quarta-feira, 20 de março de 2013

A CIDADANIA, O PAPA, A QUALIDADE DO JORNALISMO E A FELICIDADE INTERNA BRUTA


“Papa, megacobertura

Uma megacobertura. Não há outra palavra para definir o volume de informação a respeito da Igreja Católica. A surpreendente renúncia de Bento XVI, os bastidores do conclave, o impacto da eleição do primeiro pontífice da América Latina e a próxima Jornada mundial do Juventude, encontro do papa com os jovens, em julho no Rio de Janeiro, puseram a Igreja no foco de todas as pautas.
A cobertura do Vaticano é um case jornalístico que merece uma análise técnica. Algumas patologias, evidentes para quem tem olhos de ver, estiveram presentes em certas matérias da imprensa mundial: engajamento ideológico, escassa especialização e preparo técnico, falta de apuração, reprodução acrítica de declarações não contrastadas com fontes independentes e, sobretudo, a fácil concessão ao jornalismo declaratório.
Poucos, por exemplo, aprofundaram no verdadeiro sentido da renúncia de Bento XVI e na qualidade de seu legado. O papa emérito, intelectual de grande estatura e homem de uma humildade que desarma, sempre foi julgado com o falso molde de um conservadorismo exacerbado. Mas, de fato, foi o grande promotor da implantação do Concílio Vaticano 2º, o papa que mais avançou no diálogo com o mundo islâmico, o pontífice que empunhou o bisturi e tratou de rasgar o tumor das disputas internas de poder e o câncer dos desvios sexuais.
Sua renúncia, um gesto profético e transgressor, foi um ato moderno e revolucionário. Bento XVI não teve nenhum receio de mostrar ao mundo um papa exausto e sem condições de governar a Igreja num período complicado e difícil. Foi sincero. Até o fim. Ao mesmo tempo, sua renúncia produziu um vendaval na consciência dos cardeais. A decisão, inusual nas plataformas de poder, foi a chave para o início da urgente e necessária reforma da Igreja. O papa emérito, conscientemente afastado das bajulações e vaidades humanas e mergulhado na sua oração, está sendo uma alavanca de renovação da Igreja.
Nada disso, no entanto, apareceu na cobertura da mídia. Faltou profundidade, análise séria, documentação. Ficamos, todos, focados nos boatos, nas intrigas, na ausência de notícia. Falou-se, diariamente, do relatório dos cardeais ao papa emérito denunciando supostos escândalos no Vaticano. Mas ninguém na mídia, rigorosamente ninguém, tece acesso ao documento. Os jornais, no entanto, entraram de cabeça no mundo conspiratório. Suposições, mesmo prováveis, não podem ganhar o status de certeza informativa.
Escrevia-me, recentemente, um excelente jornalista. Acordei hoje cedo, li os jornais e me perguntei: sou só eu a me indignar muito com a proliferação de “informações” inverificáveis, oriundas de fontes em off the record  ou de documentos “sigilosos” sobre os quais não há nenhum outro dado que permita verificar sua realidade e consistência? Ninguém se questiona sobre tantos “furos” obtidos por jornalistas que escrevem a distância “reportagens tão nebulosas”, redigidas em uma lógica claramente sensacionalista? Ninguém mais se preocupa com a checagem de informações, com a credibilidade das fontes? Assim embaixo do seu desabafo.
Claro que alguns representantes da Igreja têm importante parcela de culpa. É notável o amadorismo, o despreparo e a falta de transparência da comunicação eclesiástica. O novo pontífice precisa enfrentar a batalha da comunicação. E dá toda a impressão de que o papa Francisco está decidido a estabelecer um diálogo direito e produtivo com a imprensa. O desejo de se reunir com os jornalistas na grande sala de audiência Paulo VI foi muito sugestivo.
A Igreja, com sua história bimilenar e precedentes de crises muito piores, é um fenômeno impressionante. E, obviamente, não é um assunto para ser tocado com amadorismo, engajamento ou preconceito. O jornalismo de qualidade não pode ficar refém de ninguém: nem da Igreja, nem os políticos, nem do movimento gay, nem dos fundamentalistas, nem dos ambientalistas, nem dos governos. Devemos, sim ficar reféns da verdade e dos fatos. Há espaço, e muito, para o bom jornalismo.”
(CARLOS ALBERTO DI FRANCO. Diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS), doutor em comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha), em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 18 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 9).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição de 16 de março de 2013, caderno OPINIÃO, página 11, de autoria de PAULO MÁRCIO REIS SANTOS, professor de direito econômico da Universidade Fumec, e FERNANDA BASSALO FREITAS, graduanda em direito pela Universidade Fumec, e que merece igualmente integral transcrição:

“Felicidade interna bruta
         
         Segundo os dados divulgados recentemente pelo IBGE, a economia  brasileira cresceu apenas 0,9% em 2012. O resultado é o pior desde a crise de 2009 e está abaixo do de países como a China, Estados Unidos, Japão, México e Índia. Os dados revelam que o crescimento brasileiro superou apenas o de países europeus.
         A competitividade internacional, as dificuldades decorrentes da infraestrutura precária e os custos internos fizeram com que a indústria registrasse queda de 0,8%. O setor agrícola também contribuiu para a redução do Produto Interno Bruto (PIB). Mas o fator preponderante para a queda do índice foi a redução de 4% dos investimentos no Brasil. Essa diminuição denota o desestímulo às empresas investirem na expansão de seus negócios, haja vista a falta de incentivos e o pessimismo em relação ao crescimento de seus ganhos.
         É princípio básico da economia que as pessoas ajam por incentivos. Portanto, a eficiente política pública é fundamental no regime de economia de mercado, pois incentiva o progresso econômico. No mercado competitivo, as empresas buscam incentivos para aumentar a produtividade e os lucros. Cabe ao Estado investir na infraestrutura para fomentar o potencial crescimento econômico a longo prazo.
         A verificação do crescimento do valor agregado é um importante indicador econômico, pois mede o valor absoluto de tudo que foi produzido no país. Essa verificação é feita através do PIB, instrumento idealizado nos anos de 1930 pelo economista ucraniano naturalizado norte-americano, Simon Kuznets, ganhador do Prêmio Nobel de Economia pela metodologia criada. O índice foi muito utilizado no período pós-guerra, quando a economia de vários países estava dilacerada e o processo de recuperação precisava ser mensurado.
         Em termos qualitativos, há de se questionar se o resultado do PIB é o melhor indicador para medir o progresso da economia e o aumento do bem-estar da população. Além da produção interna, a avaliação do nível de emprego, da distribuição de renda, do consumo, da saúde da população, da segurança e dos níveis de escolaridade e do déficit público, entre outros, são importantes para essa aferição.
         Para tanto, faz-se necessário substituir o PIB por indicadores comprometidos com o bem-estar coletivo e a sustentabilidade. Nesse contexto, ganham destaque os indicadores de felicidade nacional. Em contraposição ao PIB, podemos citar a Felicidade Interna Bruta (FIB), termo criado pelo rei do Butão, Jigme Singye Wangchuck, em 1972, em resposta a críticas que afirmavam que a economia do país crescia miseravelmente. Esse modelo estava comprometido com a construção de uma economia vinculada à cultura nacional, lastreada em valores espirituais budistas.
         Enquanto os modelos tradicionais de desenvolvimento têm como objetivo principal o crescimento econômico quantitativo, a FIB baseia-se no princípio de que o desenvolvimento de uma sociedade está subordinado aos progressos espiritual, ambiental e social. São aproximadamente 33 indicadores que avaliam o equilíbrio entre o trabalho e as horas de sono da população, a espiritualidade, a moradia e os danos ao meio ambiente. Apesar de ser um pequeno reino situado nas cordilheiras do Himalaia, entre a China e a Índia, no Butão a FIB é tão importante que existe um Ministério da Felicidade para tratar do assunto.
         No Brasil, há estudos em desenvolvimento, sem deixar de incluírem 
o PIB e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no cálculo, mas que avaliam também os níveis de segurança, de saúde, de educação, de distribuição de renda, da comparação entre os salários pagos aos homens e às mulheres pelas mesmas funções, de desigualdade social e de expectativa de vida. O crescimento econômico é importante para um país, mas não é o único fator para medir o bem-estar da população. Valores qualitativos, como a liberdade individual, a estabilidade familiar e o meio ambiente sustentável, contribuem mais para assegurar a dignidade para a população. É importante que as políticas públicas passem a considerar esses novos índices comprometidos com a felicidade coletiva.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
     
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
     
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de variada ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de astronômico e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tanta sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais grave ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); educação; saúde; saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); habitação; emprego, trabalho e renda; assistência social; previdência social; agregação de valor às commodities; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; comunicações; logística; turismo; esporte, cultura e lazer; sistema financeiro nacional; minas e energia; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade), entre outros...

São gigantescos desafios, e bem o sabemos, mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que permita a partilha de suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a 27ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em julho; a Copa das Confederações em junho; a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz do século 21, da era da globalização, da internacionalização das empresas, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...

O BRASIL TEM JEITO!...


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