantes.

Há um terceiro grupo que insiste em se manter indiferente ao período eleitoral, embora não o consiga em relação aos candidatos, todos eles considerados corruptos, mentirosos, aproveitadores e/ou demagogos.

Haja coração!

O problema é que não há saída: estamos todos sujeitos ao Estado. E este é governado pelo partido vitorioso nas eleições. Portanto, ficar indiferente é uma forma de passar cheque em branco, assinado e de valor ilimitado, a quem governa. E tanto o governo quanto o Estado, com o perdão da redundância, são absolutamente indiferentes à nossa indiferença e aos nossos protestos individuais.

É compreensível uma pessoa não gostar de ópera, jiló, viagem de avião ou da cor marrom. E mesmo de política. Impossível é ignorar que todos os aspectos de nossa existência, do primeiro respiro ao último suspiro, têm a ver com a política.

Já a classe social em que cada um de nós nasceu decorre da política vigente no país. Houvesse menos injustiça e mais partilha dos bens da Terra e dos frutos do trabalho humano, ninguém nasceria entre a miséria e a pobreza. Como nenhum de nós escolheu a família e a classe social em que veio a este mundo, somos todos filhos da loteria biológica. Nossa condição social de origem resulta de mero acaso. E não deveria ser considerado privilégio por quem nasceu nas classes média e rica, e sim dívida social para com aqueles que não tiveram a mesma sorte.

Somos ministeriados do nascimento à morte. Ao nascer, o registro vai parar no Ministério da Justiça. Vacinados, vamos ao Ministério da Saúde; ao ingressar na escola, ao da Educação; ao arranjar emprego, ao do Trabalho; ao tirar carteira de motorista, ao das Cidades; ao aposentar-se, ao da Previdência Social; ao morrer, retornamos ao Ministério da Justiça. E nossas condições de vida, como renda e alimentação, dependem dos ministérios da Fazenda e do Planejamento, e do modo como o Banco Central administra a moeda nacional e o sistema financeiro.

Em tudo há política. Para o bem ou para o mal. Posso não saber o que a política tem a ver com a conta do supermercado ou o valor da matrícula escolar. Muitos ignoram que a política se faz presente até no calendário. Não que determine as estações do ano, embora tenha tudo a ver com os efeitos, como inundações, secas e desabamentos. Já reparou que dezembro, o último mês do ano, deriva de dez? Novembro de nove, outubro de oito, setembro de sete?

Outrora o ano era de 10 meses. O imperador Júlio César decidiu acrescentar um mês em sua homenagem. Assim nasceu julho. Seu sucessor, Augusto, não quis ficar atrás. Criou agosto. Como os meses se sucedem na alternância 31/30, Augusto não admitiu que seu mês tivesse menos dias que o do antecessor. Obrigou os astrônomos da corte a equipararem agosto e julho em 31 dias. Eles não se fizeram de rogados: arrancaram um dia de fevereiro e resolveram a questão.

O Brasil será, a partir de 1º de janeiro de 2011, o resultado das eleições de outubro. Para melhor ou para pior. E os que irão governá-lo serão escolhidos pelo voto de cada um de nós. E graças aos impostos que pagamos eles irão administrar – bem ou mal – os bilhões arrecadados pelo fisco, incluídos os salários dos políticos e o custo de seus gabinetes e respectivas mordomias.

Faça como o Estado: deixe de lado a emoção e pense com a razão. As instituições públicas não têm vida própria. São movidas por políticos e pessoas indicadas por eles. Todos esses funcionários públicos, a começar do presidente da República, são nossos empregados. A nós devem prestar contas. Temos o direito de cobrar, exigir, pressionar, reivindicar, e eles o dever de comprovar como respondem às nossas expectativas.

Convença-se disto: a autoridade é a sociedade civil. Exerça-a. Não dê seu voto a corruptos nem se deixe enganar pela propaganda eleitoral. Vote no seu futuro. Vote na justiça social, no direito dos pobres à dignidade, na soberania nacional.”

São, pois, mais páginas que oferecem RICAS e PEDAGÓGICAS reflexões e nos MOTIVAM e nos FORTALECEM nesta grande CRUZADA NACIONAL pela CIDADANIA E QUALIDADE, visando à construção de uma NAÇÃO verdadeiramente JUSTA, ÉTICA, EDUCADA, CIVILIZADA, LIVRE, DESENVOLVIDA e SOLIDÁRIA, que permita a PARTILHA de suas EXTRAORDINÁRIAS RIQUEZAS e POTENCIALIDADES com TODOS os BRASILEIROS e com TODAS as BRASILEIRAS, especialmente no horizonte de INVESTIMENTOS BILIONÁRIOS previstos para eventos como a COPA DO MUNDO DE 2014, a OLIMPÍADA DE 2016 e os projetos do PRÉ-SAL, segundo as exigências do SÉCULO XXI, da era da GLOBALIZAÇÃO, do CONHECIMENTO, da INFORMAÇÃO, da SUSTENTABILIDAE, das NOVAS TECNOLOGIAS – NANO, BIO e TECNOCIÊNCIAS – e de um mundo da PAZ e FRATERNIDADE UNIVERSAL...

Este é o nosso SONHO, o nosso AMOR, a nossa LUTA, a nossa FÉ e a nossa ESPERANÇA!...

O BRASIL TEM JEITO!...

Um comentário:

Tereza disse...

Super interessante este artigo que nos leva realmente a pensar; temos que ser como o Estado, sem emoção para que possamos sair das armadilhas dos "maus" políticos e da onda dos "marqueteiros" e possamos centrar nossa escolha na capacidade, na conduta e na melhor proposta dos candidatos sem a "paixão cega" por partidos ou por candidatos. Não podemos viver sem a política, mas podemos e devemos ser racionais em nossas escolhas e pensar que em outubro vamos deixar marcados os proximos 4 anos de nossas vidas.