quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A CIDADANIA, A BOA ESCOLA E A NOVA GESTÃO DAS CIDADES


“A boa escola
        
         Meu brilhante colega Gustavo Ioschpe, uma das mais lúcidas vozes no que diz respeito à educação, escreveu o que e um bom professor. Eu já começava este artigo sobre o que acho que deva ser uma boa escola, então aqui vai.
         Primeiro, a escola tem de existir. No Brasil há incrivelmente poucas escolas em relação à necessidade real. Têm de existir escolas para todas as crianças, em todas as comunidades, as mais remotas, com qualidades básicas: não ultrapassar o número de alunos bem acomodados, e que eles não tenham de se locomover para muito longe; instalações dignas, que vão das mesas às paredes, telhado, pátio para diversão e recreio, lugar para exercício físico e esportes; instalações sanitárias decentes, cozinha para alimentar os que não comem suficientemente em casa; alguém com experiência médica ou de enfermagem para atender os que precisarem. Em cada sala de aula, naturalmente, uma boa prateleira com livros sem dúvida doados pelos governos federal, estadual, municipal. E que ali se ensine bem o essencial: aritmética, bom uso da linguagem, noções de história e geografia para que saibam quem são e onde no mundo se situam. Falei até aqui apenas de ensino elementar em escolas menos privilegiadas economicamente. Em comunidades mais resolvidas nesse sentido, tudo isso não será apenas bom, mas excelente, desde a parte material até professores muito bem preparados que sejam bem exigidos e bem pagos.
         No chamado 2º grau, além de livros, quem sabe computadores, mas – ainda que escandalizando alguns – creio que esses objetos maravilhosos, que eu mesma uso constantemente, não substituem um bom professor. E que, nesse degrau da vida, todos sejam preparados para a universidade, desde que queiram e possam. Pois nem todos querem uma carreira universitária, nem todos têm capacidade para isso: para eles, excelentes escolas técnicas, depois das quais podem ter mais ganho do que a maioria dos profissionais liberais. Professores com mestrado e se possível doutorado, diretores que conheçam administração, psicólogos que conheçam  psicologia, todos com saber e postura que os alunos respeitem a fim de que possam aprender.
         Finalmente a universidade, que enganosamente se julga ser o único destino digno de todo mundo (já mencionei acima os cursos técnicos cada dia melhores e mais especializados). Universidade precisa existir, mas não na abundância das escolas elementares. É incompreensível e desastrosa a multiplicação de faculdades de medicina, por exemplo, cujas falhas terão efeitos dramáticos sobre vidas humanas. Tempos pelo país muitas onde alunos não estudam anatomia, pois não há biotério, não têm aulas práticas, pois não há hospital-escola. Essa é uma realidade assustadora, mas bastante comum, que, parece, se tenta corrigir. Dessas pseudofaculdades sairão alunos reprovados nas essenciais provas do CRM, mas que eventualmente vão trabalhar sem condição de atender pacientes. Faculdades de direito pululam pelo país, sem professores habilitados, sem boas bibliotecas, formando advogados que nem escrever razoavelmente conseguem, além de desconhecer as leis – e reprovados aos magotes nas importantíssimas provas da OAB. Coisa semelhante aconteceria com faculdades de engenharia mal preparadas, se existirem, de onde precisam sair profissionais que garantam segurança em obras diversas, de edifícios, casas, estradas, pontes. Vejam que aqui comentei apenas alguns dos inúmeros cursos existentes, muitos com excelente nível, mas não se ignorem os que não têm condições de funcionar, e mesmo assim... existem. Em todas essas fases, segundo cada nível, incluam-se professores bem preparados, muito dedicados, e decentemente pagos – professor não e sacerdote nem faquir.
         O que escrevo aqui é mero, simples, bom-senso. Todos têm direito de receber a educação que os coloque no mundo sabendo ler, escrever, pensar, calcular, tendo ideia do que são e onde se encontram, e podendo aspirar a crescer mais. Isso é dever de todos os governos. E é nosso dever esperar isso deles.”
(LYA LUFT, que é escritora, em artigo publicado na revista VEJA, edição 2310 – ano 46 – nº 9, de 27 de fevereiro de 2013, página 22).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 21 de fevereiro de 2013, caderno OPINIÃO, página 7, de autoria de EDUARDO ATHAYDE, que é diretor do Worldwatch Institute no Brasil (WWI), e que merece igualmente integral transcrição:

“Nova gestão das cidades
        
         O Fórum Econômico Mundial realizado em Davos, na Suíça, de 23 a 27 de janeiro deste ano, mostrou que o conceito de gestão verde está deixando de ser símbolo do ambientalismo e passando a significar eficiência na gestão pública e privada. Reunindo mais de 50 chefes de Estado, 1,5 mil líderes empresariais, além de políticos e acadêmicos para discutir agendas locais, regionais e globais, mais de 2,5 mil participantes de diversos países formavam uma espécie de aldeia tecnológica global, usando tablets e celulares (tecnologias de informação e comunicação – TICs) para ajudar nos agendamentos e deslocamentos internos, no acesso virtual a palestras e, ao mesmo tempo, para gestão remota dos seus países, estados, cidades e empresas.
         Confundir sustentabilidade apenas com preservação ambiental é o mais comum entre os mitos que precisa ser desfeito – sustentabilidade é sinônimo de equilíbrio. Globalmente, as oportunidades de mercado para as “Cidades verdes e inteligentes”, que investem na melhoria da qualidade dos serviços para a população, estão estimadas em US$ 34 bilhões/ano. Com o aumento da renda e da qualidade de vida, a classe média mundial, que hoje é de 2,5 bilhões de pessoas, será de 5 bilhões de habitantes/consumidores em 2030.
         A internet expandiu de 0,1% da população global em 2002, para 33% em 2012 (é estimada para 55% da população em 2020. Nas últimas décadas, cidades no mundo foram conectadas por uma poderosa rede invisível de TICs, mudando a dinâmica do poder urbano, ajudando cidadãos a exercer legitimamente a sua parcela do poder. Como todos usam celulares, as operadoras têm condições de identificar, em tempo real, os fluxos das pessoas nas cidades, as tendências de estrangulamentos no tráfego, a concentração em eventos, os deslocamentos de massas e ajudar no planejamento e nas intervenções pontuais.
         O Brasil, com 194 milhões de habitantes, 84% urbanos, já tem mais de 260 milhões de celulares, dos quais 60 milhões são terminais com acesso à internet via banda larga. A tecnologia que salva vidas e emociona pessoas encurta distâncias e abranda saudades, também ajuda a sociedade a ser cada vez mais sustentável.
         Enquanto nos EUA os engarrafamentos de trânsito geram – por ano – um desperdício de 10,6 bilhões de litros de combustíveis, prejuízo de 4,2 bilhões de horas de trabalho e uma perda econômica de US$ 87,2 bilhões, o sistema de bicicletas comunitárias de Paris tornou-se possível por meio de uma parceria público-privada (PPP) com a gigante da publicidade JCDecaux, que, via TICs, fornece e mantém o sistema em troca de uma parcela do espaço publicitário da cidade.
         Usando TICs, várias cidades do Canadá não fazem mais coleta do lixo. Uma máquina separa automaticamente os recicláveis colocando em sacolas biodegradáveis para virar adubo vendido pelo preço de mercado. Os caminhões de lixo são movidos a gás produzido pelo próprio lixo que retiram das ruas. Empresas como a Smart + Connected Communities, da Cisco, Cities, da GE, e Sustainable Cities, da Siemens, por exemplo, têm usado suas avançadas tecnologias para ajudar cidades ao redor do mundo.
         As TICs ajudam a inovar na gestão e dão suporte aos princípios estabelecidos pela Política Nacional de Mobilidade Urbana – Lei 12.587/12. Diante da falência dos modelos de gestão pública e a elevada burocracia, as TICs facilitam a gestão, o acompanhamento das parcerias público-privadas, a auditoria e o controle social, impondo transparência nas ações de infraestrutura, transporte, educação, saúde, entretenimento, áreas públicas de lazer, ajudando a promover sustentabilidade na vida urbana.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de  valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:    
a   
           a) a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis (por exemplo, o contundente caso dos engarrafamentos de trânsito nos EUA, que geram, por ano, prejuízos e perdas econômicas da ordem de US$ 87,2 bilhões);
     c)      a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); educação;saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados; macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); habitação; emprego, trabalho e renda; assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; agregação de valor às commodities; minas e energia; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; turismo; esporte, cultura e lazer; comunicações; qualidade (planejamento, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte  de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, segundo as exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...     

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