sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A CIDADANIA, AS SANDÁLIAS DA HUMILDADE E OS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

“As sandálias da humildade
        
         Um homem de branco passou por aqui falando manso ao coração de todos. Quando verdades e palavras justas são ditas, não é preciso levantar a voz, pois todos os que desejam entender entenderão. Os ouvidos estiveram atentos durante a semana e espero que continuem por todo o tempo. Ele não gosta de jovens que não protestam, moderação é atitude de gente experiente, que não tem mais razão para errar e já teve tempo de aprender as complexidades da vida.
         Tão simples as coisas que diz, quase óbvias, mas a simplicidade vem do conhecimento, não fosse ele um jesuíta. Há crianças sem alimento, sem saúde e educação? Não importa se quem vai sanar essas impropriedades seja católico, protestante, muçulmano, umbandista, espírita, judeu ou ateu. A ação e o fato valem mais do que a seita ou a ideologia.
         As ideias diferentes circulam e devem ser aceitas. Por que ranger os dentes de ódio diante de uma opinião oposta à nossa ou de maneiras de ser que não prejudicam ninguém, mas fazem parte da existência de tantos? Não perco nada se alguém tem opção sexual diversa da minha. Que todos tenham a liberdade de ser o que são. Temos todos o direito de ser felizes. “Com a razão nunca entendi, com o coração menos então”, diz a canção que escrevi com meu parceiro e sobrinho Robertinho Brant, a respeito de todos os tipos de preconceitos.
         Não consigo entender o motivo de homens se acharem melhores (e com mais direitos) do que as mulheres. A cor da pele não torna ninguém superior a outra pessoa, e esse é um sentimento que trago desde criança. É preciso repetir, até hoje, que somos uma raça única, a humana, e viemos do mesmo berço? É que é a educação, e não o dinheiro, que qualifica?
          O homem simples e de branco, com sua fala que todos entendiam, com a serenidade de pastor, realçou o respeito e a proteção que devem ser dados aos jovens e aos idosos. A máquina do mundo da economia global anda a retirar trabalho da juventude e a condenar à exclusão os mais velhos. Como permitir que os que serão o futuro sejam afastados da convivência com os que lhes podem passar conhecimentos?
         Foi uma semana do povo, de jovens na rua. As palavras mais ouvidas: solidariedade, justiça, igualdade, fraternidade. São conceitos que não têm dono. Se o sentido de religião é ligar, atar, que todos os brasileiros abracem esses sentimentos, professem crenças ou não. As sandálias da humildade que o homem de branco nos trouxe servem a todos nós. Vamos calçá-las.”

(FERNANDO BRANT, em artigo publicado no jornal ESTADO DE MINAS, edição de 31 de julho de 2013, caderno CULTURA, página 8).

Mais uma importante e oportuna contribuição para o nosso trabalho de Mobilização para a Cidadania e Qualidade vem de artigo publicado no jornal O TEMPO Belo Horizonte, edição de 17 de julho de 2013, caderno O.PINIÃO, página 23, de autoria de WILSON CAMPOS, que é advogado, e que merece igualmente integral transcrição:

“Efetividade da cidadania
        
         Sem o rigorismo terminológico, que não acrescenta excelência aos termos, embora respeitados os doutrinadores que primam pela diferenciação, prepondera o entendimento de sinonímia entre “direito” e “interesse”, quando se trata da ampliação do espectro de tutela jurídica e jurisdicional dos interesses difusos e coletivos.
         Na realidade, o que se pretende, de fato, é a busca pelo reconhecimento de instrumentos legais que promovam a tutela coletiva, sem distinção, haja vista que a meta a ser alcançada seja a de dar efetividade aos postulados da cidadania e da dignidade da pessoa humana.
         De bom alvitre, a tutela dos interesses difusos  não pode ficar restrita às questões básica do consumidor, do meio ambiente ou do patrimônio cultural, posto que ela deva alcançar os novos conflitos de massa, notadamente na área social, como o acesso dos excluídos para a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e intelectuais.
         Os interesses difusos ocorrem quando não se pode identificar um prejudicado determinado, sendo os sujeitos de direito integrantes de uma grande massa lesada. O objeto é de natureza indivisível , além do que o prejuízo sempre se origina de um fato comum que une os interessados em um só descontentamento. É exemplo clássico de interesse difuso o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
         Já nos interesses coletivos, os lesados são determinados, ou pelo menos determináveis, e sempre estão ligados entre si ou com o transgressor por uma relação jurídica básica, não havendo como fragmentar as parcelas de interesse. É exemplo o direito de associação de moradores representar a sua comunidade em determinada demanda em face do poder público, assegurando a qualidade de vida e a melhoria dos serviços na região.
         Apesar dessas diferenças conceituais, não raras vezes, peculiaridades de uma ou outra categoria desses interesses fundem-se, proporcionando uma defesa coletiva sob diferentes focos, de acordo com a característica ressaltada pelo substituto processual no manejo da ação civil pública. O importante, portanto, é saber identificar quando o prejuízo causado por um evento transcende a esfera do interesse íntimo para propagar-se pela seara de insatisfações comuns a certa coletividade.
         Os interesses difusos e os coletivos da sociedade são também o que se pode chamar de direitos de terceira geração, nos quais são consagrados os princípios da fraternidade e da solidariedade. São direitos que transcendem o indivíduo, sendo designados como transindividuais, obrigando o reconhecimento e a proteção de direitos como a qualidade de vida, a saúde, a segurança, o meio ambiente equilibrado e o desenvolvimento com sustentabilidade, dentro outros de natureza fluida, cuja titularidade compete àqueles de posse da consagrada e constitucional cidadania.
         Nesse sentido é que deverão ser empreendidos os esforços da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Difusos e Coletivos da Sociedade instalada pela OAB-MG, no último dia 9.”

Eis, portanto, mais páginas contendo importantes, adequadas e oportunas abordagens e reflexões que acenam, em meio à maior crise de liderança de nossa história – que é de ética, de moral, de princípios, de valores –, para a imperiosa e urgente necessidade de profundas mudanças em nossas estruturas educacionais, governamentais, jurídicas, políticas, sociais, culturais, econômicas, financeiras e ambientais, de modo a promovermos a inserção do País no concerto das potências mundiais livres, civilizadas, soberanas, democráticas e sustentavelmente desenvolvidas...

Assim, urge ainda a efetiva problematização de questões deveras cruciais como:

     a)     a educação – universal e de qualidade, desde a educação infantil (0 a 3 anos de idade, em creches; 4 e 5 anos de idade, em pré-escolas) – e mais o imperativo da modernidade de matricularmos nossas crianças de 6 anos de idade na primeira série do ensino fundamental, independentemente do mês de seu nascimento –, até a pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado), como prioridade absoluta de nossas políticas públicas;
    
     b)    o combate, implacável e sem trégua, aos três dos nossos maiores e mais avassaladores inimigos que são: I – a inflação, a exigir permanente, competente e diuturna vigilância, de forma a manter-se em patamares civilizados, ou seja, próximos de zero; II – a corrupção, como um câncer a se espalhar por todas as esferas da vida nacional, gerando incalculáveis prejuízos e comprometimentos de vária ordem; III – o desperdício, em todas as suas modalidades, também a ocasionar inestimáveis perdas e danos, inexoravelmente irreparáveis;
     
     c)     a dívida pública brasileira, com projeção para 2013, segundo o Orçamento Geral da União, de exorbitante e intolerável desembolso de cerca de R$ 1 trilhão, a título de juros, encargos, amortização e refinanciamentos (apenas com esta rubrica, previsão de R$ 610 bilhões), a exigir igualmente uma imediata, abrangente, qualificada e eficaz auditoria...

Destarte, torna-se absolutamente inútil lamentarmos a falta de recursos diante de tão descomunal sangria que dilapida o nosso já combalido dinheiro público, mina a nossa capacidade de investimento e de poupança e, mais contundente ainda, afeta a credibilidade de nossas instituições, negligenciando a justiça, a verdade, a honestidade e o amor à pátria, ao lado de abissais desigualdades sociais e regionais e de extremas e sempre crescentes necessidades de ampliação e modernização de setores como: a gestão pública; a infraestrutura (rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos); a educação; a saúde; o saneamento ambiental (água tratada, esgoto tratado, resíduos sólidos tratados, macrodrenagem urbana, logística reversa); meio ambiente; habitação; mobilidade urbana (trânsito, transporte, acessibilidade); minas e energia; emprego, trabalho e renda; agregação de valor às commodities; assistência social; previdência social; sistema financeiro nacional; segurança alimentar e nutricional; segurança pública; forças armadas; polícia federal; defesa civil; logística; pesquisa e desenvolvimento; ciência, tecnologia e inovação; esporte, cultura e lazer; turismo; comunicações; qualidade (planejamento – estratégico, tático e operacional –, transparência, eficiência, eficácia, efetividade, criatividade, produtividade, competitividade); entre outros...

São, e bem o sabemos, gigantescos desafios mas que, de maneira alguma, abatem o nosso ânimo nem arrefecem o nosso entusiasmo e otimismo nesta grande cruzada nacional pela cidadania e qualidade, visando à construção de uma Nação verdadeiramente justa, ética, educada, civilizada, qualificada, livre, soberana, democrática, desenvolvida e solidária, que possa partilhar suas extraordinárias e abundantes riquezas, oportunidades e potencialidades com todas as brasileiras e com todos os brasileiros, especialmente no horizonte de investimentos bilionários previstos e que contemplam eventos como a Copa do Mundo de 2014; a Olimpíada de 2016; as obras do PAC e os projetos do pré-sal, à luz das exigências do século 21, da era da globalização, da internacionalização das organizações, da informação, do conhecimento, da inovação, das novas tecnologias, da sustentabilidade e de um possível e novo mundo da justiça, da liberdade, da paz, da igualdade – e com equidade –, e da fraternidade universal...

Este é o nosso sonho, o nosso amor, a nossa luta, a nossa fé, a nossa esperança... e perseverança!...


O BRASIL TEM JEITO!...  

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