“Papa,
megacobertura
Uma megacobertura. Não
há outra palavra para definir o volume de informação a respeito da Igreja
Católica. A surpreendente renúncia de Bento XVI, os bastidores do conclave, o
impacto da eleição do primeiro pontífice da América Latina e a próxima Jornada
mundial do Juventude, encontro do papa com os jovens, em julho no Rio de
Janeiro, puseram a Igreja no foco de todas as pautas.
A cobertura do Vaticano
é um case jornalístico que merece uma análise técnica. Algumas patologias,
evidentes para quem tem olhos de ver, estiveram presentes em certas matérias da
imprensa mundial: engajamento ideológico, escassa especialização e preparo
técnico, falta de apuração, reprodução acrítica de declarações não contrastadas
com fontes independentes e, sobretudo, a fácil concessão ao jornalismo
declaratório.
Poucos, por exemplo,
aprofundaram no verdadeiro sentido da renúncia de Bento XVI e na qualidade de
seu legado. O papa emérito, intelectual de grande estatura e homem de uma
humildade que desarma, sempre foi julgado com o falso molde de um
conservadorismo exacerbado. Mas, de fato, foi o grande promotor da implantação
do Concílio Vaticano 2º, o papa que mais avançou no diálogo com o mundo
islâmico, o pontífice que empunhou o bisturi e tratou de rasgar o tumor das
disputas internas de poder e o câncer dos desvios sexuais.
Sua renúncia, um gesto profético
e transgressor, foi um ato moderno e revolucionário. Bento XVI não teve nenhum
receio de mostrar ao mundo um papa exausto e sem condições de governar a Igreja
num período complicado e difícil. Foi sincero. Até o fim. Ao mesmo tempo, sua
renúncia produziu um vendaval na consciência dos cardeais. A decisão, inusual
nas plataformas de poder, foi a chave para o início da urgente e necessária
reforma da Igreja. O papa emérito, conscientemente afastado das bajulações e
vaidades humanas e mergulhado na sua oração, está sendo uma alavanca de
renovação da Igreja.
Nada disso, no entanto,
apareceu na cobertura da mídia. Faltou profundidade, análise séria,
documentação. Ficamos, todos, focados nos boatos, nas intrigas, na ausência de
notícia. Falou-se, diariamente, do relatório dos cardeais ao papa emérito
denunciando supostos escândalos no Vaticano. Mas ninguém na mídia,
rigorosamente ninguém, tece acesso ao documento. Os jornais, no entanto,
entraram de cabeça no mundo conspiratório. Suposições, mesmo prováveis, não
podem ganhar o status de certeza informativa.
Escrevia-me,
recentemente, um excelente jornalista. Acordei hoje cedo, li os jornais e me
perguntei: sou só eu a me indignar muito com a proliferação de “informações”
inverificáveis, oriundas de fontes em off
the record ou de documentos
“sigilosos” sobre os quais não há nenhum outro dado que permita verificar sua
realidade e consistência? Ninguém se questiona sobre tantos “furos” obtidos por
jornalistas que escrevem a distância “reportagens tão nebulosas”, redigidas em
uma lógica claramente sensacionalista? Ninguém mais se preocupa com a checagem
de informações, com a credibilidade das fontes? Assim embaixo do seu desabafo.
Claro que alguns
representantes da Igreja têm importante parcela de culpa. É notável o
amadorismo, o despreparo e a falta de transparência da comunicação eclesiástica.
O novo pontífice precisa enfrentar a batalha da comunicação. E dá toda a
impressão de que o papa Francisco está decidido a estabelecer um diálogo
direito e produtivo com a imprensa. O desejo de se reunir com os jornalistas na
grande sala de audiência Paulo VI foi muito sugestivo.
A Igreja, com sua
história bimilenar e precedentes de crises muito piores, é um fenômeno impressionante.
E, obviamente, não é um assunto para ser tocado com amadorismo, engajamento ou
preconceito. O jornalismo de qualidade não pode ficar refém de ninguém: nem da
Igreja, nem os políticos, nem do movimento gay, nem dos fundamentalistas, nem
dos ambientalistas, nem dos governos. Devemos, sim ficar reféns da verdade e
dos fatos. Há espaço, e muito, para o bom jornalismo.”
(CARLOS
ALBERTO DI FRANCO. Diretor do Departamento de Comunicação do Instituto
Internacional de Ciências Sociais (IICS), doutor em comunicação pela
Universidade de Navarra (Espanha), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 18 de março
de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).
Mais uma importante e oportuna contribuição para o
nosso trabalho de Mobilização para a
Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de
16 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página
11, de autoria de PAULO MÁRCIO REIS
SANTOS, professor de direito econômico da Universidade Fumec, e FERNANDA BASSALO FREITAS, graduanda em
direito pela Universidade Fumec, e que merece igualmente integral transcrição:
“Felicidade
interna bruta
Segundo
os dados divulgados recentemente pelo IBGE, a economia brasileira cresceu apenas 0,9% em 2012. O
resultado é o pior desde a crise de 2009 e está abaixo do de países como a
China, Estados Unidos, Japão, México e Índia. Os dados revelam que o
crescimento brasileiro superou apenas o de países europeus.
A
competitividade internacional, as dificuldades decorrentes da infraestrutura
precária e os custos internos fizeram com que a indústria registrasse queda de
0,8%. O setor agrícola também contribuiu para a redução do Produto Interno
Bruto (PIB). Mas o fator preponderante para a queda do índice foi a redução de
4% dos investimentos no Brasil. Essa diminuição denota o desestímulo às
empresas investirem na expansão de seus negócios, haja vista a falta de
incentivos e o pessimismo em relação ao crescimento de seus ganhos.
É
princípio básico da economia que as pessoas ajam por incentivos. Portanto, a
eficiente política pública é fundamental no regime de economia de mercado, pois
incentiva o progresso econômico. No mercado competitivo, as empresas buscam
incentivos para aumentar a produtividade e os lucros. Cabe ao Estado investir
na infraestrutura para fomentar o potencial crescimento econômico a longo
prazo.
A
verificação do crescimento do valor agregado é um importante indicador
econômico, pois mede o valor absoluto de tudo que foi produzido no país. Essa
verificação é feita através do PIB, instrumento idealizado nos anos de 1930
pelo economista ucraniano naturalizado norte-americano, Simon Kuznets, ganhador
do Prêmio Nobel de Economia pela metodologia criada. O índice foi muito
utilizado no período pós-guerra, quando a economia de vários países estava
dilacerada e o processo de recuperação precisava ser mensurado.
Em
termos qualitativos, há de se questionar se o resultado do PIB é o melhor
indicador para medir o progresso da economia e o aumento do bem-estar da
população. Além da produção interna, a avaliação do nível de emprego, da
distribuição de renda, do consumo, da saúde da população, da segurança e dos
níveis de escolaridade e do déficit público, entre outros, são importantes para
essa aferição.
Para
tanto, faz-se necessário substituir o PIB por indicadores comprometidos com o
bem-estar coletivo e a sustentabilidade. Nesse contexto, ganham destaque os
indicadores de felicidade nacional. Em contraposição ao PIB, podemos citar a
Felicidade Interna Bruta (FIB), termo criado pelo rei do Butão, Jigme Singye Wangchuck,
em 1972, em resposta a críticas que afirmavam que a economia do país crescia
miseravelmente. Esse modelo estava comprometido com a construção de uma
economia vinculada à cultura nacional, lastreada em valores espirituais
budistas.
Enquanto
os modelos tradicionais de desenvolvimento têm como objetivo principal o
crescimento econômico quantitativo, a FIB baseia-se no princípio de que o
desenvolvimento de uma sociedade está subordinado aos progressos espiritual,
ambiental e social. São aproximadamente 33 indicadores que avaliam o equilíbrio
entre o trabalho e as horas de sono da população, a espiritualidade, a moradia
e os danos ao meio ambiente. Apesar de ser um pequeno reino situado nas
cordilheiras do Himalaia, entre a China e a Índia, no Butão a FIB é tão
importante que existe um Ministério da Felicidade para tratar do assunto.
No
Brasil, há estudos em desenvolvimento, sem deixar de incluírem
o PIB e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no
cálculo, mas que avaliam também os níveis de segurança, de saúde, de educação,
de distribuição de renda, da comparação entre os salários pagos aos homens e às
mulheres pelas mesmas funções, de desigualdade social e de expectativa de vida.
O crescimento econômico é importante para um país, mas não é o único fator para
medir o bem-estar da população. Valores qualitativos, como a liberdade
individual, a estabilidade familiar e o meio ambiente sustentável, contribuem
mais para assegurar a dignidade para a população. É importante que as políticas
públicas passem a considerar esses novos índices comprometidos com a felicidade
coletiva.”
Eis, portanto, mais páginas contendo importantes,
adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise
de liderança de nossa história – que é de ética,
de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas
educacionais, governamentais, jurídicas,
políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de
modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais
livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente
desenvolvidas...
Assim, urge ainda a efetiva problematização de
questões deveras cruciais como:
a) a
educação – universal e de qualidade, desde
a educação infantil (0 a 3 anos de
idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo
da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira
série do ensino fundamental, independentemente
do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação
(especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade
absoluta de nossas políticas públicas;
b) o
combate, implacável e sem trégua,
aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e
diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar
por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e
comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício,
em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e
danos, inexoravelmente irreparáveis;
c) a
dívida pública brasileira, com
projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e
insuportável desembolso de cerca de R$ 1
trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos
(apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma
imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...
Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta
sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa
capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a
credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades
de ampliação e modernização de
setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias,
hidrovias, portos, aeroportos); educação;
saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos
tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; mobilidade urbana (trânsito, transporte,
acessibilidade); habitação; emprego,
trabalho e renda; assistência social; previdência social; agregação de valor às
commodities; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças
armadas; polícia federal; defesa civil; pesquisa e desenvolvimento; ciência,
tecnologia e inovação; comunicações; logística; turismo; esporte, cultura e
lazer; sistema financeiro nacional; minas e energia; qualidade (planejamento
– estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade,
economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...
São gigantescos desafios, e bem o sabemos, mas que,
de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem
arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta
grande cruzada nacional pela cidadania e
qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada,
qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que
permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades
e potencialidades com todas as
brasileiras e com todos os
brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos
e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de
Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a
Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz do século
21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação,
do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de
um possível e novo mundo da justiça, da
liberdade, da paz, da igualdade – e com
equidade –, e da fraternidade
universal...
Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a
nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...
O
BRASIL TEM JEITO!...
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