segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A CIDADANIA, A CORRUPÇÃO, O DESPERDÍCIO E O ESTADO LAICO

“Desperdício inaceitável
        
         A má gestão dos recursos públicos  e a corrupção no Brasil levam anualmente para o ralo algo em torno de R$ 510 bilhões – R$ 440 bilhões desperdiçados e gastos com a qualidade ruim nos contratos e R$ 70 bilhões desviados em operações escusas. Essa constatação, feita por um trabalho conjunto da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e o Movimento Brasil Eficiente, é impactante e revela o quanto se desperdiça de dinheiro num país em que há muito por fazer ou investir em áreas prioritárias – saúde, educação e segurança –, como as vozes das ruas falaram em junho.
         Mas por que tanto dinheiro vira fumaça no Brasil? Uma das razões é o Estado paquiderme. O excesso de ministérios e de secretarias estaduais é o retrato desse inchaço anômalo da máquina pública. Nas gestões das unidades federativas, o número de pastas beira o absurdo: são 36 no Distrito Federal, 33 no Maranhão e 29 do Paraná. Em Goiás, 63% do orçamento é gasto com a folha de servidores, uma excrescência, para dizer uma aberração.
         Vale dizer que os Estados Unidos têm 17 ministros, contra 39 no Brasil, que gasta anualmente com eles R$ 611 bilhões. Além deles, dispõe de 303 autarquias, fundações e empresas estatais – ao todo, os EUA têm 62. Nos ditos cargos de confiança, nomeações política e adjacências, o governo da União conta com 22,4 mil ocupantes. A despesa gerada por essa máquina pública inflada com a contratação de pessoal é fator substantivo da carência de recursos para investir em serviços básicos.
         E o desperdício de recursos públicos não fica restrito, claro, às esferas federal e estadual. O que dizer dos desvios de verbas e má gestão na maioria dos 5.568 municípios brasileiros. Número de prefeitos cassados ou respondendo a processos por desmandos cresce país afora e nem sempre há punição exemplar para esses fichas-sujas. O enxugamento da estrutura do Estado precisa ser meta de governo, bandeira de chefes dos Executivos federal, estaduais e municipais. Somente gestões proativas podem dar fim a essa chaga que corrói os cofres públicos, levando para o ralo um dinheiro que é de todos, dos contribuintes, que convivem com uma das maiores cargas tributárias do mundo, hoje em torno de 37%.
         Cortar o número de ministérios e de secretarias é possível se os governantes abolirem o clientelismo de suas gestões. Prefeitos vivem reclamando de cofres vazios, mas muitos tocam obras intermináveis, muitas vezes, à base do faz/desmancha/refaz. Não é preciso ir longe. Em Belo Horizonte, os serviços de implantação do sistema de transporte rápido por ônibus (BRT) são prova disso. Em fevereiro, a previsão de gastos, apenas no corredor da Avenida Cristiano Machado, era de R$ 51 milhões. Pelo ritmo lento das obras, o estouro do prazo para sua entrega e do orçamento inicial corre o risco de acontecer.”

(EDITORIAL do jornal ESTADO DE MINAS, publicado na edição de 16 de agosto de 2013, caderno OPINIÃO, página 6).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no mesmo veículo, edição e caderno, página 7, de autoria de DOM WALMOR OLIVEIRA DE AZEVEDO, que é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e que merece igualmente integral transcrição:

“Estado e religião
        
         A laicidade do Estado tem sido um tema recorrente nos debates e abordagens. As necessárias evoluções no entendimento sobre o Estado e a realidade religiosa justificam essas reflexões. No caso da sociedade brasileira, a religiosidade é constitutiva, independentemente das singularidades confessionais. Não se podem desconhecer e desconsiderar as raízes cristãs no nascedouro e nos desdobramentos da história da nossa sociedade. Ignorar essa importância é uma postura preconceituosa, que considera a religião como elemento descartável ou de pouca valia. Trata-se de uma avaliação que revela estreitamentos da racionalidade. Como antídoto para essa distorcida visão, é preciso reconhecer a importância da fé católica como elemento que sustenta crescimentos, avanços e configurações culturais de muita importância para o nosso país. Certamente, nesse horizonte de compreensão, é que se afirma como um dito incontestável “que o Estado é laico, mas o povo é religioso”. E o povo constitui a nação à qual o Estado está a serviço, com o compromisso de edificar uma sociedade justa e solidária.
         Povo é mais do que Estado, que é uma configuração sociopolítica a serviço do bem comum de uma nação, em respeito e obediência a princípios advindos da justiça, da verdade, do amor e do bem de todos. Nessa direção, portanto, não é inteligente confrontar como opostas e inconciliáveis as categorias Estado e religiosidade. A distinção é benéfica e necessária para não incorrer em misturas indevidas. Contudo, colocar essas dimensões como antagônicas e confrontar-se diretamente com o povo, a partir de uma perspectiva preconceituosa.
         Trata-se de uma grande incoerência pensar o Estado como instância prestadora de serviço ao bem comum, que, ao mesmo tempo, deve discriminar a religiosidade, uma dimensão importante na inteireza da vida cotidiana. Infelizmente, essa discriminação ocorre de muitas maneiras. Um claro exemplo é quando o Estado, por compreensões equivocadas de gestores, propõe restrições legais ao uso de espaços por instituições religiosas. É óbvio que a normatização é necessária para evitar abusos ou mau uso de espaços públicos. Sem definições regulatórias, uma sociedade plural, marcada pelo sentido de liberdade e autonomia, não pode funcionar adequadamente. Contudo, não se pode chegar ao absurdo de considerar a laicidade do Estado como uma oposição a tudo o que diz respeito à religiosidade.
         É verdade que há que se considerar a seriedade de cada confissão religiosa numa sociedade plural. A própria legislação proporciona esse discernimento, com emissão de juízos de valor a respeito de igrejas e grupos religiosos. Inaceitável é a compreensão da laicidade do Estado, que exclui completamente a religiosidade e sua vivência. Quem perde, obviamente, é o povo e o próprio Estado, que não se permite intercambiar com uma força que muito ajuda na promoção do bem comum. Imagina se a Igreja Católica deixasse de prestar os serviços sociais que oferece. Incontáveis iniciativas, muitas ainda desconhecidas, realizadas nas periferias, em áreas urbanas e rurais, com grande impacto, sobretudo, na vida os pobres. Certamente os reflexos seriam muito negativos para um Estado que deve buscar o bem de todos.
         A laicidade configura o Estado não como oposição à religiosidade. É um parâmetro que deve ajudar na distinção entre Estado e outras instituições, como os próprios partidos políticos, atualmente tão questionados no núcleo de sua significação, representatividade, competência nas abordagens ideológicas e debates em vistas do bem comum. Nenhum partido pode se considerar “dono do Estado”, impondo sua própria ideologia. Além disso, a máquina de governo de que um Estado precisa não pode ser “cabide de emprego”, “trampolim de promoção pessoal” e mecanismo de favorecimentos. A laicidade, quando bem entendida, não deixa que o Estado seja manipulado, permitindo um eficiente serviço ao seu povo.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:
  
     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;

     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais devastadores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;

     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e insuportável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 510 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Isto posto, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities;assistência social; previdência social; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; sistema financeiro nacional; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, economicidade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e generosas riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...   

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